O meu primeiro congresso
O quinto Congresso dos Jornalistas portugueses foi o meu primeiro, em 13 anos de carteira profissional e 20 anos de jornalista em formação. Voltei de Lisboa mais desanimado do que quando para lá fui, o que não é dizer pouco do desânimo que já sentia na madrugada de sexta-feira.
Porquê?
Porque fica claro de que não vamos tomar o controlo daquilo que está ao nosso alcance mudar. A greve geral pode ser importante para chamar a atenção para a catástrofe que se está a abater sobre o setor (há anos/décadas, nos meios nacionais, regionais e locais) e o momento atual, em que a tragédia da Global Media trouxe à discussão medidas concretas de apoio ao jornalismo por parte do Estado.
No entanto, saio do congresso sem perspetiva de que amanhã possamos começar a construir um jornalismo melhor, sem a acefalia infinitamente replicada do “Fulano disse que você cheirava mal, como é que responde?” e o tanto irrefletido que pomos no ar, por consequência da precariedade, do desgaste e da bolha política em que nos obrigamos a viver.
Vejo muita gente que admiro e respeito, mais nova e mais velha, a querer fazer melhor e lutar por isso, mas não vejo como todos, em conjunto, poderemos alterar o panorama vigente, por muitas moções que aprovemos na ausência de quem decide os alinhamentos dos noticiários, em particular televisivos, e de quem decide abrir espaço a vozes que propagam mentiras sem qualquer tipo de embaraço ou resistência.
É sempre bom estarmos juntos e podermos falar, embora o congresso tenha escasseado na oportunidade que nos deu para falar, dentro de alguns painéis.
Acreditava antes, e acredito mais ainda agora que o congresso devia ter sido algo como um grande seminário sob um único tema, sem painéis paralelos: o que vamos fazer para sair daqui? Procurar juntar jornalistas com interesses ou vontades semelhantes, que queiram criar coisas novas, editoriais e comerciais, para dar alternativas aos leitores/ouvintes/espectadores.
Em vez disso, repetimos painéis do passado, com lamentos do passado agravados pelo presente sob a ameaça do futuro.
É sempre melhor estarmos juntos do que não estarmos. O problema é quando vamos para casa, viramos o disco e tocamos o mesmo. Em particular quando esse mesmo significa deixar nas mãos dos outros o que devíamos ser nós a tomar conta.
TL; DR: O João Gabriel Ribeiro pôs o que escrevi antes por menos palavras: