A infinidade do Universo

Divagações sobre o imensurável.

Lucas Lazaro
7 min readJun 15, 2016

"Alo, alo, planeta terra chamando! Esta é mais uma edição do diário de bordo de Lucas Silva e Silva, falando diretamente do mundo da Lua. Onde tudo pode acontecer."

Esse post foi altamente influenciado pelo conteúdo do canal Veritassium e pelo livro What If? e tenta compreender melhor a vastidão do universo.

[off-topic] Unsplash sempre surpreende na qualidade das fotos.

“O infinito! Nem uma outra questão na história já tocou tão profundamente o espírito do homem; nem uma outra ideia estimulou tanto seu intelecto; e mesmo assim nenhum conceito se mantém em uma necessidade de clarificação além daquela do infinito.” (David Hilbert)

A idéia do infinito tem sido uma fonte de interesse, fascinação e frustação para a humanidade desde que temos dados históricos de pensamentos intelectuais. O “paradoxo da pluralidade” de Zeno de Elea, aproximadamente 490 a.c., já trata do assunto sugerindo que a “completa divisibilidade” e o tamanho do finito já se estabeleciam como assuntos que em sua essência eram paradoxais.

Dada a extensão de pensadores que analisaram o infinito, ele se manifesta em múltiplas áreas do conhecimento, como na matemática com o número de Cantor, como na física com a equação de Boltzman, entre outros (mais informações neste documentário da BBC). Neste post será discutida a influencia deste conceito no nosso Universo e também tentar entender um pouco sobre o que significa quantificar o infinito.

O conceito de infinito

Ao longo deste post será utilizado o universo como um caso de estudo para tentarmos compreender a extensão do infinito. Ao longo dos anos a humanidade se tornou muito boa em quantificar e observar distantes galáxias e corpos celestes que se encontram a uma distância que é tão grande que sua compreensão já é muito abstrata. Porém o que ocorre quando a inferência que o próprio universo é infinito é levada em consideração? No começo explicarei um pouco dos conceitos que envolvem essa noção e como a concepção deste conceito veio a ser formada, ao final a dimensão do que é o infinito será discutida, analisando outros conceitos e exemplos que serão debatidos ao longo do texto.

O infinito do universo

Para iniciarmos a nossa discussão sobre a infinidade do Universo é bom olharmos para a teoria da Inflação Cósmica de Alan Guth (1981), que postula que o universo no seu momento inicial passou por uma fase de crescimento exponencial. De acordo com a teoria, a inflação foi produzida por uma densidade de energia do vácuo negativa ou uma espécie de força gravitacional repulsiva, logo o universo poderia ter-se originado em uma pequena região, o que corrobora a teoria do “Big Bang”.

A teoria da Inflação sugere, também, que durante este pequeno período de tempo (durante o Big Bang), em que as forças repulsivas atuavam sobre o universo, ele estava expandindo mais rápido que a velocidade da luz. Essa nova informação faz parecer que o Universo não expande dessa maneira normalmente, ou seja, não expande mais rápido que a velocidade da luz, mas não é bem verdade, porque é possível mostrar que o Universo continua, agora mesmo, se expandindo com velocidade maior que a velocidade da luz.

Isso pode parecer meio estranho e nesse momento é muito possível que uma questão seja levantada, a questão de que se isso é verdade, então não viola a teoria da relatividade de Einstein?

A teoria que diz que o seguinte: nada deveria se mover mais rápido que a velocidade da luz? Na verdade, não.

A relatividade postula que nada se move através do espaço mais rápido que a velocidade da luz, mas isso não impede que o próprio espaço se expanda de qualquer forma que queira, por exemplo, se a velocidade considerada for a velocidade relativa entre dois pontos.

Por exemplo: se são escolhidos dois pontos distantes o suficiente entre si em nosso Universo é sempre possível encontrar dois que estão se distanciando com velocidade maior que a da luz, isso é basicamente consequência de todo o espaço expandindo entre esses dois pontos. Logo, nosso Universo está agora e sempre esteve se expandindo com velocidade maior que a velocidade da luz.

Foi Edwin Powell Hubble que no começo do século passado conseguiu, observando o espaço, determinar que o mesmo se encontrava em expansão, ou seja, os componentes do Universo estavam constantemente distanciando entre si. E quão mais distante Hubble observava, mais rápido os objetos estavam se movendo em relação a nós. Logo imagine o seguinte: um ponto tão distante de nós que a velocidade de distanciamento média relativa é a velocidade da luz, agora imagine que este ponto será o mesmo em todas as direções em nossa volta, o que formaria uma esfera que é chamada a Esfera de Hubble. Tudo além da Esfera de Hubble está se movendo para longe de nós mais rapidamente que a velocidade da luz.

