A virtude de atacar e defender no 4–3–3.

Lucas Novais
4 min readSep 23, 2018

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Jürgen Norbert Klopp, se eu fosse descrever toda a minha admiração e respeito por este homem faltariam palavras na língua portuguesa, um mestre do jogo que com certeza merece ser reverenciado, e será, se depender de mim.

A equipe do Liverpool encanta o mundo desde a temporada passada, a equipe que goleou o City de Guardiola, que possui um início perfeito de temporada, que venceu o poderosíssimo trio de ataque do PSG, que impressionou o mundo com o pressing e o gegenpressing, a intensidade e seu trio de ataque, motivos para enaltecer essa equipe não faltam, na verdade só crescem a cada jogo.

O jogo de Klopp se caracteriza pelas transições e a forma pela qual ele controla o caos por elas, de forma que esse elemento seja sempre benéfico ao Liverpool, e para que isso aconteça com perfeição é necessário atacar e defender no mesmo esquema, ou no mais próximo possível dele. O time do Liverpool ataca e defende em um 4–3–3, apesar de parecer simples, na pratica é algo incrivelmente raro e complexo.

Grande parte das equipes que atacam em um 4–3–3 se defendem em um 4–1–4–1, ou até mesmo no clássico 4–4–2. Jürgen foge completamente a essa regra ao defender da mesma forma que ataca, apesar de que em algumas situações sua equipe adere outras formações.

Ilustração de Duarte, the Red Scouser

Foi esse estilo de jogo responsável por vencer o todo poderoso Manchester City por 3–0, em Anfield, e levar a maior equipe inglesa até Kiev.

1x0. Foto de Leonardo Miranda

Como complemento fundamental a esse sistema temos a compactação e a pressão gradativa, o primeiro é fundamental para o funcionamento de todo o sistema e é aplicado tanto no momento defensivo quanto no ofensivo, já o segundo é um dos elementos responsáveis pela efetuação da compactação e principal característica defensiva da equipe, ambas são efetuadas com perfeição pelos liderados de Klopp.

A linha do meio se mantem sempre retilínea e busca se posicionar do lado em que a bola se encontra, assim sempre ocupando espaços e fornecendo cobertura em caso de tentativa de articulação da jogada pelo centro do campo.

Quando necessário, Salah e Mané dobram a marcação pelos lados, impedindo o avanço dos laterais, porém ambos, visando um melhor posicionamento no momento transitório, nunca vão até a linha de fundo. Ao dobrar a marcação eles permitem que o trio do meio sem mantenha junto e evite espaços para jogadas de centro. Essa compactação, aonde sempre há cobertura e ocupação de espaços, dificulta a vida dos wingers e strikers adversários.

Quando não estão dobrando a marcação nos lados, todo o trio de ataque sempre se posiciona de forma a facilitar uma possível transição ofensiva, Salah, Mané e Bobby estão sempre buscando o melhor espaço para um contra-ataque, um belo exemplo é o segundo gol de Salah contra a Roma.

Na pratica, o Liverpool defende em 4–3, enquanto os outros “3” estão pensando no contra-ataque, apenas ocupando os espaços e não permitindo um giro melhor do jogo.

Ao recuperar a bola, a equipe do Liverpool abusa das transições rápidas e objetivas, com os jogadores já em suas posições e funções de ataque essas características são maximizadas ao extremo, criando assim os contra-ataques mortais.

O contra-ataque armado. Foto de Leonardo Miranda.

O meio campo é fundamental nesse sistema, todos os 3 precisam ser capazes de pressionar, roubar a bola e dar inicio a transição, situação que ficou ainda mais evidente após a saída de Coutinho. Henderson, Milner e Wijnaldum foram sensacionais na temporada passada e continuam sendo nessa, Naby Keita e Fabinho, reforços dessa janela, possuem essas características e tem tudo para dominarem o meio campo dos Reds.

A compactação também se aplica no ataque posicional da equipe, o trio de ataque busca sempre se posicionar o mais perto possível do gol, os laterais dão amplitude e profundidade para o jogo e os zagueiros sendo os principais responsáveis por girar a bola, junto, ou não, do primeiro homem de meio, na faixa central do campo. Nesses momentos é fundamental que os jogadores estejam pertos um do outro para propor o jogo, utilizando de movimentação, alternância de posições e funções, esquemas, viradas de jogo, lançamentos e todos os elementos possíveis e necessários para a criação de um ataque dinâmico e que busca sempre espaços para surpreender o adversário, além de evitar eventuais contra-ataques, utilizando-se do gegenpressing.

Muitos imaginam Klopp como um técnico de ideologia reativa, mas esse pensamento é completamente errôneo, além de sempre buscar jogar no campo adversário com a bola, Jürgen é um técnico que prepara sua equipe para todas as situações, sempre buscando usar o caos do jogo ao seu favor, e é isso que o torna tão genial.

O mestre, Klopp.

É como dizem, vida longa ao Klopp ’n’ roll.

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