Checklist do Programador Sênior: 10 Itens Para Você Ser um Programador MUITO Acima da Média

Filipe Deschamps
10 min readJul 9, 2020

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Através destes itens eu espero que você e/ou seu chefe entendam porquê os desenvolvedores — os bons desenvolvedores — precisam ser muito bem remunerados.

Esse artigo é importante porque ele vai te dar uma referência sobre o que é ser um desenvolvedor acima da média, e por favor, leia esse artigo até ao final!

Eu digo isso porque o mercado está ficando cada vez mais exigente, e eu espero que esse artigo seja aquela "água na bunda" que você precisava, ou ao menos que sirva como parâmetro e direcionamento, para que você chegue ao nível de um programador acima de média.

Clique no play acima para ver sobre o tema deste artigo em formato de vídeo, caso seja da sua preferência.

Antes de mais nada, eu preciso contar uma história pra vocês. Eu sou de uma época em que costumo dizer que existiam vários programadores seniores "estragados". Eram com certeza ótimos programadores, e talvez pessoas ótimas em suas vidas privadas mas que, infelizmente, foram "estragados" pelo poder que a computação trouxe. O que pode ser considerado um comportamento básico do ser humano de não saber lidar muito bem com poder, independente da sua área de atuação…

Dado a esse cenário e somado ao surgimento de uma nova geração — que já nasceu dentro da era da computação e rejeita nas vísceras esse tipo de comportamento — como resultado a gente pode observar um fenômeno que estilingou uma turma para um outro extremo. Era um extremo onde:

Tudo tem que ser uma maravilha, sem chefes, sem líderes, tudo horizontal, sem responsabilidades, sem metas e também, por consequência, sem muitos resultados.

Esse foi um lado por onde eu naveguei muito, porque eu fui o resultado de ter sido “mal tratado” por sêniors, vamos dizer assim. Só que eu pude ver com os meus próprios olhos o que é ficar patinando, patinando, e não sair do lugar em defesa de uma miragem! E esse foi justamente o ápice onde o Movimento Ágil se perdeu, ou ao menos das pessoas que se perderam dentro desse movimento, e não o movimento em si.

De longe parece água… um oásis bem bonito… só que, no fundo, não deixa de ser apenas a projeção de uma mente que está com medo de aceitar que a realidade é mais crua do que a gente gostaria que fosse.

Mas o bom é que desses dois extremos, que estão ficando cada vez mais no passado, os 10 itens dentro deste artigo vão te colocar no meio, e conseguir te dar uma direção sobre como encarar essa realidade. Vão aumentar o seu paladar, deixar ele mais sofisticado, de forma mais adulta. Até porque não existe uma criança sênior… apesar de encontrarmos muitas pessoas da nossa área sofrendo da síndrome do Peter Pan, que é quando uma pessoa não quer se tornar adulta, quer ser criança para sempre. Então a partir desse ponto desse artigo, você precisa abrir a cabeça para idéias mais maduras.

Bom, essa lista foi construída utilizando um post do blog "Little Blah" e foi indicação de um colega, o Mateus Moog, com quem trabalhei no Pagar.me. É uma lista que chama A Senior Engineer’s CheckList e conta com 60 itens.

Para separar os 10 itens mais importantes eu usei como filtro tudo o que eu vi dar certo e errado na minha experiência profissional, principalmente o que faltava para que uma pessoa realmente se destacasse dentro de uma empresa, ou da minha observação daquilo que as pessoas que se destacavam faziam. E a palavra destacar é importante, porque a definição do que é um júnior, pleno ou sênior vai de cada empresa… Agora, se destacar e ser acima da média de onde você está é um vetor de crescimento que eu me agarraria a todo custo. Então vamos lá:

1. Entenda o lado do negócio da sua empresa, o que faz ela gerar dinheiro

Eventualmente, essa é a única coisa que importa. Isso embrulha o estômago de algumas pessoas, não é mesmo? Normal. Mas daí você se pergunta:

"Ué, ser sênior não é só entender mais da tecnologia que eu uso?"

Por algum motivo não dá… ou ao menos não dá para se destacar tanto quanto um outro programador que se envolve ao ponto de estar próximo do que faz diferença para empresa. Eu não me conectaria puramente no ganhar dinheiro. Eu interpreto esse item da lista como entender o que traz dinheiro como reflexo de um bom produto ou serviço, ou até ao invés de trazer dinheiro, como gastar menos dinheiro, como desperdiçar menos.