Como é difícil encontrar uma imagem didática sobre física na internet, fiz a minha, devo dizer que não é proporcionalmente precisa! Hahah! :)

Portanto o senso comum pode vir a concluir nós nunca conseguiríamos observar a luz emitida de galáxias além da nossa Esfera de Hubble, pois a luz deste distante ponto nunca entraria em nosso “alcance luminoso” devido a diferença de velocidade relativa.

A Galáxia C se move com velocidade relativa a terra maior que a da luz.

Mas de fato isso não é verdade, nós conseguimos observar estes objetos.

Para entender como conseguimos observar esses objetos, imagine uma galáxia localizada além de nossa esfera de Hubble (Galáxia C) , ela se distancia mais rápida que a velocidade da luz, está, portanto, em uma “região super-luminosa” do espaço em nossa perspectiva, então qualquer luz que ela emite em nossa direção estará na verdade se movimentando para longe de nós conforme o tempo passa. Porém devido ao aceleramento da expansão do universo, a nossa Esfera de Hubble, na verdade, está ficando maior com o tempo, e se ela fica maior mais rápido do que a luz daquela distante galáxia consegue se distanciar de nós, eventualmente aquela luz sairá de uma “região super-luminosa” do espaço e entrará em o que é chamado de “região sub-luminosa” do espaço e seríamos capaz de observa-la, ou seja, observar aquela galáxia distante, que neste momento estaria mais distante de nossa Esfera de Hubble e mesmo assim conseguimos observa-la, o que é muito impressionante.

O que podemos concluir é que todos os fótons que recebemos agora, dos primeiros cinco bilhões de anos do universo foram todos emitidos em regiões que naquele tempo estavam viajando a velocidades superiores a velocidade da luz, relativos a nós. Os objetos que emitiram tais fótons estavam, estão e continuaram se movendo com velocidade maior do que a velocidade da luz em relação a nós, porém as luzes entraram em nossa Esfera de Hubble e tiveram tempo suficiente para alcançar a gente então nós conseguimos vê-las.

Então o Universo observável é maior do que nossa Esfera de Hubble, ele é de fato chamado Horizonte de Partículas que é a distância que uma partícula maior ou igual a zero pode ter percorrido em direção ao observador desde o início do universo, ou seja, ela estabelece uma distância-limite para qualquer tipo de interação entre observador e partícula.

Agora dado que o universo está expandindo e que essa expansão esta acelerando, todas as particular estão muito mais distantes do que há, aproximadamente, 13.8 bilhões de anos-luz de distância (dado que 13.8 bilhões de anos é o máximo que cientistas podem confirmar), por exemplo o Universo observável tem um raio de mais de 46 bilhões de anos-luz, o diâmetro é aproximadamente 93 bilhões de anos-luz. O que caracteriza um gigantesco volume de objetos que podemos observar, e de acordo com a teoria da inflação cósmica à 13.8 bilhões de anos atrás tudo neste gigantesco volume e tudo além deste universo observável que não conseguimos ver estaria comprimido em um infinitesimal pequeno ponto que, possivelmente, seria chamado de singularidade.

Pera pera pera, na verdade não é bem assim, essa afirmação de que tudo se concentraria em um ponto infinitesimalmente (sic) pequeno só é válida se o universo for considerado finito, porque se o universo for infinito — e apesar de não ser ter sido comprovado é muito provável que o universo seja infinito — então o universo foi sempre infinito, ou seja o Big Bang teria ocorrido, literalmente, em todos os lugares. Porém se o universo foi sempre infinito em o que ele estaria se expandindo? Bom ele não precisa se expandir em nada, ele pode se expandir em si mesmo. Este é um dos curiosos paradoxos do infinito, você nunca o esgota.

Dá uma certa perspectiva sobre a significância da nossa existência ou é só comigo?

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Algumas referências

Huggett, Nick. ‘Zeno’s Paradoxes’.

Wayward Blogging,. ‘Dangerous Knowledge (From The BBC)’.

Whinston, Amy. ‘A Finite History Of Infinity’. Portland State University.

Wikipedia. ‘Edwin Hubble’.

Wikipedia. ‘Inflation (Cosmology)’.

Wikipedia. ‘Particle Horizon’.

Veritasium. ‘Misconceptions About The Universe’.

Veritasion. ‘What is not Random?’.

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