Internet das Coisas: um tsunami de informações sobre os consumidores

Gabriele Bellini
5 min readJun 9, 2015

Muito se fala atualmente sobre os benefícios e aplicações da Internet das Coisas (ou IoT — do inglês, Internet of Things) e, inclusive, em como nas próximas décadas dará origem a um novo sistema econômico com base em trocas e colaboração, desencadeando em uma terceira revolução industrial que promoverá níveis de produtividade e eficiência energética sem precedentes. Talvez essa seja uma visão muito de futuro, mas o cenário atual já contempla uma infinidade de possibilidades que estão elevando a outro patamar, por exemplo, a relação com objetos (como relógios, eletrodomésticos etc.) e a experiência de compra e consumo.

A questão que quero destacar nesse texto é que o varejo ainda está tentando entender como participar disso e como se beneficiar do big data gerado pela interação de consumidores com objetos e sensores conectados à web.

Acabo de voltar do IRCE (Internet Retailer Conference + Exhibition) em Chicago, evento no qual James McQuivey, VP e Principal Analyst da Forrester Research, falou sobre o uso dessa enxurrada de dados no varejo, em uma palestra de nome que serve de título a esse texto. Abaixo discorro sobre os principais pontos de McQuivey.

Há dois grandes motivos que explicam porque a Internet das Coisas está entrando rapidamente em nossas vidas: Hyper Adoption e Digital Disruption.

Hyper Adoption

O interesse das pessoas e adoção de objetos conectados está crescendo muito rápido. Um bom exemplo é o Apple Watch, que no dia do lançamento já detinha o interesse de compra de 26% dos americanos. Há outra variedade de produtos que os usuários estão adotando não exatamente por conta das tecnologias conectadas ou dos sensores propriamente ditos, mas sim porque esses produtos proporcionam novas experiências e otimizam rotinas.

Apple Watch (Foto: Divulgação/Apple)

Essas novas experiências são proporcionadas por produtos que vão desde geladeiras inteligentes que geram e possibilitam a transferência de lista de compras, relógios com uma série de aplicações que auxiliam na prática de esporte e tarefas do dia a dia, carros com sensores que personalizam a pilotagem, até lavadoras que transferem informações para dispositivos móveis para comunicar sobre seu uso, e aparelhos de ar-condicionado controláveis pelo smartphone.

Geladeira inteligente da Electrolux (Foto: Divulgação/Electrolux)

Digital Disruption

O conhecimento sobre desenvolvimento de soluções conectadas agora são distribuídos em larga escala. Há alguns anos os desenvolvedores eram poucos e concentrados em empresas com recursos para atuar com esse tipo de tecnologia. Hoje, através de uma série de meios e iniciativas como Kick Starter e outras plataformas, esse conhecimento é compartilhado, tornando-o descentralizado. Há também cada vez mais adaptações de bases tecnológicas já criadas para uso em finalidades distintas.

O custo de desenvolvimento já caiu e tende a cair muito mais. Para servir como parâmetro, hoje há 10 vezes mais desenvolvedores, com custos que representam 10% em comparação à etapa anterior ao início da onda, gerando 100 vezes mais capacidade de inovação nesse mercado. Frequentemente surgem novas soluções em plataformas de crowdfunding, que conquistam milhares de early adopters, tendo custos relativamente baixos. Há também iniciativas que visam facilitar diretamente o desenvolvimento de IoT, como é o caso do Project Brillo, sistema operacional lançado pelo Google que de forma simplificada dá suporte a uma grande quantidade de dispositivos, como lâmpadas e fechaduras inteligentes.

Um leque de oportunidades para o varejo

O mundo dos sensores já é presente em nosso cotidiano. Sensores biométricos, de movimento, de proximidade, ambientais até câmeras e microfones que, em funcionamento nas casas, carros, aparelhos e acessórios dos consumidores, geram muito mais informação que qualquer outra fonte. A expectativa de McQuivey é que em 2020 a quantidade de dados gerados será até 100 vezes maior que o fluxo atual no mainframe das empresas.

Alguns varejistas estão explorando bem as possibilidades da IoT na jornada de consumo. Esse é o caso da Whirpool, que já produz lavadoras que se conectam aos smartphones de seus clientes. Algumas de suas funcionalidades são informar sobre o uso da máquina e gerar alertas sobre, por exemplo, estoque de sabão em pó, solicitando automaticamente a recompra ao fornecedor, ou até mesmo encaminhar o consumidor para um canal de serviço de manutenção ou a um e-commerce quando chega o momento de trocar a lavadora. Eles se beneficiam da IoT para estender a relação com o consumidor e até depois do fim do tempo de vida do produto.

A Amazon também investiu forte em IoT ao desenvolver soluções como Dash Button, botão físico que se conecta ao aplicativo da Amazon via Wi-Fi para facilitar a reposição de produtos na casa do usuários. Os usuários podem adquirir botões de suas marcas preferidas e instalá-los em lugares onde ele costuma guardar tais produtos. O botão do sabão em pó da marca Tide, por exemplo, pode ser instalado ao lado da máquina de lavar roupa. Veja o vídeo abaixo para entender mais.

Aqui na Tectra, também temos bons exemplos de aplicações de IoT. Criamos apps para varejistas que integrados a sensores de movimento e proximidade torna possível a comunicação direcionada com consumidores no ponto de venda, influenciando no exato momento de decisão de compra. Por exemplo: um cliente que entra no corredor de higiene de um supermercado, pode receber uma oferta de desodorante assim que passa em frente à respectiva gôndola. A taxa de conversão no PDV tende a ser muito superior. E, sim, já existem formas de monitorar o fluxo exato de clientes no ponto de venda físico e relacionar com as vendas geradas.

Os grandes players do mercado de tecnologia já estão investindo forte na Internet das Coisas, mas isso não gera barreira para que varejistas tirem proveito para levar a outro nível a experiência de seus consumidores.

Como o varejo pode se preparar para essa nova era

Prepare seu plano para coletar os dados de comportamento de seus consumidores.

Torne-se omni-channel e integre os dados de seus consumidores independente do ponto de contato. Não opere mais sem o entendimento unificado de seu consumidor. Ele é um só, não importa o canal.

Faça uma análise profunda dos dados disponíveis, verifique a necessidade de enriquecer seu banco e estrutura de dados e pense em quais serviços adicionais podem ser entregues como valor para seus consumidores.

É esse o momento de se preparar para o futuro conectado.

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Gabriele Bellini

Founder at Tectra, enthusiast of IoT, Omnichannel and Big Data. Check out our innovations at www.grupotectra.com.br