Mas antes, uma curiosidade: Você sabe hoje qual produto da sua empresa é o responsável pela maior parte da receita? Ou, qual é o produto que tem a melhor margem? Você sabe qual a margem líquida da sua empresa? Você sabe ao menos quais são os 3 maiores custos dela?

Se você não sabe isso, como você pensa que vai fazer a real diferença nesses números? Por exemplo, ter uma idéia maravilhosa pra zerar um dos custos através de automação… Ou aumentar a produtividade de um time inteiro, também através da automação.

E agora mensagem extra para donos de empresa:

Se você não mostra os números para os seus funcionários, como você acha que eles vão ter idéias para mexer eles?

É por isso que você, chefe, está sempre tão engajado em entregar os projetos e ver o impacto nos números, porque você conhece todos eles! Principalmente quando a conta não tá fechando no positivo… bate uma emergência, não é mesmo? Agora imagina se você não pudesse ter acesso aos números, nada! Não vai dar para ativar o modo emergência, não tem como!

Então, se você quer ser um desenvolvedor sênior, ou pelo menos se destacar, tem que aprender a operar nessa camada de negócios, e todo mundo vai te enxergar com outros olhos. E se não enxergar, troque de empresa.

2. Uma vez que você entender o que a empresa precisa, lidere pelo menos 1 projeto de alto impacto, combinando antes, com clareza, o que seria fazer essa entrega com sucesso

Um sênior ou uma pessoa de destaque tem a coragem de puxar essa "responsa" para si. Não é esperar cair no seu colo, é puxar o problema para você. Você tem essa coragem hoje?

O bom é que isso você geralmente não vai conseguir fazer sozinho, o que nos leva para o próximo item…

3. Se envolva no processo de contratação e mantenha a barra alta na hora de contratar candidatos

Pessoas são tudo para uma empresa, e é através do processo de contração que você vai definir qual jogo a empresa vai estar jogando no longo prazo.

O filtro dessa contratação deveria ser feito pela pessoa que mais faz bem à empresa, e numa empresa de tecnologia, essa pessoa deveria ser você. E pessoas brilhantes você encontra em qualquer lugar e de contextos que você pode nem imaginar… pessoas boas, comprometidas que vão trazer um impacto altíssimo estão espalhadas por todos os lugares, basta você ter tato, empatia e dar a chance para elas.

E isso está super conectado com o próximo item, porque depois de contratar, não se pode abandonar essa pessoa.

4. Seja mentor de alguns programadores juniores

Dentre várias responsabilidades que um desenvolvedor sênior tem que ter, uma que vai fazer total diferença no quão estavelmente uma empresa vai crescer, é essa pessoa “replicar” o seu conhecimento.

Essa também é a melhor forma de garantir que a cultura não dilua ao longo do tempo. E não tem coisa mais maravilhosa para uma empresa que um júnior extremamente motivado pelos conhecimentos que você deu.

Com a sua atenção e treinamento, talvez ela vá ser a pessoa que mais vai te ajudar a tirar problemas da frente e te dar tempo para fazer outras coisas. E também tente imaginar essa situação pelo ponto de vista dela… dela estar recebendo essa atenção e conhecimento de você, se veja nessa cena em terceira pessoa… é muito massa! E falando em dar atenção, vamos para o próximo item:

5. One-on-one não é uma reunião só para checar o progresso dos projetos

One-on-one são reuniões que você faz individualmente com uma pessoa, numa sala fechada… cara a cara. Talvez esse seja o melhor mecanismo para você descobrir inconsistências na sua empresa, principalmente no relacionamento entre as pessoas.

Por algum motivo, você só sintoniza em certas frequências e discute certos assuntos nas one-on-ones. Só depois de aprofundar mais é que você consegue chegar nos assuntos que realmente importam para todo mundo. E lá fora, certos assuntos não tem espaço… é muito ruído, muita correria, as preocupações são outras.

Então se você não faz One-on-Ones, faça. E se você está utilizando one-on-ones apenas para conferir progresso de projeto, você está desperdiçando uma bela oportunidade de descobrir assuntos exclusivos desse tipo de situação.

6. Teste tecnologias emergentes através da construção de pequenos protótipos

Eu não sei se vocês compartilham comigo essa vivência, mas eu já vi muita coisa dar errado por usar tecnologias em beta ainda, ou que acabaram de sair, em projetos grandes e consolidados, quando o motivo real era somente ansiedade em testar algo novo. A verdade é a seguinte:

Se você não acompanhar a evolução da tecnologia, em poucos anos você está fora do mercado.

