A depressão também entra em campo: conheça dez casos de atletas de alto nível que sofreram com a doença - Parte 1

Gabriel Menezes
7 min readSep 7, 2018

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O mundo está doente. E não é por conta de uma epidemia, nem de vírus ou de superbactérias. As doenças que vêm atingindo cada vez mais pessoas ao redor do globo dominam o cérebro. A depressão atinge mais de 300 milhões de seres humanos em todo o planeta, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) referentes ao ano de 2015. O número de pessoas com algum tipo de transtorno de ansiedade, por sua vez, chega a 267 milhões. E segundo a organização, até 2020, a depressão será a doença mais incapacitante de todas.

Confira aqui a segunda parte do texto, com outros cinco casos

No esporte, não é diferente. Atletas de alto rendimento, apesar de parecerem muitas vezes inacessíveis e até passarem uma imagem de super-heróis ou super-heroínas, são pessoas. E os casos de grandes nomes que sofreram com depressão ou com algum tipo de transtorno em suas carreiras não é pequeno. Aqui, falaremos sobre dez desses casos.

Desde 2015, o Brasil adotou o mês de setembro para sua campanha de prevenção ao suicídio e, portanto, como data para tentar conscientizar a população a respeito de doenças psiquiátricas, por iniciativa do Conselho Federal de Medicina (CFM), do Centro de Valorização à Vida (CVV) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Se você suspeita que tem depressão, procure ajuda. Se pensar de alguma forma em tirar a própria vida, não hesite em discar para o CVV pelo número 188.

Morte do pai fez Adriano, Imperador na Itália, cair em depressão

Revelado pelo Flamengo, Adriano foi um dos maiores atacantes do futebol mundial no começo do século XXI. Até hoje, é referenciado como um monstro, que tinha muita força física e um canhão na perna esquerda. Apelidado de “Imperador” durante sua passagem pela Internazionale, era considerado um dos melhores do mundo. E ainda tinha muito potencial para evoluir. No entanto, em 2004, a morte do pai, Almir, foi um baque que o centroavante não superou.

Adriano ao lado do pai, Almir Leite Ribeiro

Segundo Javier Zanetti, ídolo nerazzurro e companheiro de Adriano à época, ver Adriano recebendo a notícia do falecimento do seu pai ainda o causa arrepios: “Quando ele recebeu a ligação, estávamos no mesmo quarto. Ele jogou o telefone longe e gritou de um jeito que não se pode imaginar. Me arrepio até hoje”, declarou o ex-lateral direito ao Tuttomercato.

O argentino também afirmou que, desde então, Adriano não foi mais o mesmo - apesar de ter vivido duas grandes temporadas na Inter - e que ver Adriano não vencer a depressão foi como uma derrota: “Desde aquele dia, eu e (Massimo) Moratti olhamos para ele como um irmão mais novo. Ele continuava jogando, marcando gols e dedicando ao pai, mas nunca foi a mesma coisa. Não conseguimos tirá-lo da depressão e essa talvez tenha sido a maior derrota de minha carreira. Ainda me machuca ver como eu fui impotente”.

Adriano ao lado de Zanetti na Internazionale (Foto: Getty Images)

Agostino Di Bartolomei: o ídolo romanista que tirou a própria vida dez anos após perder o jogo mais importante de sua carreira

Agostino, dono de um chute poderoso, marcou época na Roma

A história da AS Roma, tradicional clube italiano, se confunde com a de alguns jogadores que marcaram sua história principalmente com a camisa giallorossa. O maior nome destes é o de Francesco Totti, mas Agostino Di Bartolomei, nas décadas de 70 e 80, foi um dos grandes exemplos para que Totti se tornasse o que foi na capital da Itália. Revelado nas categorias de base romanistas, o meio-campista italiano estreou em 1972 pela equipe, deixando-a por apenas uma temporada (1975–76) e retornando logo em sequência como capitão e um dos principais nomes do time comandando por Nils Liedholm.

Capitão e líder de um elenco que venceu três Coppa Italia e um título da Serie A, Di Bartolomei viveu um drama quando, em 1984, a Roma chegou à final da Copa Europeia (atual Uefa Champions League) e acabou sendo derrotada, nos pênaltis, pelo Liverpool, dentro de casa. Para piorar, foi sua última temporada jogando para uma torcida que o exaltava com o cântico de “Ohhhhhhhhhhhhhhh, Agostino, Ago, Ago, Ago, Agostino gol”.

Di Bartolomei trocando flâmulas com Souness, capitão do Liverpool, antes da decisão da Copa Europeia

Em 1990, pendurou suas chuteiras, após passagens por Milan, Cesena e Salernitana. Em meio a dívidas e um caso clínico de depressão, Di Bartolomei sentia falta do futebol. No dia 30 de maio de 1994, exatos dez anos após a derrota para o Liverpool, o ex-jogador se suicidou, deixando uma carta para seus familiares, onde afirmava que não via futuro para si próprio.

