O Sevilla vai bater de frente na La Liga

O ótimo futebol de Lopetegui aliado às incertezas dos grandes espanhóis dão motivos para a equipe querer mais em 2020/21

Grandes Ligas
10 min readSep 24, 2020
Lucas Ocampos no ataque e Jules Koundé na defesa são as principais armas do Sevilla para a temporada/ Reprodução Instagram Ocampos

Por Fábio Despontin

A La Liga voltou na segunda semana do mês de Setembro sem as grandes equipes nas duas primeiras rodadas, exceto o Real Madrid que estreou contra a Real Sociedad no domingo (20) e empatou em 0 a 0. Barcelona, Atlético de Madrid e Sevilla tiveram uma folga maior do que os outros times, já que estiveram na fase final das competições europeias. O Sevilla, inclusive, sagrou-se campeão.

Os campeões comandados por Julen Lopetegui iniciam sua caminhada em 2020/21 na quinta-feira (24) às 16h, horário de Brasília, contra o Bayern de Munique. O confronto é válido pela Supercopa da UEFA, onde o campeão da Europa League (Sevilla) enfrenta o campeão da Champions League (Bayern) em busca do primeiro troféu continental da temporada.

Claro que os bávaros são os favoritos. O Bayern já estreou na Bundesliga goleando o Schalke por 8 a 0 e dá sinais de que deseja se manter no topo do mundo. O Sevilla, apesar da tradição na competição europeia secundária e de uma possível vitória, não está no mesmo nível e não deve brigar junto aos alemães. Porém, contudo, entretanto, todavia, a equipe está pronta para disputar com os grandes espanhóis pelo campeonato nacional. O que seria o auge e a cereja do bolo para Ramón Rodríguez Verdejo, o Monchi.

Apertou chama o Monchi

O ex jogador já foi goleiro da equipe e, agora, exerce pela segunda vez o cargo de diretor esportivo. Na primeira passagem, foram 5 títulos de Liga Europa e duas Copa del Rey até 2017, quando deixou o clube e foi para a Roma. Nos quase dois anos sem o diretor, o Sevilla trocou de técnico 5 vezes, não venceu nada e não se classificou para a Champions League.

Em maio de 2019, Monchi voltou e, com ele, o sucesso também. O clube foi campeão da Liga Europa em cima da Internazionale e acabou em 4° na La Liga — dando vaga à Champions — na primeira temporada completa do diretor. Conhecido principalmente pela capacidade de fazer boas transferências e conseguir bons lucros aos cofres, Monchi foi o responsável por dar chance a Julen Lopetegui e por contratar 9 dos 11 titulares da equipe na fase final da Europa League (Tá bom para você?).

Monchi: a careca por trás do Sevilla/ Reprodução Instagram Sevilla

O ex goleiro é muito inteligente na captação de talentos que se encaixam no esquema de jogo do técnico. Não é como muitos dirigentes por aí, que contratam os jogadores e os treinadores sem saber se as filosofias de ambos batem. O Monchi tem pôjeto e na temporada passada só vimos o começo.

O início do embalo

A reta final de 19/20 do Sevilla foi muito boa, mas poderia ser ainda melhor. Dos últimos 21 jogos da temporada, a equipe não perdeu nenhum. Foram 6 jogos pela Europa League, com vitórias sobre Manchester United e Internazionale e o restante válidos pela La Liga. E é aí que o clube poderia mais. Em 15 jogos, o Sevilla teve 8 vitórias e 7 empates.

Mesmo que o clube não estivesse na briga por título — mas com a vaga para a Champions bem encaminhada — houve momentos de irregularidade no desempenho dos comandados de Lopetegui em terras espanholas. Algo que não vimos na competição continental, onde o Sevilla manteve o nível de futebol e, por isso, conseguiu grandes vitórias e o título.

O elenco

O treinador que comandava a Seleção Espanhola até dias antes da estreia na Copa do Mundo 2018 parece ter encontrado, enfim, um ambiente para o desenvolvimento de suas ideias. Um jogo bastante vertical ofensivamente que tem suas principais armas pelas pontas. Seja com os próprios jogadores da posição ou, e principalmente, pela subida dos laterais como elemento surpresa.

Na temporada passada, Sergio Reguilón e Jesús Navas tiveram total liberdade para atacar e participar da criação de jogadas e gols. O incansável Navas, inclusive, deu assistências decisivas na reta final da Europa League.

