Vamos falar sobre o Mário?

Paulo Eduardo Nunes de So
5 min readSep 8, 2015

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O primeiro herói do mundo dos games completa no próximo domingo 30 anos de muitas vidas, cheias de fases e inimigos. Por Júlio Vechiato e Paulo Sousa

Vamos falar sobre o Mario? “Que Mario?”, você diria (perdoe a piada). O Mario, aquele Mario! Aquele que surgiu como um personagem, criado pelo mestre Shigeru Miyamoto, no jogo do Donkey Kong, em 1981. Naquela época, era conhecido como Jumpman, cujo principal objetivo era salvar a donzela em perigo das mãos do próprio gorilão famoso.

A inspiração do personagem é uma daquelas histórias que se confundem com lendas. Em uma delas, o Mario é um funcionário do escritório da Nintendo em Nova York.

Para Jeff Ryan, autor do livro Super Mario: how Nintendo conquered America (e-book Kindle, publicado pela Penguin Group, 2010), a inspiração é Mario Segale, italiano com farto bigode, dono do imóvel utilizado pela empresa nos Estados Unidos na época.

O nome fez sucesso, pois era agradável em inglês e em japonês. Assim, no seguinte jogo da série Donkey Kong, lançado em 1982, o nome Mario já era utilizado, assim como sua identificação como italiano. O carisma do personagem era tanto que a Nintendo resolveu torná-lo protagonista de seu próprio mundo.

No jogo era possível que o jogador controlar tanto Mario quanto seu irmão Luigi, uma dupla de encanadores, lutando contra criaturas nos esgotos nova-iorquinos. Assim nasceu o jogo Mario Bros., em 1983, ano de crise da indústria dos games.

O mercado estava saturado de empresas querendo lançar seu jogo, quase sempre parecidos entre si. A queda nas vendas afetou todas, sendo que a Atari, então principal concorrente, foi obrigada a enterrar milhões de fitas do jogo E.T., fracasso símbolo da época. A aposta deu certo e, pela primeira de muitas vezes, a história do Mario se confundiu com a história da Nintendo.

As inovações trazidas pelo jogo revolucionaram toda a indústria. Ao contrário do antigo estilo de jogabilidade, Mario não era sobre saltar cogumelos ou tartarugas. Era sobre explorar o ambiente, flanar pelo cenário que passa horizontalmente.

Mario Bros. angariou os primeiros fieis jogadores, os gamers. É o caso de Marcelo Tavares, organizador da Brasil Game Show e colecionador ávido de games e sistemas. Ele conheceu o italiano em um clone do NES (Nintendo Entertainment System), o Dynavision, em 1987, e foi amore a prima vista.

Quando tudo parecia ótimo, Miyamoto conseguia melhorar e tornar quase perfeito. No dia 13 de setembro de 1985 que veio à tona a série Super Mario Bros.. Lançado para o NES, ele criou um universo à parte para o personagem, colocando-o num mundo fantasioso próprio, chamado de Reino dos Cogumelos. Foi introduzida a Princesa Peach como a nova donzela em perigo, assim como o Rei Koopa como grande vilão.

Até 1989, foram lançados 3 jogos da franquia, cada um introduzindo novas mecânicas e personagens (jogáveis e não-jogáveis), para o jogo de plataforma. Ao longo da próxima década, a Nintendo se elevou como gigante dos games, e criou mais enredos, como Super Mario Land ou Super Mario World.

Este foi o primeiro contato de Arthur Soares com a marca. Arthur é criador do site A Casa do Cogumelo, o maior site sobre a Nintendo no Brasil. Ele diz que foi marcante sua primeira experiência com o jogo.

Anteriormente dono de um Megadrive, cujo principal mascote é o Sonic (rival de Mario na época), trocou seu sistema por um Super NES (versão sucessora do NES). O console vinha com um conjunto de jogos, entre eles Super Mario World, que Arthur considera inesquecível, mesmo tendo jogado o jogo aos 3, 4 anos de idade, em meados de 1996.

