Filosofia para Copas

A Riechel
3 min readJun 26, 2018

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ou como assistir Copa do Mundo e ainda parecer um intelectual

Algumas pessoas estão realmente preocupadas em aderirem ao grande evento mundial de futebol como telespectadores e com isso parecerem, digamos, menos engajados, militantes de segunda ou mesmo alienados.

Mas não se preocupe! Aqui vai um manual de como aliviar a culpa de ter sido pego espiando o placar do jogo e ainda parecer um grande intelectual. Você não precisa mais recusar os convites pra churrascos (aliás, poderá usar as citações nas conversas dos churrasco). Vem comigo.

Filosoficamente falando somente a apreciação do belo pode nos curar como sociedade. E você pode incluir a arte, a cultura e, por que não, o esporte? O nosso futebol. Belíssimo, alguns diriam.

Note como a competição nos liberta de nosso individualismo, amplia nosso senso de sociedade e nos faz agir por um mesmo objetivo. Inegável sua função social e importância.

Repare bem as pessoas na rua e perceberá como foi ressuscitado o tempo de celebração, até então morto pela rotina do dia-a-dia. Somente a Copa nos permite vivenciar a intensidade. Percebe a importância? Esse conceito é tão valorizado que antigamente acompanhar as festas era um momento religioso. Era o que nos aproximava dos deuses. Deixo aqui Kerényl, citando Platão:

“Mas o homem foi feito parar ser um brinquedo de Deus, e isso é realmente o melhor que há nele. Assim, pois, cada um, tanto um varão quanto uma mulher, seguindo essa instrução e jogando os mais belos jogos deve viver a vida”. “deve-se viver brincando e jogando […], fazendo oferendas, cantando e dançando, para poder despertar a graça dos deuses”. Fonte: KERÉNYI, k. Antike Religion. Sttuttgard, 1995*

Reparam no jogando, né? Pois então.

Um ponto muito importante é que acompanhar o campeonato é a libertação do trabalho. Cada jogo às três da tarde nos salva de maneira heroica do expediente de pelo menos metade do dia. “Quem trabalha não é livre”, citando Byung-Chul Han, no Sociedade do Cansaço. Então qualquer desculpa pra um churrasco durante a semana é um caminho para libertação. Só existe revolução se conseguirmos profanar o tempo do trabalho para festejar.

Esse enfrentamento cotidiano pode ser notado quando mudamos nossa vestimenta, retirando o formal e aderindo às fantasias, pinturas de verde, amarelo e azul (e vermelho). Karl Kerényi, citado por Byung-Chul Han, escreve sobre nosso hábito de vestir camisas de times:

“Enfeitar-se para uma festa e ir assim bem bonito para um festa, como só é possível a seres humanos mortais, que através desse gesto assemelham-se aos deuses, isso é um traço fundamental da essência da festa, criado para a arte; é um parentesco originário do elemento festivo com o belo, que porém em nenhum povo alcançou um brilho tão intenso como nos gregos; povo algum dominou o culto como eles”.

Somos tipos os gregos. Cultuando o belo e deixando um legado para os nossos descendentes. (Que seja o Hexa!)

Um ponto que não pode ser deixando de lado: a cerveja. Para nos elevarmos como seres e alcançarmos nossa ligação com a arte é necessária a embriaguez. Não sou eu quem digo, veja bem, é Nietzsche. Citação necessária para qualquer um que queira parecer inteligente:

“Para que haja a arte, para que haja uma ação e uma visualização estéticas é incontornável uma precondição fisiológica: a embriaguez”. Fonte: Friedrich Nietzsche. Crepúsculo dos Ídolos. (ou como filosofar com o martelo)

Momentos que permitem a festa, permitem a criação, nos libera para atingirmos nosso verdadeiro potencial que só pode ser alcançado por momentos contemplativos.

“Se vivemos numa época sem festa, se vivemos numa época desprovida de celebrações, já não temos mais qualquer relação com o divino”. Fonte: Byungh-Chul Han. Sociedade do Cansaço.

Sejamos divinos então. Celebremos.

VAI BRASIL!

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