A felicidade de quem, enfim, conseguiu mostrar a que veio/ Reprodução Instagram Sevilla

Para 2020/21, Lopetegui não conta com Reguilón que estava emprestado pelo Real Madri e já foi contratado junto ao Tottenham. O escolhido para substituir o jovem espanhol foi Marcos Acuña, ex Sporting. Jogador de características semelhantes mas que não possui o mesmo talento, Acuña estava em Portugal desde 2017 e, apesar dos números poucos expressivos, é bastante ofensivo e pode ser eficiente nas mãos de Lopetegui.

Outra perda importante do Sevilla é Éver Banega para o futebol árabe. O Al-Shabab acertou com o argentino de 32 anos que encerrou a sua passagem pela Espanha jogando uma barbaridade e foi o maestro da equipe da Andaluzia. A reposição para o setor também veio. Ivan Rakitic volta ao Sevilla após boa passagem pelo Barcelona e busca retomar o bom nível de desempenho com a camisa dos palanganas, já que não vinha sendo o mesmo na reta final pela Catalunha.

O meia foi fundamental na conquista da Europa League de 2013/14 pela equipe da Andaluzia e retorna com outro status. Agora com mais idade, a ideia é utilizar Rakitic como o jogador de experiência na faixa central. Apesar de não possuir o mesmo estilo de Banega, o croata ajuda com suas chegadas à área e chutes precisos de longe, além, claro, da boa qualidade na troca de passes.

Haja experiência, ein. Os veteranos da equipe foram fundamentais na conquista da Europa League/ Reprodução Instagram Banega

Ainda no setor, o Sevilla foi atrás de Óscar Rodríguez de 22 anos. O espanhol é cria da base do Real Madrid e estava emprestado ao Leganés há duas temporadas. Por lá, anotou 13 gols e 6 assistências em duas temporadas na La Liga jogando como um meia ofensivo, mais próximo dos atacantes. Função diferente das exercidas por Banega e por Rakitic, o que permite mais variação ao treinador.

Também do Leganés retorna uma promessa que busca virar realidade com Lopetegui. Bryan Gil foi emprestado na metade da temporada passada e conseguiu momentos de destaque longe de Sevilha, apesar do Leganés ser rebaixado. O jovem de 19 anos disputa a titularidade justamente em vagas essenciais para o funcionamento da engrenagem: as pontas.

Lucas Ocampos e Suso são os favoritos e devem continuar com as posições. O argentino foi o artilheiro da equipe em 19/20 e premiado como a melhor contratação da La Liga. O espanhol, que chegou por empréstimo do Milan, encerrou a temporada jogando em alto nível e convenceu o Sevilla a contratá-lo em definitivo.

Além dos pontas, outros titulares devem manter a vaga para 2020/21. Os zagueiros Jules Koundé e Diego Carlos, que foram muito elogiados e são, inclusive, rondados por clubes de maiores expressão como o Manchester City; o capitão Jesús Navas que consegue ter a experiência dos 34 anos aliada a uma entrega e determinação de um garoto; os volantes Fernando, que assumiu a titularidade durante a temporada e não deu mais brecha com atuações regulares, e Joan Jordán, que pode não ser o cara da técnica, mas compensa com sua importância tática; e o centroavante Luuk de Jong, que não foi muito convincente, porém marcou gols decisivos na Semi e na Final da Europa League.

Com seu belo time, o Sevilla promete em 2020/21/ Reprodução Instagram Sevilla

A briga boa será embaixo das traves. Tomas Vaclík foi o titular durante toda a campanha da equipe em 2019/20 jogando bem. Infelizmente, uma lesão o afastou dos gramados na reta final e quem assumiu foi Bono. O marroquino que chegou à equipe em Novembro do ano passado por empréstimo do Girona e só vinha sendo titular na Fase de Grupos da Europa League, não sentiu a pressão e foi um dos grandes nomes no fim da temporada. Com grandes atuações em jogos decisivos (os torcedores dos Red Devils que o diga), Bono fez por merecer a sua contratação em definitivo e se mostra a disposição para Lopetegui.

As incertezas

O time é, sem dúvidas, muito qualificado. Os jogadores se encaixaram perfeitamente nas ideias do treinador e, com isso, os desempenhos individuais cresceram muito. O Sevilla chegaria para a disputa pelo título da La Liga independente de como estivessem as grandes potências do futebol espanhol. Porém, contudo, entretanto, todavia, a equipe de Andaluzia conta com a “sorte” dessas potências não estarem tão confiáveis como em anos passados.

