Teoria Stranger Things (I’m The Monster)
*Atualizado
Poucas séries te deixam sem palavras. Muitas pontas soltas geram muitas teorias (é por isso que tem teoria de LOST até hoje). Stranger Things foi meio que na contra-mão disso entregando uma obra “redondinha”. Basta dar uma procurada por teorias da série e você não irá achar grandes textos. Meio contraditório para uma das séries mais hypadas desse ano e que conquistou tantos fãs em tão pouco tempo. Alguns até a criticaram por ser “perfeitinha” demais, afinal, conseguiu condensar a história em 8 episódios sequenciais - sem encher linguiça - que vão mostrando algumas respostas quase que sem nos dar a oportunidade de fazer as perguntas. O fato de ser uma temporada curta diminui o material e cenas para embasar suposições, mas lá pelo 6º episódio eis que me surge um pensamento que logo exponho na minha conta do twitter:
Naquele momento era mais um desejo de algo que eu gostaria de ver do que uma teoria embasada em argumentos.
Após encerrar a temporada apareceu na minha timeline do facebook um link para uma teoria. Pessoas estavam comentando sobre o tal texto revelador tão maravilhadas que fui conferir. A teoria falava que toda a série não passava de uma simbologia para um suposto câncer do Will.
Gente, sério? Acho que até a teoria das crianças mortas no ‘Rugrats’ é melhor que isso. Logo reascendeu o fato de que meu pensamento sobre o “mundo invertido/futuro” poderia ter mais chances que aquilo. Foi então que conversei com meu cunhado sobre o que eu pensava, e ele começou a levantar pontos que colaboravam muito com o meu raciocínio. Pensamos “CARA, ISSO FAZ SENTIDO”.
Mas estamos na primeira temporada que contém só 8 episódios e, como comentei, não há muito material ainda, mas o suficiente para pensarmos juntos sobre alguns pontos.
Hawkins e a Ciência
Começamos pelo nome da cidade fictícia de Indiana, Hawkins, que lembra muito o sobrenome de uma das celebridades do mundo científico Stephen Hawkings, um dos maiores nomes no que diz respeito a teorias que tratam de física quântica, dobras no espaço-tempo e buracos de minhoca, explicada pelo professor Clarke unindo dois pontos de uma folha após furá-la com uma caneta, mesmo exemplo dado em filmes como Interstellar e O Enigma do Horizonte. Nesse caso, a fenda que vemos na série seria um portal que dobra o tempo e que leva o viajante para a Hawkins caótica do futuro (vamos chegar lá). Outro ponto interessante é que há algo relacionado ao campo magnético da fenda, que atrai a agulha das bússolas (bem observado pelo Dustin) para a HNL, onde a fenda se encontra. Assim como em LOST, era a manipulação do campo magnético que gerava os distúrbios do espaço-tempo na ilha, manipulação esta que demanda muita energia. Dr. Brenner não se instalou no Departamento de Energia localizado na cidade por acaso.
Você assistiria Montauk?
Pois é assim que a série iria se chamar originalmente. Mas por quê?
É aí que a coisa começa a ficar interessante…
Montauk foi supostamente uma série de projetos secretos do governo norte-americano localizado em Camp Hero, na Estação da Força Aérea de Montauk, Long Island, Nova York, entre final dos anos 1960 até 1983. Pesquisadores sustentam que secretamente o projeto pretendia desenvolver um conjunto de armas de guerra psicológica visando a supremacia na Guerra Fria entre EUA e URSS. A ideia era direcionar pulsos eletromagnéticos contra o inimigo para induzi-lo a sintomas de esquizofrenia.
Eram feitas também experiências em tanques de privação sensorial (igual aos que Eleven entra algumas vezes): ao unir o cérebro a um computador, a mente foi capaz não só de materializar objetos como também abrir uma fenda tempo/espaço possibilitando viagens no tempo através da mente.
O Projeto Montauk teria terminado de forma abrupta: em 1983 (ano em que começa Stranger Things), numa experiência ao conectar a mente com o hiperespaço, um pesquisador libertou sem querer um monstro vindo do futuro, destruindo completamente as instalações e matando diversos funcionários e cientistas (primeira cena do Ep.1 te diz algo?).
