ATENTADO CONTRA DONALD TRUMP, ARMAS, MAL MENOR E DEMOCRACIA

UM ATAQUE E MUITAS QUESTÕES LEVANTADAS

Luciano Takaki
6 min readJul 22, 2024
História fotografia tirada pelo fotógrafo-jornalista Evan Bucci. Trump é retirado pelos seguranças com o punho em riste e o rosto ensanguentado. A fotografia é impactante pelo gesto e pelo céu azul com a bandeira americana. Provavelmente é uma das melhores fotografias de todos os tempos.

O PROBLEMA SERIAM AS ARMAS?

Dia 13 de julho de 2024, 18:11, Thomas Matthew Croocks disparou tiros com um rifle AR-15 contra Donald Trump que foi atingido de raspão na orelha direita a aproximadamente 120 metros e matou uma pessoa (um pai de família de 50 anos). Thomas foi abatido em seguida. O evento foi histórico porque desde 1972, quando tentaram matar George Wallace não tivemos ataques a candidatos. Em 1981, Ronald Reagan também sofreu uma tentativa de assassinato já como presidente. Os EUA tiveram quatro presidentes mortos (Abraham Lincoln, James Garfield, William McKinley e John F. Kennedy). Dois outros presidentes foram feridos com armas de fogo: Theodore Roosevelt e Ronald Reagan.

Aqui nem comentarei as suposições de inúmeros esquerdistas de que o atentado seria falso, tal como a faca em Jair Bolsonaro. Essa gente ou já renunciou uma parte da natureza humana, que é racionalidade, ou ao caráter. É impossível que, com tudo o que já foi documentado e mostrado, que tais pessoas insistam em algo tão baixo. Se isso tal atentado fosse contra o Biden ou Lula, essas pessoas reivindicariam uma guerra civil.

Isso tudo nos suscita o seguinte questionamento: o problema seriam as armas de fogo? Um “especialista” (nas palavras da BBC, cf. “4 presidentes americanos mortos e 3 feridos em atentados – a longa história de violência política nos EUA”) afirmou que “em um país com mais armas do que pessoas, e onde as armas de fogo estão facilmente disponíveis, não é surpreendente que os ataques a tiros sejam o meio preferido para assassinar ou tentar assassinar detentores de cargos políticos”. Claro que tudo isso é uma tolice antiarmas.

Numa sociedade em que há crimes com armas de fogo, nada mais justo que termos o direito de nos defendermos com armas de fogo. É muita ingenuidade crer que uma maior restrição a armas de fogo evitaria um ataque desses. Tal ataque aconteceu por uma grande desatenção do Serviço Secreto que não vigiou devidamente o galpão onde o atacante se posicionou, que era um ponto de vantagem claríssimo. Culpar as armas de fogo num caso desses não seria diferente de culpar a faca pela facada em Bolsonaro.

DONALD TRUMP COMO MAL MENOR

A comoção causada pela tentativa de assassinato surgiu inúmeros apoios, levantaram questionamentos sobre a própria legitimidade da candidatura do Joe Biden e do caráter da esquerda. Assim, muitos católicos começaram a ver Donald Trump como uma resistência ao progressismo imposto pelos democratas, tal como as limitações econômicas. No entanto, devemos ir com calma.

É óbvio que os democratas, como esquerdistas em geral, são capazes de qualquer coisa. Podemos esperar qualquer coisa de partido favorável a guerras, infanticídio em massa, censura etc. Não que os republicanos não sejam diferentes, mas estamos aqui diante um partido capaz de fazer qualquer coisa. Não creio que os republicanos matariam o seu principal candidato tal como fez ou forjariam algo assim envolvendo riscos tão grandes. E creio que muitos pensam assim.

Dito isso, vendo o interminável histórico de maldades do Partido Democrata, seria justo ver a disputa entre o bem, figurado em Trump, e o mal, figurado em Joe Biden, atual presidente? A resposta é não. Por mais que Trump represente uma oposição a certas políticas da agenda Biden, não é de forma alguma uma oposição ao problema real: a Revolução. Donald Trump sustenta a agenda revolucionária como todo republicano e o Partido Republicano também sempre representou todos os problemas da agenda revolucionária. Em meu artigo “De Jekkyl Island ao Choque Nixon”, narro uma história que começa no período em que o Presidente era Woodrow Wilson (um democrata) e termina no período em que o Presidente era Richard Nixon, um republicano.

Donald Trump, ainda que seja odiado por democratas, pela esquerda progressista, faz parte do problema e não da solução. Isto é, Trump no máximo representa uma desaceleração da Revolução, mas não um obstáculo. Isso faz dele um mal menor.