Nesse mesmo ano, quando já havia sido lançado o sistema Nintendo 64, Mario fez sua estreia em um jogo 3D, chamado de Super Mario 64. Foi um grande sucesso do console, assim como Mario Kart 64, atualização da franquia de corrida construída em cima da marca. Até a próxima geração, a Nintendo demonstrou uma força criativa gigantesca, tanto com jogos de outras franquias (como Zelda e Metroid) quanto o Mario.

Os rivais de Mario variaram de tempos em tempos, como o Sonic, da Sega, ou o Crash, da Sony. Nenhum deles, porém, continuaram nos trilhos do sucesso. Na opinião de Soares, Crash foi o único que chegou perto de desbancar a franquia em termos de criatividade.

Na era GameCube, diferentes atualizações da franquia ocorreram, como Super Mario Sunshine ou Mario Kart Double Dash. Na era do Wii, foram lançados dois dos que são considerados os melhores jogos da franquia: Super Mario Galaxy 1 e 2, onde o personagem explora planetas, pulando pelo espaço e adentrando a órbita de cada um deles. Para Soares este é o lançamento mais criativos da franquia.

Tal criatividade, hoje, se encontra mais entre o meio indie (independente) de jogos, onde jogos são feitos de jogadores para jogadores, enquanto a grande indústria produz através de padrões e exploração de marcas.

A fórmula de fazer referências ao Mario em todas as grandes obras não obteve o sucesso esperado na atual era do Wii. De certa maneira, a Nintendo teria se acomodado à franquia, no sentido dela como um porto seguro. Soares acha engraçado que, quando a Nintendo se encontra com dificuldades, lança um novo título da franquia Mario, vendendo um massivo número de cópias.

Para o especialista, a empresa utiliza muito bem a marca, e se aproveita disso, tanto com os jogos quanto com os Amiibos, bonecos baseados na franquia que vendem aos montes. Para Tavares, a marca ainda pode render muito, colocando o personagem em diferentes contextos, necessitando principalmente de criatividade.

Acontece que, assim como nos anos oitenta, o mercado de games não está favorável à empresa. Os jogos produzidos pela própria Nintendo para os seus sistemas recebem muito carinho na produção. Entretanto, o apoio de empresas como a EA ou a Rockstar é muito pequeno, condenando a possibilidade de uma ampla biblioteca de jogos.

Tal problema afetou a Nintendo ao ponto de precisar retirar sua distribuição oficial dos jogos no Brasil, um dos países onde o mercado de games mais cresce. A biblioteca de jogos de tais consoles se constitui, entre os bons jogos, com a franquia Mario e seus derivados. Atualmente, há a expectativa da substituição do Wii U pelo projeto NX, que será lançado em 2016.

Também existem acordos de lucros da Nintendo com o Youtube nada amigáveis com os usuários. A empresa impôs que o lucro dos vídeos que faziam menção a seus produtos irá direto para ela, além dos produtores receberem uma denúncia de direitos autorais caso não entrassem em acordo como afiliado da Nintendo.

Esse flag (denúncia) nos vídeos foi recebida diversas vezes por Soares e a equipe de seu site, algo que ele considera “uma atitude infeliz de uma empresa que está se perdendo, um ato absurdo contra quem divulga seus produtos.”

Mesmo assim, os fãs do Mario continuam fieis. Mesmo com estratégias não muito amigáveis, a empresa ainda possui seu público, seja os jovens (o atual público alvo na opinião de Tavares) ou a velha-guarda, mantidos principalmente pela qualidade das franquias.

Enfim, Mario continua fazendo os olhos de milhões de gamers brilharem. Para Soares, a série foi algo com que ele manteve uma duradoura relação, algo que o ensinou muito, desde pequeno, que moldou sua experiência de vida. Algo tão marcante para ele que dita sua atual experiência de vida.

Tavares chegou a conhecer pessoalmente o pai do encanador italiano, Shigeru Miyamoto, a quem funcionários da empresa se dirigem como se ele fosse o dono. Sem dúvida, um mito da indústria.

A imagem do Mario é sem duvida icônica, comparável ao Mickey. É um dos primeiros personagens a vir a cabeça quando são ditas as palavras “video game”. Que Mario? Você sabe! Como dito por Soares, “até a sua avó sabe quem é o Mario!”

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