Tsukihime Remake — A Evolução do Nasu como escritor

Feripe
44 min readSep 24, 2022

Analise e Concepção da Rota Arcueid — Tsukihime Remake

Prologo; Demonstração do domínio do oficio de escrever uma estória

Durante minhas reviews anteriores, eu já comentei alguns aspectos de roteiro e para abordar a evolução do Nasu como escritor e como ele maneja seu oficio aqui, é necessário eu relembrar alguns aspectos.

Uma estrutura narrativa é uma seleção de eventos da estória da vida dos personagens em uma sequencia estratégica feitas para estimular emoções especificas e para expressar um ponto de vista especifico.
Um Evento quer dizer mudança. Eventos da historia são significativos, não triviais. Um evento da estória cria uma mudança significativa na situação de vida de um personagem.

Todos entendem que seja um romance, filme ou serie, todos eles contem cenas, certo? E cenas são ações com um conflito em tempo mais ou menos continuo, que transforma a condição de vida de um personagem em pelo menos um valor com grau de significância perceptível. O ideal é que toda cena seja um evento da estória.

Em uma cena você se pergunta: Qual o valor em questão na vida de meu personagem nesse momento? Amor? Verdade? Oque? Qual a carga desse valor no inicio da cena? Positivo? Negativo? Compare os valores do inicio e no fim da cena.

E com isso, entramos na primeira parte de Tsukihime Remake. O prologo.
Durante o prologo, vemos como Nasu domina com perfeição estas técnicas de roteiro criando, no que eu irei dividir em apenas duas, cenas que mudam o valor da vida do Shiki, nosso protagonista.

Assim que acorda no hospital e se depara que ele não é mais o mesmo, que ele ganhou a habilidade de perceber as imperfeiçoes do mundo, suas falhas, sua morte. Isso automaticamente muda o valor de personagem de Shiki, de uma pessoa normal para uma pessoa anormal, os valores positivo e negativo do personagem se invertem e o vemos lidando com isso, na cena do hospital.

Logo em seguida a cena do hospital, Shiki foge e encontra a maga Aoko Aozaki, que conversa com o garoto e cria uma relação de amizade com o mesmo. Shiki e Aoko passam tempos conversando e Shiki por um tempo esquece de sua anormalidade, ate que o mesmo decide se exibir e é repreendido por Aoko, novamente se culpando. Aqui não temos nenhum valor sendo alterado ainda. Entretanto, logo na sequencia, Aoko ensina Shiki, vendo como o mesmo estava perdido, ela o mostra que apesar de seus poderes, ele é normal, ele também é humano e posteriormente lhe da seus óculos retornando o garoto a normalidade que o mesmo ansiava.

Shiki passou de negativo para positivo nesse momento. Na sequencia de duas cenas do prologo, Shiki foi de positivo a negativo e negativo para positivo.

Em meio a isso, ainda temos a exposição sutil do poder que o Shiki tem nos olhos e seu nome. Claro que quem estava familiarizado com o Original ou a outra obra do mesmo autor, onde a protagonista tem o mesmo poder, Kara no Kyoukai, pode não ter percebido a sutileza do autor ao entregar as informações.

É sempre dentro das primeiras paginas de um roteiro, que um leitor julga a habilidade de um escritor, simplesmente notando como ele lida com a exposição. Exposição benfeita não garante uma grande estória, assim como uma exposição malfeita não garante uma terrível estória, mas nos diz se o escritor conhece a arte de escrever roteiros. Habilidade na exposição significa faze-la invisível. Enquanto a estória progride, o publico absorve tudo oque precisa saber sem esforços, ate mesmo inconscientemente.

As cenas entre Shiki e Aoko são cenas honestas e naturais em que seres humanos conversam e se comportam de maneira honesta e natural…e ao mesmo tempo que isso ocorre, ela passa indiretamente os fatos necessários para acompanharmos a estória.

Em outro texto, comentei da exposição de Kara no Kyoukai, assim como trouxe Fate/stay night para demonstrar a disparidade da qualidade do trabalho, entretanto Tsukihime Remake, apenas em seus primeiros minutos, já veio chutando a porta e sendo o trabalho em termos técnicos mais bem sucedido do Nasu. É de se admirar com tamanha evolução, se é que eu posso dizer isso, afinal desde você tenha lido Kara no Kyoukai , você ja perceberia como o mesmo tem um domino sobre técnicas difíceis de serem executadas, mesmo com o autor cometendo alguns deslizes em suas obras, que não a prejudicam por completo, por seus erros serem inferiores ao seus acertos.

Apesar da criticas de exposição que Fate/Stay Night recebe, grande parte delas conseguem ser ‘justificadas’, desde que você entenda a essência e o significado de um roteiro.

Dia 1; Slice of Life - Manipulação de Exposição e Não-Eventos

Entendendo como funciona um evento da estória, temos então a principal mudança de valor na vida de Shiki durante esse dia. Shiki ira retornar a sua antiga casa, a mansão da família Tohno. Todo o dia de Shiki se passa com ele lidando com sua volta, temos a sua despedida para sua mãe adotiva e entendemos mais sobre o personagem a medida que os eventos se desenrolam.

Uma mudança de valor é facilmente categorizada com um valor indo do positivo para o negativo, mas se mudar para a família Tohno, não é algo que você avalia como positivo ou negativo, ate porque sempre ira depender do ponto de perspectiva, nessa caso, é mais fácil olhar com números: 0 e 1.

Ocorre toda uma narração sobre o personagem voltar para casa e isso, fora o fato de ser realmente uma grande mudança, ja nos da a dica que os valores estão sendo alterados, se eu fosse colocar de maneira engraçada, antes o Shiki era pobre e agora é rico. Seus valores foram de 0 a 1, sendo então considerado então um evento da estória.

Claro que eu estou olhando a cena de maneira geral, oque eu estou analisando aqui é a cena principal de uma sequencia.

Toda cena verdadeira transforma a carga de valores da condição de vida do personagem, mas entre eventos o grau de mudança difere bastante. Cenas causam mudanças relativamente menores, porem significativas. A cena principal de uma sequencia, porem, transmite uma mudança mais poderosa e determinante.

Desde o inicio do dia 1, a cena principal e mudança principal, é o fato de Shiki retornar a mansão dos Tohno, entretanto ate chegarmos lá, temos diversas outras cenas, algumas delas não sendo eventos da estória, mas sim não eventos.

Se uma cena tem atividade — Conversando sobre isso ou fazendo aquilo — entretanto o valor da vida do personagem não se altera, temos um não-evento. O objetivo de um Não-evento dentro de uma estória, normalmente é a exposição.

O ideal para um roteiro é que toda cena seja um evento da estória, porem fazer toda cena virar um evento da estória, não é impossível, mas é difícil. Entre algumas cenas que mudam o valor da vida de Shiki, temos aquela que são expositivas, mas isso é necessariamente ruim?

Obviamente não. Como eu disse, o ideal é que todo cena seja um evento da estoria, porem um roteiro é sobre princípios e não regras.
Um regra diz “voce TEM que fazer desse jeito”. Um principio diz “Isso FUNCIONA…e vem funcionando desde sempre”

A exposição não é algo que você deixa de fora de um roteiro ou quer evitar por completo, a exposição é necessária para que o publico se situe no mundo em que a obra se passa e que ganha informação assim como os personagens.

Se uma exposição é demérito ou mérito, depende da sutileza com que ela é trabalhada. O famoso ditado “não conte, mostre” é a chave. Nunca force as palavras na boca dos personagens para contar ao publico sobre o mundo, a historia ou as pessoas.

É aqui que entra o ponto chave desse momento, o Slice of Life de Tsukihime Remake. Sabemos que a exposição normalmente vem nesses momentos, por serem normalmente momento onde os personagens interagem e onde menos ocorre alguma mudança significativa, em qualquer grau que seja.

