[Tradução] TÍTULOS INGLESES DOS SÉCULOS 18 E 19 por Jo Beverley

Paulo Moreira
Escritos Fantásticos
9 min readAug 13, 2018

Artigo original disponível em: http://www.jobev.com/title.html

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A nobreza inglesa basicamente segue de acordo com a progenitura, isto é, o filho mais velho obtém praticamente tudo. Se um nobre não tiver um filho mais velho, o título e as posses que pertencem a ele passarão para o próximo herdeiro do sexo masculino, provavelmente um irmão ou um sobrinho. [...]
São poucos os títulos que podem ser passados para uma mulher caso não haja nenhum herdeiro direto, mas eles irão se reverter para a linhagem masculina. (O mesmo vale para a monarquia). Alguns títulos podem passar por uma herdeira feminina (quando não houver nenhum masculino) e a maioria pode ser renovada por gerações subsequentes a partir do requerimento à Coroa. Mas isso faz parte de áreas mais complexas. Se sua trama depende de algo parecido, por favor, pesquise minuciosamente antes de seguir adiante. [...]
Se o nobre morrer deixando a esposa mas nenhum filho, o herdeiro receberá a herança, a não ser que a viúva diga que possa estar com uma filho. É aconselhável que ela diga. Se ela permanecer em silêncio, supõe-se que não esteja. Caso ela esteja grávida, todos aguardam até o nascimento da criança.
Um herdeiro deve ser legitimado no nascimento para herdar o título, embora isso possa significar uma cerimônia de casamento realizada enquanto a mãe estiver em trabalho de parto. Um nobre pode ascender um bastardo por devoção e/ou casar a mãe mais tarde, mas um filho bastado jamais pode ser seu herdeiro. [...]
Muitos nobres não usam seus sobrenomes como os seus títulos. Assim, o padrão comum seria algo como Sebastian Burgoyne, Conde de Malzard. Ele é o Lorde Malzard, nunca Lorde Burgoyne. (Ou, de outro modo, Lorde Sebastian). Como um autor, você deve gostar de variedade, mas, aceite como uma regra geral que ninguém já teve duas formas de adereços.

AS CLASSES DA NOBREZA

Deixando de lado a realeza, a classe mais alta é a do DUQUE.
Sua esposa é a DUQUESA. Eles serão duque e duquesa de algo, ex, Duque e Duquesa de Ithorne. “Sua Graça” é o adereço, embora membros da família possam chamá-los de Duque e Duquesa, ex “É um bom tempo para atirar, não é, Duque?” ou ainda podem chama-lo pelo titulo, “Precisamos de mais portos, Ithorne?”
NOTE que o duque também tem um nome de família, ie. Um sobrenome (tal como Cavendish) mas não o usará no decorrer da vida. De qualquer modo, a duquesa não usa seu sobrenome. Se Anne Pitt se casa com o Duque de Stone (cujo nome da família é Cherry), ela será a Duquesa de Stone, e informalmente se chamará Anne Stone, e não Anne Cherry.
O filho mais velho de um duque é o seu herdeiro e terá o segundo melhor titulo do pai como cortesia. Quase todos os nobres têm um número de títulos assinalando sua ascensão nas classes. Um herdeiro de um duque é quase sempre da posição inferior mais próxima, um marquês. O titulo pode, contudo, ser de um conde, ou ainda de um visconde.

Lembre-se, um título cortês não dá ao dono um lugar na Casa dos Lordes ou outros privilégios da nobreza.
Se o herdeiro tiver um filho antes de se tornar duque, esse filho será o próximo a receber o título de cortesia. Se o herdeiro morrer antes de seu pai, seu filho mais velho se torna o herdeiro legítimo e leva o título do pai.
Independente do herdeiro, os filhos de um duque recebem o título de Lorde somado ao seu nome cristão, ex. Lorde Ricardo Somerset. Lorde Pedro Wimsey. Eles nunca são chamados Lorde Somerset ou Lorde Wimsey.
Todas as filhas do duque recebem o título cortês de Lady, o primeiro nome e sobrenome, ex. Lady Mary Clarendon. (Jamais Lady Clarendon). Caso se case com um plebeu, elas conservam o título. Se Lady Marry se casar com o Sr. Sticklethwait, ela se tornará Lady Marry Sticklethwait. Mas caso se case com um nobre, ela adota o seu título. Se Lady Marry se casar com o Conde de Herrick, ela se tornará Condessa de Herrick, ie. Lady Herrick. Se ela se casar com um portador de um título cortês, poderá optar entre usar o título dele ou o de seu nascimento.