Nilmar: afastado dos gramados por conta da depressão, atacante acendeu debate sobre doença no futebol brasileiro

Nilmar brilhou e foi ídolo no Internacional (Foto: Divulgação/Internacional)

O atacante Nilmar foi uma das grandes promessas do futebol brasileiro no começo dos anos 2000. Seu potencial acabou não se concretizando, especialmente por conta de seguidas lesões, mas sua contribuição para o esporte acabou extrapolando as quatro linhas. Ainda que de forma indireta, e sem aparecer, o jogador praticamente iniciou o debate sobre a depressão no Brasil.

Revelado pelo Inter e dono de excelente passagem pelo Corinthians, Nilmar tentava retornar ao Brasil depois de passagem pelo mundo árabe e assinou com o Santos em julho de 2017. Aos 33 anos, recebia R$ 200 mil por mês, mas praticamente não jogou com a equipe do litoral paulista. Foram apenas 39 minutos em campo, até que, em setembro, seu contrato foi suspenso. O motivo? Um diagnóstico de depressão, que o afasta dos gramados até hoje.

Passagem do atacante no Santos terminou após diagnóstico de depressão (Foto: Divulgação/Santos)

Em julho deste ano, quando questionado sobre a possibilidade de voltar a jogar futebol profissionalmente, Nilmar desconversou: “No momento, sinceramente, não estou pensando em voltar a jogar futebol. Estou muito bem. Até brinco com a minha família que nunca estive tão bem quanto hoje. Estou em outro momento da minha vida e não posso dar esperança ao torcedor, que sempre esteve do meu lado”.

Brian Dawkins: lenda do Philadelphia Eagles chegou ao Hall da Fama da NFL depois de considerar suicídio em seu primeiro ano na liga

Brian Dawkins em sua passagem pelos Eagles (Foto: Reprodução/Twitter)

No futebol americano, é comum vermos exaltação a jogadores de muita força física, que executam tackles fortes, parecem não ser afetados pelo medo de se machucar. Brian Dawkins, safety que marcou época pelo Philadelphia Eagles, era um desses. Líder de elenco, sempre encantou pela sua personalidade forte, os discursos inflamados e a violência - dentro das regras - quando estava jogando.

Fora dos gramados, entretanto, Dawkins sofreu com a depressão quando estava começando sua carreira na NFL. Quando foi introduzido ao Hall da Fama da liga, em agosto deste ano, o ex-camisa 20 dos Eagles afirmou que, quando ainda era calouro, chegou a pensar em formas de se suicidar para que sua esposa ficasse com o dinheiro do seguro de vida.

Entretanto, o ex-atleta também deixou uma mensagem de esperança: “Quando eu digo que passei por isso, eu saí do outro lado. Para vocês que estão passando por isso, sofrendo essa dor, existe um outro lado. Não fiquem parados. Continuem se movendo. Continuem tentando.”

Kevin Love: estrela da NBA sofreu um ataque de pânico durante partida

Kevin Love pelo Cleveland Cavaliers (Foto: Jason Miller/Getty Images)

Dentro de quadra, Kevin Love já brilhou com as camisas do Minnesota Timberwolves e do Cleveland Cavaliers. No entanto, também foi numa quadra de basquete, em meio a uma partida da NBA, que o ala-pivô passou por um dos maiores sustos de sua vida. E por algo que poucos perceberam: um ataque de pânico durante jogo contra o Atlanta Hawks.

Como o próprio atleta descreveu em texto publicado pelo The Players’ Tribune, o ataque começou do nada. Com o coração acelerado e dificuldade para respirar, Love deixou a quadra após um pedido de tempo e foi direto aos vestiários, onde acabou tendo se deitar e foi encontrado por um membro da comissão técnico, que o levou ao hospital. Fisicamente, tudo estava bem, afirma o jogador. Psicologicamente, no entanto, a coisa era bem diferente.

Depois de uma série de consultas com um psicólogo, Love se sentiu bem para falar sobre seu drama e apontar uma série de causas que podem ter levado a isso. No texto, afirma que “ninguém quer parecer fraco” e que esse tipo de pensamento, ensinado a ele desde pequeno, aliado ao estigma de doenças mentais, foi uma das causas de seu transtorno. E que “colocar as coisas para fora” o ajudou.

Demar DeRozan também sofreu com depressão na NBA (Foto: Chris Elise/NBAE via Getty Images)

O texto de Love veio após a revelação de Demar DeRozan, jogador do Toronto Raptors, que afirmou sofrer com depressão. DeRozan era líder da equipe e considerado um dos melhores alas da liga, mas ainda assim, tinha de conviver com a doença, apesar de não deixá-la transparecer durante os jogos, como afirma o próprio Kevin Love.

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Gabriel Menezes

Jornalista. Por aqui, se lê futebol italiano, alguma coisa de futebol brasileiro, e pautas “fora da caixinha”