DE JEKYLL ISLAND AO CHOQUE NIXON
UMA PERSPECTIVA CATÓLICA SOBRE A CORRUPÇÃO MONETÁRIA E UM MEIO DE RESISTÊNCIA
Em meu artigo “A Escola Austríaca à luz do catolicismo”, tratei sobre o que é a Escola Austríaca de Economia (EAE). Aqui novamente tratarei sobre economia, mas o assunto é outro: o que aconteceu em 1971.
Decerto, a economia hoje é complexa, muito complexa. Estamos trabalhando cada vez mais e comprando cada vez menos. Os governos, os bancos e as megacorporações fazem de tudo para nos endividar. Estamos diante de uma situação irreversível humanamente falando. Hoje, em conluio com bancos e megacorporações, os governos criam crises econômicas para depois se apresentar como salvadores. A falsa resolução dos governos surge para aumentar ainda mais a dependência do Estado.
Como sabemos, o cenário se desenhou já desde o pecado original, passando pela Revolta Protestante, a Revolução Francesa, Revolução Industrial, Revolução Bolchevique, Revolução Marcusiana e… o Choque Nixon. A situação em que vivemos não é outra coisa senão o apogeu da guerra entre as duas cidades, a de Deus e a dos homens, cuja cabeça é Satanás.
Desde 1971, a corrosão da moeda aumenta de forma exponencial, impostos aumentam, os trabalhos aumentam, mas os salários não acompanham. Mais e mais burocratas assumem. O trabalhador médio que conseguia ter a sua casa e seu carro com poucos anos de trabalho, agora é escravizado por toda sua vida com dívidas em hipotecas, financiamento e… impostos.
É difícil contar essa história sem escrever um tratado de história porque essa mesma história é longa, muito longa. Tentarei, no entanto, resumir, dentro das minhas limitações, essa história. Aqui neste artigo não usarei mais do que fontes públicas. Qualquer um de vocês podem conferir. O meu prisma econômico será o austríaco. O meu prisma moral será o católico. As conclusões serão minhas, mas muitos concordam comigo. Convido o leitor a tirar as suas próprias conclusões.
O ENCONTRO EM JEKYLL ISLAND, UMA CAUSA REMOTA
“Uma reunião secreta em uma isolada ilha da costa da Geórgia lançou as bases para o Sistema da Reserva Federal [Federal Reserve, ou Fed].”
Parece uma chamada de jornal sensacionalista ou site conspiracionista, mas é o subtítulo do artigo “The Meeting at Jekyll Island”, do site Federal Reserve History (FRH) Por que uma reunião secreta?
Primeiramente, o ensaio publicado no FRH trata de uma suposta necessidade de um banco central. Segundo o ensaio, na economia americana ocorriam crises e os bancos dificultavam os resgates das reservas. Uma das razões da dificuldade dos resgates era o lastro em ouro. A dificuldade de resgates e a resistência dos banqueiros por todos os EUA, que continham a reserva de ouro dispersada por todos os EUA, segundo o autor do ensaio, causava sofrimento e dolorosas recessões. A moeda não era suficientemente elástica para atender a demanda.
No ensaio, lemos que quem lançou a ideia foi o Paul Moritz Warburg, banqueiro alemão de família judaica. Leiamos uma tradução livre de parte do ensaio:
“Em um artigo publicado no New York Times em 1907, Paul Warburg, um bem-sucedido financista nascido na Alemanha que era sócio do banco de investimento Kuhn, Loeb & Co. e amplamente considerado um especialista em sistemas bancários nos Estados Unidos e na Europa, escreveu que o sistema financeiro dos Estados Unidos estava ‘aproximadamente no mesmo ponto que havia sido alcançado pela Europa na época dos Medicis e, muito provavelmente, pela Ásia na época de Hamurabi’. [Warburg, Paul M., ‘The Defects and Needs of Our Banking System’, New York Times: Annual Financial Review, January 6, 1907, p. 14–15, 38–39.].