Com efeito, o católico pode sim votar no Trump desejando uma desaceleração da Revolução. Isso significa que o voto não seria em si um mal porque tem uma razão de bem. É um bem querer que a agenda revolucionária desacelere.

O PROBLEMA DA DEMOCRACIA

Lendo a reação de muitos políticos (até Joe Biden e Lula, cinicamente, “repudiaram” o ataque), vejo que muitos alertaram que tal ataque poderia prejudicar a “democracia”.

A democracia é inerentemente imoral. Apesar de ser crítico da ética argumentativa de Hoppe, é inegável que Hans-Hermann Hoppe critica irrefutavelmente a democracia. Ele demonstra a sua imoralidade. Ele escreve:

“Então, sob condições democráticas, o desejo popular – e também imoral e antissocial – pelas propriedades dos outros homens é sistematicamente reforçado. Toda demanda é legítima se for expressa publicamente sob a proteção especial da ‘liberdade de expressão’. Tudo pode ser dito, reivindicado e alegado; e tudo pode ser obtido. Nem até mesmo o direito de propriedade privada aparentemente mais seguro e garantido está imune das demandas redistributivas. Pior ainda: submetidos a eleições de massa, aqueles membros da sociedade com pouca ou nenhuma inibição moral contra o roubo da propriedade de outrem – os amoralistas habituais que são os mais talentosos em reunir maiorias de uma multitude de demandas populares moralmente desinibidas e mutuamente incompatíveis; enfim, os eficientes demagogos – tendem a obter o ingresso no governo e a subir ao topo da hierarquia governamental. Assim, uma situação ruim torna-se ainda pior.” (Democracia – o deus que falhou, Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2014, pp. 120–121.)

E ainda:

“No tocante ao status moral do governo da maioria [democracia], deve ser ressaltado que ela permite que A e B se unam para roubar C, que C e A, por sua vez, se juntem para roubar B e que, em seguida, B e C conspirem contra A – e assim por diante. Isso não é justiça, mas sim um escândalo moral; e, ao invés de o regime democrático e os seus defensores serem tratados com respeito, eles devem ser tratados com desprezo e ridicularizados como fraudes morais.” (Idem, pp. 138.)

Se levarmos isso em conta, perceberemos que a democracia falha moral, social e economicamente. Ela distorce a preferência temporal das pessoas e dos próprios governantes. Num regime em que há uma ditadura da maioria e que os governantes tendem a adotar medidas mais populistas para satisfazer a preferência temporal das pessoas. A democracia inevitavelmente leva ao socialismo com alguns poucos retrocessos (como aconteceu na Argentina de Javier Milei). Curiosamente, Hoppe acidentalmente endossa o que ensina o Doutor da Igreja São Roberto Belarmino que escrevia que “não pode ser senão o pior de todos os regimes aquele no qual os sábios são regidos pelos tolos, os entendidos pelos ignorantes, e os bons pelos maus. Mas assim é o regime democrático. Porque, onde vigora a democracia, todas as coisas são estabelecidas pelo sufrágio de muitos. Ora, consta que sempre há mais tolos do que sábios, mais maus do que bons, e mais ignorantes do que entendidos” (De Romano Pontifice, lib. I, cap. VI).

O ataque a Trump não foi uma ameaça à democracia, mas sim uma tentativa desesperada de fortalecê-la ainda mais. No entanto, foi um tiro no pé, pois os democratas ficaram mais queimados com essa tentativa de assassinato e Trump fortalecido. Não digo que Trump é um combatente contra a democracia tal como Hoppe e São Roberto fazem, e sim que ele vai retardar alguns princípios democráticos, mas manterá a democracia firme.

CONCLUSÃO

A tentativa de assassinato de Trump foi um evento que pode mudar consideravelmente a política americana e enterrar por um tempo as chances do Partido Democrata, e ele já era favorito nem tanto por sua política, mas sim pela senilidade evidente de Joe Biden.

O ataque levantou algumas questões sobre a questão das armas, o mal menor e a democracia. O objetivo deste breve texto foi abordar numa perspectiva católica e mesmo crítica. O leitor pode estranhar aqui as citações de Hoppe, mas servem para expressar a maldade da democracia com mais ênfase. E serve deixar claro que Trump não é um bem, mas um mal menor.

A eleição de Trump seria desejável? Sim, mas como mero meio em razão de um bem, mas um bem remoto do qual a política americana dista muito.

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Luciano Takaki

Católico tradicional, tomista engessado e austríaco incorrigível. Esse perfil é o meu caderno virtual.