Organizações guiada por dados (Data Driven) — Conceito, dicas e um breve guia.

Alex Souza
10 min readApr 16, 2022

Estamos na era dos dados, nossa vida é impulsionada quase que totalmente por eles. Aproximadamente 5 bilhões de pessoas têm acesso à internet em todo o mundo, só no Brasil, o número de internautas teve um aumento de 6,4% de 2020 para 2021, um crescimento de quase 10 milhões de pessoas (a pandemia ajudou nesse crescimento).

De acordo com o Gartner, foram 40 trilhões de gigabytes gerados em 2021, a mesma quantidade de dados gerados em toda a história pregressa. Esse imenso volume de dados disponível no mundo está crescendo a cada segundo, mas é preciso saber o que fazer com eles. De nada adianta coletar dados e continuar tomando decisões com base no achismo — ou usando números para suportar uma decisão que já estava irracionalmente tomada (as chamadas métricas de vaidade).

O que é Data Driven?

Diante desse grande volume de dados, o termo Data Driven vem tomando grandes proporções e destaques nas organizações. É um termo em inglês, que significa ser guiado por dados (aqui usaremos também o termo: Cultura de dados). Ou seja, utilizar-se de dados para aprimorar a tomada de decisão, fortalecer análises e estratégias, identificar problemas e encontrar soluções, seja para um negócio, um projeto, ou até mesmo para pequenas escolhas do dia a dia. Ao substituir nossa intuição (feeling) por ações embasadas por análises, conseguimos encontrar tendências de comportamento ou até mesmo antecipar cenários e prover de maior tempo hábil para lidar com seus desdobramentos.

“Sem dados você é apenas uma pessoa qualquer com uma opinião.” Edward Deming

Por exemplo, dados podem revelar oportunidades, problemas, gargalos, desperdícios, excessos, e em muitas vezes também é capaz de sugerir caminhos promissores (ou até grandes soluções). Ao usar dados em nossas tomadas de decisão, agregamos benefícios importantes para nosso time e para nossa organização, tais como redução de riscos operacionais e judiciais, aumento de performance, concessão de crédito mais assertiva dentre vários outros itens particulares à cada tipo de negócio.

Ter acesso a infinitos dados nunca será o suficiente — se você não souber como aproveitá-los, segundo Janice Hammond da Harvard Business School: “Neste mundo de big data e alfabetização básica de dados — a capacidade de analisar, interpretar e até questionar dados — é uma habilidade cada vez mais valiosa.”

Principais desafios…

“O conceito é fantástico e enche de brilho nossos olhos! Mas, como você já deve saber, essa não é uma tarefa tão simples. É necessário desconstruir padrões e construir uma nova forma de trabalhar.” Eduardo e Sibele (matéria completa)

“A maior barreira para sucesso de dados hoje é cultura empresarial, não atraso tecnológico.” Getting Serious About Data and Data Science

“Uma pesquisa de 2022 da NewVantage Partners com executivos de 94 empresas da Fortune 1000 descobriu que as organizações ainda enfrentam um caminho potencialmente longo pela frente em seus esforços para se tornarem baseadas em dados. Menos da metade dos entrevistados respondeu que estava competindo em dados e análises — 47,4%; apenas 39,7% relataram estar gerenciando dados como ativo empresarial; pouco mais de um quarto — 26,5% — relatam que criaram uma organização baseada em dados; e apenas 19,3% indicam que estabeleceram uma cultura de dados.”

Um dos primeiros desafios do processo de implementação de uma cultura de dados está na tecnologia, no que se diz respeito a Armazenar, Organizar, Catalogar e Consumir todos estes dados disponíveis com periodicidade constante de forma automatizada e confiável. É importante o investimento em tecnologias que apoie toda essa jornada, assim como em capacitação de todas as pessoas envolvidas no processo.

Na frente do processo, temos as pessoas que irão consumir estes dados em busca de gerar valor ao negócio, criando análises e obtendo insights a partir de indicadores previamente criados. É aqui onde mora o maior desafio da implementação da cultura de dados.