Nas cenas de Shiki conversando com seus amigos sobre diversos tópicos, nessas cenas, a beleza dela esta na honestidade e naturalidade em que os personagens conversam, agora dando um grande destaque ao dubladores por conseguirem nos passar tamanha veracidade em suas falas, assim como a ambientação fruto da junção da sonoplastia e backgrounds.

Que ambientação magnifica de Tsukihime Remake, vejo que o dinheiro do FGO foi bem gasto.

Os personagens se comportam de maneira honesta e natural durante grande parte de suas interações e a medida que os tópicos mudam, descobrimos mais sobre os personagens, mais sobre os acontecimento recentes, falas e momentos que criam o buildup para oque vem a seguir.

A exposição não é um demérito, é um artificio de roteiro que novamente o Nasu demonstra seu domínio pleno, enquanto nos cria uma atmosfera tão aconchegante e casual com seus personagens em meio ao seu Slice of Life.

Dia 1.2; Analogia do cachorrinho — Menção a Rota Ciel dentro da Arcueid

Ela é tipo eu olhando para o roteiro magnifico do Remake e o analisando.

Durante o inicio do primeiro dia, Shiki esta no metro rumo a escola, quando se depara com sua calorosa senpai, Ciel, que recebe o garoto com um sorriso.

Nessa cena, Ciel e Shiki conversam casualmente enquanto esperam o metro chegar na estação desejada para que ambos saltem, rumo a escola. Entretanto em um momento, Ciel compara Shiki a um “puppy”, uma cena que poderia passar totalmente desapercebida, nos mostrando que Ciel apenas tem um carinho maior por cachorro do que por gatos, animal esse que ela sente certo desgosto.

Aqui ela faz outra analogia, porque por diversas vezes, Arcueid é assemelhada a um gato durante a obra. Não só isso, como a personagem Neko-Arc, que faz referencia a personagem, é um gato.

Momentos posteriores depois, porem, ela enquanto conversava com o garoto na sala do clube de chá, acaba comentando o quão maléfico seria o ato de deixar um cachorro na chuva.

Claro que ela não diz que o ato em si é maléfico, mas você pode entender que ela se refere a esse ato como algo negativo.

O fato dela primeiramente associar Tohno a um “puppy” e posteriormente dizer o quão vil seria abandonar um cachorro durante um dia de chuva, seria mesmo mera coincidência?

Não falando em termos de roteiro, mas essa é apenas uma pequena curiosidade que notei ao estar lendo. Claro, que apesar da rota Arcueid ser uma rota completa dentro de si, ela é uma construção para as rotas posteriores, isso inclui a da Ciel, sendo assim se quisermos analisar, temos não só a primeira menção da rota ciel dentro da rota Arcueid, mas também a primeira construção ou buildup para ela.

Dia 3; Climax do Ato e Apresentações de Texto

Passado o primeiro dia e o segundo dia sendo com voltado ao Slice of Life, preparando todo o terreno e personagens, ou seja não havia muito proposito em se comentar, ja que o Slice of Life do Remake, não foge do que ja foi dito por mim ali no primeiro dia. É no terceiro dia onde ocorre uma grande mudança nos valores de Tohno Shiki, quando o garoto por coincidência passa pela garota vestida de branco

Oque diferencia a cena onde Shiki encontra pela primeira vez Arcueid e suas ações posteriores, das outras cenas básicas da obra, é exatamente a intensidade do grau de mudança, ou precisamente o grau de impacto que essa mudança tem na vida do personagem. Essa é principal diferença entre o clímax de um ato e o climax de uma sequencia.

Qualquer um pode bater o olho e perceber como oque ocorre a Shiki durante essa cena é muito maior e bem mais impactante, do que simplesmente ele se mudar para a mansão Tohno, durante o climax da sequencia passada.

Devo dizer que se você perguntasse para o personagem naquela cena, se ele iria preferir passar pela mudança de casa mais vezes ou lidar com o peso de um assassinato que ele nem entende e nem tinha motivos para ocorrer, ele sem duvida e sem hesitar daria a resposta que prefere sofrer com a mudança de casa.

E devo ressaltar que um climax de Ato e um climax de uma estória são ligeiramente diferentes, mas com um peso muito grande no que as difere. Enquanto climax de Ato podem ser revertidos, como ira ocorrer durante o dia 4 da obra, apesar disso não mudar essencialmente a mudança causada na vida do Shiki, afinal outras coisas irão ocorrer fora o peso que fica na consciência dele. O climax do ultimo ato deve ser absoluto, uma mudança absoluta e irreversível, é o ápice de toda obra e a obra gira em torno do climax do ultimo ato, o climax da estória.

Com tal climax, podemos ver ainda mais da apresentação de texto de Tsukihime, que desde seu original é algo que chama a atenção. Ele não fica preso em uma janela, mas aparece em diferentes pontos da tela. A posição do texto se divide em expressar coisas como as emoções de Shiki, ou seus o desejo ‘obscuros’.

Isso é quando nos invertemos a imagem de cima, nos dando mais dos diálogos que deveriam ser impossível de ler, é uma ótima representação para a mente do garoto naquele momento.

É muito diferente do tipo de apresentação de texto que vemos durante a cena do Vlov, por exemplo, durante o final do dia 2.

Essas apresentações de texto de Tsukihime sempre foram muito criativas e sempre tendo algum tipo de similaridade com a poesia. Olhando para o texto do Vlov, vemos que isso não se perdeu e com todos os efeitos, transições e trilha sonora, vemos que a intensidade do texto disposto na tela se intensificou bastante.

Dia 4; Intertextualidade, O Personagem Shiki Tohno, Exposição Dramatizada e um Pequeno Deslize.

Muito bem, assim como eu havia dito durante o climax do Ato, as ações foram revertidas, mas como a própria obra diz, o fato do personagem ter matado a Arcueid, não mudou, ela esta viva, mas o personagem cometeu a ação. Não só isso, a ação não foi revertida para um estado onde o valor retornou ao original, as consequências estão se fazendo presente por todo o tempo.

E é aqui que quero abordar o assunto de intertextualidade. É um assunto que já comentei em outra review da obra do mesmo autor, mas vale citar aqui. Por se passarem no mesmo universo, as obras de Kinoko Nasu tendem a se conectar nos subtexto e o mais notório disso é quanto a Kara no Kyoukai e Tsukihime, duas obras que conversam bastante entre si.

Kara no kyoukai por sinal tem intertextualidade consigo mesmo.

Durante a leitura e vendo como Shiki reagiu ao seu ato de assassinato, dizendo como tal era imperdoável e que ele não deveria tirar os olhos do que fez e lidar com a responsabilidade, me lembrou e muito os temas de Kara no Kyoukai, por ser uma obra que fala principalmente sobre pecado e peso de um assassinato. Ver o Shiki ter sua resolução quanto as suas ações, ele tomar juízo do próprio pecado e quando isso ocorre aquilo pesar nele.

“Our sins become heavier the better our wisdom and common sense, and the greater our happiness.” — Kara no Kyoukai, Mikiya Kokutou

Querendo admitir ou não, Shiki estava pronto para entregar a sua vida para a Arcueid naquele momento, aquilo era algo que o mesmo considera justo para pagar pelos seus crimes.

Oque acabei de comentar, não essencialmente um mérito do roteiro de Tsukihime Remake, mas sim um mérito do próprio autor por criar um universo compartilhado e portanto permitir a intertextualidade, querendo ou não suas palavras ao descrever a cena trouxeram a tona mensagens de Kara no Kyoukai.

Agora antes de falar do Shiki, vamos revisar novamente um elemento de roteiro conhecido como caracterização.

