A força de um pensamento que percebeu o traço profano da racionalidade moderna
Edição: Jéferson Rodrigues e Rico Machado
A imagem que ilustra a capa da revista IHU On-Line, a pintura de Charles Le Brum chamada A apoteose de Luís XIV (1677), sintetiza uma ideia central na obra de Giorgio Agamben: a modernidade nunca foi secular, mas profana. A paradoxal imagem que enaltece a força do Estado expresso na figura messiânica do rei mostra também o lado obscuro do poder, que pela força cria suas zonas de exclusão e exceção.
Compreender a atualidade através de Agamben
“Trata-se de um pensamento que ainda está se desdobrando, construindo, consolidando; que, certamente, possui os seus alicerces, as suas perspectivas já suficientemente definidas, mas que não deixa de ser algo a nós tão próximo e, portanto, bastante difícil de definir.” — Entrevista especial com Rossano Pecoraro
Agamben: o pensamento como coragem
“ Como os sinos da igreja tocam em Trastevere, onde marcamos nosso encontro, seu rosto vem à mente… Giorgio Agamben apareceu como o apóstolo Filipe em O Evangelho Segundo São Mateus (1964) de Pier Paolo Pasolini. Naquela época, o jovem estudante de Direito, nascido em Roma em 1942, andava com os artistas e intelectuais agrupados em torno da autora Elsa Morante.” — Entrevista de Juliette Cerf
A liberdade pessoal, a liberdade do mundo
“ Compreender a vida para além do funcionamento biológico é entendê-la dentro de um corpo que não se reduz ao que a epiderme cobre, mas vê-la como uma célula, uma micropartícula do corpo do Estado.” — Entrevista especial com Edgardo Castro
Agamben: quando a inoperosidade é soberana
“ L’uso dei corpi [O uso dos corpos], livro do filósofo italiano Giorgio Agamben, aborda o problema de uma vida feliz a ser conquistada politicamente. Mas, depois de se despedir das teorias marxistas e anárquicas sobre o poder, o resultado é uma inclinação desnorteadora sobre o nada.” — Artigo de Toni Negri
A crise infindável como instrumento de poder: uma conversa com Giorgio Agamben
“ Em meio a repercussões apaixonadas e críticas difamatórias ao artigo Um “Império latino” contra a hiper potência alemã, o filósofo Giorgio Agamben discute a atual crise econômica (que tem atuado como instrumento de dominação) em entrevista traduzida em primeira mão pelo Blog da Boitempo.” — Entrevista foi realizada por Dirk Shümer
A impossibilidade da promessa ocidental de civilidade
“ Ao jogar seu olhar sobre o Ocidente moderno, a filosofia, a partir do Iluminismo, concentrou a maior parte de seus esforços nos possíveis avanços da autonomia humana e sua potencial capacidade de mudar o curso da história. Agamben, no entanto, encontrou nas sombras deixadas pela própria razão moderna a figura do homo sacer e sobre ela se debruçou.” — Entrevista especial com Patrick Baur
A edição número 45 do Cadernos IHU em formação, intitulada simplesmente de Agamben busca trazer ao debate entrevistas já publicadas pelo IHU sobre o pensamento do filósofo italiano Giorgio Agamben, cujas proposições oferecem chaves importantes para a compreensão e o questionamento da época que vivemos, num estilo peculiar de construção filosófica, ora aparentemente de fácil compreensão, como é o caso de Profanações, ora hermeticamente elaborada, como em O Reino e a Glória.
