Paris dos Trópicos
Manaus foi por muito tempo uma espécie de ilha da imaginação em meio à imensidão verde. Hoje, marcas de domínio estão em antigas construções ao estilo francês. Investidores de todo o mundo chegaram a Manaus quando o látex, matéria-prima da borracha foi descoberto, pois a cidade ganhou peso com o Ciclo da Borracha no século XIX. A cidade prosperou e ficou conhecida como Paris dos Trópicos.
Com a Revolução Industrial e o desenvolvimento tecnológico na Europa, houve uma busca pela borracha natural (látex), exclusiva da Amazônia, e seu preço disparou. Uma operação de mineração de látex na Amazônia imediatamente provou ser muito lucrativa.
E qual o maior espetáculo que nossa floresta oferece?
Uma agradável viagem na história do ciclo da borracha, principal atividade econômica da Amazônia no final do século XIX e início do XX, é o que se pode ter com uma visita ao Museu do Seringal Vila Paraíso, em Manaus.
O Museu do Seringal é, na realidade, o cenário do filme: “A Selva”, de 2002, baseado em livro do escritor Ferreira de Castro. Alberto é um jovem português que está exilado em Belém, no Pará. Através de seu tio ele é contratado para trabalhar no seringal de Juca Tristão, em pleno coração da Amazônia. Já no seringal Alberto fica sob a proteção de Firmino, indo trabalhar no armazém local e enfrentando dificuldades para se adaptar. Logo ele se envolve com Dona Yayá, a esposa do gerente local.
Cachaça? Troca de indígenas? Era isso o que acontecia quando o seringueiro chegava, a troca de borracha, cachaça por indígenas. Foi assim que se formaram famílias no centro da mata dando origem a nossa miscigenação. Graças a cachaça caboclos estão aqui hoje.
E como foi que a Amazônia perdeu o monopólio da borracha? O primeiro ciclo da borracha foi marcado pelo ato de biopirataria, quando as sementes da seringueira são levadas para a Inglaterra por Henry Wickham de forma ilegal. Havendo concorrência a economia amazônica foi arrasada.
Os salários caíram junto com os preços a um quarto do seu nível durante o boom. Comerciantes, exportadores, banqueiros e corretores desesperados juntaram-se a seringueiros num êxodo da região. Manaus e Belém, as
fulgurantes capitais equatoriais do comércio da coleta, iriam enfrentar um longo inverno de estagnação, inaugurado por bancarrotas em série. (DEAN, 1989, p. 65)
Cessando sobre a alimentação do seringueiro falamos de? Farinha. Nossa farinha é feita com mandioca brava, a que contém veneno. Depois de descascada ela é lavada e triturada pelo caititu e encaminhada ao tipiti onde é escorrido todo o líquido amarelado a qual chamamos de tucupi. Farinha com carne, farinha com peixe eram uns dos alimentos dos trabalhadores.
Para começar a visita e entrar de cabeça neste novo universo, participamos de uma cerimônia e uma dança junto aos índios.
A tribo possui trabalhos lindos de artesanato e adora receber pessoas de fora. Não a toa: eles dependem do turismo para sobreviver.
As danças realizadas pelos índios, são iniciadas com os homens e em seguida com as mulheres que se juntam a eles. Os mesmos utilizam instrumentos musicais que dão maior destaque a suas apresentações. Algumas pessoas tiveram a oportunidade de comer as larvas que são tiradas do coco, o famoso tapuru.
A Amazônia é palco de exploração, mas é também palco de inúmeras lutas de resistência e afirmação. Com sua natureza exuberante e ao mesmo tempo frágil, acolheu uma grande diversidade de povos, ao longo da história, no interior de suas matas e na beira dos rios. Depois da Conquista, em 1500, estes povos passaram a ser chamados, genericamente, de indígenas.
A perspectiva histórica desses povos foi interrompida de forma brusca e violenta pelo projeto colonial que, valendo-se da guerra, da escravidão, da ideologia religiosa e das doenças, provocou na Amazônia uma das maiores catástrofes demográficas da história da humanidade, além de um etnocídio sem precedentes.
Os índios passaram de maioria para minoria na Amazônia entre 1750 e 18502. A violenta repressão à Revolução Cabana, que teve grande adesão indígena na primeira metade do século XIX, reduziu ainda mais a população nativa. MOREIRA NETO.
Muitos dos povos indígenas sobreviventes, que se refugiaram nas terras firmes dos altos dos rios, foram posteriormente alcançados pelo extrativismo da borracha, para o qual foram trazidas levas de nordestinos que, mantidos na condição de semi-escravos pelo sistema de aviamento, viram-se obrigados a invadir territórios indígenas pela força. Milhares de índios e nordestinos morreram para sustentar a opulência da elite da borracha.
Apesar da perseguição implacável, da escravidão, das guerras, das doenças criminosamente introduzidas e da imposição de um sistema que se orienta por parâmetros completamente diversos dos praticados pelos povos indígenas, eles não foram vencidos.
Glossário Amazônico.
Caititu- ralador de mandioca
Tipiti- prensa ou espremedor de palha trançado usado para escorrer e secar raízes
Tucupi- sumo amarelado extraído da raiz da mandioca brava quando descascada.
Tapuru- larva
Referências Bibliográficas.
Portal Amazônia- Museu do Seringal é opção turística para visitação e conhecer de perto, a história do ciclo da borracha
Ciclo da Borracha- Toda matéria, 2011–2022.
Amazonas e mais- Uma viagem à época da borracha no Museu do Seringal Vila Paraíso.
Dialnet- Conquistas e desafios dos povos indígenas.