Pensando estruturas alternativas para conteúdo jornalístico

Marcelo Fontoura
4 min readOct 8, 2015

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Nem só de artigos deve viver o jornalismo

Não é novidade que o artigo está cada vez mais datado como estrutura básica do jornalismo. As respostas que um mundo cada vez mais complexo necessita, em termos de conteúdo, precisam ser publicadas em formatos mais dinâmicos. A ascensão do consumo móvel, o acompanhamento de eventos contínuos e a necessidade de atualização conforme o tempo são fatores que demandam novas formas de organizar o conteúdo jornalístico. No entanto, mesmo dadas estas novas condições, nossa mente como jornalistas ainda caminha primeiro para um artigo ao encontrar fatos ou realidades novas para reportar ao público. Pretendo escrever uma reflexão mais extensa sobre estas possibilidades e o que elas representam no jornalismo, mas resolvi jogar alguns exemplos por aqui antes, mais brevemente.

Algumas alternativas ao modelo básico tentam aparecer. O finado Circa configurava um exemplo de tentativa de organização de reportagens com base em pontos — fragmented news, como se dizia. Embora olhando uma thread do aplicativo possa parecer um texto normal dividido em bullet points, a estruturação permitia brincadeiras interessantes: link entre pontos, atualização de pontos através de matérias, pushes apenas das informações novas para cada leitor, enfim.

Outro exemplo ainda mais interessante é o Structured Stories, uma iniciativa do David Caswell. Se trata de uma base de dados que organiza informações para serem montadas em diferentes estruturas narrativas pelo jornalista, ao seu prazer: uma timeline, cards, texto, bullet points. Vale conferir e brincar um pouco com o material publicado na plataforma. Estudantes do Duke Reporter's Lab realizaram uma cobertura local em Nova York dentro do mesmo conceito durante este verão.

structuredstories.com

O Times Topics, que já possui alguns anos, vem de uma inquietação neste sentido. É uma reunião de conteúdo noticioso por assunto na forma de artigos enciclopédicos constantemente atualizados pela equipe do New York Times. Na época de sua criação, a grande barreira para os veículos vencerem era a busca (o que hoje seria o social), e o Topics seria um recurso para melhor posicionar o conteúdo do Times nos buscadores. Em todo caso, busca ainda é hoje uma porta de entrada de tráfego, embora menos relevante que social referrers. Público vindo por buscas em média apresenta um desempenho levemente superior em termos de visitas por usuário e páginas por visita.

Times Topics

A página de review de gadgets do Engadget é uma grande referência sobre organização da informação de uma forma diversa do que o simples artigo . Por exemplo, nesta review da pulseira FitBit, eles reúnem a informação de forma enciclopédica, realmente como um guia para o comprador do produto.

São mesclados dados de preço, de reviews de usuários e de avaliadores de outros sites para formar uma página com uma nota de 0 a 10 que acaba sendo uma “one-stop shop” para o público que quer formar opinião sobre o aparelho. O resultado de SEO provavelmente fica acima da média (para mim, chegou em terceira posição no Google através de uma busca bem ampla, e sem histórico meu de acesso ao Engadget). A criação deste tipo de recurso passa até pelo planejamento de uma URL mais amigável. Em vez de…

  • http://www.mywebsite.com/content/wp/2015–12–21/the-fitbit-is-the best-band

…temos a clara e facilmente indexável

  • http://www.engadget.com/products/fitbit/flex/

Também acaba sendo uma boa aplicação da tão falada curadoria de conteúdo. No final das contas, estão utilizando o conteúdo de outras fontes (concorrentes) para aprimorar o seu próprio. Acredito que aqui o diferencial seja que o pessoal do Engadget identificou que, jornalisticamente, sua tarefa era muito maior do que simplesmente realizar uma review de uma gadget (embora eles ainda realizem isto, no molde tradicional): era organizar a miríade de informações existentes para poder informar ao público da forma mais ampla e relevante sobre um produto de tecnologia.

Existem outras formas lá fora, aguardando demanda e desenvolvimento. Tão importante quanto, precisamos aplicar estas formas mais frequentemente, ao noticiário diário e não diário, para compreender se servem ou não e para quais situações. Este pensamento dinâmico frente à informação vai nos auxiliar na tarefa mais básica e ao mesmo tempo mais importante do jornalismo atualmente: dar sentido à realidade.

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