“Poucos meses depois de Warburg ter escrito essas palavras, o país foi atingido pelo Pânico de 1907. O pânico galvanizou o Congresso dos EUA, particularmente o senador republicano Nelson Aldrich, presidente do Comitê de Finanças do Senado. Em 1908, Aldrich patrocinou um projeto de lei com o representante republicano Edward Vreeland que, entre outras coisas, criou a Comissão Monetária Nacional para estudar reformas no sistema financeiro. Aldrich rapidamente contratou vários conselheiros para a comissão, incluindo Henry Davison, sócio da J.P. Morgan, e A. Piatt Andrew, professor de economia na Universidade de Harvard. Nos dois anos seguintes, eles estudaram extensivamente os sistemas bancários e financeiros e visitaram a Europa para se encontrar com banqueiros e banqueiros centrais.”
Aldrich se convenceu de que seria necessário um banco central. Assim iniciou-se os planos para estabelecer um banco central nos EUA. Diz o ensaio:
“Aldrich e Davison escolheram os participantes por sua expertise, mas Aldrich sabia que seus laços com Wall Street poderiam suscitar suspeitas sobre suas motivações e ameaçar a aprovação política do projeto de lei [ver citação acima]. Portanto, ele fez grandes esforços para manter a reunião em segredo, adotando o pretexto de uma viagem de caça aos patos e instruindo os homens a virem um de cada vez a um terminal de trem em Nova Jersey, onde poderiam embarcar em seu vagão de trem privado. Uma vez a bordo, os homens usaram apenas os primeiros nomes – Nelson, Harry, Frank, Paul, Piatt e Arthur – para evitar que a equipe descobrisse suas identidades. Durante décadas depois, o grupo referiu-se a si mesmo como o ‘Clube dos Primeiros Nomes’.” (Grifos meus)
Isso tem toda a forma de uma conspiração: uma elite composta de banqueiros e mais um político se reunindo para alterar todo o sistema financeiro do país que já era o mais rico do mundo. Foi depois de tudo ser deliberado que, em 1913, o Fed era criado com todo o lobby dos banqueiros de Wall Street.
DA CRIAÇÃO DO FED AO ACORDO DE BRETTON WOODS
Os EUA entram na I Guerra Mundial
Sob o governo do Woodrow Wilson, em 3 de janeiro de 1903, o imposto de renda (que antes disso foi algo temporário) foi oficialmente ratificado pela 16ª Emenda, a Lei da Receita de 1913 ou Lei Underwood-Simmons (ch. 16, 38 Stat. 114), patrocinada por Oscar Underwood. No mesmo ano, em 23 de dezembro, foi promulgada a Lei da Reserva Federal. O fato de ter sido o Woodrow Wilson o signatário dessa lei nos diz muita coisa. Woodrow Wilson esteve diretamente envolvido na dissolução de todas as monarquias europeias, principalmente o Império Austro-húngaro, ao fazer os americanos entrarem na I Guerra Mundial[1]. Outras monarquias foram severamente mitigadas. Hans-Hermann Hoppe escreve sobre isso:
“Com o envolvimento dos EUA, a guerra tomou uma nova dimensão. Ao invés de ser uma tradicional disputa territorial – como era o caso antes 1917 —, a guerra transformou-se em uma disputa ideológica. Os EUA foram fundados como uma república, e o princípio democrático, inerente à ideia de uma república, apenas recentemente tornara-se vitorioso – tal vitória decorreu da violenta derrota e da violenta devastação da Confederação secessionista pelo governo da União centralista. Nos tempos da Primeira Guerra Mundial, essa triunfante ideologia de um republicanismo democrático expansionista encontrou a sua perfeita personificação no então presidente dos EUA, Woodrow Wilson. Sob o governo deste, a guerra europeia tornou-se uma missão ideológica – fazer com que o mundo se transformasse num lugar seguro para a democracia, livre de governantes dinásticos. Assim, os militarmente derrotados Romanovs, Hohenzollerns e Habsburgos tiveram de abdicar ou renunciar, e a Rússia, a Alemanha e a Áustria tornaram-se repúblicas democráticas com sufrágio universal (masculino e feminino) e com governos parlamentares.” (Democracia – o deus que falhou, Instituto Ludwig von Mises, 2014, p. 72)
A maldade de Woodrow Wilson e o fim das monarquias
Wilson, não contente, fundou a Liga das Nações, para, supostamente, consolidar a paz com o Tratado de Versalhes. Ele entendia que a paz só poderia ser consolidada a partir de uma comunidade global cooperativa. No entanto, sabemos que isso implica uma paz forçada e a necessidade de um governo global na prática. Wilson naquele momento buscou fundar uma nova ordem mundial a partir de uma Europa totalmente redesenhada. Assim, derrubada as monarquias dinásticas, e com ascensão das democracias, o resultado não foi como Wilson prometeu. O que se viu foi graves momentos de instabilidade que mais tarde culminariam na ascensão do fascismo e nazismo.
