Baseado em fatos reais #1 — O amor da minha vida que já tinha achado o amor da vida dele

Giovana
5 min readJan 22, 2016

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A 1ª ocorrência das histórias que eu cansei de contar e resolvi escrever.

Tem uma frase meio piegas que eu costumo repetir que é “é um saco quando você conhece o amor da sua vida e ele já conheceu o da dele”. Acontece que eu, pisciana que sou, me apaixono a cada esquina, então sempre passo por esse tipo de coisa. Mas, convenhamos, com 6 bilhões de pessoas no mundo, você deve ter algumas milhares de almas gêmeas perambulando por aí.

Conheci uma das minhas numa viagem para os EUA. Era de noite, talvez madrugada, já tinha rolado altos drinks e eu estava sozinha numa festa, então socializar era mais uma obrigação que uma necessidade, e eu tinha passado boa parte da noite entre um grupo de ingleses engraçados e um casal jovem e divertido de lá da cidade mesmo, sigo eles até hoje no Instagram, os filhos deles são os mais fofos, a cara da mãe.

Lá pela décima cerveja intercalada com champagne e alguma outra bebida, bati o olho na pista de dança e vi um cara alto e moreno que dançava de um jeito engraçadíssimo com um amigo japonês baixinho. Achei ele a cara do Elvis Presley e minha adolescente dos anos 50 interior não permitiu que eu não falasse com ele.

Então, fui lá — depois da décima cerveja e munida do espírito “não conheço ninguém mesmo”, consegui. Foi uma aproximação fácil e, ao contrário do esperado, nada vexaminosa: cheguei dançando perto e ele começou a dançar comigo, e eu não danço exatamente bem, mas ele também não dançava. Um tempo depois, me ofereceu uma bebida e fui com ele pegar, aproveitei para comentar sua semelhança física com o rei do rock. Que, na verdade, agora nem era mais tão gritante; era mais um lembra que um parece.

-Elvis??
-…você deve ouvir isso o tempo todo, né?
-Na verdade, você é a primeira a falar. Dizem que eu pareço mais o Chandler Bing.

Sim, verdade! De repente, ele era a personificação do personagem de Friends, não apenas fisicamente, mas na personalidade: a dança engraçada, a simpatia, as piadas sem graça, o carisma.

Passei o que parece ter sido horas, mas talvez tenha sido uns quarenta ou cinco minutos, com ele e o amigo na pista de dança e foi uma das coisas mais divertidas que fiz na vida. Umas duas vezes aconteceu aquela ausência de tudo quando duas pessoas se olham, mas logo tudo voltou e não aconteceu mais nada. Tudo bem.

Passado esse tempo totalmente indefinido, ele me sugere de irmos para outra balada, pega minha mão e vamos para a rua em busca de outro bar. Mas nos EUA todos os lugares fecham cedo e, depois do terceiro “não vai rolar, a casa fecha em meia hora”, decidimos ir para o bar do hotel mesmo, já que coincidentemente estávamos no mesmo.

Ele tinha uns 30 anos, não lembro direito. Eu era mais nova, tinha entre 20 e 25, talvez 22 ou 23. Ele era dono da própria empresa, programador, acho; eu era jornalista recém-formada e minha única coisa de valor era metade da barra de Toblerone que eu havia comprado no aeroporto. Eu morava em São Paulo, ele morava em Washington, e, por algum motivo muito obscuro que provavelmente não foi mais que uma coincidência, essas duas pessoas legais e divertidas e absolutamente compatíveis estavam dividindo a mesma cidade, o mesmo ambiente, o mesmo ar e o mesmo sofá no bar do hotel naquele momento.

Enquanto dividíamos aquele mesmo momento, depois de mais algumas vezes em que nos olhamos e todo o resto silenciou mas nada mais aconteceu, o percebi olhando para uma mão na qual eu mesma não havia reparado: a que tinha uma aliança.

-…Isso é uma aliança???
-…É. — ele falou, sem levantar o rosto.
-Você é casado???
-… … Sou.

Cinco segundos de silêncio pela revelação.

-É óbvio que você é casado.
-Como assim?
-Se fosse solteiro, não estaria até agora falando comigo.

E foi nessa hora que ele fez a pior coisa possível: tentou consertar. Falou que não era nada disso, que estava ali porque eu era muito legal e divertida e etc.

-Deixa eu economizar seu tempo: foda-se. Você tá falando isso pra tentar fazer eu me sentir menos mal e, olha, não vai dar. Porque eu não aguento mais conhecer caras legais que só são legais mesmo até o “mas” — eu estava um pouco cansada de outros quase-relacionamentos que não deram certo e talvez tenha descontado tudo nesse cara.
-O que isso quer dizer?
-Que você é um cara muito legal, a gente parece estar se divertindo e gostando da companhia um do outro, “mas” é só isso mesmo porque você é casado mas convenientemente esqueceu de mencionar isso.

E ele foi em frente tentando me fazer sentir melhor.

-Você nem deveria ter ido falar comigo, olha só pra você, você é uma graça.
-Cala a boca.
-Não, sério, você é linda. Você sabe disso?
-Cala a sua boca, sério.
-Você tem que saber que você é linda.
-Bom, não adianta muita coisa você ficar repetindo isso, né? Não vai mudar nada na minha noite, não vai alterar a história que eu vou escrever no Medium daqui a alguns anos com os pedacinhos que minha memória alcoolizada me permitir lembrar.
-Me dá seu celular.
-Por quê?
-Vou tirar uma foto sua agora.
-Por quê?
-Porque você está linda e eu quero que você se veja como eu te vejo.
-…Ok, que seja.

A história é tão baseada em fatos reais que até foto tem.

-Meu Deus, eu tô um horror.
-De jeito nenhum. Você é linda.
-Foda-se — a cada “foda-se”, sentia que estava dizendo isso para algum cara que tinha me zoado a cabeça naquele ano (foram alguns). Era meio viciante querer que ele se importasse comigo mas ao mesmo tempo ser absolutamente infantil e xingá-lo como uma adolescente de classe média.

Não demorou muito — talvez tenha demorado, mas minhas noções de tempo já estavam comprometidas — , ficou tarde demais para um homem casado estar no bar com uma jovem solteira e foi hora de ir cada um para seu quarto, mas no mesmo elevador, até o mesmo andar, porque até nisso a tal da coincidência me sacaneou: estávamos no mesmo andar, a alguns quartos de distância, e fomos nos conhecer bem longe dali, mas estávamos perto a semana toda, talvez não nos trombamos no elevador por pouco. Nos despedimos, viramos de costas, seguimos nossas vidas.

Sentei na cama, chorei de raiva, escrevi um textão bem dramático e sem vírgulas no Tumblr sobre como eu tinha conhecido o amor da minha vida mas ele já tinha conhecido o amor da vida dele e apaguei no dia seguinte, logo que acordei, porque tudo pareceu exagerado demais quando eu fiquei sóbria.

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