Precisamos hackear a educação, a política e até a crise!

Priscila Gonsales
3 min readJul 28, 2016

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Sabe aquela voz interna que diz: “vamos lá, ainda tem jeito!”? Então…

Um dos educadores que mais admiro e mais me inspira na atualidade é o português Rui Canário, professor da Universidade de Lisboa. Estudioso na área de Sociologia da Educação, tem desenvolvido trabalhos e investigações que ressaltam a importância de encararmos as dificuldades que temos em educação como oportunidades para a busca de soluções. Gosto de pensar que é um jeito erudito de dizer: que tal hackear a educação? :-)

Hackear talvez não tenha chegado ao Houaiss, mas já está lá na Wikipedia pra quem quiser ver e melhorar o conceito. Para mim, tem um significado muito especial, o de compreender bem determinados sistemas para torná-los melhores, mais eficientes. E, o mais importante, compartilhar as descobertas para que outras pessoas possam se inspirar e tornar o aprimoramento constante.

Parênteses 1 — Santos Dumont, o aviador, também foi um hacker, ver mais aqui e aqui

Parênteses 2 — Não confundir com os “crackers”, que o Alex Primo explica bem aqui

Nesse sentido, hackear a educação envolve encontrar novas possibilidades para velhos problemas. E para isso, usar abordagens que sejam centradas nas pessoas e se baseiem na colaboração, como o design thinking, são sempre muito bem-vindas! Cito como exemplo um problema bem grave no Brasil, o Ensino Médio, cujos estudantes abandonam a escola por desinteresse pelos temas, conteúdos e metodologias. O Porvir compilou várias pesquisas nesse assunto e criou um infográfico com algumas saídas possíveis, porém, sem o envolvimento direto dos jovens no processo de implementação, certamente ficaremos só na teoria. Os jovens são as pessoas nesse contexto.

Colaborar significa fazer junto, cocriar. Rui Canário lembra também que cabe à escola educar para a política e a convivência democrática, de forma que crianças e adolescentes aprendam a ser intolerantes com as injustiças do mundo e se sintam motivados a nele intervir. Ontem participei com muita alegria da primeira pré-candidatura cívica independente para um cargo legislativo municipal, que se baseia na criação de uma política hacker. “A gente sempre quis mudar o sistema que tá todo errado pelo lado de fora, no ativismo constante e comprometido com a transparência. Mas agora, sentimos que chegou o momento de estar no próprio sistema para mostrar que dá para fazer de outro jeito”, explicou o amigo e pré-candidato Pedro Markun, que fala em nome de “uma galera”, como ele mesmo diz, para deixar bem claro que há uma rede de pessoas motivadas pelo desejo de mudança.

Como podemos encontrar alternativas, apesar das crises para criar soluções inovadoras que melhorem a vida de todos nós cidadãos? Isso tem a ver também com educação política, já que a política faz parte do nosso dia-a-dia, da forma como nos relacionamos e dialogamos com a diversidade. Abaixo às leis que querem proibir o debate, os diferentes posicionamentos e visões de mundo em sala de aula ou em qualquer espaço educativo! Precisamos, ao contrário, de projetos que estimulem mais e mais conversas, comunicação e, como não poderia deixar de ser, conflitos, pois eles fazem parte da vida em sociedade.

p.s Amanhã vou participar de uma oficina com o pessoal da Énois, LabHacker e Sonho Brasileiro da Política para pensar uma alternativa do PL da Escola sem Partido que não nos representa. Conto como foi em breve! ;)

Para saber mais:
Redes colaborativas, ética hacker e a educação

Quem manda aqui? — um livro sobre política para crianças
Entrevista com Rui Canário
Nosso modelo de escola faliu? — curso gratuito por email do Andre Camargo

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Priscila Gonsales

educadora e pesquisadora, facilita processos educacionais colaborativos com design thinking, doutoranda em Linguagens e Tecnologias, fundadora do Educadigital