Enquanto isso, nos EUA, Wilson continuou o seu projeto tirânico de centralizar a ordem monetária do país e ainda promulgar as leis Espionage Act e Sedition Act, que permitem praticamente quaisquer censura e violação de privacidade arbitrárias em “tempos de crise” (quando os EUA resolverem se meter em uma guerra ou ocorrer crises financeiras ou sanitárias).
A Grande Depressão e as falsas soluções
Nos “loucos anos 20”, o Fed já tinha mostrado a que veio. Os loucos anos 20 não foram resultado de livre mercado, mas sim resultado de expansão monetária e de créditos. Antes da Grande Depressão, o governo americano tinha como política o modelo laissez-faire (não era o modelo católico de livre-mercado, regulado pelos princípios morais católicos, mas era um mal menor em relação aos modelos tirânicos que vivemos hoje) de mercado para solucionar as crises. Sobre isso, escreve o economista Murray Rothbard[2] (cuja obra moral e filosófica reprovo totalmente, mas tinha uma obra econômica útil):
“O laissez-faire, então, era a política ditada tanto pela teoria sólida quanto pelos antecedentes históricos. Mas, em 1929, o bom caminho foi abandonado. puxado pelo presidente Hoover, o governo embarcou naquilo que Anderson acertadamente definiu como ‘New Deal de Hoover’. Se definirmos ‘New Deal’ como um programa antidepressivo marcado pelo extensivo planejamento econômico por parte do governo – incluindo o estímulo aos salários e aos preços, a expansão do crédito, o apoio a empresas fracas, e o aumento nos gastos do governo (por exemplo, na forma de subsídios ao desemprego e às obras públicas) – Herbert Clark Hoover tem de ser considerado o fundador do New Deal nos estados unidos. Hoover, desde o começo da depressão, decidiu-se firmemente a violar todos os cânones do laissez-faire. Em consequência disso, deixou o governo com a economia nas profundezas de uma depressão sem precedentes, sem qualquer chance de recuperação em vista após três anos e meio, e com o desemprego na taxa inédita e terrível de 25% da força de trabalho.
“O papel de Hoover como fundador de um programa revolucionário de planejamento governamental para combater a depressão tem sido injustamente negligenciado pelos historiadores. Franklin D. Roosevelt em grande parte apenas desenvolveu as políticas estabelecidas por seu antecessor. Ridicularizar o trágico fracasso de Hoover ao tentar curar a depressão, como se fosse um exemplo típico de laissez-faire, é ler os registros históricos de maneira drasticamente equivocada. A via de Hoover deve ser vista como um fracasso do planejamento governamental, e não do livre mercado.” (A Grande Depressão Americana, Instituto Ludwig von Mises, 2012, p. 208)
Podemos dizer que a crise de 1929 foi causada não por uma política de livre mercado, mas sim por uma política deliberada do Fed de expansão monetária, de crédito e empréstimos. Hoover resolveu combater com intervencionismo e com Franklin Delano Roosevelt seria ainda pior.
Em 9 de março de 1933, foi aprovada o Emergency Banking Act (EBA). Esse projeto foi preparado durante o governo Hoover. O projeto simplesmente acaba com o padrão-ouro, pois o Fed já passava a emitir mais moeda. Menos de um mês depois (5 de abril), Roosevelt assina a criminosa Ordem Executiva 6102, criminalizando o porte monetário de ouro.
