“Aberração”: Professor da Ufes comete transfobia e diz que a utilização dos banheiros de acordo com a identidade de gênero é um “descabimento imensurável”
Por Emanuel Couto, Enzo Bicalho, Julia Firme.
O professor do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), Fabian Tadeu Amaral, utilizou palavras como “aberração” e “descabimento imensurável” ao responder um e-mail sobre uma possível autorização para que pessoas transexuais pudessem utilizar os banheiros e vestiários de acordo com a sua identidade de gênero. A mensagem, enviada nas últimas semanas, foi uma resposta ao convite para uma reunião remota com a Diretoria de Ações Afirmativas e Diversidade/PROAECI.
A resposta de Fabian foi compartilhada de forma anônima para os diretórios acadêmicos e atléticas da UFES e rapidamente foi divulgada nas redes sociais, com o intuito de expor o caso.
Esse caso de transfobia não é o primeiro registrado na UFES em 2022. Em abril, Dani Araújo, aluna do campus de Alegre, relatou que uma professora insistiu em chamá-la pelo nome de registro durante a aula, mesmo o nome social estando presente na chamada. Dani afirmou estar abalada e disse que outro aluno trans passou pela mesma situação durante essa aula.
Os alunos da Universidade, por meio do Diretório Central dos Estudantes, organizaram um ato “por insatisfação ao ocorrido e para mostrar que, atos e pronunciamentos como estes não passarão despercebidos ou acalmados pelos estudantes e movimentos estudantis” segundo Fagner Avelino, estudante de Educação Física. Além disso, há receio dos alunos da comunidade LGBTQIA+ na Universidade, visto que não houve nenhuma medida concreta tomada pelo colegiado do curso sobre o acontecimento, logo sentem-se desprotegidos caso ocorram práticas preconceituosas contra eles.
Fagner destaca o sentimento de insegurança em relação aos alunos que são da comunidade LGBTQIA+, pela percepção de que alguns professores “não são solidários com a nossa realidade e com nossas lutas, isso cria um ambiente de preocupação em relação a nossa segurança de ser quem somos dentro das salas de aula e nos espaços do CEFD.”
Ao ESHoje, o professor relatou seu posicionamento, que foi encaminhado para os docentes da Universidade.
“Eu, professor Fabian Tadeu do Amaral, venho humildemente me retratar a respeito da forma como apresentei meu posicionamento, via e-mail, a respeito de “criação” de banheiros e vestiários de acordo com a identidade de gênero em nosso Centro de ensino.
O que de fato ocorreu, e que provocou essa situação, foi a minha falta de entendimento sobre como essa questão será tratada e delineada ao longo do tempo, o que me deixou, de fato, demasiadamente incomodado.
Porém, com esclarecimentos e melhor entendimento da situação da implantação dessas instalações no CEFD, percebo que exagerei na intensidade da minha fala de forma desnecessária, causando conflitos onde é necessário que se prevaleça na união. Sempre acreditei que nenhum direito pode ser deixado de lado, e defendo essa tese.
Nunca fui e nunca serei, pela minha própria natureza e, em nenhuma condição, preconceituoso em nenhum aspecto da diversidade social, dentro ou fora da UFES. Sempre busco expor minha opinião, mesmo que ela seja contrária à dos outros de forma respeitosa. Peço desculpas a todos que se sentiram ofendidos, e mais uma vez reitero que respeito a diversidade em todas as esferas sociais.”
Já a UFES, por meio de nota enviada ao ESHoje:
“Sobre a situação ocorrida no Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), a direção do Centro explica que a mensagem do professor foi enviada em resposta a um e-mail da direção dirigido à sua comunidade acadêmica (professores, servidores técnicos e diretório acadêmico), convidando para uma reunião para apresentação da temática e da experiência sobre o uso de banheiros conforme a identidade de gênero adotada no Centro de Educação da Ufes. A reunião foi adiada e será reagendada para a próxima semana, sendo restrita à comunidade acadêmica do Centro.
A direção do CEFD e a Seção de Procedimentos Disciplinares do Gabinete da Reitoria da Ufes afirmam que não há denúncia ou processos administrativos disciplinares em andamento relacionados ao professor.