Estou batendo nessa tecla com frequência, pois este é o erro mais comum em romances. Em todo caso, os títulos Lorde ou Lady “primeiro nome” “sobrenome” (ex Lady Anne Middleton) e Lorde ou Lady “último nome” ou “titulo” (Lady Middleton) são exclusivos. Ninguém pode usar ambos ao mesmo tempo. Além disso, Lorde ou Lady “primeiro nome” é um título concedido ao nascimento. Não pode ser obtido mais tarde durante a vida, exceto quando o pai ocupa um título e ascende sua família.
Assim, Lady Mary Smith não é Lady Smith e vice-versa.
Lorde John Brown não é Lorde Brown e vice-versa.
Se Marry Smith se casar com Lorde Brown, ela se torna Lady Brown, não Lady Marry.
(Se ela se casa com Lorde John Brown, ela se torna Lady John Brown. Sim, isso pode soar estranho nos ouvidos modernos, mas o passado é, como dizem, um país diferente. Esse é o charme da ficção histórica).

B) O próximo da classe é o MARQUÊS.
Ele será Marquês de algo, ex Marquês de Rothgar. Sua esposa é a MARQUESA. Ele é o Marquês de Rothgar, ou Lorde Rothgar, ou Rothgar entre seus parentes, e sua esposa é a Marquesa de Rothgar ou Lady Rothgar. Ela assinará como “primeiro nome” “título” ex. Diana Rothgar. Seu herdeiro leva o próximo título mais alto como um título cortês. Todos os outros têm o título de Lorde “primeiro nome” “sobrenome”. Todas as filhas têm o título de Lady “primeiro nome” “sobrenome”. Os detalhes são parecidos com os dos duques.
C) Abaixo do marquês está o CONDE
Quase sempre será o conde de algo. Sua esposa é a CONDESSA. Ele é referido como “o Conde de Saxonhurst” ou “Lorde Saxonhurst”, ou “Saxonhurst” entre seus parentes. Alguns condes não usam o “de” como Conde Spencer e nesse caso o sobrenome da família será o mesmo que o título – neste caso Spencer – mas isso é suficientemente incomum para que, acho, deva ser evitado na ficção a menos que seja um ponto crucial na trama.

Assim como com o duque, o herdeiro do conde levará o título inferior mais próximo como um título de cortesia, e o filho do herdeiro, o próximo outra vez.
Todas as filhas de um conde recebem o título cortês de Lady “primeiro nome”; -- veja duques. Todos os detalhes são os mesmos. Filhos mais novos de um conde, contudo, são apenas “os honrosos” que não é utilizado na linguagem casual.
D) O próximo é o VISCONDE
Sua esposa é a VISCONDESSA. Ele não utiliza o “de”. Ele será, por exemplo, Visconde Middlethorpe, geralmente conhecido como Lorde Middlethorpe, ou apenas Middlethorpe. Sua esposa será conhecida como Lady Middlethorpe e assinará como Serena Middlethorpe.
Seu herdeiro não possui nenhum título especial. Todos os filhos são conhecidos como os honoráveis.
E) A classe mais baixa da nobreza é o BARÃO
Sua esposa é um BARONESA. NOTE que a maioria dos termos barão e baronesa só são usados em documentos formais na Inglaterra, ou quando a distinção tiver que ser feita. O uso geral consiste em simplesmente chamá-los de Lorde e Lady. Ela assinará seu nome com “primeiro nome” “título”. O mesmo dos filhos dos viscondes servem para os dos barões.

F) O próximo da classe – mas não da nobreza – é o BARONETE.
Um baronete é chamado de Sir, primeiro nome, sobrenome. Ex Sir Richard Wellesley. Sua esposa é chamada de Lady “sobrenome”, ex Lady Wellesley. NÃO Lady Mary Wellelsy, a menos que ela seja filha de um duque, marquês ou conde. Ela assinará com “primeiro nome” “sobrenome” tal como Mary Wellesley.
Seus filhos não possuem uma distinção especial. O título, contudo, é hereditário, o que o distingue de...
G) UM CAVALEIRO
Que é empregado do mesmo modo que o baronete, mas trata-se de um título apenas para a vida. Sua esposa será a Lady “sobrenome”.
[...]

