Pequenos diálogos - parte 1

Renata Andrade
4 min readMar 25, 2016

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Só o carteiro

CARTEIRO: boa tarde. Preciso que alguém receba uma correspondência, mas precisa assinar.

EU: ok, eu assino.

CARTEIRO: mas precisa pôr a identidade.

EU: eu posso pôr a minha.

CARTEIRO: mas você é ‘de maior’?!

Ponto de ônibus

MOTORISTA: vai descer aqui?

EU (no fundo do ônibus): não, lá na igreja. Me enganei.

MOTORISTA: onde?

EU: na igreja!

MOTORISTA: aqui?

EU: não, moço! Na IGREJA!

MOTORISTA: próximo ponto?

EU: NA IGREEEJA!

Fiz um namastê, fiz o sinal da cruz e ele, finalmente, entendeu que eu queria descer na igreja.

Choque de gerações

MILA: tia, quando você era criança, o que você fazia pra assistir filme?

EU: eu via na televisão ou no cinema.

MILA: ah…

EU: Não tinha como ver do computador.

MILA: eu sei.

EU: ah, a gente também pegava na videolocadora.

MILA: o que é isso?

EU: hahahahaha

MILA: ué, tá rindo de quê? Eu não sou da sua época!

Quem gostaria?

Um dos meus primeiros empregos foi como telefonista numa concessionária da Mitsubishi. Certa vez, aconteceu isso aqui, ó:

EU: Mit Rio, boa tarde!

MOÇA: boa tarde!

EU: pois não, senhora.

MOÇA: eu poderia falar com a Cláudia?

EU: quem gostaria?

MOÇA: Cláudia.

EU: quem gostaria?

MOÇA: Cláudia.

EU: quem gostaria?

MOÇA: Cláudia!

EU: mas quem gostaria?!

MOÇA: a Cláudia! Meu nome também é Cláudia!

Minha avó, um taxista e o gato da foto

Minha avó pegou um táxi pra cá e quando chegou no portão, ligou pra minha casa e pediu pra eu aparecer no muro. O táxi parou, o vidro desceu e…

VÓ: olha quem tá aqui.

EU: quem é?

VÓ: não tá vendo? Olha que gato!

TAXISTA: hahahahaha

Ri constrangida e fui até o carro abrir a porta pra ela. Aí…

VÓ: veio ver de perto, é?

TAXISTA: hahahahaha

EU: VÓ!

TAXISTA: hahahahaha

VÓ: é um pão, não é? Não parece com aquele gato da foto que você me mostrou outro dia?

TAXISTA: hahahahaha

Lição do dia: nunca, jamais, em hipótese nenhuma mostre pra sua avó a foto de alguém do seu interesse. E, não, definitivamente, o taxista não parecia o gato da foto.

Dicas da Mila

MILENA: tia, se você quiser virar amiga de alguém lá nos EUA, você fala assim, ó: “uáti iou náme?”

EU: ah, é?

MILENA: é. E se você quiser saber quantos anos a pessoa tem, você fala… é… Como se fala “quantos anos você tem?” em inglês mesmo?

EU: how old are you?

MILENA: é! Aí você pergunta pra ela: “ráu oldi a iou?”. Tendeu?

EU: tendi.

Edis… o quê?

EU: ah, tá bom. Obrigada! Qual é o seu nome?

ELA: Edisjane.

EU: obrigada, EdisLane!

ELA: Edisjane!

EU: EdisLaIne?

ELA: E-dis-ja-ne!

EU: EdiNane?

ELA: E-DIS-JA-NE!

EU: Edisja… tá, é… brigada!

É blush

LU: Gabriel é teu namorado?

MILA (tímida): não… Ele é meu amigo.

LU: hummm, você está com as bochechas vermelhas…

MILA: é blush.

A remarcação

HOMEM: oi, Renata! Você pode comparecer amanhã, às 21h, aqui no inglês pra gente definir um novo horário?

EU: ih, não dá… Trabalho em Botafogo. Não vou conseguir chegar aí antes das 21h. Não tem outro horário?

HOMEM: tem, sim. Você pode vir, então, às 20h30?

Odete morreu

PAI: a Odete Roitman morreu, né?

EU: há quase 30 anos, pai.

Ele se referia à Odete Lara.

Vida que segue

Fui levar a Milena na escola, coloquei-a no canto da calçada e…

MILA: tia, você me bota no canto por que tem medo de um carro subir a calçada e eu morrer, né?

EU (rindo): se um carro me pegasse e eu morresse, o que você faria?

MILA: eu ia gritar.

EU: e depois?

MILA: eu ia correr.

EU: e depois?

MILA: eu ia sozinha pra escola, ué!

Mancada

O segurança / porteiro do meu trabalho disse que era o seu último dia na empresa. Lamentei e disse que me despediria no fim do dia. E assim eu fiz:

EU: Severino, foi um prazer te conhecer. Tudo de bom pra você, viu? Aparece aí de vez em quando pra visitar a gente!

ELE: obrigado, Renatinha, mas o meu nome não é Severino, não. É Juvenal.

O que houve?

EU: nossa, você tá destruído hoje, né?

COLEGA DO TRABALHO: não.

EU: tá cansado?

COLEGA DO TRABALHO: não.

EU: Dormiu pouco?

COLEGA DE TRABALHO: não.

EU: tá gripado?

COLEGA DE TRABALHO: também não.

Quer dizer, a pessoa estava ótima, mas eu consegui acabar com o dia dela.

Leia também: parte 2, parte 3, parte 4, parte 5 e parte 6.

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Renata Andrade

Autoproclamada fina flor de Oswaldo Cruz, Madureira e adjacências. Autora roteirista da TV Globo e cronista desde sempre.