Seguindo uma política orientada economicamente por John Maynard Keynes, EUA buscaram aumentar seus gastos e intervencionismo. Enquanto New Deal fracassava dentro dos EUA, a Europa passava por um período de tensão. O Tratado de Versalhes e a Liga das Nações não correspondiam o que se esperava deles, pois após a dissolução das monarquias dinásticas e a ascensão da democracia, a diplomacia ficou severamente enfraquecida e isso culminou na ascensão de diversos nacionalismos (fascismo e nazismo).
Segunda Guerra Mundial e Bretton Woods
Não demorou muito para estourar uma nova Grande Guerra. Com o ataque japonês ao Pearl Harbor em 1941, aconteceu tudo o que os EUA queriam. Assim, os gastos dispararam e boa parte da indústria americana se voltou produzir recursos para a guerra. E em 1944, prevendo a vitória e a dependência europeia pós-Guerra, o governo americano e de mais 44 países fizeram os acordos de Bretton Woods. A partir daquele momento, as moedas passaram a ser atreladas ao dólar. Com efeito, no artigo “Creation of the Bretton Woods System”, no site FRH:
“A Conferência Monetária e Financeira das Nações Unidas foi realizada em julho de 1944 no Mount Washington Hotel em Bretton Woods, New Hampshire, onde delegados de quarenta e quatro nações criaram um novo sistema monetário internacional conhecido como sistema de Bretton Woods. Esses países viram a oportunidade de um novo sistema internacional após a Segunda Guerra Mundial que aproveitaria as lições dos padrões de ouro anteriores e a experiência da Grande Depressão e providenciaria a reconstrução do pós-guerra. Foi um esforço cooperativo sem precedentes para as nações que estavam criando barreiras entre suas economias há mais de uma década.”
Dois economistas presidiram a Conferência de Bretton Woods: John Maynard Keynes e Harry Dexter White. O primeiro, como se sabe, é conhecido pela sua defesa à intervenção firme do Estado. Keynes cria numa intervenção do Estado em que, como medidas anticíclicas, se cobraria mais impostos para arrecadar e se cortaria gastos durante os períodos de bonança econômica e depois se cortaria as cobranças de impostos; e aumentaria os gastos e cortaria gastos nos períodos de crise (com algumas mudanças variantes aqui e ali, mas essencialmente é assim). Keynes foi provavelmente o economista mais influente no destino da economia global e se consolidou como o idealizador do modelo moderno do Estado de bem-estar social. O modelo proposto por Keynes, como se mostrará, desestimula a poupança e assim dificultando o empreendedorismo. Com menos empreendedores, um grupo vai ganhar muito com isso: as megacorporações.
Quanto ao Harry Dexter White, não o conhece. Mas para participar da Conferência, é provável que subscrevesse o que Keynes ensina. Fora as acusações que surgiram de que ele poderia ter sido um agente soviético. Deixemos-no de lado.
Com o Acordo de Bretton Woods, foi fundado o Fundo Monetário Internacional (FMI). O dólar americano torna-se a principal moeda de troca mundial. No entanto, ainda havia a convertibilidade do dólar em ouro. O dólar americano era convertível a uma taxa de câmbio fixa de US$ 35,00 a onça (cf. “Creation of the Bretton Woods System”). No entanto, o tempo foi passando e depois, o pior aconteceria.
DO SURGIMENTO DA NOVA ORDEM MUNDIAL AO CHOQUE NIXON
Surgem os órgãos mundialistas
O FMI, criado com os Acordos de Bretton Woods, marca o início de uma fundação da Nova Ordem Mundial. Juntamente com o FMI, fundaram-se o Banco Mundial. Ambos foram fundados em 27 de dezembro de 1944. No ano seguinte, temos a fundação da ONU (Organização das Nações Unidas, 24 de outubro de 1945), a fundação da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, 16 de novembro de 1945) e, já noutro ano, veio a fundação da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância, 11 de dezembro de 1946) e nos seguintes outras organizações mundialistas como a OMS (Organização Mundial da Saúde, 7 de abril de 1948).