Caracterização é a soma de todas as qualidades observáveis de um ser humano, tudo que pode ser descoberto através de uma analise cuidadosa: idade e QI; sexo e sexualidade; vestimenta; educação e trabalho; personalidade e nervosismo; valores e atitudes — todos os aspectos humanos que podem ser conhecidos ao tomarmos nota sobre alguém todo o dia.

Esse amontoado singular de traços é a caracterização…mas não personagem.

O verdadeiro personagem é revelado nas escolhas que um ser humano faz sob pressão — quanto maior a pressão, maior a revelação e verdadeira a escolha para a natureza essencial do personagem.

Sob a superfície da caracterização, independente de aparências, quem é essa pessoas? No coração de sua humanidade, oque encontramos?

Para descobrirmos, a pressão é essencial. Escolhas feitas sem nenhum risco significam pouco. Se um personagem escolhe contar a verdade em uma situação em uma mentira não lhe traz risco, a escolha é trival, o momento não expressa nada. Mas se o personagem insiste na verdade quando uma mentira poderia salvar sua vida, percebemos que a honestidade esta no núcleo de sua natureza.

Durante essa cena com a Arcueid, percebemos com clareza pela primeira vez que tipo de personagem e pessoa é Tohno Shiki. Vemos como o garoto lida com sua ações e durante o prologo vimos o motivo do porque ele toma sua ações. Qual pressão pode ser maior do que ficar cara a cara com o monstro que você tecnicamente matou, mas ainda esta vivo e que consegue criar uma tornado com um balançar de um braço? A vida de Shiki estava em risco ali e mesmo assim, ele agiu com honestidade, mas não para com Arcueid, mas para com consigo mesmo.

A vida normal que o garoto tanto anseia proteger, não existiria mesmo que ele conseguisse escapar daquela situação, porque lhe foi mostrado quando era criança, como viver. O garoto não podia trair seu próprio coração e por isso ele estava bem em morrer ali mesmo, ele tinha que lidar com a própria responsabilidade de seus atos.

Não acho que preciso explicar como essa cena é sim um evento da estória e portanto tem valores sendo alterados, oque a tornam significante narrativamente falando, pela descrição que fiz anteriormente, creio que isso fica claro. Se Shiki durante o inicio do quarto dia estava seguro, aqui ele corre perigo; Segurança e perigo; Sobrevivência e morte. Os valores estão aqui para se alternarem.

Ainda no incidente de Arcueid e Shiki no beco, somos nos apresentados ao conceito do vampiros e obviamente que se o Shiki ganha informação, nos também ganhamos, logo exposição. Já tratei a exposição aqui antes e não seria necessário eu abordar novamente, entretanto por se tratar de um exposição fora do Slice of Life típico da obra, me vi querendo falar um pouco.

Dramatizar a exposição é um dos jeitos de lidar com ela e o mais simples, é algo que ja comentei durante a review de Kara no kyoukai, mas não fui a fundo.

A exposição dramatizada serve a dois fins: o primeiro é promover o conflito imediato. Seu proposito secundário é nos passar a informação.
Amadores no oficio da escrita quando dramatizam a exposição, tendem a cometer o bobo erro de colocar a exposição a frente do conflito.

Para dramatizar a exposição, devemos aplicar esse ditado: converta a exposição em munição. Os personagens conhecem seu mundo, sua historia, um ao outro e a si próprios. Deixe-os usar oque sabem como munição em sua luta para conseguir oque querem.

Arcueid quer que Shiki fique a lado dela, então revela as informações que ele precisa para entender a situação e aceite ficar ao seu lado, isso enquanto ele acaba de ter seus valores alterados.

Porem lembram-se do que disse inicialmente a cerca dos Não-eventos?

Se uma cena tem atividade — Conversando sobre isso ou fazendo aquilo — entretanto o valor da vida do personagem não se altera, temos um não-evento. O objetivo de um Não-evento dentro de uma estória, normalmente é a exposição.
O ideal para um roteiro é que toda cena seja um evento da estória.

Diferentemente dos momentos Slice of life anteriores, aqui temos um claro valor sendo alterado, somos apresentados a esse valor sendo alterado mediante aos conflitos da cena, toda a cena é um evento da estória, ou seja a exposição nunca foi o único proposito disso.

“Se uma exposição for o único motivo de uma cena, um escritor disciplinado a jogara no lixo e transportara sua informação para outro momento.” — Pois então, o escrito disciplinado jogou sua exposição para um dos eventos da estoria.

Como se não fosse o bastante, todo o momento ate as revelações da personagem são sutis e naturais para a cena.

Shiki encontra Arcueid que deveria estar morta, viva, então pergunta “oque diabos é ela”, posteriormente a garota pede que Shiki a ajude em troca da sua vida, como compensação por tê-la matado e sem entender no que ela quer é ajuda, é revelado que há outro vampiro na cidade.

A exposição nessa cena, assim como deve ser, é progressiva.

Bem, em contrapartida, logo em seguida temos a cena do hotel que nos da mais informações a cerca dos vampiros, e preciso dizer que ate esse ponto a exposição é tratada com sutileza e naturalidade.

Criando a duvida em nossas cabeça do “Porque?”, somos levados a fome de informação, e com essa fome, mesmo a exposição dramatizada mais complicada passara por nos suavemente afim de ser compreendido. A cena durante o beco é o que cria em nossas cabeças essas questões sobre os vampiros e que também levam a Shiki a perguntar isso a ela, ja que como o mesmo diz, ele precisa entender na bagunça que ele se meteu.

Apesar que devo admitir que inicialmente não havia nenhum problema quanto a manipulação de exposição, porem após um tempo a exposição toma tempo demais de tela, tornando as coisas mais desinteressantes que o normal, além de que tornar as coisas mais ‘comicas’ não ajudou em nada isso. Sinto que aqui o Nasu quis chutar o balde e simplesmente reafirmar as explicações de vampiros, não só para que não haja duvida, como para também não ter que voltar a ela em outro momento. Ao menos é a primeira e única vez que vemos esse tipo de tratamento para exposição na obra, é um pequeno deslize por parte do Nasu que estava lidando extremamente bem com a sua exposição.

De certa maneira isso lembra os acontecimento de Fate/stay night, entretanto diferentemente daquela época, aqui Nasu manejou com que a exposição não ficasse logo de cara, assim não perdendo o interesse do leitor devido a exposição.

Com essa exposição complicada dos vampiros, primeiro os categorizando e logo em seguida apenas os dividindo em dois tipos; Dead Apostles e True Ancestor e depois toda a explicação sobre suas habilidades. Acredito que a intenção era dar ainda mais substancia aos próprios vampiros, já que antigamente essa categoria de rank de vampiros não existia no OG.

Em seguida a essa cena, temos então a explicação dos olhos do Shiki, entretanto não é algo tão absurdo quanto foi as informações dos vampiros, ela é tão bem manejada quanto possivel, assim como estava sendo antes da explicação do vampiros. No mais, a única ressalva é ter sido logo depois do caso dos vampiros e isso ter tornado a cena menos interessante, mas olhando de maneira fria para ela unicamente, não há nada de errado, o problema foi timing da sequencia de eventos.

Engraçado como a exposição dos vampiros após ocorrer parece ter sido só mais um delírio, porque o texto volta a ficar incrível, parece ate haver uma desconexão entre as cenas e isso torna a exposição dos olhos melhor e mais relevante principalmente devido a maneira seria e orgânica de como ela é abordada.

É interessante abordar a exposição dos olhos do Shiki, porque como o mesmo admite que aquilo é apenas uma autoafirmação de que ele não é normal. É uma verdade (informação) que ele durante seus 7 anos não quis aceitar, tudo em prol de manter sua normalidade, mas Arcueid empurra isso contra ele e o força a encarar seu verdadeiro ‘eu’.

