para tudo que arde aos olhos

Matheus?
1 min readOct 7, 2024

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em determinado ponto do meu caminho de todos os dias para o trabalho, comecei a sentir um cheiro de morte na beira do mangue. todos os dias, eu sentia o cheiro de decomposição ali. forte. crescia e crescia, cada dia pior. aprendi o lugar exato no trajeto e prendia minha respiração para não ser invadido pela pestilência nojosa e doce de carne podre. naquele ponto do dia, por alguns instantes, essa pungência sempre me lembrava do fim de alguma criatura sem forma. era simplesmente o fim de todas as coisas. a deselegância presente do apodrecimento cotidiano.

hoje, passei por lá novamente, e aquele fantasma estava mais fraco. parecia diferente, já era um cheiro, lembrava terra fértil. miasma de vida. um último lembrete. segui meu caminho desejando um minuto em memória ao cadáver anônimo na mata. sua lembrança e o desejo de que as coisas sempre morram, apodreçam, fedam. para que novas possam crescer, mesmo que façam arder os olhos.

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Matheus?
Matheus?

Written by Matheus?

Filosófias pessoais, pensamentos confusos e lombras que não poderiam se perder.

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