Imagem de Praça em Bolzano em tempos de novo corona virus.

Dicas de quem vive na Itália e na China de como enfrentar o novo corona vírus

A partir de hoje, inicio uma série de postagens com depoimentos de amigos que vivem em diferentes cantos do planeta

Sílvia Marcuzzo
5 min readMar 19, 2020

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Está todo mundo no mesmo navio. Tá certo que uns estão em uma posição mais privilegiada que outros nessa nau atingida pelo novo corona vírus. É isso que vou mostrar nesses próximos dias aqui. Como pessoas de diversas partes do mundo estão enfrentando essa pandemia, pois boa parte dos brasileiros ainda não percebeu ou não quis enxergar o que significa os riscos de adquirir ou transmitir a doença.

Pedi para amigos e conhecidos me enviarem um relato da situação em seus países. Faço parte de um grupo de colegas da The International People’s College, um local onde tive colegas de mais de 40 países em 1996. Mandei uma mensagem no grupo e alguns responderam. Também tenho amigos espalhados por países da Europa e da América. Enfim, a ideia não é instalar comissão de pânico, mas simplesmente levar informações que não saem na imprensa. Como recebi muitos retornos, vou postar aos poucos, pois as informações estão muito ricas.

Não é uma questão de concordar ou não. Pois nunca na história da humanidade se viveu uma pandemia em tempos de WhattsApp, onde circulam milhares de notícias falsas. Então, reforço, o que está aqui não é minha opinião, um achismo. É o que as pessoas estão fazendo e a situação de seus países pra enfrentar esse mega desafio. “É uma guerra”, como já disse o presidente da França Emmanuel Macron.

Vista da janela da casa da Helenita em Bolzano.

Começo com a Helenita Melo, que mora em Bolzano, na Itália, o país com maior número de mortos devido ao Covid-19. Cantamos juntas no coral da Univale, em 1988, quando ainda morava em Cachoeira do Sul. Coloco seu texto ipsis literis como me mandou, pois ela tem um humor próprio que ajuda a dar uma descontraída nesses tristes tempos. Seu marido está no grupo de risco.

“Sigam os conselhos dessa amiga aqui que mora na Itália, que está trancada em casa há mais de 20 dias, que pede para essas informações serem compartilhadas:

- Lavem BEM as mãos com água e sabão de 20 a 30 segundos.

- Tenham sempre na bolsa ou no bolso um frasco de álcool gel, luvas descartáveis e máscaras. Se não tiver álcool gel, pode ser álcool normal. Usem as luvas principalmente se forem pegar meios de transportes públicos. Pode ser luvas, tipo aquelas de pintar o cabelo.

- Quando voltar pra casa, lavem BEM as mãos de novo (antes mesmo de tirar a máscara); desinfetem as chaves de casa, o celular, a carteira, a maçaneta da porta e tudo aquilo que vocês tocaram ao estarem fora de casa; depois de desinfetarem tudo, lavem as mãos com sabão novamente. O vírus permanece vivo 12 horas nos metais, tipo, maçanetas e chaves.

- Lavar bem as mãos antes e depois de fazer xixi e cocô.

- Se vocês estiverem na rua NÃO devem se coçar, não devem tocar o rosto, olhos, nariz, boca e ouvidos, mesmo estando com luvas. O vírus entra também através dos orifícios do corpo.

- Afastem-se de pessoas que estejam tossindo e espirrando!!!

- Não recebam e não façam visitas!!!

- Nada de beijos e abraços!!!

- Nada de lugares cheios de gente, como: cinemas, teatros, praias, bares, restaurantes e pizzarias.

-Mantenham uma distância de no mínimo um metro das pessoas.

-Saia SOMENTE para ir no supermercado, fruteira, farmácia e algum outro lugar de primeira necessidade.

-Se usarem meios de transporte público, usem máscara e luvas. Lembrem-se: a máscara protege, simmmmmmm!!!