Nesse ponto, eu não se categorizo isso como uma exposição dramatizada ou uma exposição critica. Exposição critica podem ser definidos como basicamente segredos, verdades dolorosas que os personagens não querem saber.

Tecnicamente falando, uma exposição critica é uma exposição dramatizada, mas nem toda exposição dramatizada é uma exposição critica, mas acredito que é certo configurar esse momento como critico, afinal é algo que Shiki negava durante 7 anos.

Dia 4.2; O substituto de Nero Chaos, Vlov Arkhangel.

Eu nem sei se deveria falar sobre esse assunto, mas como eu comentei sobre a Ciel no inicio do texto, acho justo apenas comentar que o motivo de Chaos ter sido retirado da Visual Novel fica bem aparente durante o dia 4.

A verdade é que o Tsukihime Original foi criado quando sequer existia o conceito de Nasuverso, a proporções e as profundidade dos conceitos magicos da época eram totalmente diferentes do que são hoje, tanto que as tatuagens que a Ciel tinha naquela época eram o protótipo do que viram a ser a Magical Crest no universo do Nasu e portanto foram substituídas aqui.

Oque houve com Nero Chaos, não é nada diferentes do que ocorre a um personagem criado em jogo multiplayer, mas que é acaba sendo esquecido e conforme o jogo se atualiza e se solidifica, o personagem acaba se tornando totalmente quebrado dentro do novo jogo, algo que os criadores jamais esperariam.

Com o avanço dos conceitos mágicos, Nero Chaos simplesmente ficou tão forte que não haveria como sequer lidarem com ele em Tsukihime Remake.

Ele já era tecnicamente quebrado no original, mas com o avanço da magia, não é exagero dizer que ele é um dos personagens mais fortes que tem e toda exposição dos vampiros apenas ressalta isso.

Há aqueles que reclamam de Nero Chaos não estar no jogo achando que seria possível o personagem manter seu papel de vilão na estória, saibam que compreendo seu saudosismo, mas não passa disso, saudosismo.

Comparando as historias e background de ambos os personagens, fica claro que Vlov é um antagonista com muito peso que Nero Chaos, fora oque eu ja disse sobre o personagem anteriormente, acho que fica claro que Nero chaos não tem espaço no remake.

Dia 5; Caracterização da Arcueid

Sim, durante esse dia temos a luta contra o Vlov e diversas outras questões, sobre o Shiki e eventos, mas como já abordei tanto o protagonista quanto o roteiro e aqui ocorre o Slice of Life que não só trabalha a relação dos dois, como da uma caracterização a Arcueid, acho importante eu falar da personagem cuja a rota pertence a ela e que não cheguei a comentar.

Repetindo:

A Caracterização é a soma de todas as qualidades observáveis de um ser humano, tudo que pode ser descoberto através de uma analise cuidadosa: idade e QI; sexo e sexualidade; vestimenta; educação e trabalho; personalidade e nervosismo; valores e atitudes — todos os aspectos humanos que podem ser conhecidos ao tomarmos nota sobre alguém todo o dia.

É nos momentos Slice of Life como os que ocorrem aqui, que nos damos conta dos aspectos humanos dos personagens, é aqui onde ele são construídos. E durante o dia 5, acontece a caracterização que julgo mais importante da personagem.

A natureza Arcueid é a de um vampiro que caça outros vampiros, é firme no compromisso de cumprir esse objetivo. Ela é alguém que da valor a eficiência e certeza. Esse o tipo de pessoa que ela é, suas ações posteriores a sua caracterização quanto a esse a aspecto, ressaltam a natureza do personagem, sendo então uma revelação do verdadeiro personagem.

Por isso que durante a cena do apartamento, ela não entende o porque o Shiki não quer esperar os 3 dias necessários para que ela recupere o poder necessário para que com total certeza ela seja capaz de derrota o Vlov. Tanto que ela logo depois ela dispara contra Shiki que ele é estranho após propor sua ideia de ir logo ao cair da noite.

Logo quando vemos a caracterização da sua personagem, vemos um dos semblantes de seu personagem. Apesar de poder forçar Shiki e garantir com certeza que eles irão ganhar, ela opta por não fazer isso. E como ela diz, isso é uma grande contradição, afinal, Arcueid é uma pessoa que preza pela certeza e eficiência de suas ações, mas mesmo assim ela não fez isso desta vez, e tentando esconder sua relutância e apreensão, decidiu confiar no garoto.

Como eu já disse durante o personagem do Shiki, a pressão é essencial para vermos o personagem. Escolhas feitas sem nenhum risco significam pouco. E aqui, Arcueid não apenas põem em risco sua sua própria vida, como a do garoto, afinal se ela o controla-se, tanto ela quanto ele sairiam vivos. Através dessa cena podemos ver um pouco da pessoa que é Arcueid.

E novamente citando a intertextualidade da obra, vemos que Arcueid em determinado momento se refere a ação de matar Vlov como massacre. Isso claramente tende a passar desapercebido, principalmente por aqueles que não leram Kara no Kyoukai, mas porque Arcueid não simplesmente se referiu a ação de mata-lo como simplesmente “mata-lo” ou então “assassina-lo”? Ja que o Shiki é um “assassino” essa descrição combinaria perfeitamente com ele.

O motivo é um tanto simples, é porque assassinato e massacre são coisas diferentes, ambas as ações tem uma grande significado não apenas em Kara no Kyoukai, mas em todo o Nasuverso.

“That’s massacre, not murder. When one looks both on his past and his
human dignity, weighs them, and throws one away; that is murder. That
way a man pays the price, and carries the weight of the sin of murder. But
a massacre is different. The victim might have been human, but the killer
lacks the common dignity of man, and is thus no longer human. The sin
does not weigh heavily on such killers.” — Touko Aozaki

Aqueles que tendem a cometer massacres, de acordo com Kara no Kyoukai, são aqueles conhecidos como monstros. Alcunha que tanto Vlov, Arcueid e Shiki recebem em determinados momentos.

Voltando ao tópico da caracterização da Arcueid, durante a luta contra o Vlov temos não só uma narração do Shiki nos dando detalhes da personagens, assim como os diálogos de Arcueid com Vlov nos entrega peças de informações que utilizamos para montar o quebra cabeça do que é a personagem. Aumentando nosso leque de informações e adicionando mais linhas em sua caracterização.

Dia 7; Mistério/Suspense e Novos Pontos de Virada

A imagem é referente ao dia 2, mas serve bem para ilustrar já que menciono a Noel aqui.

Novamente pulamos um dia, assim como pulei o dia 2, eu pulei o dia 6. Isso não se deve ao dia na Visual Novel não ter nada a se comentar, apenas não é da minha vontade vir e repetir os mesmas técnicas de roteiro de novo e de novo, simplesmente para demonstrar como a informação foi manejada, como a caracterização dos personagens é progressiva, como o buildup para eventos futuros é feito, assim como todo e qualquer evento da estoria que apareça.

Diferentemente de filmes onde ao total de um longa-metragem tem cerca de 40 a 60 cenas, Romances; com isso me referindo a Novels, Lights Novels e Visual Novels. Tendem a ter mais de 60. Vez ou outra cabe a mim comentar de certa cena, aspectos dela e relevância, mas não toda e qualquer cena que aparecer.

O suspense é um dos elementos que eu sequer abordei ate agora, mas esse dia 7 elevou o suspense da obra a um novo patamar, logo acho justo comentar um pouco dele.

Logo no inicio do dia, vemos que Shiki tem algumas reações estranhas quanto a Akiha, por simplesmente ter diversas tontura pelo simples fato de ficar de frente a ela. Como se não bastasse, em seguida chegamos a escola, onde Shiki da de cara com Noel, sua professora substituta e que durante seu primeiro dia na escola como professora agiu de maneira nada usual para uma professora, tentando descaradamente seduzir o garoto para fins desconhecidos, afirmando ser apenas uma brincadeira quando sua tentativa da errado.