O cara russo
Ficamos sabendo pelo relato de Becky Ives que sua irmã, Terry Ives, havia se voluntariado no início dos anos 50 para uma organização clandestina da CIA chamada MKUltra (que existiu de verdade), onde aplicavam drogas nas pessoas e as colocavam em tanques de isolamento sensorial.
Essa é a mesma organização que raptou sua filha Jane (Eleven), pois a criança apresentava habilidades especiais devido aos experimentos terem acontecido enquanto sua mãe estava grávida. Tudo isso foi relatado com muito deboche e ridicularização da parte da irmã (uma das estratégias da CIA quando eram confrontados a cerca da MKUltra) que dizia que tudo não passava de invenção da Terry para superar o trauma de um aborto, o que me leva a pensar que Becky (única cuidadora e fora dos olhares de outras pessoas) pode muito bem fazer parte da conspiração e estar dopando a irmã para mantê-la quieta, já que em outros jornais vistos pelo Xerife, logo após a perda do bebê, Terry estava engajada em incriminar Dr. Brenner pelos maus tratos e rapto da criança.
Bom, é também num tanque que Eleven entra algumas vezes para acessar o Mundo Invertido mentalmente, tipo o Cérebro usado pelo Professor Xavier em X-MEN. É aí que ela encontra o homem falando russo (ele está cobrando alguém por ter vazado alguma informação aos americanos), e logo em seguida escuta o som do monstro. Um episódio depois Eleven encontra o próprio monstro naquele lugar.
*O que vemos no salão escuro com espelho d’água é o ambiente da consciência da El. Cada pessoa tem o seu salão escuro. A diferença é que ela consegue, uma de vez de cada, trazer para si aquilo que desejar, independete da distância. Mas o que intriga é: o que faz um homem russo no mesmo ambiente onde está o monstro? Como ela uniria realidades tão distintas?
Talvez uma dessas realidades não seja tão distinta assim. Talvez uma dessas realidades seja a própria conscência dela também. *(Edgar Damasceno) WHAT? Você vai entender…
Hawkins Invertida
Após El tocar no monstro no salão escuro (o que gerou um caos no tempo), a saída que a natureza encontrou para concertar esse desequilíbrio foi abrindo uma fenda entre o futuro e o presente já que dois seres haviam tido contato. A parede se racha onde, após algum tempo, se tornará a sala do portal em quarentena, no subsolo do laboratório.
É interessante ver o processo gradativo de “contaminação” desse andar.
O Laboratória já é, visualmente, igual ao mundo invertido. Não é muito difícil pensar que isso foi evoluindo até tomar conta de toda a cidade num futuro próximo. Note que no 2º Episódio quando a equipe do Dr. Brenner vai até a casa de Will atrás de pistas, eles encontram uma gosma se espalhando no galpão, onde o menino foi levado.
Outra cena interessante é a da mãe do Will encontrando um esqueleto humano no mundo invertido (ep. 8). Se o “Vale das Sombras” é só uma versão dark do nosso mundo o que faz um esqueleto que demonstra estar lá há bastante tempo? Se a cidade era pacata e sem crimes ou desaparecimentos, não pode ter sido um antigo rapto do monstro, mas o corpo realmente pertencia àquele lugar, o que nos indica que seres humanos já habitaram normalmente algum dia o outro lado. *(Rebecca Pauluci)
*Todos já sabem das referências aos filmes de Steven Spielberg na série, mas elas não se limitam só aos filmes antigos. Assim como em Minority Report (2002) os precogs, flutuando num tanque, tem visões do futuro, Eleven na piscina/tanque teria também visões do futuro. *(Lars Erick)
Agora, vejam as artes conceituais oficiais do artista Aaron Sims e pensem se isso não é muito mais parecido com um cenário pós-apocalíptico do que com um universo paralelo. Postes caídos, carros na estrada. Como as construções humanas apareceram do outro lado? A resposta vem no fato de que nós afetamos fisicamente o mundo “invertido”, como quando queimam o monstro no corredor da casa do Will e o chão fica marcado para Joyce e Hopper do outro lado, pois as nossas ações mudam o futuro, já ações lá só afetam eletricamente aqui, pois o que acontece no futuro não altera o passado.
