O menino finalmente virou adulto?
A carreira do Neymar é repleta de gols, títulos e polêmicas. Polêmicas essas que muitas vezes sobrepujavam os grandes feitos dentro de campo
Começo incrível e personalidade forte
Neymar começou no Santos em 2009 e desde cedo encantava os olhos de quem assistia aquele menino magro e habilidoso passar pelos adversários. Menino esse que já era assediado na base por gigantes europeus que queriam contar com seu talento e o Real Madrid foi o que chegou mais perto. Neymar foi à Espanha com 14 anos, fez testes e chegou até a ser registrado pelo clube. Mas o Santos pagou 1 milhão de reais a família do jogador e garantiu sua permanência.
Como é formada a personalidade de um jovem que aos 14 anos já vale 1 milhão de reais? Certamente esse tipo de badalação na base fez com que o “menino Ney” subisse para o profissional pensando ter mais direitos do que realmente tinha, o que ocasionou sua primeira grande polêmica.
Em 2010, Neymar sofreu um pênalti contra o Athletico-PR mas foi desautorizado a cobrá-lo pelo técnico Dorival Júnior, lembrando que essa decisão já havia sido tomada antes e foi apenas relembrada durante o jogo. E daí em diante não há como defender o craque, ele discutiu, xingou o treinador e chegou até jogar um copo de isotônico no rosto do auxiliar Ivan Izzo, segundo o Marquinhos ex-Santos, que deu uma entrevista para o programa Bolívia Talk Show contando a história. O mais impressionante vem agora, Dorival Júnior não conseguiu punir Neymar por conta de ameaças de patrocinadores do clube e o treinador pediu demissão. As conquistas da Copa do Brasil e do Paulistão ficaram em segundo plano. Sua imagem ficou marcada como a de um menino mimado e o rótulo de craque era deixado de lado, era claro o tamanho do poder de Neymar e o quão mal isso poderia fazer para ele próprio.
Mas até então ele ainda era realmente um garoto que tinha muitas coisas na costas e agia impulsivamente, nada muito surpreendente para uma estrela da idade dele. Os anos foram passando e pequenas confusões e títulos foram sendo acumulados. Inclusive a conquista da Libertadores em 2011 e o prêmio Puskás com apenas 19 anos de idade. Neymar foi vendido ao todo poderoso Barcelona em 2013 e se despediu da Vila Belmiro brigando com a diretoria do Santos. Na época ele já tinha o status de ídolo nacional e deixou o futebol brasileiro com muita saudade de seus gols antológicos e nenhuma de sua personalidade impossível.
Foco total e o sucesso no Barcelona
Neymar e Barcelona eram uma dupla incrível, dentro e fora de campo. Já acostumado a lidar com grandes estrelas e seus egos, o Barcelona segurou a onda do brasileiro que se preocupou apenas em jogar futebol e aliás, que futebol… Foram 7 nacionais e a conquista da Liga dos Campeões em 2015, além de feito parte do trio de ataque mais matador de uma só temporada, o MSN fez 131 gols na jornada 15–16. O jovem foi artilheiro da competição ao lado de Messi e Cristiano Ronaldo com 10 gols, tendo conduzido a equipe no mata-mata. Messi passou alguns meses lesionado no fim de 2015, Neymar tentou atrair a atenção do mundo para si, fez um gol absurdo contra o Villarreal dando um chapéu em si mesmo e batendo sem deixar a bola cair e levou o time nas costas no restante do ano mas ficou apenas em terceiro no prêmio da Bola de Ouro da FIFA, injustamente na minha opinião, merecia a primeira colocação, jogou mais do que o Messi. O ano ainda terminaria com o título do Mundial de Clubes em dezembro.
15–16 foi certamente menos brilhante na Catalunha foram eliminados na Liga dos Campeões pelo Atlético de Madrid mas o clube conquistou o Campeonato espanhol e a Copa do Rey, o que ajudou a acalmar os ânimos.
A temporada 16–17 na Catalunha foi arrasadora em vários sentidos: No fim de 2017, Neymar e Messi foram indicados ao prêmio The Best da FIFA e o brasileiro ficou em 3º, mais uma vez atrás de Messi, o ponto alto da temporada foi a famosa remontada diante do PSG. Neymar fez 2 gols, deu uma assistência e foi eleito o melhor no jogo, mas o Barcelona acabou eliminado na fase seguinte pela Juventus e teve a Copa do Rey como prêmio de consolação. Ao fim da temporada, Neymar decidiu que não seria mais coadjuvante de ninguém e decidiu que veria a Torre Eiffel pela janela em todas as suas manhãs, seu destino era o Paris Saint-Germain. E como tudo em sua vida, a despedida do Barcelona foi desgastante, o clube parisiense pagou a multa do jogador que saiu pela porta dos fundos da Espanha, assim como fez no Santos. Mas antes de falarmos do Paris, temos um assunto pendente.
A estrela solitária e briguenta da seleção brasileira
Como falar de Neymar sem falar de Seleção brasileira? Quem estava habituado a ver o camisa 10 arrumando confusão com a camisa do PSG talvez não se lembre da época que ele era um “bad boy” com a camisa amarela, a seleção parecia sua válvula de escape já que no Barcelona ele era mantido na rédea. Sua estreia foi com Mano Menezes em 2010 depois que a CBF demitiu Dunga, chegou fazendo gol e cativando ainda mais os torcedores brasileiros. Neymar foi prata em Londres 2012 e logo no ano seguinte já carregava a 10 na Copa do Mundo no Brasil, e o que poderia ser pesado para qualquer outro jovem de 22 anos, parecia leve para ele. Sua copa foi extraordinária até a lesão nas quartas contra a Colômbia, ele vinha jogando praticamente sozinho naquela melancólica seleção que não à toa tomou um belo 7x1 sem ele na fase seguinte. Neymar arrumou problemas contra a própria Colômbia na Copa América de 2015 em um jogo em que ele cansou de apanhar, acabou expulso, suspenso e a seleção foi eliminada.