Chama a atenção o fato de terem surgidas tantas organizações logo após a II Guerra Mundial. Os países, sob o risco de sofrer sanções, deverão seguir as diretrizes desses órgãos, especialmente a ONU. Vendo o suposto fracasso da Liga das Nações, esta foi extinta em 20 de abril de 1946. Os EUA foi novamente quem deu as cartas. O presidente (maçom de alto grau) Harry S. Truman enviou o Robert H. Jackson à Europa para servir no Tribunal Militar Internacional em Nuremberg como Procurador-Chefe dos EUA. Jackson redigiu a Carta de Londres que serviu de base para os julgamentos de Nuremberg.
Os Julgamentos de Nuremberg (20 de novembro de 1945–1º de outubro de 1946), como se sabe, aconteceu principalmente para punir os crimes de guerra dos nazistas. O foco dos julgamentos foi principalmente aí, ignorando todos os outros crimes de guerra. O julgamento foi satanicamente unilateral contando apenas com juízes dos Aliados. Essa decisão já tinha sido tomada nas Conferências de Yalta e Potsdam. Ao final, os principais criminosos de guerra do Eixo foram condenados, ninguém dos aliados foi julgado e punido e, para coroar, quase todos os cientistas e engenheiros do Eixo (quase todos alemães) foram poupados e passaram a trabalhar para os EUA e a URSS.
Esse julgamento marcou o início da Nova Ordem Mundial porque marcou o início de um período em que as soberanias de cada país poderiam ser subjugadas por uma organização ainda maior. Os crimes dos Aliados passaram impunes (Holodomor; Massacre de Katyn; bombardeios de Colônia, Dresden, Tóquio etc; e, principalmente, os ataques nucleares de Hiroshima e Nagasaki). Os engenheiros e cientistas nazistas foram quase todos poupados e passaram a trabalhar para os países aliados (principalmente EUA e URSS) dando origem às maiores corridas espacial e armamentista da história. A corrida armamentista teve parte nas piores guerras pós-II Guerra Mundial.
Surgimento da Geração Beat e a Escola de Frankfurt
A II Guerra Mundial gerou a maior convulsão da história e com surgiu duas correntes filosóficas que, ao invés de fazer as pessoas propender à conversão ou pelo menos a uma vida mais moderada, levou as pessoas a um estilo de vida alternativo mais desregrado: a cultura beat [3] e a Escola de Frankfurt. A cultura beat é um conjunto de ideias e valores que vão contra os valores tradicionais americanos da época cujos maiores expoentes foram Allen Ginsberg[4] (mais conhecido pelo poema “Howl”), Jack Kerouac (conhecido pelo livro On The Road) e William S. Burroughs (conhecido pelo livro Junkie). Os beatnik acusam os americanos tradicionais de materialismo, consumismo e conformismo com autoridades que não se preocupam com o povo. Apesar de simpatizarem com ideais de esquerda e o socialismo (salvo algumas exceções que não queriam se alinhar com governos repressores), eles não queriam também um governo intervencionista que impunha os seus valores aos outros lugares do mundo. De fato, até parece que eles defendiam ideais nobres olhando esse resumo. No entanto, eles queriam promover antes o ideal da contracultura, a rejeição da autoridade, os valores deles não eram valores de fato, mas antes queriam a destruição de qualquer sinal de uma vida minimamente regrada. O livro On The Road de Jack Kerouac expressa bem o ideal antes atomista. Antes expresso em obras poéticas e literárias, anos mais tarde o ideal da Geração Beat passou a ser expressa em música. Assim surgiu o gênero musical que melhor expressa o pensamento dos beatniks (adeptos dessa filosofia): o rock n’roll.
