Quero um trabalho que me faça sentido

Astrid Trid
4 min readDec 17, 2018

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Por Camila M Fabre

Quem nunca experimentou a sensação de ausência de sentido no trabalho? Quem nunca se perguntou: para que estou fazendo isso e não ficou satisfeito com a resposta?

Segundo o psiquiatra Viktor Frankl (1946), a preocupação principal do ser humano consiste em cumprir um sentido. Para ele, o homem não deseja a mera satisfação dos seus impulsos e instintos, ou o mero ajustamento à sociedade e ao meio ambiente, se antes não estiver conectado a um sentido no seu viver.

O sentido não é universal, pelo contrário, é individual e sua construção é permanente, mudando de um momento para o outro. Quem nunca olhou para o emprego de um colega e pensou: Como ele pode gostar de fazer isso? Ou iniciou um projeto profissional apaixonado e com o tempo foi perdendo o interesse?

Considerando a centralidade do trabalho na nossa sociedade, a atribuição significado e um sentido para esta área da vida pode ser fundamental para um desenvolvimento sadio do indivíduo e da própria sociedade, assim como a frustração dele pode ser uma das explicações para tantos adoecimentos e índices de insatisfação com o trabalho.

Você sabe qual é ou quais são os atributos que dão sentido ao seu trabalho? Aliás, você dá algum sentido a ele? Alguns dirão que o sentido é o propósito ou a causa que ele serve, outros dirão que é o autodesenvolvimento que ele promove, o reconhecimento obtido, o prazer vindo das relações sociais estabelecidas nesse ambiente ou há quem diga que o sentido está no salário e naquilo que o dinheiro proporciona.

Provavelmente você deve ter se identificado com vários destes exemplos. Talvez, perceba que alguns deles são mais importantes que outros para você ou que um faça mais sentido que o outro no seu atual momento de vida. Pode ser que dê um ou vários sentidos ao seu trabalho, pode ser que não dê nenhum e que essa ausência te entristeça ou angustie. Quem sabe você iniciou um trabalho no qual atribuía o maior significado no desafio das tarefas que desenvolvia, mas que agora isso não faça mais sentido algum e que a única causa que te mova seja o salário que recebe no final do mês. Como pode perceber, você muda e o sentido que dá ao seu trabalho também. Quando não se reconhece tais transformações tende-se a deixar de dar significado às tarefas. Esse é o seu caso?

Pois bem, o que fazer para viver o trabalho com sentido? Primeiramente, é necessário encarar a ausência e/ou a angústia para que se possa perceber o que é, realmente, que lhe falta. Sem isso, você corre o risco de iludir-se com soluções mágicas as quais costumam trazer, apenas, um otimismo superficial.

Um bom começo é refletir sobre o presente e ter clareza do que já se tem. Também é imprescindível saber o que considera importante, valoroso e não pode faltar no seu trabalho. Nem todos conseguem ter clareza disso sozinhos e muitos se enganam com pseudovalores que são, frequentemente, aspectos importantes para um amigo, familiar, marido, esposa, para o mercado, mas não para você.

A consciência daquilo que lhe confere significado é uma primeira etapa e permite vislumbrar como é o trabalho que deseja. Porém, como realizá-lo? Às vezes, a solução se encontra dentro do próprio trabalho atual, sendo necessários ajustes no tipo de tarefa, na forma de se relacionar com a equipe, no salário, etc. Outras vezes, a solução aponta para uma mudança de emprego e exige a pesquisa de instituições e vagas que possibilitem o que deseja. Ou pode envolver a criação de um trabalho que não exista, que seja da sua própria autoria.

Qualquer uma das opções implicam em mudanças, sejam elas psicológicas ou políticas, em assumir riscos, fazer sacrifícios e isso tudo pode ser conflitante. Aliás, é importante considerar que nenhuma delas leva a um lugar ausente de conflitos. A busca por sentido certamente pode causar tensão interior em vez de equilíbrio interior. Entretanto, como diz Frankl, esta tensão é um pré-requisito indispensável para a saúde mental: “Ouso dizer que nada no mundo contribui tão efetivamente para a sobrevivência, mesmo nas piores condições, como saber que a vida da gente tem um sentido” (p.61).

Diante de tudo isso, a Orientação de Carreira pode ser um processo útil e de muita ajuda nesse momento. Tanto na etapa de tornar consciente os valores, como na tarefa de construir um projeto profissional coerente e com significado.

Referência: Frankl, Viktor. Em Busca do Sentido (1946)

Camila M Fabre é psicóloga formada pela UNESP, com Aperfeiçoamento em Orientação Profissional e de Carreira pela USP e especialização em Psicologia Transpessoal pela ALUBRAT. Iniciou sua carreira na área de Recursos Humanos. Hoje atua como psicoterapeuta e orientadora profissional e de carreira sendo também sócia-fundadora da TRID. Desenvolve um trabalho sensível, aliando técnicas corporais, artísticas e lúdicas, sempre considerando o desenvolvimento integral do ser humano.

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