O atual campeão Real Madrid, realmente, voltou ganhando quase tudo em terras espanholas. Foram 31 pontos conquistados dos 33 em disputa desde o retorno do futebol — empate na última rodada contra o Leganés em 2 a 2 — mas… O futebol não foi dos mais expressivos. Apesar dos grandes destaques individuais com Sérgio Ramos, Karim Benzema, Vinícius Júnior e dos primeiros indícios de bom desempenho de Eden Hazard, a equipe comandada por Zinédine Zidane sofreu com uma defesa insegura e um ataque improdutivo na segunda etapa das partidas. Sem contar o vexame contra o Manchester City nas Oitavas de Final da Champions League em que os merengues foram totalmente dominados pelos Citizens.

A nova temporada já se iniciou para os atuais campeões com um empate sobre a Real Sociedad e Zidane, que não precisa provar mais nada a ninguém, vai ter que encontrar uma maneira do Real Madrid jogar melhor e com mais regularidade.

Com certeza os problemas seriam menores se você pudesse jogar, né?/ Reprdoução Instagram Zidane

Por falar em vexame, o Barcelona de Josep Maria Bartomeu, presidente do clube desde 2015. O clube da Catalunha não conquistou uma Champions League nem chegou à decisão da competição enquanto Bartomeu esteve a frente da direção. Tropeços surpreendentes — o maior contra o Bayern de Munique recentemente — e contratações sem sucesso têm, até então, marcado a trajetória que ganhou um novo episódio nessa intertemporada: o caso Messi.

Lionel Messi é o maior ídolo do clube e não deveria estar passando por essa situação. O argentino quer sair do Barça por não encontrar mais peças que o auxiliem dentro de campo e pelo fato da diretoria do clube não se comportar como tal. Porém, Bartomeu fez jogo duro e não deixou o ídolo sair de graça, como previa em sua cláusula contratual. O presidente estipulou um preço de 700 milhões de euros — a multa rescisória — para quem quisesse o craque. Nenhum time teve capacidade de pagar a quantia e Messi, então, se viu preso à Catalunha e decidiu jogar mais uma temporada vestindo o azul-grená.

Em meio a tantas polêmicas e insatisfação, fica difícil confiar que o Barcelona e até Messi apareçam em 2020/21 com um futebol esplêndido. O fim da Messidependência é questão de tempo e tomara (para os amantes do esporte) que o de Josep Bartomeu na presidência também.

O que você espera de Messi para essa temporada?/ Foto: Reuters

Lá em Madri, também há um ciclo que pode estar se encerrando. Diego Simeone chegou ao Atlético de Madrid em Dezembro de 2011 e acumulou diversas glórias com os Colchoneros. Duas Liga Europa, uma La Liga e uma Copa del Rey, além dos dois vice-campeonatos na Champions League — ambas para o rival Real Madrid — são conquistas impressionantes que fizeram “El Cholo” se tornar a cara do Atlético dessa década.

Porém, não dá mais para se sustentar com as vitórias do “passado”. Em sua última renovação de contrato, Simeone passou a ser o treinador mais bem pago no mundo do futebol. Com os resultados de 2019/20, conclui-se que o investimento não foi merecido. Apesar da terceira colocação na La Liga por causa do bom desempenho pós parada do futebol — 7 vitórias e 4 empates nos 11 jogos — a avaliação geral da temporada não é boa.

O time passou boa parte da competição ocupando apenas a 6° colocação e quando precisou mostrar serviço, decepcionou. O Atlético de Madrid chegou às quartas de final da Champions como um dos grandes favoritos. O estilo de jogo implantado por Simeone parecia ser o ideal para o novo modelo adotado pela UEFA. O embalo durou pouco. Logo na primeira fase pós retorno, o clube foi eliminado. O RB Leipzig de Julian Nagelsmann fez um jogo de altíssima qualidade e conseguiu atacar com certa facilidade a tão elogiada defesa dos Colchoneros.

O 2020/21 não promete grandes mudanças no cenário do Atlético de Madrid e pode ser a última temporada do comandante argentino a frente do clube. As ideias de Simeone não dão mais os mesmos resultados de anteriormente e a reformulação aparece como a melhor opção.

Saudades, né? As conquistas do passado bancam a permanência do Cholo/ Reprodução Instagram Simeone

O Sevilla não tem nada a ver com as incertezas dos três grandes. Monchi entregou a Lopetegui um grande elenco com destaques individuais em todos os setores do campo. As ideias já foram bem assimiladas pelos jogadores e a eficiência delas comprovadas na Liga Europa. Se o clube não tiver tropeços contra equipes menores e manter a regularidade — para os Spurs criou-se o verbo “Tottenhar” pelos constantes deslizes — dá para afirmar que o Sevilla chega para brigar pela La Liga.

--

--

Grandes Ligas

Bem-vindo ao Grandes Ligas! Aqui você encontra notícias, entrevistas, análises, debates, e muito mais sobre as cinco principais ligas de futebol do planeta!