Futuro do Pretérito

19/11/2014 - Um novo estádio para um velho Palmeiras

Fábio Felice
4 min readOct 20, 2015

*texto originalmente publicado em 20/11/2014

Foto: Fábio Felice

Penúltima rodada do Brasileirão de 2002. Palmeiras x Flamengo no, agora, Antigo Palestra Italia. O Palmeiras vinha de uma campanha terrível, lutava contra o rebaixamento e enfrentava os cariocas podendo tanto escapar de vez da Série B, quanto sacramentar a queda. O caderno de Esportes do Estadão daquele dia estampava as duas combinações necessárias e distintas para os dois eventos ocorressem. Obviamente, uma começava com a vitória do Palmeiras e a outra com a derrota do Palmeiras. Eu tinha 12 anos. Cheguei da escola e recortei os dois quadros, para levar comigo no jogo daquela noite. Pouco antes de partir de casa com meu pai rumo ao Palestra, coloquei a mão no bolso, pensei um pouco e amassei o quadro de combinações que faria o Palmeiras cair naquela noite. A vitória poderia nos livrar do inferno, mas a derrota poderia nos colocar de cara com o Diabo. E um menino de 12 anos não quer imaginar um encontro desses. O Palmeiras empatou em 1x1, não caiu e não escapou naquela rodada.

Lembrei dessa história na quarta-feira, quando estava chegando para a abertura do Novo Palestra Italia. No meu bolso, a tabela do Brasileirão 2014 recortada do Estadão, com os jogos da rodada no verso. Com o dobro da idade que tinha naquela noite de 2002, era nítido que muita coisa estava diferente. Mas outras, nervosamente iguais.

Rua Turiassu em dia de jogo no Palestra. Logo na chegada é fácil perceber o quanto isso fez falta pro Palmeiras nesses quatro anos, e o quanto a falta de um Palmeiras faz pra essa torcida.

No caminho rumo às catracas, um menino com o cabelo pintado de verde não para de falar, tamanha empolgação. Tomara que não tenha nada no bolso dele.

Foto: Fábio Felice
Foto: Fábio Felice

É impossível não sentir uma alegria imensa depois de passar pelas catracas. Dá vontade de entrar em todas as portas e espaços pra ver como ficou cada detalhe do, oficialmente, Allianz Parque. E o mais legal era olhar pro lado e ver todo mundo nessa mesma sensação. O “puta que pariu, que coisa linda” tava estampado na cara de todo mundo.

Antes do jogo começar, avisto uma placa da WTorre:

No aguardo de uma da Diretoria de Futebol, com TIME no lugar de ALIMENTOS E BEBIDAS, pedindo desculpas à torcida pelo GIGANTESCO transtorno no ano do Centenário | Foto: Fábio Felice

A bola rolou e todos nós já sabemos o que aconteceu. Felipe Menezes, Wesley, Juninho… É muita ausência de bola pra uma torcida e um estádio sedentos por ela. Corre-se o risco, ainda, de Diego Souza marcar o primeiro gol da nova casa. O time não cria. Não tem quem criar. Acaba logo esse primeiro tempo. O segundo começa e segue pior. Não tem Alexandre, o zagueiro, pra entregar a rapadura como no jogo de 2002, mas também não tem Nenê, pra salvar o time no finalzinho.

O setor Central Oeste é colado nos bancos de reserva. Colado mesmo. Você vai até o vidro e o técnico Dorival escuta tudo o que seu fígado tem a dizer. Dorival e quem estiver ali pra ouvir. Felipe Menezes e, em especial, Wesley, desejaram a surdez naquela noite. Faltou espaço no vidro.

Foto: Gazeta Press

Fim de jogo. O Palmeiras flerta com o Diabo, como em 2002. A saída do estádio, cabisbaixa, é a mesma daquela noite, na altura da Rua Diana, na Turiassu. Ainda tem o mesmo churrasquinho de gato, o mesmo sanduíche de pernil e a mesma galera proclamando gritos de ódio contra os mesmo culpados: aquele que comandam o Futebol do Palmeiras. Entretanto, eu não tenho mais 12 anos e nem o Palestra Italia continua o mesmo. O Palmeiras, infelizmente, esse parece que não muda.

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