Esse momento ocorre durante o segundo dia no jogo.

Agindo simpaticamente com Shiki desta vez, a professora começa a perguntar sobre seu paradeiro, afinal ele havia faltado na escola, também questiona sobre sua saúde, onde Shiki revela a ela sobre seu acidente.

Prestando atenção ao fluxo da conversa, percebemos que ela esta tentando obter informações sobre o garoto, para qual finalidade? Não sabemos.

Mistério significa ganhar interesse mediante a curiosidade por si só. Suspense por outro lado, combina curiosidade e preocupação. Durante um suspense, os personagens e nos, publico, nos movemos juntos ao longo da narrativa, dividindo o mesmo conhecimento.

Tsukihime Remake claramente não é uma obra focada em Mistério e Suspense, entretanto são elementos que compõem sua narrativa, principalmente para engajar o interesse do leitor e esconder fatos expositivos, particularmente fatos na Estoria pregressa.

Não falarei de Estória pregressa nesse momento, por terá um momento melhor para aborda-la, entretanto fique com o pensamento que não passa de outra maneira de lidar com a exposição, assim como é um método de mistério.

Conseguindo sermos pegos em seu mistério somos enchidos de curiosidade a cerca do tal, assim como quando pegamos no suspense nos enchemos de curiosidade pela revelação, tal como nos enchemos de preocupação pelo que pode acontecer aos personagens.

Pontos de virada não só nada mais que do que a alteração de valor dentro de um evento da estória, é algo que ja repeti aqui diversas vezes.
Existem duas maneira de fazer criar um ponto de virada ou virar uma cena e esses são ações e revelações.

Os pontos de virada que eu mais tratei aqui são sobre ações e pelo menos ate agora, nunca revelações.

Tendo voltado a sua vida normal, Shiki acredita que os homicídios do serial killer conhecido como ‘vampiro moderno’ irão cessar, afinal aquele que o garoto acreditava ser o responsável, Vlov, não esta mais aqui. Durante todo o dia 6 o garoto mantem tal pensamento em sua cabeça e durante o 7, numa conversa com Akihiko, o amigo revela que os homicídios ainda estão ocorrendo.

Shiki refletindo sobre o vampiro ainda estar por ai e sobre sua vida normal

Buscando a única pessoa que pode confirmar a veracidade da informação de que um vampiro ainda esta por ai matando pessoas, Shiki busca Arcueid, portanto a vampira confirma os receios de Shiki. Vlov nunca havia sido se quer o seu alvo, tudo havia sido um engano por parte de Shiki.

Apesar do Shiki não perceber que o Vlov nunca foi o vampiro referido pela Arcueid, em alguns momentos isso é deixado a entender, o mais notório é na primeira aparição do Vlov, onde ela se quer o reconhecia, oque não ocorreria caso ele fosse sua presa.

A revelação de que o verdadeiro culpado ainda esta a solta, joga Shiki de volta ao valor que ele teria acabado de tornar positivo ao recuperar sua normalidade de volta. Fora que ele sente que não cumpriu seu dever com Arcueid e que tudo que ele fez no confronto contra Vlov foi em vão.

Os efeitos causadas por um ponto de virada são: Surpresa, curiosidade crescente, visão e nova direção.

Com o atual ponto de virada de Shiki, a estória ganha rumo a uma nova direção, que devido ao suspense por não sabermos oque esperar, causando em nos uma curiosidade crescente e sentimento de preocupação pelo futuro dos personagens.

Dia 8; Arco de Personagem — Arcueid

Não é como se eu fosse me profundar nesse elemento da personagem agora, muito menos a própria estória, entretanto é possivel termos o primeiro semblante do arco da personagem durante a obra.

Durante os períodos em que abordo a caracterização dos personagens, eu demonstro que caracterização é diferente de vermos o personagem, para vermos um arco de personagem, precisamos pegar o conceito de personagem e leva-lo ainda mais longe.

Uma ótima escrita não apenas revela o verdadeiro personagem, como cria um arco de mudança na natureza interna, para melhor ou para pior, ao longo da narração.

Shiki e Arcueid combinam de se encontrar as 10 horas no parque para sua caçada aos vampiros, entretanto Shiki se atrasa e Arcueid fica irritada por isso, dizendo que ela esteve esperando por ele. Shiki descobre que a garota chegou bem antes do horário marcado, esperando o garoto por 3 horas, 3 horas essas que não foram nada produtivas.

Isso entra em conflito com a natureza seria e eficiente de Arcueid, principalmente pelo fato de que ela mesmo admite que estava gostando de esperar o garoto, aquilo para ela era divertido.

O proposito deu vir aqui e relatar isso é apenas que para demonstrar que já podemos perceber a mudança na essência da personagem durante essa etapa da obra. Eu não tinha a pretensão de abordar do todo o arco de personagem dela, pelo menos nessa etapa da estória, isso é para quando eu for falar da concepção da obra.

Dia 8.2; Noel roubando a cena da Ciel

Tivemos algumas revelações durante o dia 8 como a da Noel, mas oque quero falar não é sobre isso, mas o fato de que a personagem substituiu Ciel nas cenas que seria referentes a ela no OG. Na verdade seria mais preciso dizer que ela ocupou o lugar de Ciel durante essa rota.

Oque ocorre com Noel aqui não é diferente de Nero Chaos, as reclamações contra a Noel durante essa rota deveria ser pelo papel que ela executa e não simples alguém reclamando que ela tomou o papel da Ciel no original.

É obvio que o Nasu optou por criar um mistério quanto a Ciel aqui, afim de manter todo o cerne e grande parte de seu caracterização escondido para sua própria rota, para dessa vez, conseguir criar algo original para a personagem, mas algumas pessoa olham para a Noel e simplesmente a veem como uma personagem que veio tirar a personagem deles de tela, novamente o mais puro exemplo de saudosismo.

Na cena acima quando Shiki se refere ao fato de Noel te-lo o salvado uma segunda vez, é um tanto um mal entendido do leitor quanto do personagem. Eu ja disse que durante um suspense, os personagens e o publico, nos movemos juntos ao longo da narrativa, dividindo o mesmo conhecimento.

O correto deveria você NÃO saber que a cena da Noel deveria ser da Ciel, assim como não saber que o Shiki foi na verdade salvo da primeira vez pela Ciel. A personagem Noel cumpre seu papel em tela muito bem e como pode constatar quando eu citei a personagem aqui anteriormente, ela é a que mais engaja e trabalha o mistério e suspense dentro da obra quando o assunto é a igreja.

Após o incidente do Vlov, a Ciel foi chamada de volta e a Noel ficou, por não sabermos da Ciel, não saberíamos quem é a o segundo executor na cidade, afinal nos foi dito que eles sempre andam em dois. A obra ta claramente formando uma bolha de mistério sobre a personagem Ciel, apenas crescendo nossa curiosidade para o momento certo.

Imagem do dia 10

Após o incidente do Vlov, Akihiko de maneira EXTREMAMENTE sutil desconversa quando Shiki se refere a Ciel, não se lembrando dela e isso por um tempo nem retorna, deixando o mistério no ar. Não só isso, como o mesmo ocorre com a Yumizuka, ela desaparece da obra e não temos mais nenhum informação, despertando nosso desejo de saber.

A surpresa do telespectador ao se deparar com Ciel sendo revelada durante o final da rota, nos gera um mistério ainda maior pela personagem ao percebermos que não sabemos absolutamente nada sobre ela, apenas oque superficialmente aparenta, oque não é nada conclusivo. Somos instigados a querer saber mais sobre a personagem, nos levando a ter expectativas as informações e respostas que obteremos quanto a ela durante sua própria rota.