Mas o período 2016–2018 foi bom para o Neymar na seleção. Dunga foi demitido após os péssimos resultados na Copa América e Tite foi contratado. Neymar tinha uma chance de ouro nas Olimpíadas e aproveitou, apesar de um começo fraco da seleção, o camisa 10 conseguiu conduzir o Brasil ao título inédito, e claro, teve que arrumar uma briga com um torcedor após o jogo, a sensação é que ele simplesmente não conseguia fazer as coisas direito, ele tinha que tentar estragar. Mas o saldo final acabou positivo e a conquista é lembrada com muito carinho.
Na seleção principal ele continuou voando, Tite deu outra cara para a seleção que liderou as eliminatórias com direito a goleada em Argentina e Uruguai. A expectativa para a Copa do Mundo da Rússia era imensa e mesmo voltando de lesão, mais uma vez o 10 era a esperança do povo. Diferente do que muitos falam, penso que Neymar fez um boa Copa, foram 2 gols e um futebol muito propositivo, ele brincou de jogar contra o México e contra a Bélgica, infelizmente contra essa última os Deuses do futebol se recusaram a colaborar, o Brasil chutou 27 bolas mas não conseguiu vencer o adversário em noite inspirada de Thibaut Courtois.
Mas por incrível que pareça, a eliminação da seleção não foi o principal foco das notícias. Neymar foi acusado de ficar se jogando quando era marcado pelos adversários e virou um meme no mundo todo, bastava que alguém gritasse seu nome no meio de uma multidão que você via pelo menos um para se jogar no chão. Nesse caso específico eu vejo ele sendo injustiçado, o público médio tinha uma expectativa meio irreal para um atleta que estava voltando de lesão e pegou um jogador para Cristo, como sempre acontece, vide Barbosa, Júlio Cesar, Dante, Fernandinho, Fred… Basta que a seleção perca para o massacre começar. Não houveram mais histórias relevantes na Seleção brasileira até o momento da publicação deste texto.
Paris Saint-Germain e a formação de um homem
Neymar chegou no PSG como a contratação mais cara da história do futebol, 222 milhões de euros foram depositados na conta do Barcelona e o craque desembarcou em Paris com a missão de elevar o clube francês a um patamar acima. O começo foi positivo, golaços, assistências e um estilo de jogo que os parisienses não estavam acostumados a ver. Eventualmente vieram os problemas: brigou com Cavani, começou a sair vaiado em campo e o clube colecionava vexames na Champions League. Mas até aí, tranquilo comparado ao que estava por vir, Neymar se lesionou na época do carnaval e foi flagrado curtindo a festa enquanto ainda estava usando muletas, o que obviamente pegou muito mal na época. Ele voltou de lesão e chegou a final da Copa da França com o PSG, ele jogou demais, fez gol e deu assistência mas viu Mbappé perder um caminhão de gols, ser expulso, o time ceder o empate e perder nos pênaltis.
Após o apito final, os vice-campeões tinham que passar pelo meio dos torcedores para receber a medalha de prata e aí começou o turbilhão na vida de Neymar, ele deu um soco em um torcedor que estava ofendendo os jogadores do PSG, apesar da motivação, ele perdeu a razão quando agrediu fisicamente o palhaço do torcedor. Após esse dia Neymar foi acusado de estupro por uma mulher que ele tinha se relacionado, o processo acabou arquivado por falta de provas, inocentando o jogador. Coincidentemente, ele foi desconvocado da Copa América por conta de uma lesão que ocorreu no período da acusação, paralelo a isso, o brasileiro estava forçando uma volta ao Barcelona e travando uma batalha contra o PSG que se arrastou por meses e após uma intensa novela, Neymar foi obrigado a seguir na França.
O que parecia ser um pesadelo foi na verdade uma satisfatória chance de reconciliação e amadurecimento. No primeiro jogo de Neymar na temporada, a torcida o vaiou e não cansava de o xingar, até que ele se viu obrigado a responder, fez um gol de bicicleta que foi um excelente primeiro passo para tentar reconquistar os fãs. Com o passar do tempo as coisas foram melhorando, até que chegou o Borussia Dortmund pelas oitavas da Liga dos Campeões e o brasileiro mostrou que não estava de brincadeira, fez dois gols em dois jogos e classificou o PSG para as quartas, o que já não acontecia há alguns anos. Passada a pandemia, o título do campeonato francês foi confirmado e chegaram as finas das copas nacionais, Neymar fez o gol do título da Copa da França e ajudou o time na conquista da Copa da Liga, faltava o torneio mais importante, a Liga dos Campeões da Europa. Todo mundo tem na memória o que aconteceu, gênio contra a Atalanta, preciso contra o RB Leipzig e a dolorosa derrota diante do Bayern na final, mas a lição que fica não é essa.
Neymar assumiu o protagonismo, chamou pra si a responsabilidade e fez história com o PSG, mesmo que não tenha sido campeão da Europa. Se recusou a curtir o carnaval novamente e se mostrou comprometido e envolvido emocionalmente com seu clube. O povo brasileiro voltou a abraçar sua joia que agora parece estar com a cabeça no lugar e focado em jogar futebol. Ao que tudo indica, o menino finalmente virou adulto!
