Resenha: [FILME] Fahrenheit 451 (2018)

Isabella Lima
3 min readAug 25, 2019

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Fahrenheit 451 é uma distopia escrita por Ray Bradbury e leva esse nome por representar a temperatura da combustão do papel. Nesta ficção futurista, a sociedade está em um estado tecnologicamente avançada onde todos os edifícios possuem um sistema automatizado e personalizado, incluindo um sistema antifogo. Os bombeiros, logo, deixam de desempenhar o papel outrora comum — apagar incêndios e passam a ser os principais responsáveis pela manutenção da paz através da eliminação e incineração das fontes de conhecimento — os livros.

Quaisquer livros que sejam encontrados, devem ser queimados. Estes são os culpados das discordâncias e intrigas entre os homens. Alguns livros ferem os negros, alguns as mulheres, outros incomodam os brancos, autores como o próprio Marx colocam classes sociais inteiras contra outras. A informação deve ser neutralizada ao máximo a apenas o que o Ministério permitir. Afinal, como dito por um dos incineradores, não se pode entregar às pessoas muitas versões de uma mesma ideia. É preciso que se limite e que o exercício de pensamento e reflexão seja nulo.

Neste contexto, conhecemos Montag, um dos mais notáveis bombeiros da corporação, um homem inteiramente comprometido com seu trabalho de queima. Um dia, após encontrar uma senhora que guardava uma grande biblioteca e esta se sacrificar em meio ao fogo junto aos seus livros, uma chama se acende em seu íntimo. O bombeiro que nunca havia lido um livro, passa a se perguntar o que teriam nestes papeis que valeriam o preço de sua própria vida. O homem rouba um livro e procura a rebelde responsável pela informação do paradeiro da grande biblioteca.

A trama se assemelha em alguns aspectos a outros títulos distopicos, como 1984, onde Winston tinha em sua casa a teletela capaz de monitorar todos os seus passos. Em Farenheit 451, por outro lado, o sistema personalizado ao qual todos os habitantes têm acesso, tem como função o conforto — mas não perde sua autonomia no papel de vigiar.

Montag acaba se envolvendo com os rebeldes e se tornando ele mesmo um. E enquanto a corporação de bombeiros luta desenfreada para destruir uma máquina secreta “ominis” capaz de espalhar todos os livros de uma maneira nunca antes vista, Montag se ocupa como agente duplo, deixando o telespectador muitas vezes confuso sobre a qual lado ele esta realmente favorável.

Após ser flagrado por um outro bombeiro entrando em um carro com dois rebeldes, uma cena é montada para Montag em sua própria casa. Lá, os bombeiros fazem uma batida e encontram dezenas de livros e obrigam Montag a queima-los. Ele queima tudo em sua própria casa: os títulos, as paredes, os moveis e todos os rastros daquela vida que outrora pertencia a um homem ao qual ele não mais se identificava. Ao fim da invasão, ele tem sua identidade tomada pelo estado e é reconhecido publicamente como um rebelde. Num ato de fúria e desespero, tentando salvar sua amada, ele queima um bombeiro e foge.

Foge para cumprir o seu propósito, sendo este, o de garantir que um garoto que tem em sua mente decorado mais de 13 mil livros, chegue à fronteira do país junto com um pássaro que contém o “Ominis”, o DNA geneticamente alterado capaz de permitir e espalhar o conhecimento. Garantir a vida dos rebeldes, sendo eles mesmos, detentores em suas mentes de diversos títulos e obras. Afinal, não há forma de se combater o intelecto e a mente humana. Mesmo através de toda a truculência e força, os homens sempre encontrarão um jeito de contornar as limitações do Estado. O homem nasceu livre e assim há de ser.

Nos últimos momentos deste romance, Montag solta o pássaro e morre. Entrega a sua vida em troca da liberdade do saber, do conhecer e expressar. A censura é duplamente perigosa ao homem, primeiro porque ela tira a liberdade de quem diz e segundo, porque tira a liberdade de quem ouve.

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Isabella Lima

Coordenadora Internacional — Students for Liberty Brasil. Economia, Individualidade e Liberdades Sociais.