Imagine uma família de imigrantes europeus chegados ao Brasil, posando para foto. Quatro meninos e três meninas, pai e mãe. Na imagem ostentam diversas máquinas de fotografia do século XIX. Máquinas que mais tarde contariam a história visual da Região de Ijuí e Noroeste do Estado.
Quem são? O que faziam? Qual a história daquela gente, daquele lugar? A fotografia pode nos contar muitas coisas da vida e do cotidiano de pessoas que existiram há décadas. Com o objetivo de investigar elementos históricos deixados por imigrantes nos primeiros anos da ocupação no Estado o Projeto ‘’A História pela Fotografia’’, coordenado pelo professor doutor Ivo Canabarro, pretende fazer isso.
Nele, duas coleções fotográficas são analisadas, a Coleção Família Beck e Coleção Eduardo Jaunsen, as quais possuem em torno de 2.000 imagens. Segundo o professor e coordenador do projeto, ‘’A História pela Fotografia’’ contribui de forma significativa para narrar a história da Região Noroeste do Estado, já que os fotógrafos percorriam diversos espaços, além da cidade de Ijuí.
As duas coleções testemunharam, através de imagens, a vida das pessoas de diferentes formas, no cotidiano, na economia, nos ritos sociais e diferentes momentos de suas vivências, transformando as fotografias em documentos. As coleções fazem parte do acervo de imagens do Museu Antropológico Diretor Pestana, de Ijuí.
Para o professor Ivo, esses documentos são fatores primordiais para a construção de conhecimento nesse contexto histórico ‘’isso contribuiu para a história do Rio Grande do Sul no sentido de que a imigração que se desenvolveu aqui no estado teve fotógrafos desde o começo da ocupação do espaço e construíram uma cultura fotográfica’’.
A recuperação da cultura fotográfica da região Noroeste do Estado é um dos principais objetivos desse projeto, que também pretende desvendar a cultura fotográfica (que abrange a imagem, o fotógrafo e a tecnologia), e sua importância para o entendimento da formação e desenvolvimento da sociedade de imigração.
Para realizar as análises das imagens são considerados elementos da cultura da fotografia em três etapas: a visão do fotógrafo, a tecnologia utilizada para capturar a imagem e a própria imagem. Depois disso é criada uma ficha de leitura da imagem, ou seja, uma legenda onde podem ser obtidas informações da fotografia.
Patrícia Beckmann, bolsista do projeto, acredita que a construção da história se dá essencialmente pela fotografia, na qual diversas questões são analisadas. ‘’Ela serve como uma forma de construir a história, antes de algum texto a imagem por si só fala’’.
Ao longo de dez anos, o projeto contempla diversos artigos publicados em eventos, revistas e a publicação de um livro. Na sua fase II, com muito material analisado, o objetivo é produzir um catálogo virtual contendo as imagens e suas fichas de leitura. O catálogo está em fase de desenvolvimento, mas logo poderá ser acessado por pesquisadores e comunidade interessada.
Os fotógrafos
Responsáveis por revelar a história visual da Região, as coleções foram criadas por famílias imigrantes europeias entre os séculos XIX e XX.
A Coleção Beck foi construída pelo fotógrafo Carlos Germano Beck (e seus filhos, mais tarde), que iniciou seus trabalhos como amador, aos fins de semana, na Alemanha, onde morava. Após imigrar para o Brasil, junto com sua família, tomou a fotografia por profissão. Passou a técnica da fotografia para seus filhos e aqui abriu seu próprio estúdio fotográfico junto com eles.
No cartão de visita do estúdio, a família anunciava fotografia de casamentos, festas, retratos de família e qualquer outro evento social, além de registrarem todo o desenvolvimento da cidade e região. Para os registros a família utilizava as câmeras das marcas Zeiss e Ernemann, confeccionadas em madeira. Devido o seu tamanho e peso era necessário utilizar tripé.
A Coleção Eduardo Juansen foi construída pelo próprio Eduardo. O fotógrafo, imigrante vindo da Letônia, fixou residência em Ijuí. Sua principal característica era fotografar o meio rural e toda a relação homem-natureza. Assim como a Família Beck, a principal atividade financeira que exercia era a agricultura, porém tinha a fotografia como fonte de renda também.
Fotografava casamentos, festas, bailes, eventos sociais e fazia fotos oficias de famílias. Eduardo utilizava as máquinas fotográficas 18x24 de madeira e Miroflex, consideradas de ótima qualidade e destinadas a fotógrafos profissionais.
