O que podemos aprender com o desemprego dos cães pastores?

Leo Leite
3 min readAug 5, 2015

Aquele notícia caiu como uma bomba no Sindicato dos Cães Pastores. Era uma clara ameaça ao tradicional trabalho feito por cães fiéis, dedicados e carinhosos.

Era um absurdo!

O jornal do sindicato trazia diariamente fatos que contestavam a legalidade do uso de drones. Uma das manchetes denunciava:

Fazendeiros trocam fidelidade canina por drones ilegais.

Como os humanos puderam ser tão insensíveis e substituir o melhor amigo do homem por uma máquina?

As reações entre os cães sobre o vídeo viralizado era a pior possível.

Rabos entre as patas, latidos estridentes, uma RAIVA que espumava pelo focinho .

Apesar dos uivos, não é de se estranhar esse comportamento, afinal, você também latiria se fosse um cão-pastor assistindo o vídeo abaixo:

Foi um escândalo!

O uso de drones para o pastoreio revirou a vida dos cães pastores.

Os instintos herdados dos lobos e os treinamentos que usavam para cuidar do rebanho ficaram obsoletos — Era moda entre os fazendeiros ter seu próprio drone.

O futuro chegou na zona rural sem pedir licença e deu fim à tradição canina. Nesse cenário, muitos se perguntavam: sem pastorear, o que restaria na vida de um cão pastor?

Alguns membros do sindicato já sabiam a resposta: eles seriam apenas cães.

Assim como o cães pastores, nós humanos também usamos a nossa ocupação para nos diferenciar.

Desde pequenos, somos pressionados com a clássica pergunta:

- O que você vai ser quando crescer?

Quando descobrimos a resposta, confortavelmente assumimos o posto profissional, estampando nos cartões de visita, documentos e no estilo de vida, o que é ser… (insira aqui seu cargo).

Mas se sua profissão fosse ameaçada de extinção por causa de uma tecnologia, o que você faria?

Assim como cães pastores, os taxistas também estavam firmes em seus postos. Eram mais do que pessoas que transportavam outras pela cidade, eram sobretudo Taxistas… até a chegada do Uber.

A polêmica entre carrões pretos e guardiões da tradição já é bem conhecida, porém sua real causa é ignorada.

Seu principal questionamento é: qual a necessidade de ser taxista para trabalhar com mobilidade urbana?

O que assusta boa parte dos taxistas não é perder corridas. O maior medo é perder a identificação profissional. É aí que mora o dilema dos mais tradicionais:

Se qualquer um com um carro e uma carteira profissional pode fazer o meu serviço, provavelmente, eu também sou qualquer um.

Não são apenas taxistas que estão com suas identificações profissionais em risco, todo nós estamos.

O fácil acesso às informações, a alta velocidade de interações sociais e desenvolvimento de verdadeiras revoluções tecnológicas têm facilitado que qualquer pessoa seja… qualquer coisa.

Vemos o aumento de profissionais sem faculdade assumindo brilhantemente posto de destaque e equipes multidisciplinares resolvendo problemas de maneira pouco acadêmicas. Em outras palavras, foda-se o seu diploma.

O enfraquecimento das identificações profissionais assusta, mostra que ninguém é especial, mas abre caminhos para que trabalhadores façam dos seus conhecimentos algo verdadeiramente útil.

Provavelmente, quando os cães pastores perderam seus cargos e se tornaram “apenas” cães, muitos deles viram a oportunidade de serem melhores companhias, melhores guias e até melhores auxiliares de drones.

O mesmo ocorre com os taxistas mais espertos, que já captaram a ideia e se esforçam como nunca para serem o melhor motorista que já existiu.

Quando o inevitável enfraquecimento das identificações profissionais acontecer conosco, aproveite. Quem tiver a coragem de abdicar dos rótulos e aproveitar todos seus conhecimentos para ajudar pessoas, empresas e causas, sairá ganhando, não só em dinheiro, mas em realizações.

--

--