Vai vir uma startup que não tem nada a perder, justamente com essas tecnologias malucas, sem legado algum, e vai passar na sua frente muito mais rápido do que você imagina.

Agora, o ponto mais importante disso é a parte do “não ter nada a perder”… e muitas vezes você está em uma empresa com um produto forte e que tem muito a perder. E eu já vi perder justamente por ansiedade em testar coisas novas. Não era porque o cliente estava pedindo, muito menos era o que o cliente estava precisando… era por puro amadorismo.

Agora, como não ficar para trás? Use e abuse e provas de conceito, de POCs. Não faça seus testes em produtos consolidados, faça em pequenos projetos, em experimentos. Você vai matar a sua ansiedade ou o seu tédio (e isso acontece e é real tá, turma) e não vai colocar nada de valor em risco. E com isso, você também evita de ser o "chatão" que define que só se pode usar uma tecnologia… e isso se conecta com o próximo item:

7. Não seja inflexível quanto às suas visões

Ouça os outros e aceite que há mais de uma maneira de analisar uma situação, e também várias soluções válidas para um mesmo problema.

Conforme você vai aprendendo sobre um determinado assunto ou sobre o contexto da sua empresa, pode chegar um ponto em que talvez você saiba tanto, mas tanto, que você fica viciado em uma mesma narrativa. Se isso acontecer, você vai causar dois efeitos na empresa:

  1. Ela vai parar de se arriscar, e com isso vai parar de inovar. Isso porque você sempre vai querer proteger a mesma narrativa, pois você está preso nela e só alí é que você acha que tem valor.
  2. Você vai tirar espaço para outras pessoas crescerem. Se você não deixar as outras pessoas tomarem decisões e errarem, elas não vão crescer como profissionais. E se elas não crescerem, a inflação da vida vai ser cruel com a sua empresa.

8. Siga os princípios do Extreme Ownership

Estes princípios são bem agressivos. São 12 no total e vai de gosto de cada um mas, na minha visão, alguns são indiscutíveis. Como por exemplo:

  1. Se algo de errado acontece na mão do seu time, não procure desculpas ou formas de responsabilizar alguém. A responsabilidade é sua, você é o líder, assuma ela.
  2. Gerencie o seu ego. Porque bons líderes priorizam toda a situação, e não o seu ego pessoal.
  3. Mantenha as coisas simples e uma comunicação clara e recorrente com aqueles por quem você é responsável, mas também com quem é responsável por você… O que nos conecta com o próximo item…

9. Discuta os problemas com o seu gestor, mas tenha algumas soluções de antemão

Tem empresas que tem na sua cultura ser proibido reclamar das coisas, e isso é um saco! Outras empresas preferem uma cultura de extrema transparência, o que acho fantástico, mas esse tipo de cultura pode "pegar uma doença" que é a de só reclamar e mais nada.

Se você está vindo de uma empresa de cultura travada para uma com a cultura aberta, o ato de reclamar é de fato um grande avanço, e é um grande avanço mesmo! Só que a doença que você não pode pegar é de esquecer que reclamar é só uma das partes da resolução de um problema. Você identifica e conserta. São duas partes.

Infelizmente, muita gente acaba ficando viciada em só identificar, e vai ficando cada vez mais confortável só reclamar. Então, se você quer ganhar cada vez mais espaço na empresa, dado que você já identificou o problema, qual a sua opinião sobre como consertar ele? Você coloca sua credibilidade em risco e defende que a sua sugestão vai dar certo? Quanto de energia você vai colocar no sistema para sua ideia pegar tração?

10. Busque conhecimento técnico profundo em tecnologias usadas em sua equipe

Eu deixei esse item por último de forma proposital, porque ele se conecta perfeitamente com outro artigo que eu já publiquei aqui no Medium, que é o artigo em que eu falo sobre 3 coisas que a Pixar analisa nas pessoas que eles contratam e, apesar de esse ser um artigo sobre ser o melhor candidato de uma entrevista de emprego, vale com certeza para qualquer tipo de pessoa e o motivo é simples: Quando você já foi contratado, você continua participando de “processos seletivos” para, por exemplo, ser o primeiro a receber um aumento.

Então nesse artigo eu falo sobre "Mastery", sobre não ser um “One-trick Pony” e, inclusive, sobre a diferença entre ser uma pessoa mais interessada do que interessante.

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