Vamos trocar umas ideias sobre comunicação

Gabi Cavalcante
4 min readNov 23, 2019

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A ideia aqui é juntar sugestões que podem te ajudar caso você queira/vá dar um curso/aula/palestra e esteja preocupada em como fazer isso. Juntei algumas coisas que observei ao longo desses anos trabalhando no PyLadies Brasil, e talvez você possa aproveitar um pouco disso :) A ideia do post surgiu de uma conversar no grupo do PyLadies Natal, então a própria construção dessas sugestões foi algo coletivo.

Uma das coisas que sempre faço logo no começo das atividades é perguntar a experiência que o pessoal tem naquilo que estou falando sobre. As vezes a gente supõe um nível, e a galera tem outro, e rola um grande desencontro de informação. Algumas vezes eu ainda chego a preparar materiais alternativos (ou diferentes exercícios), que eu possa usar dependendo da experiência das pessoas com quem estou falando (ex: se são iniciantes, se já tem conhecimento mas não experiência prática, etc).

Algo que também é interessante é sempre que usar uma expressão em inglês, também usar a equivalente em português. A gente está em um área carregada de expressões técnicas em inglês, é até bom o pessoal saber por exemplo o que é “debug” ou “webscraping”, mas soltar a expressões sem dar uma tradução pode dificultar o entendimento de algumas pessoas. Então quando for falar a expressão em inglês, também fale em português junto.

As vezes partimos do ponto que a turma pra quem estamos falando já entende um certo conceito, mas vamos lembrar que isso pode ser algo que a nossa experiência nos ensinou, e nem todo mundo trilhou o mesmo caminho que a gente. Por isso, sempre tento explicar os conceitos que eu cito, e ai eu peço pra galera me avisar caso ela já saiba (e não o contrario, que é falar coisas e pedir para que eles avisem quando não entenderem… dependendo, eles podem nunca fazer que não estão entendendo).

As vezes também temos uma certa mania de reproduzir expressões que no fim, só dão aquela atrapalhada. Algo que eu fazia muito, e notei que não é nada bom, é falar que as coisas são fáceis, tipo “pessoal, vamos fazer isso aqui, é bem simples”, “é bem fácil”, “vocês fazem rápido”… Essas eram frases que eu passei muito tempo falando por força do habito, até notar que tem gente que fica ansiosa com o medo de não entender o que era pra ser “fácil” e trava na tarefa (eu mesma no caso). Além disso, você só acha aquele assunto fácil por já ter estudado, trabalhado, e exercitado aquilo (né?). Aproveita o embalo e já tenta evitar falar “os atrasados estão em que parte?”, “tem alguém atrasado?”, “quem diria”, “até que enfim” e por ai vai.

Uma outra mania que sugiro que a gente dê aquela repensada é a de perguntar “vocês entenderam?”. Hoje em dia eu tento sempre lembrar de perguntar “eu to explicando direito?”. Mudar a forma com que as perguntas são feitas causa um impacto grande. Nessa caso, reformular a pergunta faz a gente lembrar que a responsabilidade de transmitir aquele conhecimento é nossa.

Algo que as vezes faço também é dividir um problema em pequenos pedaços. Quando vou dar introdução a python com webscraping (raspagem de dados ;) eu divido o problema em partezinhas. Por exemplo, “recuperamos o texto da página, mas queremos só uma parte do conteúdo, e agora?” Dai eu explico como fatiar textos em python, e peço pra eles me falarem como seria a solução. No passo seguinte, vamos achar outro problema, conversar sobre algum outro recurso do python, e discutir possíveis soluções.

Mas isso é uma opção, dividir o problema e fazer junto com a turma, de forma coletiva. As vezes eu vou chamando pessoas para irem na frente escrever a solução e as vezes reservo o fim do curso pra dar o problema todo e vou acompanhando (notei que essa última opção é um pouco mais complicada quando estou sozinha ou com poucas pessoas no apoio, nesse caso prefiro a abordagem de fazer junto com todo mundo).

Você pode ir sentindo qual abordagem usar dependendo da turma. Massss, se você não “sentir” isso, tudo bem, a gente vai tendo essa ideia do que fazer em cada situação com o tempo e experiência, e pegando turmas diferentes.

A gente fala muito de sentir a coisa, mas também não se cobre isso, na real, esteja atenta, e ai com a atenção a gente nota coisas. Na minha primeira palestra eu tava tão preocupada em provar que eu sabia dos assuntos, que eu falei um tanto de conteúdo que ninguém entendeu (o público era de iniciantes, e eu não me atentei a isso). Fiquei tão traumatizada, que depois disso mantive em mente o quanto eu queria ser plural e democrática na minha fala.

A verdade é que pra qualquer relação dar certo, a gente precisa estar atenta a outra parte da relação né? A mesma coisa se aplica na relação professor-aluno. Você pode até não saber o que fazer naquela hora, ou como agir naquela situação, mas você vai notar e vai se importar em fazer melhor na próxima vez.

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Gabi Cavalcante

Dev Python, curiosa, nordestina, feminista e completamente apaixonada por tecnologia de impacto social.