Giorgio Agamben, controvérsias sobre a secularização e a profanação política
O sacerdote de outrora tem sua forma secular no tecnocrata, que impera junto de instituições sacralizadas como o Estado e o mercado, observa Castor Bartolomé Ruiz. “Àqueles que não se enquadram na secularização a alternativa é a profanação política, retirando as coisas, instituições e pessoas de sua égide inacessível” — Artigo de Castor Bartolomé Ruiz
Agamben: profanar a Democracia Representativa
“A quem interessa sacralizar um sistema que já não representa ninguém, senão o poder financeiro — ou o Deus convertido em Dinheiro, segundo notou o filósofo?” — Artigo de Fran Alavina
Democracia e pós-ideologia se elidem
“ Não obstante os enrijecimentos dos últimos dias, a campanha eleitoral italiana parece unir Berlusconi e Veltroni no esforço de apresentar-se cada um como o verdadeiro intérprete de uma estação a pleno título pós-ideológica: na qual o conflito não teria mais necessidade de ser “representado”, enquanto pertencente a uma ideia novecentesca e, portanto, superada da sociedade.” — Entrevista com Giorgio Agamben
O estado de exceção como paradigma de governo
“ Existe uma “tentação” dos Estados em deslocar as medidas provisórias e excepcionais para técnicas de governo, acentua Castor Ruiz. Em regimes absolutistas a exceção se converte em norma, e os sujeitos são degradados a homo sacer, mera vida nua” — Artigo de Castor Bartolomé Ruiz
Estado de exceção e violência policial: da ditadura à atualidade
“A repressão aos movimentos sociais é uma prática bem antiga no Brasil (anterior à ditadura militar) que, mais ou menos explícita, permanece extremamente atual”. — Entrevista especial com Susel Oliveira da Rosa
Estado de exceção e biopolítica segundo Giorgio Agamben
“Precisamente sobre o estado de exceção eu diria que Agamben está mais próximo de Benjamin e em estreita aproximação com as teses de um jurista importante, que é Carl Schmitt.” — Entrevista especial com Jasson da Silva Martins
O impensado como potência e a desativação das máquinas de poder
“Razão neoliberal e projeto de apropriação do comum sequestram a democracia. Antes que o rei ‘nos deixe nus’, nós deveremos fazê-lo através da profanação dos dispositivos que operam por meio da glória e escondem o seu Nada. Giorgio Agamben é o pensador do impensado não como negatividade, mas como a forma mais extrema de positividade na qual se desenvolve uma noção singular de potência que habita as sombras do ‘submundo’ da tradição.”
Entrevista especial com Rodrigo Karmy Bolton
A bios humana: paradoxos éticos e políticos da biopolítica
“A nova biopolítica inverte a perspectiva de Hobbes ao propor a diluição do limiar artificial da sociedade, que deve ser compreendida como prolongamento da natureza biológica do ser humano” — Artigo de Castor Bartolomé Ruiz
Política e tempo em Giorgio Agamben
“Tempo e história perpassam a política de tal maneira que mesmo os filósofos políticos que não trazem o tempo ou a história como questões de seu pensamento mantêm, inevitavelmente, um conceito de tempo/história implícito e determinante para a constituição e interpretação de suas obras” — Entrevista especial com Jonnefer Francisco Barbosa
O campo como paradigma biopolítico moderno
“Quando o regime nazista decide desnacionalizar a todos os judeus tornando-os pura vida nua, e portanto matáveis por qualquer um sem punição, não inovou uma barbárie contra a humanidade, senão que deu sequência a uma prática comum do Estado moderno, só que em proporções tanatopolíticas antes nunca vistas.” — Artigo de Castor Bartolomé Ruiz
A economia e suas técnicas de governo biopolítico
“ Um novo modelo político ‘despojou o poder soberano de sua arbitrariedade sobre a vida, ao menos formalmente, conferindo à vida uma potência política que antes não tinha. A vida nos regimes modernos passou a ser cuidada como um bem biológico importante, que deve ser protegido’.” — Artigo de Castor Bartolomé Ruiz
A sacralização do dispositivo da economia e o esvaziamento da política
“Para Agamben, se a política entendida como ação conjunta em função do bem comum está atualmente em retirada do espaço público é porque o poder financeiro em substituição à religião capturou toda a possibilidade de pensamento e ação humana. Raptou toda a fé e esperança na constituição de um espaço e tempo de qualificação da vida humana.” — Entrevista especial com Sandro Luiz Bazzanella
A dívida como dispositivo biopolítico de governo da vida humana
“O dispositivo teológico do sacrifício foi interiorizado como técnica econômica de governo. O capitalismo financeiro só pode subsistir produzindo dívidas. Na hipótese de que não houvesse ninguém com dívidas, o capitalismo financeiro entraria em um colapso total. É a dívida que gera o lucro.” — Entrevista especial com Castor Bartolomé Ruiz
“A obra de Agamben faz uma incursão epistêmica no direito e na política pelo viés da vida humana.1 Ela tenta captar (e capturar) uma tensão muito pouco percebida pela qual o direito e a política ocidentais existem de modo correlacionado com a captura da vida humana.”
