SER PRETO NO MEIO NERD É UMA MERDA E EU JÁ NÃO AGUENTO MAIS

William Jefferson
3 min readApr 25, 2019

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É de conhecimento de boa parte das pessoas sensatas do mundo que o meio nerd é misógino, machista, racista etc em sua grande parte. Mas os últimos dias têm gerado em mim uma angústia muito chata sobre esse meio, e é algo que já está presente na minha vida desde que eu tenho ciência de que consumia esse tipo de conteúdo.

Por onde eu começo? Ser nerd na época em que eu comecei a gostar desse tipo de coisa era algo para excluídos e pessoas que não se adaptavam bem aos ambientes de convívio social padrão da sociedade, o que para muitos acabou gerando uma comunidade de pessoas que se identificavam umas com as outras e por consequência um mercado foi gerado; atualmente é um dos mercados mais lucrativos a nível de cultura pop. Isso em teoria é ótimo, claro. Quanto mais pessoas consomem um determinado conteúdo, mais pode ser produzido, e isso permite que a arte se desenvolva e as pessoas possam discutir sobre isso. A NÃO SER QUE VOCÊ SEJA MULHER, PRETO, GAY ETC.

Pois bem, desde que eu frequento eventos de cultura nerd, algo que faço desde 2004, eu tenho sofrido com silenciamentos. A opinião do negro nunca é válida em locais de fãs de tokusatsu, anime e cultura nerd ocidental. E como mecanismo de autopreservação eu sempre tentei estudar e entender muito bem as coisas das quais eu gosto e odeio para não ser lesado em discussões por apresentar algum tipo de argumento mal fundamentado. Por consequência disso, acabei me tornando uma pessoa bastante vocal sobre minhas opiniões, principalmente como o advento da internet.

E foi aí que enxerguei ainda mais a face do ser humano preconceituoso. As pessoas não estão habituados a ver um negro que se manifesta e fala com certa altura de voz sobre o que pensa, e isso se transforma em um incômodo que no final não é nada mais do que o racismo bem enraizado nas pessoas. A prova disso é que quando vejo amigos brancos meus postando suas opiniões sobre qualquer coisa de cultura pop na internet, as pessoas sempre buscam discutir os argumentos apresentados pelas pessoas brancas que os escreveram, enquanto no meu caso sempre ocorre o argumento ad hominem (que é basicamente sobre a pessoa confrontar a pessoa e não o argumento).

Eu tenho diversos relatos disso acontecendo comigo ao longo de anos. Isso já me afastou de grupos de amigos que não reconhecem isso como racismo, e os mesmos mal sabem vir com outra forma de argumentação a não ser atacar a minha pessoa, e isso em todo âmbito, seja em relação a gosto musical ou sobre a minha posição em relação a animes que promovem a fetichização de cenas com violência contra a mulher. Eu poderia até expor pessoas que têm o hábito de me perseguir, mas acho que não é preciso chegar a esse ponto.

Mas no fim de tudo o que eu tenho a dizer é que esse tipo de atitude das pessoas em relação a mim começou finalmente a me afetar na maneira em que me relaciono com os outros, e por isso eu venho propor aqui uma reflexão sobre o assunto.

Basta olhar ao seu redor: quantos produtores de conteúdo de canais de YouTube, sites e portais que abordam cultura são negros? Eu mesmo busco esse tipo de conteúdo e conheço no máximo uns 5, e acredito que boa culpa disso é o fato de que eles são constantemente silenciados e isso os desestimula a produzir algum tipo de conteúdo sobre as coisas de que eles gostam e não gostam. Então, por favor, você, pessoa que um dia já falou que seu amigo preto é “palestrinha” demais, ou que a pessoa dá demais a opinião dela, ou que normaliza seu racismo falando que não tem nada ver isso, mas que sempre concorda com a opinião do amiguinho branco, coloca um pouco a mão na consciência, pois você pode estar acabando com a voz de alguém que já quase não é ouvida por causa da cor da pele e que muita das vezes poderia te dar uma visão sobre algum tipo de material que você nunca teria normalmente.

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