“Aquilo que não é percebido não existe. Se as pessoas não entenderem e não tiverem uma percepção clara de todo o processo, de suas motivações e seus objetivos, elas terão dificuldades para se engajar no movimento” — livro: O novo código da cultura

Cada organização possui sua própria cultura organizacional, níveis de maturidade em tecnologia e analytics, orçamentos etc. Precisamos ter em mente que, por ser uma mudança de cultura, é algo que precisa ser minuciosamente trabalhado e lapidado. Esse processo de disseminação do uso de dados é um processo de longo prazo que deve ter foco total (de todos envolvidos principalmente da alta gestão) até que vire algo orgânico para o time, ou seja, até que a cultura de dados, esteja totalmente agregada na cultura organizacional.

“Cultura de dados alinha tecnologia, pessoas e processos objetivando o uso efetivo de dados para apoio a tomada de decisão e estratégias organizacionais. Qualquer coisa não envolvendo estes 3 pilares, não é bem uma Cultura de dados.” Alex Souza

Tripé — Tecnologia, pessoas e processos.

“A cultura de dados transcende a tecnologia, deve ser incorporada pela equipe de dados e perpassa para os demais profissionais da organização.” Eduardo e Sibele (matéria completa)

Como implementar uma Cultura de Dados?

Excelente pergunta! Como? Aqui varia muito de organização para organização, por ser tratar de uma cultura, não é algo subjetivo. Abaixo segue algumas dicas, por onde poderia começar a pensar quando ter em mente a implementação de uma cultura de dados:

  • Primeiramente, entenda a cultura organizacional (do local onde quer implementar) e como pode ser agregada a cultura de dados;
  • Torne a cultura de dados uma prática de gestão: é recomendável que seja iniciado pela liderança (topo), não por imposição, mas sim através de engajamento e adesão a cultura, ou seja, uma gestão que aprecia decisões embasadas em dados.

“Os líderes precisam definir o tom de que os dados são uma ferramenta, um ativo que podem usar para tomar melhores decisões e, em seguida, reforçar essa mensagem em todos os níveis da organização. É assim que a cultura pode ajudar a transformar as empresas em termos de como elas usam os dados.” — Rahul Pathak — AWS (Data and Analytics)

  • Compreenda o momento de cada time, cada um possui processos que compõe sua operação. Uma mudança brusca pode gerar frustrações desnecessárias, inseguranças, levando a rejeição à mudança de cultura. Comece aos poucos sempre respeitando os processos, fluxos já existentes promovendo a melhoria iterativa e respeite a curva de aprendizado de seu time, isso facilitará a aceitação de novas soluções.
  • Motive ações de capacitação e adoção: Vise promover e diversificar ações de capacitação para seu time (o entendimento da importância dos dados é crucial, exemplo: a importância do lançamento correto dos dados, qual o impacto de um lançamento errado para as análises e para as estratégias da organização, etc) além de estimular a adoção de ferramentas de analytics, para que todos se estejam confortáveis para agarrar a nova cultura.
  • Instigue a multidisciplinariedade: Times multidisciplinares tendem a encontrar soluções criativas e mais flexíveis para problemas do dia a dia. Parte da cultura de dados vem do meio técnico e da tecnologia, mas não se esqueça que são seres humanos que irão utilizar, interpretar e analisar os dados e métricas gerados. Um exemplo prático é a construção de um dashboard: de nada adianta ele ter dezenas de indicadores complexos se for ilegível para seu público-alvo. Perfis de processos, projeto, design, comunicação e UX (User Experience) são muito bem aplicados aqui!
  • Comece pequeno, mas pense grande: Não tente abraçar o mundo e implementar soluções mirabolantes de uma vez só. Tentar mapear e criar dezenas de indicadores ao mesmo tempo pode demorar algum tempo e acabar gerando frustração. Opte por trabalhar em sprints curtas que gerem algum valor a cada iteração. Dica: Utilize a visão do MVP (Mínimo Produto Viável, ou do inglês: Minimum Viable Product) promovida por Eric Ries em sua obra A Startup Enxuta.
  • Mapeie e priorize processos e ganhos: Iniciar solucionando as maiores dificuldades do seu time e de seus pares pode facilitar a aceitação de uma nova cultura, novas ferramentas e novos processos. Considere isso na hora de priorizar por onde você começará a implementar mudanças. Lembre-se, você quer que usem as novas soluções propostas, nada melhor do que começar gerando valor e provando que esta nova cultura tem inúmeras vantagens.
  • Elabore indicadores úteis e garanta sua confiabilidade: Durante qualquer processo de mudança, existe uma certa desconfiança, receio… antes de lançar um novo produto de dados, certifique-se que ele seja consistente e não apresentará falhas ou que tenha um processo de monitoramento e qualidade para que não caia em desuso por falta de confiança de seu público-alvo que não hesitará em voltar imediatamente aos processos antigos já estáveis.