Imagem durante o dia 12

Noel é uma personagem ótima para o papel que lhe a dado aqui, não só pela evolução da escrita do Nasu nesse caso, mas por mérito da própria personagem, ela desempenha o mesmo da Ciel muito melhor que a mesma, comparado ao Original. Ela é realmente uma executora da igreja e vai agir com base em seus dogmas e sem pensar duas vezes, uma extremista na melho definição. Ciel por sua vez tinha todo um relacionamento com Shiki, parecia querer dividir a atenção do expectador com Arcueid, coisa que Arcueid faz e muito bem durante a rota da personagem no OG, mas aqui Ciel esta longe de ser uma competidora, não sabemos nada concreto sobre ela, apenas somos levados a curiosidade quanto a sua personagem e isso para a rota esta OTIMO.

Noel cumpre sua função durante a rota de maneira excelente, ela passa uma aura intimidadora como uma extremista da Igreja, Ciel por outro lado tem toda uma hora amigável e simpática, longe de ser o necessário para aquele momento da estória. Tanto que durante o dia 13, no quarto do Shiki, é a Ciel que esta ali, é a Ciel que o salva do Roa no dia 12, essa ações não poderiam ser feitas pela mesma pessoa que tomou ações que iriam contradizer todas essas durante o dia 8.

Já pensaram no motivo do porque a Ciel retornou ao quartel geral dos executores, enquanto a Noel ficou, sendo que Ciel, por ser a lider, seria bem mais eficiente que a Noel na tomada de ações? Ciel bateria de frente com Arcueid, enquanto Noel só conseguiu fazer isso porque o Mario tava ali dando suporte e pressionando ela, ela estava se borrando de medo da vampira.

Dia 10; Estrutura como retorica

Um escritor não deve apenas ter ideias para expressar, mas também ideias para provar. Expressar uma ideia, no sentido de expô-la, nunca é suficiente.

O publico não deve apenas compreender; deve acreditar.

Contar um estória é a demonstração criativa da verdade. Uma estória é a prova viva de uma ideia, a conversão da ideia em ação. A estrutura de eventos numa estória é o meio pelo qual você primeiro expressa e depois prova sua ideia… sem explicações.

Uma grande estória autentica suas ideias apenas dentro da dinâmica dos eventos; a falha em expressar uma visão da vida por consequências puras e honestas da escolha e da ação humana é uma derrota criativa, que nenhuma quantidade de linguagem enriquecida pode salvar.

Grandes contadores de estória nunca explicam. Eles fazem a coisa dolorosa, criativa — dramatizam.

Desde o incidente com Arcueid no dia 3 e comigo decidindo por abordar a caracterização da personagem no dia 5, Arcueid tem se mostrado em uma grande paradoxo relacionado a sua existência.

Como ela mesma diz durante o dialogo na sala de aula, ela foi ensinada a não fazer coisas que ela julga como sem sentido ou apenas perda de tempo. A Arcueid preza por suas ações serem eficientes, para ela simplesmente sair com o Shiki para ficar de bobeira é um ato que ela deveria considerar ultrajante e mesmo assim ela o faz.

A mente Arcueid que tinha sido criada de tal forma que fazer qualquer coisa que não fosse com o proposito de cumprir o seu dever quanto aos vampiros era vista como inútil, é fundamentalmente alterada pela resposta que o garoto deu, dando essas coisas e ao mesmo tempo, seu relacionamento com Shiki significado ao repensar como ela percebe as coisas, o que rompe sua espiral.

Um tema tem dois componentes: Valor e Causa. Ela identifica a carga positiva ou negativa do valor critico da estória no climax do ultimo ato e identifica a razão chefe pela qual esse valor mudou para o seu estado final.

Nessa cena ao por do sol, Arcueid encontra um novo significado para as coisas além de si mesma, para a maneira como ela ira levar sua vida de agora em diante, o valor é alterado nesse momento, mas apenas será expressado durante o climax do ultimo ato, nos levando a entender que essa cena foi a causa.

Dia 10;2; O impulso sexual de Shiki durante a cena do beco

Simplesmente culpar os impulsos naturais de Shiki devido a sua personalidade Nanaya nessa cena, é querer tirar os olhos do que da proposito a existência dessa cena.

Toda a cena do Shiki com a Arcueid no beco é para criar um contraste e paralelo entre os impulsos sexuais e homicidas do Shiki e os impulsos vampíricos da Arcueid. Nenhum deles se difere nenhum pouco e essa cena esta aqui para representar isso.

Shiki não deve ceder aos seus impulsos, assim como Arcueid não deve ceder as dela. No jogo, é possivel você ver em qual cena você esta e o nome da cena, o nome da cena do beco é “Seeing life in the midst to death” e é um titulo bem preciso, pois a morte é representada por seguir seus impulsos, deixar de ter escolha sobre suas próprias ações e se tornar algo diferente de você, uma besta. A vida é em contra partida, não ceder, se manter no comando de suas ações, não deixar de ser você mesmo. Por isso o titulo da cena a representa bem.

Mesmo que ele tenha que morrer, ele não vai ceder ao seus impulsos

Parar o ato poderia matar o Shiki, como o mesmo diz, entretanto era a única maneira dele “viver”, por isso ver a vida em meio a morte.

Não devemos ceder aos nossos impulsos, a nossa ‘origem’, no fim nos sempre temos uma escolha. Esse é um assunto que também percorre Kara no Kyoukai.

Inclusive o bad end dessa cena é a representação do que ocorreria com Shiki, caso o Mario e Noel não tivessem intervindo durante os impulsos da Arcueid.

Essa cena é a mesma que tivemos durante o OG, mas aqui ela é tratada com cuidado quanto ao Nasu. Enquanto no OG tivemos um rape que se sobrepujava sobre oque a cena queria dizer, nos dando um cena totalmente desnecessária, aqui isso não ocorre, não apenas isso como não temos o abuso de Arcueid acontecendo em tela.

Shiki cede ao seus impulsos durante o bad end, verdade, mas ainda sim tudo acontece off-screen, não há necessidade deixar o telespectador desconfortável com uma cena daquelas, não haveria nenhum proposito ao mostrar aquilo, portanto Nasu deixa de fora, nos deixando unicamente o significado por atrás daquelas ações.

Dia 12; Estoria Pregressa, Mistério e Buildup para outras rotas.

Essa arte do Takeuchi vem forte demais

Durante minha abordagem quanto ao mistério e suspense da obra, eu citei a Estória pregressa, mas afinal, oque é isso? Eu estava esperando o momento mais importante da estória pregressa ocorrer para vir abordar o assunto e finalmente chegou o momento de falar um dos elementos de roteiro que o Nasu mais gosta quando o assunto é Tsukihime.

Estória pregressa é uma das maneiras de se lidar com exposição. Revelações poderosas vem da Estória Pregressa — eventos significantes anteriores na vida dos personagens que o escritor pode revelar em momentos críticos para criar Pontos de Vira.

“havia uma terceira criança que brincava comigo e a Akiha quando éramos criança” é uma exposição, guardada para criar uma revelação que vira o climax do ato e nos dar pistas para uma rota inteiramente nova.

Fomos alimentados com a curiosidade crescente do passado de Shiki e a oque eram aqueles sonhos vividos que o mesmo tinha durante toda a serie, aquilo não era nada mais que uma preparação de terreno para essa revelação, criando o maior efeito que uma revelação poderia ter.

Nasu poderia ter simplesmente exposto durante a conversa de Akiha e Hisui no dia 9, que Shiki não deveria ter entrado na floresta devido ao acidente com o SHIKI. Mas Nasu não faz isso, ele nunca se quer confirmou a existência de SHIKI, em vez disso, eles usaram a exposição da estória pregressa para criar pontos de virada explosivos que abrem a brecha entre expectativa e resultado, e nos dão uma nova visão, mais ampla, da estória.

