Poesia e Crime
Ninguém precisa conhecer o centro de Alvorada ou ser um alvoradense para entender como a dualidade está presente no dia-a-dia lá: o bem sempre está contra o mal. Mas não se trata de um cidadão contra o outro, pois é como se cada cidadão lutasse contra o governo, contra o criminoso, contra o tempo e contra ele mesmo. Diante de tanta luta, conversando com qualquer morador você encontra alegria e força de vontade, porém também acha uma certa melancolia e até desespero.
Esta poesia nasce inspirada no samba de Cartola e das virtudes que encontramos pelo centro de Alvorada, mas também do horror de quem vive com medo.
“Alvorada
Quem te vê alvorecer
Ascena e sorri
Celebra avida em ti
Não precisa olhar para crer
Mesmo no medo de cada ser
Resisti, persisti em viver
Contra tudo, ainda insisti
Quem olha o sol florescer
Amanhece nas paradas
Sozinho não vê nada
Nunca espera anoitecer
Alvorecer, crer, ser, florescer e nunca anoitecer
Alvorada
Através de becos e esquinas
A cada passo uma armadilha
Em cada rua um buraco
Aqui cidadão não tem salto-alto
Política, assalto
Muro, eu salto
Imposto é alto
Na escola eu falto
No jornal eu pauto
Sangue no meu asfalto.”