- Peguem 15 minutos de sol por dia, principalmente rosto e braços.

- Os sintomas do coronavírus: resfriado, tosse, febre e dor de garganta. Isso pode transformar-se numa pneumonia e é aí que está o perigo: o vírus ataca através das vias respiratórias.

- Importante medir a temperatura do corpo duas vezes por dia: quando levantar e quando dormir. Quem não tiver um, compre logo um termômetro. Aqui TODAS as pessoas devem medir a temperatura. A febre é o principal sinal de alerta.

- Se vocês sentirem esses sintomas NÃO vão para o hospital ou Pronto Socorro. Vocês poderão contaminar outras pessoas. Na Itália, chamamos o 0800 da Secretaria de Saúde e eles vem em casa. Lembrem-se: UMA pessoa infectada pode transmitir para muitas pessoas.

- Aqui estamos fazendo estoque de água e comida em casa por um mês. Saiam somente para renovar o estoque de água e alimentos. E não esqueçam de levar o gel, máscara e luvas.

- Antes que o vírus chegue na tua cidade, é melhor preparar o sistema imunológico, pois ele ataca o sistema respiratório.

- Sugiro se prevenir e consumir todos os dias: Vitamina C (2 laranjas por dia ou 1 cápsula de Cebion), tomar chá de gengibre, gotas ou cápsulas de Própolis e 1 Yakult (o Yakult tem o mesmo efeito de 1 cápsula de probiótico).

- Tenham uma atenção muito especial com pessoas idosas: elas estão na zona de risco altíssima.

TER MEDO, FAZ COM QUE REDOBREMOS OS CUIDADOS”.

Essas são as sugestões da Helenita, que mora em Bolzano, no Norte da Itália, perto da Áustria e da Suíça, a 289 km de Milão. Bolzano tem um pouco mais de 100 mil habitantes. Foram registrados 41.035 casos na Itália até 19 de março de 2020, um total de 3.405 óbitos. Ela lamenta que o país onde mora há cerca de 16 anos tenha tomado providências muito tarde. Pois se todos tivessem se recolhido mais cedo, muito menos problemas haveria hoje.

Pra relaxar, Helenita atualmente administra e modera um grupo sobre o Freddie Mercury.

Em Macau, a ordem é se isolar

O irmão de Helenita, o Helinton Melo, também manda o recado aos brasileiros. Ele é piloto da Air Macau e mora em Macau, uma região autônoma da costa Sul chinesa, há 14 anos.

“Em Macau já tenho uma experiência de 54 dias convivendo com a epidemia. Então aqui vai o meu sábio conselho: tirem seus filhos pequenos da escola e coloquem em isolamento na casa dos avós. Não tenham mais contato físico com eles e não permitam que saiam de casa ou que recebam visitas. Levem à porta da casa as compras diárias de mercado e farmácia, paguem os boletos e façam todas as atividades bancárias dos avós. Tudo isso sem contato físico com eles. Agora, mais do que nunca, somos os responsáveis pela vida deles. Eles estão no grupo de risco; nós, nem tanto. Conversem com os parentes e façam rodízio. Se um irmão ou primo ficar doente comprometam-se a tomar os seus lugares. Fácil de falar, duro de fazer, mas 100% garantido. Agora, se você é um egoísta que acha que o mundo gira em torno do seu umbigo ou vem de uma família desajustada, apenas desconsidere o que escrevi. Fiquem com Deus.”

Aqui no Brasil, tanto as autoridades como várias pessoas estão recomendando que não se deixe as crianças com os avós. Talvez na China, os avós sejam mais jovens que aqui, até porque o número de filhos lá é muito menor do que em nosso país. Também quero reforçar que a opinião e as dicas dos amigos neste e dos demais textos não expressam, necessariamente, a minha. Pois cada país tem a sua realidade, o seu contexto.

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Sílvia Marcuzzo

jornalista de formação e consultora socioambiental para realização de um mundo melhor, mais sustentável.