Artigo de Castor Bartolomé Ruiz
“Deus não morreu. Ele tornou-se Dinheiro”
“O capitalismo é uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro.” — Entrevista com Giorgio Agamben
Cristianismo como religião: a vocação messiânica
“A Igreja se decidirá a aproveitar a sua ocasião histórica e a retomar a sua vocação messiânica? Pois o risco é que ela mesma seja arrastada para a ruína que ameaça todos os governos e todas as instituições da terra”. — Artigo de Giorgio Agamben
A redescoberta de Paulo pela pós-modernidade
“Para todos esses filósofos, a leitura das cartas foi determinante como catalisador de seu próprio pensamento — que não se situava necessariamente na linha de Paulo e, mesmo seguidamente se opunha a ele.” — Entrevista especial com Alain Gignac
A fissura da bipolaridade agambeniana e uma revelação do ser
“Um dos méritos das reflexões de Giorgio Agamben está em sua capacidade de discutir o nexo político e teológico que fundamenta o sujeito ocidental como conhecemos.” — Reportagem de João Vitor Santos
Democracias ocidentais pagam as consequências políticas de uma certa herança teológica
“ Ao começar sua fala, o professor Castor Bartolomé Ruiz, da Unisinos, anunciou que trataria da relação entre tecnologia, economia e política na obra de Giorgio Agamben, mas fez a ressalva de que não se trata de empreitada fácil.” — Reportagem de Vitor Necchi
Agamben e o vazio que constitui a máquina governamental
“Por detrás da máquina governamental que exerce o poder sobre nossos corpos e nos controla, há apenas um vazio. Assim, o objetivo é compreender a pragmática desse dispositivo, e não uma suposta essência que estaria por trás.” — Reportagem de João Flores da Cunha
No teatro da Democracia, a tragédia da Economia. Um olhar sobre a obra de Agamben
“ No palco do tempo onde se encena a tragédia da Economia, o messias veste vários figurinos e vive em várias épocas, mas os roteiros seguem sem tantas alterações assim. Perceber estas nuances, sensíveis e sutis, é verdade, foi uma tarefa que Giorgio Agamben fez com certo rigor.” — Reportagem de Ricardo Machado
O corpo é um exemplo de resistência à assinatura teológica colocada sobre o sujeito
O professor Colby Dickinson, da Universidade Loyola de Chicago, nos Estados Unidos, em sua fala, destacou que, para o filósofo italiano discutido no evento, o corpo é um exemplo primordial de resistência à assinatura teológica que é colocada sobre o sujeito. Além de Agamben, mote da conferência, o professor tratou de Michel Henry e Jean-Yves Lacoste.” — Reportagem de Vitor Necchi
Política e messianismo na obra de Agamben
“ A influência da religião na estrutura de poder moderna e a necessidade de resgate, pelo cristianismo, de um tempo messiânico, a partir da obra de Giorgio Agamben.” — Reportagem de João Flores da Cunha
Leia mais…
- Giorgio Agamben. Genealogia e Arqueologia
- Agamben, política e biopolítica: guia de leitura do IHU
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- O sacro dilema do inoperoso em Giorgio Agamben
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- A trilogia “Homo Sacer”, de Agamben
- Homo sacer. O poder soberano e a vida nua
- Agamben e a vida nua: produto final da máquina antropológica
- O homo sacer e o campo como paradigma político moderno
- Agamben, a desativação do Direito e a política que vem
- Altíssima pobreza e a primazia do econômico. Um livro de Agamben em debate
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- A testemunha, um acontecimento
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- Quando a religião do dinheiro devora o futuro
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- Agamben leitor de Averroes e as condições de uma “política da inoperosidade”
- Em “O Reino e a Glória”, Agamben analisa liturgias do poder
- Messianismo e política. Uma leitura de Giorgio Agamben
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- Giorgio Agamben, genealogia teológica da economia e do governo
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- Agamben e Heidegger: o âmbito originário de uma nova experiência, ética, política e direito
- A exceção jurídica e a vida humana. Cruzamentos e rupturas entre C. Schmitt e W. Benjamin
- Benjamin e o capitalismo
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