Diferentemente da cultura beat, que era mais voltada à militância ativa com uma doutrina divulgada em forma de pretensas artes, a Escola de Frankfurt se espalhou de forma mais especulativa, mas com consequências práticas. Com expoentes como Herbert Marcuse, Theodor Adorno, Max Horkheimer etc. Influenciados por Marx e Freud, buscaram reformular o marxismo depois de testemunharem o fracasso da visão marxista nas guerras mundiais. Convencidos de que não seria a classe trabalhadora o principal motor da Revolução, mas sim seriam as classes marginalizadas: mulheres, homossexuais, negros etc. Assim, essa nova esquerda surgida com os ideais de Frankfurt, os governos teriam a obrigação de proteger essas classes marginalizadas porque são elas os motores da Revolução. Por isso hoje não podemos emitir nenhuma crítica a essas classes “marginalizadas”, razão por que são elas que nos conduzirão à Revolução. Essas escolas de pensamento (a de Frankfurt e Geração Beat) parecem bem distintas, mas se unirão e dominarão o pensamento mundial. São pessoas que se julgam contra o “sistema”, mas que em verdade são todos escravos do “sistema”, do pensamento main stream, do establishment.
Aprofundando a dependência dos EUA
Essa corrupção moral dá origem à corrupção financeira. Ou melhor, causa o seu agravamento. Concomitante a tudo isso, os EUA lançam o Plano Marshall para reconstruir a Europa (que eles mesmos ajudaram a destruir) e assim aumentar ainda mais a dependência monetária dos EUA. Também criaram outros planos para ajudar na reconstrução do Japão.
Esse plano vai também inflacionar consideravelmente a moeda. Com o tempo, com gastos e mais gastos e com o impulsionamento totalmente artificial das economias estrangeiras com o Plano Marshall, levantou-se a suspeita de que se os EUA conseguiriam manter a convertibilidade do dólar em ouro. Com inúmeras crises, intervenções e gastos (principalmente com a recém-iniciada corrida espacial), guerras (principalmente a do Vietnã), surge o ceticismo com respeito ao cumprimento dos acordos de Bretton Woods por parte dos EUA. Que ia se confirmar depois que Richard Nixon assume a presidência.
CHOQUE NIXON E SUAS CONSEQUÊNCIAS
Nixon acaba com os acordos de Bretton Woods
No dia 15 de agosto de 1971, Richard Nixon ao vivo, pela TV, de forma totalmente unilateral, acaba com a convertibilidade do dólar em ouro e se encerram oficialmente os acordos de Bretton Woods. Este é o Choque Nixon. As consequências disso não poderiam ser piores.
O que aconteceu em 1971 e o que acontece desde então?
O site “O que aconteceu em 1971?” nos fornece uma gama de informações. Uma coisa e outra parece mal interpretada e há gráficos difíceis de interpretar. Mas a esmagadora maioria são a prova cabal de que, a partir de 1971, tudo piorou muito.
Um dos gráficos (acima) vemos uma discrepância entre a produtividade e a remuneração. Até 1970, as linhas que representam ambas andavam juntas. A partir de 1971, inicia-se uma ruptura que cresce até hoje. A produtividade continua aumentando, mas a remuneração ficou estagnada. Isso se deve à corrosão do valor da moeda que perdeu totalmente o lastro. O americano médio, (como em boa parte dos países) que antigamente adquiria uma casa em poucos anos e não raro comprava um automóvel novo à vista poupando poucos meses, acabaria por se escravizar com intermináveis hipotecas, financiamentos e dívidas. Justamente porque o salário não mais acompanha o aumento do próprio trabalho.
Não deixa também de chamar atenção o gráfico que ilustra o crescimento da dívida pública, que hoje supera os 34 trilhões de dólares. Basta reparar o crescimento exponencial depois de 1970 e veremos que tanto um evento como outro têm uma relação causal com o Choque Nixon. Esse crescimento exponencial se dá por conta dos excessivos gastos e grande parte disso o Fed, desta vez quase sem nenhuma amarra, cobre emitindo moeda como se não houvesse amanhã. Assim, não apenas o povo americano, mas também os outros povos cuja moeda está atrelada ao dólar, acabaram por ser escravizados por uma dívida que não é deles.