PROBLEMAS COMUNS VISTOS EM ROMANCES

1 — Ficar trocando títulos da cortesia como Lady Mary Smith e Lady Smith.
2 — Ficar trocando títulos da nobreza, como quando Michael Downs, Conde de Rosebury é chamado variavelmente de Lorde Rosebury, Lorde Downs, e Lorde Michael Downs.
3 — Aplicar títulos que não lhes pertencem, como quando Jane Potts se casa com Visconde Twistleton e erroneamente se torna Lady Jane, uma forma de título que só pode ser obtida no nascimento.
4 — Uma viúva ter se casado, especialmente de um nobre, antes de ter se passado o tempo para confirmar que não estava carregando uma criança. Ou então, de quem é a criança que ela carrega!
5 — O suposto herdeiro assumir o título e os poderes antes que a viúva ter deixado claro de que não ia ter um herdeiro.
6 — Um filho adotado herdar um título. Não era possível a adoção legal na Inglaterra até o século XX, e até agora nenhum filho adotado pôde herdar um título. Ainda que o filho seja claramente da descendência do pai, mas se não tiver nascido depois de um casamento legitimo, ele não pode herdar o título do pai. Contudo, por não terem um teste de DNA, presumia-se que um filho era legítimo a menos que o pai negasse de cara. Ainda que o filho comece a ser visto com suspeita igual a um vigário, o pai não pode desmenti-lo mais tarde. Presumo que isso era para evitar o caos de tantos nobres ficarem ascendendo com toda espécie de pretexto para trocar herdeiros apenas por um capricho.

7 — Deixar um título em um testamento, como se vê acima. Um título não pode ser determinado a, seja qual for o nobre, por questões de escolhas. Isso vai de acordo com o manifesto escrito originalmente, que sempre diz que irá passar ao filho legítimo mais velho da linhagem direta. A propriedade pode ser deixada para outro lugar, a não ser se estiver vinculada, mas o título passa por sangue legítimo.
8 — Uma herdeira (ie uma filha sem irmãos) herdar um título e transferi-lo para seu marido. Isso podia ser feito – tudo podia – por decreto especial da Coroa, mas de qualquer modo não era comum.

A questão é: Quando escreve ficção histórica, alguém cria um título para um personagem, ou você tem que pesquisar um título e só usar algum desconhecido?
Resposta: sempre invente-o. Quando você tiver proposto um título de seu gosto, faça uma pesquisa na internet para ver se ele existe. Também dê uma olhada em The Peerage e faça uma pesquisa avançada no Googlebooks. Você pode escolher data de publicação, assim você poderia fazer uma pesquisa geral sobre o Conde do Perigo Evidente publicada entre 1800 e 1830 e ver se aparece alguma referência.
Não queira dar a seu personagem de ficção um título que estava em uso na época. O motivo principal é que é rude se apropriar da identidade de alguém. Além do mais, alguns, talvez muitos, leitores terão consciência do verdadeiro nobre, o qual destruirá a realidade ficcional que você está tentando criar. Tenha em mente que a maior parte dos nobres eram simples Lordes xxxxxx, então você não pode ter um Conde de Sorriso Charmoso quando havia um Visconde de Sorriso Charmoso. Se o título estava em uso, não use-o de qualquer modo.[...]

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Um bom lugar para caçar títulos é em um mapa de larga escala que mostre os nomes das vilas. Com frequência casas remanescentes vendem atlas em larga escala das estradas do Reino Unido dos últimos anos por cerca de $10, ou você pode simplesmente usar o googlemaps e dar zoom nelas. O mesmo vale para os sobrenomes. Reconheça nomes que são frequentemente específicos para certas áreas da Grã-Bretanha, assim se a família de seu personagem esteve em Suffolk por gerações, procure em vilas de Suffolk para idéias de nomes.
Ou você pode ver registros genealógicos se quiser algo realmente local. Foi assim que eu me deparei com um contrabandista chamado Melchisadeck Clyst!

NOTA: HÁ OMISSÕES NA TRADUÇÃO QUE NÃO MODIFICAM MUITO O CONTEÚDO DO TEXTO. CARO LEITOR, VEJA NO LINK ABAIXO O ARTIGO ORIGINAL E COMPLETO DE JO BERVELEY:
http://www.jobev.com/title.html

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Paulo Moreira
Escritos Fantásticos

Brazilian pharmacist in loved with History, Fantasy and Ecofiction. Author of The Blood of the Goddess. I write about nature in poems and fantasy stories.