A virtude de atacar e defender no 4–3–3.
Jürgen Norbert Klopp, se eu fosse descrever toda a minha admiração e respeito por este homem faltariam palavras na língua portuguesa, um mestre do jogo que com certeza merece ser reverenciado, e será, se depender de mim.
A equipe do Liverpool encanta o mundo desde a temporada passada, a equipe que goleou o City de Guardiola, que possui um início perfeito de temporada, que venceu o poderosíssimo trio de ataque do PSG, que impressionou o mundo com o pressing e o gegenpressing, a intensidade e seu trio de ataque, motivos para enaltecer essa equipe não faltam, na verdade só crescem a cada jogo.
O jogo de Klopp se caracteriza pelas transições e a forma pela qual ele controla o caos por elas, de forma que esse elemento seja sempre benéfico ao Liverpool, e para que isso aconteça com perfeição é necessário atacar e defender no mesmo esquema, ou no mais próximo possível dele. O time do Liverpool ataca e defende em um 4–3–3, apesar de parecer simples, na pratica é algo incrivelmente raro e complexo.
Grande parte das equipes que atacam em um 4–3–3 se defendem em um 4–1–4–1, ou até mesmo no clássico 4–4–2. Jürgen foge completamente a essa regra ao defender da mesma forma que ataca, apesar de que em algumas situações sua equipe adere outras formações.
Foi esse estilo de jogo responsável por vencer o todo poderoso Manchester City por 3–0, em Anfield, e levar a maior equipe inglesa até Kiev.
Como complemento fundamental a esse sistema temos a compactação e a pressão gradativa, o primeiro é fundamental para o funcionamento de todo o sistema e é aplicado tanto no momento defensivo quanto no ofensivo, já o segundo é um dos elementos responsáveis pela efetuação da compactação e principal característica defensiva da equipe, ambas são efetuadas com perfeição pelos liderados de Klopp.
A linha do meio se mantem sempre retilínea e busca se posicionar do lado em que a bola se encontra, assim sempre ocupando espaços e fornecendo cobertura em caso de tentativa de articulação da jogada pelo centro do campo.
Quando necessário, Salah e Mané dobram a marcação pelos lados, impedindo o avanço dos laterais, porém ambos, visando um melhor posicionamento no momento transitório, nunca vão até a linha de fundo. Ao dobrar a marcação eles permitem que o trio do meio sem mantenha junto e evite espaços para jogadas de centro. Essa compactação, aonde sempre há cobertura e ocupação de espaços, dificulta a vida dos wingers e strikers adversários.
Quando não estão dobrando a marcação nos lados, todo o trio de ataque sempre se posiciona de forma a facilitar uma possível transição ofensiva, Salah, Mané e Bobby estão sempre buscando o melhor espaço para um contra-ataque, um belo exemplo é o segundo gol de Salah contra a Roma.
Na pratica, o Liverpool defende em 4–3, enquanto os outros “3” estão pensando no contra-ataque, apenas ocupando os espaços e não permitindo um giro melhor do jogo.
Ao recuperar a bola, a equipe do Liverpool abusa das transições rápidas e objetivas, com os jogadores já em suas posições e funções de ataque essas características são maximizadas ao extremo, criando assim os contra-ataques mortais.
O meio campo é fundamental nesse sistema, todos os 3 precisam ser capazes de pressionar, roubar a bola e dar inicio a transição, situação que ficou ainda mais evidente após a saída de Coutinho. Henderson, Milner e Wijnaldum foram sensacionais na temporada passada e continuam sendo nessa, Naby Keita e Fabinho, reforços dessa janela, possuem essas características e tem tudo para dominarem o meio campo dos Reds.
A compactação também se aplica no ataque posicional da equipe, o trio de ataque busca sempre se posicionar o mais perto possível do gol, os laterais dão amplitude e profundidade para o jogo e os zagueiros sendo os principais responsáveis por girar a bola, junto, ou não, do primeiro homem de meio, na faixa central do campo. Nesses momentos é fundamental que os jogadores estejam pertos um do outro para propor o jogo, utilizando de movimentação, alternância de posições e funções, esquemas, viradas de jogo, lançamentos e todos os elementos possíveis e necessários para a criação de um ataque dinâmico e que busca sempre espaços para surpreender o adversário, além de evitar eventuais contra-ataques, utilizando-se do gegenpressing.
Muitos imaginam Klopp como um técnico de ideologia reativa, mas esse pensamento é completamente errôneo, além de sempre buscar jogar no campo adversário com a bola, Jürgen é um técnico que prepara sua equipe para todas as situações, sempre buscando usar o caos do jogo ao seu favor, e é isso que o torna tão genial.
É como dizem, vida longa ao Klopp ’n’ roll.