Isso prejudica a família. Há cada vez mais casais onde o homem e a mulher trabalham e cada vez menos onde apenas o homem trabalha. O número de divórcios disparou e o número de filhos por casal despencou. Tudo isso se dá em razão do fato de que se o homem sozinho pudesse sustentar a família, não haveria razões para o casal brigar, a não ser por razões alheias a isso. O homem ganha o dinheiro e a mulher administra em casa. Os filhos vêm e os mais velhos trabalham ajudam e cooperam na administração da casa.
Se o casal trabalha juntos, a mulher fica com pouco tempo e não há incentivo para ter mais filhos porque o casal já está sufocado pela hipoteca ou aluguel, financiamentos e impostos. Isso leva a uma redução da quantidade de filhos. Isso reduz a quantidade de contribuintes para o próprio Estados. Sem novos contribuintes, a previdência fica numa expectativa de colapso e vê obrigado a cobrar mais impostos e ainda emitir mais moeda.
Com mais inflação em decorrência da emissão da moeda, aumento dos impostos e cada vez menos empreendimento, não há mais concorrência para as megacorporações. As megacorporações assim conseguem mais poder. O Estado coopera com essas megacorporações não apenas desincentivando o empreendorismo, mas também com fortes regulações e distorcendo a preferência temporal das pessoas. Com a preferência temporal distorcida, as pessoas tendem a querer bens mais imediatos consumindo mais. O Choque Nixon Coopera com isso justamente por meio da inflação.
A resistência a esse sistema
Desde o Choque Nixon, a moeda fiduciária perdeu qualquer viabilidade. O governo voltou a permitir os americanos a guardar ouro em casa depois de 1974, mas nada garante que o que aconteceu em 1933 volte a acontecer. O ouro é, evidentemente, sempre bom em si mesmo e ninguém contesta isso. O problema é que o ouro não é seguro justamente porque o Estado pode confiscar com seus agentes. Principalmente com a tecnologia que existe hoje.
No dia 31 de outubro de 2008, alguém (uma pessoa ou um grupo, não o sabemos) com o pseudônimo Satoshi Nakamoto publicou um paper intitulado “Bitcoin: Peer-to-Peer Eletronic Cash System”. A conclusão diz:
“Propomos um sistema para transações eletrônicas sem depender da confiança. Começamos com a estrutura usual de moedas feitas de assinaturas digitais, que fornece forte controle de propriedade, mas é incompleta sem uma maneira de evitar gastos duplos. Para resolver isso, propomos uma rede ponto a ponto usando prova de trabalho para registrar um histórico público de transações que rapidamente se torna computacionalmente impraticável para um invasor mudar se os nós honestos controlam a maioria do poder da CPU. A rede é robusta em sua simplicidade não estruturada. Os nós[5] trabalham todos de uma vez com pouca coordenação. Eles não precisam ser identificados, pois as mensagens não são roteadas para nenhum lugar específico e só precisam ser entregues com o melhor esforço. Os nós podem sair e se reunir à rede à vontade, aceitando a cadeia de prova de trabalho como prova do que aconteceu enquanto estavam fora. Eles votam com seu poder de CPU, expressando sua aceitação de blocos válidos trabalhando para estendê-los e rejeitando blocos inválidos recusando-se a trabalhar neles. Quaisquer regras e incentivos necessários podem ser aplicados com este mecanismo de consenso.”
O Bitcoin[6] surge como uma opção perfeita. Ele nascia oficialmente no dia 3 de janeiro de 2009, às 18:15 numa transação feita pelo próprio Satoshi Nakamoto. A mensagem é provocativa:
THE TIMES 03/JAN/2009 CHANCELLOR ON BRINK OF SECOND BAILOUT OF BANKS
(The Times 3 de janeiro de 2009 Chanceler à beira de segundo resgate de bancos)
A mensagem é um recado. Muitos países atualmente, em 2024, perceberam o potencial ameaçador do Bitcoin e já proibiram. O Bitcoin é inviolável, nenhum governo do mundo pode acessar. Ainda que conseguisse confiscar, o Governo não teria o que fazer. Se vender, não poderia ter de volta. Se destruísse, o bitcoin valorizaria pela escassez porque a sua emissão é limitada a 21 milhões de bitcoins (divisíveis em 100 milhões de satoshis).