Como eu ja disse, existem duas maneira de fazer criar um ponto de virada essas são ações e revelações. A revelação da estória pregressa nesta cena é uma mistura de ambos.

Toda essa parte da revelação cria um Buildup imenso para as rotas posteriores, principalmente devido a sequencia das cenas. Primeiro temos Shiki enfrentando um ser misterioso, recuperando flash de sua memoria e lembrando de SHIKI, causando uma grande revelação. Em seguida temos Ciel, personagem cujo não sabemos nada e por fim temos a ligeira informação que Akiha estava envolvida no acidente de Shiki a 7 anos e poderia tê-lo salvado.

Esse momento me lembrou e muito os eventos ocorridos durante a antiga adaptação de Tsukihime para manga

Dia 13; Climax da Estória, Principio do Antagonismo e Coincidência.

O Climax da estória é a uma das partes mais fundamentais de uma estrutura. Essa reversão maior culminante não é necessariamente cheia de barulho e violência. Em vez disso, deve estar repleta de significado.

Climax da Estoria — Uma revolução nos valores, indo do positivo ao negativo ou do negativo ao positivo com ou sem ironia — um valor mudado em seu carga máxima que é ABSOLUTO E IRREVERSIVEL. O significado dessa mudanças mexe com o coração do publico.

OWW THE PEAK FICTION😭😭

A ação que cria essa mudança deve ser “pura”, clara e auto evidente, não exigindo explicações.

É durante o 13º dia que vemos Arcueid se libertando das amarras que a prendiam, é aqui que o valor, comentado durante o 10º dia e que ira expor o tema da rota, fica evidente.

Não são os diálogos ou a narração da obra que expõem a mudança nos valores, são ações da personagem. A ação de Arcueid de ir em direção a própria morte para proteger o Shiki, é oque demonstra sua mudança, é aqui que fechamos o arco da personagem.

Na cena vemos uma mulher que se libertou de suas amarras e foi correndo em direção a sua própria morte, pela pessoa que ama. Ela que ate então era uma pessoa eficiente e precisa nas suas ações, estava ponderando se iria ganhar…se oq ela estava fazendo seria de algum resultado, afinal o esforço dela em ir atrás de Roa era inútil e ela sabia disso e mesmo assim, ela foi.

Uma estória é criada a base de seu climax. Toda as cenas devem ser temáticas ou estruturalmente justificadas sob a luz do Climax. Se elas podem ser cortadas sem afetar o impacto do final, elas tem que ser cortadas.

Eu no momento me pergunto se teria alguém que tentaria negar o fato de que a afirmação acima se diagnostica para essa obra...

Roa é dito ser o antagonista da obra, mas seria isso mesmo? Bem, é certo que ele é um dos antagonista da obra e o maior deles, mas não ele é o verdadeiro antagonismo da obra, muito menos o antagonismo referente a Arcueid, não é Roa que ela enfrenta durante a obra, são suas amarras.

Oque faz um protagonista ou personagem se tornam algo completamente desenvolvido, multidimensional e profundamente empático? Oque tratara um roteiro a vida? A resposta para essas perguntas habita o lado negativo da estória.

Quanto mais poderosas e complexas forem as forças do antagonismo que se opõem ao personagem, mais ele e a estória devem ser desenvolvidos. “Força do antagonismo” não se refere necessariamente a um antagonista ou vilão especifico, quando dizemos força do antagonismo queremos dizer a soma total das forças que se opõe ao desejo e a necessidade do personagem.

Roa é o vilão e antagonista, sim, sem duvida, mas no fim nada é sobre o Roa em si, e sim a obsessão da Arcueid em cumprir sua tarefa, essas são as correntes que a prendem, esse é o antagonismo da obra. Roa ta ali apenas para representar isso, metaforicamente falando.

O próprio Roa diz que são essas amarras que prendem Arcueid que os diferenciam

Também é por isso que o Shiki pouco se importa com o Roa, ele apenas quer salvar a Arcueid e nada mais. Eliminar o Roa é um passo em direção ao objetivo dele.

Coincidência seria algo para se abordar durante o dia 3 no encontro de Shiki com Arcueid, entretanto eu comentar sobre isso naquele ponto da estória, não teria mérito algum, mas agora após passarmos pelo clímax da estória, é momento correto de se comentar.

Estória cria significado. Coincidência, portanto, supostamente deveria ser a inimiga de qualquer obra ou escritor, pois é a colisão aleatória e absurda das coisas do universo que, por definição, não tem sentido. Ainda assim, estória são sobre a vida, e a coincidência é parte dela, muitas vezes uma parte poderosa, chacoalhando a existência e depois desaparecendo tão absurdamente quanto chegou.

Uma descrição deveras precisa, não concordam?

Então, como resolver o problema da coincidência numa estória? A solução, portanto, não é evitar a coincidência, mas dramatizar o modo como ela entra na vida sem sentido, fazendo com oque adquira significado com o tempo, como a antilogia da aleatoriedade transformando-se na logica da vida-como-vivida

Por uma coincidência ir ganhando significado ao longo do tempo, não havia mérito de se comentar logo quando a coincidência ocorre, afinal naquele ponto ela não tinha qualquer significado, além do seu proposito na cena. Mas e agora que estamos no final da obra? E agora que passamos por tudo que a estória tem a nos oferecer? Seria aquilo apenas uma mera coincidência?

Dia 14; Resolução, Considerações e Bad Endings.

Essa é ultima parte de estrutura e a ultima parte de uma estória. A logica narrativa da obra deixa a oportunidade para uma pequena subtrama antes do Climax da Estoria, isso é a promessa que Shiki e Arcueid fizeram. Essa subtrama traz as questões onde habita o coração do publico, afinal ela esta intimamente ligada aos acontecimento da Trama.

Agora algumas considerações antes irmos para a concepção.

A seguinte citação é algo que o próprio Kinoko Nasu ja disse uma vez:

“When discussing visual novels, i wish that people wouldn’t only judge them by the story. A game consists of its systems, presentation, visuals, music, and even how the product is sold and packaged. We should consider all of theses. If you only wanto to focus on the story, then you could just read a novel.”

Os Bad Ending da obra são elementos da propria obra e não deveriam ser ignorados, mesmo eles tem algum proposito de estar ali, como nos dar dicas e atiçar nossa curiosidade quanto aos elementos obscuros de Tsukihime que só serão visto no Far Side, ou como vai ser chamado Red Garden.

Ainda temos oque as ações do personagem representam, como naquele momento com Shiki cedendo ao seus impulso frente a Arcueid. Então ao finalizar o jogo, vale a pena conferir esses Endings, eles fazem parte do jogo e não devem ser excluído, assim como toda a composição da obra, não deve ser ignorado quando você for julga-la, claro que o texto é o mais importante, ele é a vida da estória, enquanto o texto é o coração da obra, a composição é o corpo.

Concepção; Tsukihime -A piece of blue glass moon-

Não é algo nenhum pouco tão detalhado quanto a analise do roteiro, é mais eu expressando alguns pontos da obra.

A maneira como Shiki acaba por conhecer Arcueid é um tanto inusitada para os padrões de estória de romance, onde temos a famosa convenção de “boy meets a girl”. Foi tudo apenas uma coincidência do ‘destino’ que os botou lado a lado naquela rua, e então apenas um pequeno erro cometido pelo seu impulso que levou Shiki aos acontecimentos que ligaram os dois. Não só isso como foi essa ação de mata-la que levou Arcueid a se apaixonar por ele.

Enquanto permanecia sentada na grade esperando que aquele que a atacou simplesmente prosseguisse com sua rotina diária, a Arcueid pensa um pouco.

