O INOMINÁVEL

Paulo Lima
4 min readNov 6, 2023

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Quando vejo Ryan Francisco em campo tenho uma dificuldade em defini-lo. Nada parece suficiente, nada parece preencher o que quero passar em palavras. Me sinto incapaz de descrevê-lo, por isso esse texto pode ser informativo demais.

Ryan chegou ao São Paulo em 2022 com 15 anos. Chegou como um ponta, entrando pouquíssimos minutos no Paulista Sub-17. Tínhamos Newerton em uma fase extraordinária, o melhor jogador de Cotia no ano. William Gomes que como Ryan nasceu em 2006, rapidamente se tornou titular e fez ótima temporada em 2022. Seu talento foi precoce.

O zagueiro Kauê Alves e o centroavante Ryan Francisco em 2022.

O garoto de 15 anos entrou em apenas 5 jogos pelo Paulista Sub-17, com o total de 61 (!!!) minutos. Eram de fato poucos minutos. Lembro que em ótima atuação da equipe contra o Água Santa ele entrou na reta final. A primeira vez o que vi, dia 4 de junho de 2022. Não sabia que sería histórico.

Com poucas oportunidades no Sub-17, Ryan fez parte da equipe Sub-16 que disputou algumas competições em paralelo. O jogador começou sua sequência de jogos com essa equipe na Soccer Cup Sub-16 em Macaé. Não mais como um ponta de fato, mas como um segundo atacante com mais liberdades, mesmo que caindo muito mais pelo lado esquerdo. Fazia dupla com Rhaul, um 9 de origem.

Por causa de uma péssima arbitragem, Ryan acabou a competição sem gols mesmo tendo feito dois gols legais. Mesmo “sem” gols, ele chamou a atenção. Foi um dos destaques da equipe na competição, era o jogador mais ativo e criativo em profundidade. O jogador que “criava um inferno” para a defesa adversária, que colocava seus companheiros na cara do gol a todo momento. Ele estava se transformando.

Essa equipe Sub-16 foi para outra competição, agora disputando uma competição Sub-17 com garotos acíma de sua experiência. A equipe foi para a Bolívia disputar a Copa Evo. Logo na estréia, Ryan Francisco fez um hat-trick e começou a mostrar que tinha uma capacidade especial dentro da área. Só que ainda não era o principal camisa 9 da equipe e teve oscilações na competição.

Marques Rickelme, Rhaul, Kauê Alves, Ryan e Ferreira na Copa Evo.

No final do ano participou da Adidas Cup Sub-16 disputada do CT do Flamengo. Uma competição crucial para muitos jogadores que brilharam no Sub-17 em 2023, mas para Ryan Francisco foi a prova de que estávamos criando um monstro. Titular em alguns jogos, reserva em outros, mas quando estava em campo ele foi cruel com os adversários. Foram 4 gols e 2 assistências em 4 jogos.

Já em 2023 ele disputou a FAM Cup já com a equipe Sub-17, mas infelizmente não tivemos transmissões.

Na equipe Sub-17 de 2022 tivemos uma alternância na vaga de “9”. Muitos passaram por ali, a grande maioria de forma improvisada. Tivemos meias e pontas na função, mas nenhum fixou na função durante a temporada. Era de fato uma falta séria para a categoria.

Ryan Francisco comemorando gol pelo São Paulo no Paulista.

Começou o Paulista Sub-17 e Ryan Francisco foi banco na estréia contra o Osasco. Ele entra na segunda etapa na ponta direita e faz uma verdadeira pintura, passando por muitos defensores de fora pra dentro, buscando a tabela e parando na cara do gol. Um gol de placa fazendo o quinto da equipe em uma partida que terminaria 6–0.

Em sua segunda partida já foi titular. Infelizmente sem transmissão, mas com a formação, sabendo a características dos companheiros e finalmente sabendo que ele foi o camisa 9, podemos imaginar que ele foi o centroavante. Dois gols.

Teceiro jogo, camisa 9, dois gols. Quarto jogo, camisa 9, gol. Quinto jogo, camisa 9, quatro gols… O monstro foi criado. O inominável.

Por sua experiência jogando pelos lados, sua velocidade e qualidade técnica que é muito acíma da média para um camisa 9, Ryan tira muitas vantagens na função. É um jogador que muitas vezes veremos levando o zagueiro adversário no meio-campo, assim conseguindo espaço para seus companheiros em velocidade. Ryan é um atleta que gosta de jogar com seus companheiros, vimos muitos gols e assistências do mesmo em lindas trocas de passes. Seu corta luz já está virando algo característico.

Mesmo com suas ótimas características coletivas e individuais, ele nos mostrou que é um goleador, fatal, que cheira a gol, que não tem piedade do goleiro. O típico jogador que nasceu pra estar dentro da área, que sempre está no lugar certo, na hora certa, que o zagueiro não pode piscar e mesmo se não pisca, ele passa. Ryan é um 9 que decide tudo sozinho se precisar, tem qualidade pra isso, mas também pode ser fatal e decidir com um simples toque em qualquer lugar da área. Ryan é individualista, Ryan é coletivo, Ryan é goleador, Ryan é inteligente, talentoso. Ryan pode ser o cara que tira o zagueiro com seu corpo ou com seu desmarque. De frente ou nas costas do zagueiro, ele não demonstra limitações.

Ryan comemorando um de seus dois gols na final do Paulista.

Artilheiro do Paulista e do Brasileirão Sub-17. Foram 42 gols em 33 jogos e convocação para a seleção da categoria. Quatro gols em clássicos, dois gols em finais. Um fenômeno que encontrou seu verdadeiro propósito, sua verdadeira companheira: A camisa 9.

Futebol, arte, eficiência. Ainda não encontrei palavras para descrevê-lo, ele é inominável.

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