Da vaca roxa ao dreamcore: o uso do bizarro para manter a galera #ATENTA em uma sociedade com crise de atenção

Ideal
3 min readJan 26, 2023

--

Em tempos em que todo mundo está falando, mas poucos estão escutando por muito tempo, o jeito está sendo adotar medidas surreais.

Se engana quem pensa que ter algo interessante e atraente para comunicar é o suficiente. Hoje, a marca e o criador de conteúdo precisam atravessar o calvário de um ambiente extremamente competitivo, lidar com algoritmos — que ninguém entende muito bem ao certo como funcionam e que mudam o tempo inteiro — e ainda conquistar a atenção de uma audiência em crise generalizada de foco.

A conta é mais simples do que parece: em uma época em que todos nós temos cada vez mais escolhas para decidir o que consumir, ao passo que temos menos tempo para de fato usufruir do que queremos, a tendência é que ignoremos o ordinário. Essa é uma das premissas de Seth Godin, um dos vanguardistas do marketing online dos anos 00 ‘s, que há 20 anos já falava sobre como espalhar suas ideias de uma forma disruptiva para obter a atenção em uma sociedade cada vez mais desatenta.

Em seu livro “A Vaca Roxa”, Seth apresenta a premissa básica de que em um pasto cheio de vacas lindas e comuns, a que capta a atenção é a roxa — não pela sua beleza ou excelência do leite, mas por tirar do modo automático quem esteja observando a cena.

O apelo do antirreal

Quando cruzamos com um conteúdo com algum elemento intrigante, mesmo (ou especialmente por ser) sem sentido, somos obrigados a parar, assistir, contemplar e internalizar para tentar encontrar alguma razão naquele conteúdo absurdo (quem nunca se pegou em algum vórtice assistindo a um vídeo que nem era tanto do seu interesse, apenas se perguntando “WHY, GOD, WHYYYYY?”).

Essa pausa forçada ao estranho (ou pior, estranhamente familiar) é pontuada no estudo “ANTIRREAL” feito pelo floatvibes com o que Freud chamaria de “inquietante estranheza” — aquela sensação de “gente, o que é isso? Será que eu gosto? Acho que já vi em algum lugar, mas não sei explicar ao certo…” ganhando além de nossa atenção, muitas vezes engajamento (“amiga, olha esse link kkkkkk”, “nossa, que nada a ver”, “não entendi nada mas tou rindo kkkkk”).

O dreamcore

Nesse cenário nascem tendências e até estéticas inteiras baseadas no surreal, no absurdo, no estranho apenas para conquistar nossa atenção. De instagrammers e tiktokers fazendo vídeos nada com nada a gamers de Minecraft ganhando milhões de visualizações por fazer chover lava enquanto jogam, surge uma nova estética: o dreamcore.

Subgêreno direto da estética de weirdcore (que bebe do surrealismo e fotografia amadora de baixa qualidade para espalhar sentimentos de confusão, desorientação, alienação e nostalgia), o dreamcore surge como uma linha que aposta na esfera de temas associados a sonhos, mas sem a intenção de gerar sentimentos desagradáveis. A ideia é emular a sensação de estar sonhando, botar a galera pra quase dissociar, usando cores brilhantes, espaços liminares e sensações — físicas, inclusive — enervantes.

A estética, que surgiu lá por 2020 no TikTok conta com longas playlists no youtube, boards no pinterest, games, artistas, comunidades no discord e reddit, e muito mais que consumida, é também muito discutida, com membros compartilhando suas experiências sensoriais.

Mas e aí, será que a gente gosta disso?

Seth Godin dizia que o oposto de algo notável não é algo ruim ou medíocre, e sim algo muito bom. Você receber um produto ou serviço de qualidade não é nada mais que o básico, mas se algo inesperado ocorresse, você certamente notaria.

Nós aqui da redação amamos novidades e surrealismo, mas esperamos que essa HYPER tendência não se torne (mais um, rs) pesadelo.

--

--

Ideal

Aqui falamos sobre comunicação pós-digital, tendências, inovação em PR e comportamento. Receba a Streaming por email: http://eepurl.com/gWNA0r