Um dia sem meus remédios

Fabercontos
3 min readAug 11, 2017

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Esse Faberconto é real. Qualquer semelhança com minha vida não é mera coincidência.

Bipolaridade é uma coisa muito triste. E engraçada.

Vou abrir um pouco o jogo a respeito do que tenho vivido desde a adolescência, quando começaram os sintomas, e mais recentemente desde que tive um esgotamento mental há 3 anos e fui diagnosticado. Eu evito falar sobre esse assunto porque ainda há muito preconceito e as pessoas de mente sã (HAHAHAHA ESSA É BOA) tendem a pensar que os desvios mentais são frescura ou falta de força de vontade. Mas aí vem uma novidade pra vocês. Wait for it… Não é.

Estar em tratamento por causa de um transtorno psiquiátrico é como correr uma corrida que não acaba nunca. Você pode se esforçar. Você pode melhorar. Só não pode parar pra descansar. Hoje eu parei pra descansar.

Antes que me chamem de irresponsável por ficar sem tomar meus remédios, colocando em risco a integridade física de quem passar perto de mim (#brincadeira), vou me explicar. Ontem eu fiquei jogando até tarde com um amigo e fui dormir na casa dos meus pais. Chegando lá, estava muito cansado e fui dormir. Essa mudança de rotina me fez esquecer do remédio. Rotinas são importantes para quem sofre dessa condição.

Agora, mais de 33 horas sem eles, ou seja, com uma dose baixíssima no sangue, posso observar claramente alguns efeitos que gostaria de dividir com vocês. Talvez você ou alguém que conheça se identifiquem.

Em primeiro lugar, tive um aumento grande na disposição. Tive mais coragem para enfrentar o dia e realizar minhas tarefas. Mas não se enganem. Foi uma coragem do tipo “eu rio da cara do perigo”, que o Simba exibia no começo do Rei Leão. Pobre filhote. Medo demais pode ser paralisante. Mas medo nenhum, meus caros, é como diria Seu Madruga. “PRERIGO”. Deu pra entender as referências, né?

O que me leva ao segundo ponto. Rapidez de raciocínio. É bom pensar na velocidade de uma Ferrari? Não se o mundo é como uma rua de terra esburacada. Veja que só consigo me expressar por analogias e comparações. Porque sinto tantas emoções e tenho tantas ideias simultâneas que simplesmente ainda não inventaram uma forma de comunicar tanta coisa ao mesmo tempo.

Além disso, qual a vantagem de ter ímpeto e destreza na mente quando não se consegue manter o foco em um único assunto por mais de 5 ou 6 minutos?

Dito isso, gostaria de falar sobre procurar tratamento. Se você acha que tem algum transtorno mental, seja qual for, seja leve, moderado ou grave, procure ajuda médica especializada. O quanto antes. Vai ser preciso passar por um período longo de ajustes. E mesmo depois, haverão ajustes ocasionais. E então, você vai poder levar uma vida (quase) normal.

Infelizmente, a conclusão desse texto não é muito otimista. E ao mesmo tempo é. Sou bipolar, lembra?

Eu gostaria muito de poder manter meus altos níveis de criatividade sem ter que experimentar uma montanha russa de sentimentos. Mas não posso. Sou escravo dos remédios, e ao mesmo tempo são eles que me libertam. Tenho que tirar o melhor possível da minha condição, como qualquer deficiente.

Se eu puder inspirar uma pessoa que seja a se sentir melhor ao ler isso, esse texto terá valido a pena. Por favor, ajude compartilhando para que mais gente saiba como se sente um bipolar. Muito obrigado, desejo a todos muitos momentos felizes.

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