O Bitcoin é uma das únicas alternativas além do catolicismo tradicional de resistência contra esse sistema criminoso.
CONCLUSÃO
Temos aqui exposto a história de como uma nova ordem mundial a partir da mudança do sistema monetário de um único país: os Estados Unidos da América.
Em tudo isso há uma perspectiva também escatológica. O Anticristo provavelmente tomará o controle de uma moeda mundial (que poderá ser a marca da Besta com qual não se pode comprar nem vender como se lê em Apocalipse 13, 17). É inevitável. A teoria austríaca nos ensina que o Estado distorce a preferência temporal e o Anticristo deverá fazer isso para escravizar as pessoas pelo monopólio da moeda. Atualmente, dois bancos centrais mandam em quase todas as moedas do mundo: o Fed e o BIS (Bank of International Settlements, localizado na Suíça).
Como a história nos conta, o Estado, conjuntamente com bancos e megacoorporações, pode provocar deliberadamente convulsões sociais ou explorar a preferência temporal das pessoas (provocando inflação e dificultando o empreendimento e a poupança) para demandar órgãos mundialistas. Aqui dei um meio de resistência e expus parte da história. Pouco conhecida, mas que é essencial para que entendamos.
[1] Duas coisas não devem ser ignoradas: a primeira é o fato que há muitos indícios de que a entrada dos EUA teria sido favorecida pela omissão deliberada de Winston Churchill quando ele era o lord do almirantado sobre o ataque ao transatlântico RMS Lusitania. Churchill permitiu que o navio fosse atacado por submarinos alemães ao não enviar a escolta antitorpedeira. O naufrágio do Lusitania em decorrência ao ataque dos submarinos alemães cooperou para a entrada dos EUA, que até então tinha uma cultura isolacionista (“Winston Churchill was responsible by inaction for tragic Lusitania sinking”). Outra coisa é a participação dos banqueiros americanos no desencadeamento da Guerra, que também não pode ser ignorada, e também a participação dos banqueiros de Wall Street à Revolução Bolchevique sob o pretexto de ajudar derrubar “antidemocrático” regime czarista. O banqueiro Jacob Schiff mesmo financiou a Revolução Bolchevique em US$ 20 milhões, que hoje corresponderiam a mais de US$ 400 milhões atuais (“Brankrolling The Bolshevik Revolution”, Heritage History).
[2] Com respeito à doutrina de Rothbard sobre a moral e a filosofia, eu reprovo absolutamente. Economicamente, ele tem muitos insights, como o ponto colocado. Todas as vezes que falar de economia, adotarei muitas de suas ideias.
[3] Beat pode significar muitas coisas: batida, ritmo etc enquanto substantivo ou cansado e derrotado enquanto adjetivo. Seja qual for a intenção do uso do termo, os termos se encaixam muito bem. O termo beatnik referem a esses jovens que, de alguma forma, se cansaram da mesmice e querem viver uma vida experimental em que se preconiza a devassidão e vícios.
[4] Cronologicamente, a Geração Beat começou com Allen Ginsberg. Allen Ginsberg tem origem judaica, mas depois apostatou para o budismo. Ginsberg encontrou Jack Kerouac na Universidade de Columbia. Kerouac, de ascendência franco-canadense, era católico e filho de uma católica devota: Gabrielle-Ange Lévesque. Kerouac assim se torna budista sob a influência de Ginsberg. A busca por uma vida alternativa longe do sofrimento tem muito a ver com a doutrina budista como podemos ler em meu artigo “O deus da monja Coen e a doutrina do budismo”.
[5] Os “nós” (“nodes” no original) referem-se pontos de conexão em uma rede, como computadores ou servidores. No caso da rede Bitcoin, os nós armazenam e verificam transações, validam blocos e ajudam a manter a segurança da rede.
[6] Livros em português recomendados: FERNANDO ULRICH, Bitcoin: a moeda da era digital, Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2014, 100 p; e RENATO AMOEDO & ALAN SCHRAMM, Bitcoin Red Pill, 2021, 299 p.