Arcueid é um pessoa eficiente e despreza futilidades, a única coisa que passa por sua mente nos ultimo 800 anos é seu dever de matar Roa, mas nesse meio tempo esse garoto aparece e a mata.

Um sentimento que ela nunca havia sentido começa a borbulhar dentro de si, aquele sentimento era algo novo para ela, aquele sentimento não tinha proposito, aquele sentimento era inútil diante de sua missão de caçar e matar vampiros. Ela ter aqueles tipos de sentimentos a fez pensar sobre o garoto que a matou, a curiosidade começa a surgir em sua cabeça e ela não se vê mais irritada, ela apenas queria conhecer aquele garoto. Nesse ponto, Arcueid ja estava apaixonada por Shiki.

É difícil perceber pela maneira como ela age externamente; Alegre, extrovertida, um tanto infantil e honesta, oque a leva a ser descrita como “cabeça de vento” por Shiki. Mas Arcueid é apática.

Tudo que existe para ela fora sua obrigação de caçar e matar vampiros não é nada além de um bando de informações que ela não poderia ligar menos, caso não tenha haver com suas obrigações como um True Ancestor.

Arcueid vivia por 800 anos numa espiral de obrigações e caça, não existia mais nada para ela além disso, mas isso acaba quando Shiki a mata. Shiki é o responsável por “matar” as amarras que prendem Arcueid. E apos 800 anos, Arcueid faz a primeira coisa “inutil” em sua vida, ela faz o garoto de guarda-costas.

Ela se diverte tanto apenas conversando com Shiki que eventualmente chega à questão se isso está certo.

Participar do mundo humano quando ela sabe muito bem como isso pode acabar, se aproximar de alguém quando pode terminar em tragédia e tudo isso enquanto se abstém ativamente e conscientemente de seu objetivo.

Ela está se divertindo muito, mas la no fundo isso sempre a incomoda, assim como um sentimento permanente de culpa por ela ter arrastado o Shiki para isso.

Arcueid é uma pessoa despreocupada e com aparência feliz, mas que por debaixo disso tudo está um sentimento sempre presente de que ela está cometendo outro erro. Um erro que lhe dá mais alegria do que absolutamente qualquer coisa, mas fazer coisas fúteis vai contra o motivo para o qual Arcueid Brunestud foi criada, ela ate mesmo pergunta se em algum momento na morte que Shiki deu a ela, se ela quebrou de alguma maneira.

A natureza Arcueid é a de um vampiro que caça outros vampiros e ela é firme no compromisso de cumprir esse objetivo. E durante 800 anos, ela tem dito o foco em caçar um único e especifico vampiro, Roa.

Mas é passando um tempo com Shiki que ela descobre que tem mais coisas na vida do que simplesmente caçar vampiros, que a vida é cheia de coisas fúteis e inúteis que ela sempre rejeitou e que esta tudo bem com isso.

Assim como Shiki teve um mentor em sua vida que por sua vez foi Aoko, Arcueid também precisava de alguém assim e é Shiki que mais cumpre esse papel para com ela. Apesar ambos aprenderem um com o outro.

A forma como eles se conheceram não podia ser menos usual para esse tipo de estoria, mas ele é a porta de entrada para um mundo onde fazer coisas desnecessárias é normal.

É interessante o contraste de Shiki e Arcueid, pois enquanto Arcueid é decidida a fazer algo, Shiki não, ele simplesmente vive a vida vagarosamente

Falando do protagonista, Shiki é alguém realizado desde o inicio, oque ja define seu arco de personagem aqui como um Flat Arc, mas não é algo que vou entrar no mérito aqui, talvez numa proxima oportunidade em que vou realmente analisar seus arcos de personagem e dar uma concepção melhor da rota.

Enfim, o ponto chave para Shiki é quando ele encontra Aoko e ela o mostra como viver a vida, naquele ponto em diante Shiki não tem muito mais oque se “desenvolver” colocando de maneira mais simples. Claro que ele encontra novas metas, tem novas coisas para aprender, mas o personagem/pessoa Shiki Tohno foi estabelecido desde que se encontrou com Aoko.

Novamente tudo dito aqui entra nos critérios de um Flat Arc.

É por isso que ao enfrentar o maior erro da sua vida junto com o medo da morte, a morte, é algo que Shiki não rejeita. Ele entende seus atos por isso ele os aceita, ele não deve desviar seus olhos do que é sua responsabilidade.

Outro contraste entre Shiki e Arcueid que mencionei durante o roteiro, é durante os impulsos de Shiki. Assim como Arcueid tem os seus impulsos vampíricos, Shiki tem seus impulsos homicidas referentes ao seu lado Nanaya.

Aquela cena do beco, é simplesmente para jogar na nossa cara a clara conexão entre os dois impulsos, algo que tanto Shiki quanto Arcueid querem manter sobre controle, algo que é tão forte que os domina e os fazem cometer ações abomináveis.

Ja que mencionei o beco, porque não retornar algumas casas e falar da cena do encontro de ambos? Afinal é o ponto chave de toda obra.

Quando Arcueid e Shiki saem para fazer coisas inúteis juntos, fazendo uma grande ironia ao fato que toda ação tem um grande significado na estória, ao fim dessa pequena excursão, nos vemos no meio de uma sala de aula e ao fundo um lindo e brilhante por do sol.

Por do sol esse que o Nasu ama colocar em suas obras e é sempre um momento chave, onde fica claro sua intenção com a obra.

A vida de Shiki e, por extensão, o seu mundo está cheio de coisas pelas quais ela ficou fascinada, mas para ela apesar do mais divertido que seja, ainda é algo errado, então ela pergunta para Shiki:

Qual o ponto dele fazer tudo aquilo?
Qual o ponto de gastar tempo aprendendo coisas que você nunca vai usar?
Qual o ponto de gastar metade do seu dia em uma sala de aula?
Qual o ponto de gastar tempo fazendo coisas inuteis sendo que sua vida é tão curta?

Ela pergunta se Shiki é feliz com sua vida sabendo que ele tem condição precária devido aos seus olhos.
A resposta para essa pergunta, é uma das coisas linda e humanas que já li.

E no final da obra, nos retornamos a esse mesmo por do sol, com Arcueid mostrando a Shiki que nem tudo sai como queremos, e é assim que é a vida.

Ele olha para a lua que parece tão próxima, mas nem perto de ser alcançada, e então diz um adeus tão aguardado para a garota que ele aprendeu a amar mais do que sua própria vida.

A Arcueid sempre estará sonhando com o tempo que os dois compartilharam e Shiki usará essas memórias como um catalisador para seguir em frente, em vez de ficar preso nelas.

A blue night sky
A white shining moon
— That is all that remains
That, and a beautiful memory

Conclusão;

Para mim não há duvida que Nasu é um grande escritor e que esse remake simplesmente demonstrou como ele entende do que se trata e como contar uma estória. Eu posso ter deixado algumas coisas de fora de toda essa analise, mas sinto que o principal esta aqui, nesta analise do roteiro acredito que podemos ver o quão grande e hábil escritor ele.

Eu posso ter analisado as etapas do roteiro com clareza, mas isso é apenas porque é interessante observar como a estória é montada, o quão bom um escritor é em manejar os seus artifícios, porem no fim estórias não são sobre a qualidade dos roteiros. São sobre a vida, afinal elas devem ser metáforas para vida. Oque importa no fim é se você conseguiu absorver a metáfora e leva-la com você, se a estória no fim adicionou intensidade ao seu dia, se ela ilustrou e representou bem a vida, se dentro desses personagens e de seus conflitos nos descobrimos nos mesmos.

Podem haver roteiros melhores que esse, certamente, afinal o mundo esta cheio de grande estória e contadores de estória, mas quando o quesito é a essência de uma estória, eu ainda não conheci um escritor que supera Kinoko Nasu.

Conclusão = 10/10 peak fiction

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