O que não é Cultura de dados?

Abaixo, algumas situações que já escutei relacionadas a Cultura de Dados e no meu ver, estão fazendo isso errado…

Caso 1: Situação exposta por um Coordenador de Vendas…
“Estamos implementando cultura de dados na empresa, pegando as planilhas que utilizamos para controlar nossas vendas, importando no PowerBI e gerando uma visualização mais dinâmica para mostrarmos na reunião de fechamento aos nossos gestores como foram nossas vendas no mês.”

Isso não é ter Cultura de Dados! Isso é apenas uma visualização de dados diferente da que mostravam em apresentações (ppt) por exemplo.

Caso 2: Situação exposta por um Analista de Dados que estava apoiando um gestor de vendas…
“Percebemos que as vendas na cidade X neste mês, foi muito menor do que historicamente é… fomos analisar mais a fundo os dados de vendas e vimos que alguns pedidos não formam lançados no sistema no mês atual, quatro vendedores não lançaram o pedido no sistema até o dia acordado (processo). Fomos entender o porquê os vendedores não lançaram e um informou que esqueceu, e outros 3 informaram que estavam aguardando um parecer do time de estoque (via e-mail) para ver se teriam o produto. Fomos até o time de estoque, e informaram que não receberam o e-mail informando e que realmente, faziam uns 15 dias que não lançavam os estoques de alguns produtos no sistema, pois a pessoa que fazia estes lançamentos estava de férias e eles não sabiam como fazia. E por último… fomos entender por que o vendedor informou que mandou o e-mail solicitando informações de estoque e o time de estoque disse que não recebeu… e o vendedor não mandou o e-mail para o e-mail correto (estoque@empresa.com.br), mas sim, para o e-mail da pessoa (fulano@empresa.com.br) que estava de férias.”

Aqui, quando começaram a comentar, até pensei que tinham uma Cultura de Dados bem consolidada, mas devido a falhas de processo e pessoas (treinamento por exemplo) expostas, ao questionar isso, fui informado que possuem uma equipe de dados bem consolidada, mas sem processos bem definidos e nenhuma ações de capacitação e adoção da cultura de dados em nível organizacional.

Caso 3: Situação exposta por um consultor, que foi chamado para iniciar a implementação de uma cultura de dados em uma empresa de vendas
“Ao chegar, no primeiro dia na empresa, fomos entender como funcionava o setor comercial e fomos recebidos pelo diretor de vendas. O diretor de tecnologia, que era primo do diretor de vendas, nos apresentou, falou qual era o objetivo da consultoria e antes mesmo do diretor de tecnologia terminar a fala, o diretor de vendas falou: ”Não sei se estou entendendo bem, mas isso ai que querem fazer, vai de encontro ao que faço hoje e qual seria meu papel aqui?”, o diretor de tecnologia se saiu muito bem explicando-o que, o objetivo era implementarmos algo que iria auxilia-lo e não substitui-lo”.

Nessa situação, vemos claramente que os esforços da consultoria seria mais na questão Cultura organizacional, visivelmente uma empresa familiar, completamente voltada ao feeling dos diretores (principalmente os que não estão alinhados ao novo mercado, que era o caso do diretor de Vendas).

Conclusão

Para concluirmos, uma frase de Suhail Doshi (CEO — Mixpanel):

“A maior parte do mundo tomará decisões adivinhando ou usando seus instintos. Eles terão sorte ou estarão errados.”

Organizações que aderem a uma cultura de dados (data driven) normalmente se favorecem de resultados mais eficientes, ágeis e com maior capacidade de traçar estratégias mais assertivas de negócio. Além de previsões mais assertivas, desenvolvimento ou aperfeiçoamento de produtos e/ou serviços mais adequados as necessidades de seus clientes etc.

Exemplo de empresas de sucesso, que são baseadas em dados, confiram seus cases:

· Magazine Luiza

· Netflix

· Uber

· Starbucks

· Ifood

· Itaú

· Nubank

· Spotify

· Disney

· Marvel

· Boticário

Acompanhe a série de artigos: Cultura de Dados: uma implementação na prática!

Agradeço pela leitura e espero que tenha sido útil…

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Cultura de dados — Tecnologia, pessoas e processos!

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