O Mundo Invertido é a Hawkins do futuro que pode ter ficado daquele jeito naturalmente com a contaminação da fenda se alatrastrando pela cidade e/ou por algum evento catalisador que a série ainda vai mostrar. Independentemente, isso explica que o alcance desse caos é limitado. Pode ser que apenas Hawkins ou sua região esteja “invertida”, não o mundo inteiro.
“Se um portal existisse, ele poderia nos engolir” — Prof. Clarke
O monstro
Beleza, eu dei todo esse pano de fundo para tentar mostrar que o mundo invertido é a Hawkins no futuro, ou seja, é o mesmo mundo em tempos diferentes. Fiz isso para que desse ainda mais sentido para o que vem aí…
Em recentes entrevistas os produtores da série, irmãos Duffer, afirmaram algumas coisas interessantes, dentre elas Ross Duffer disse o seguinte:
“Sobre o Mundo Invertido, temos um documento de 30 páginas que explica sobre o que ele significa, *de onde o monstro veio e porque **não existem mais monstros…”
Ok, *primeira pista: o monstro veio de um lugar. Ele não pertence ao mundo “invertido”. Isso fortalece o pensamento de que o outro lado não é mal em si, não é invertido por ser. Um mundo caótico e oposto ao nosso num universo paralelo até poderia ter seu próprio monstro, mas se esse monstro não é de lá, da onde veio? Ele pode ter tornado Hawkins daquele jeito?
**segunda pista: só existe UM monstro. Se o MUNDO INTEIRO é invertido e paralelo ao nosso - como muitos acreditam -, por que o único monstro que habita nesse grande planeta estaria justo em Hawkins? Fortalece-se mais ainda a ideia de que só Hawkins está um caos, e que foi dominada pelo monstro, num futuro. E qual a ligação do monstro com a cidade? Então foi para a minha grande supresa que seguindo essa linha de raciocínio cheguei no fato de que…
Eu sei, ela é a queridinha da série, eu amo ela também. Mas a verdade é dura: Eleven/El/Jane É O MONSTRO.
Antes de me bater por isso, esse é o ponto que a série nos dá mais suporte para pensar dessa forma.
Calma, ela nem sempre foi o monstro, mas ao se sacrificar no final da temporada, ela encontra seu destino como em um looping temporal e se une ao seu futuro. A El é uma pessoa boa, corajosa e inocente, porém em consequência dos traumas e sofrimentos de anos nas mãos do Dr. Martin Brenner sendo abusada, usada, controlada, enclausurada, e outras coisas horríveis que se faziam com cobaias pela MKUltra, somada a sua genética mutante, sua transformação foi desencadeada. *Sua alma foi manchada, lembrem que ela já matou, no mínimo, umas 15 pessoas na série.
A cerca dessa personalidade dupla a série nos deu 2 referências:
- Demogorgon: o monstro do Dungeons & Dragons possui uma característica marcante: tem 2 cabeças, cada uma com sua própria personalidade. De acordo com o perfil canônico, cada uma delas fica arquitetando planos para destruir a outra e se libertar! Acho que é auto explicativo né?!
- X-MEN 134: No primeiro episódio, Will aposta uma corrida com Dustin (parêntese para a referência da velocidade preceder a viagem no tempo de Will para o mundo “invertido”, assim como aponta a teoria da relatividade) valendo uma HQ dos X-MEN ed. 134. Você não acha que isso não significa nada né? Pois a história tem TUDO a ver com a El.
Na HQ os X-Men são sequestrados e levados para o espaço. Quem resgata eles é a Jean Grey e o Wolverine, mas quando eles estão voltando para a Terra dá ruim e a Jean acaba se sacrificando. Só que ela não morre, e quando ressurge se auto denomina Fênix. Muito mais poderosa e perigosa. Essa entidade dentro dela vai sendo manipulada até ela virar a Fênix Negra. É nesse ponto que ela enlouquece e sai explodindo planetas e matando geral. O Professor Xavier consegue contê-la e a leva a tribunal para ser julgada pela galáxia. Ao invés do julgamento ele sugere um duelo a fim de salvá-la. Quando, no meio da batalha, Jean Grey sente que a Fênix Negra está acordando novamente, ela decide se sacrificar de novo.
Um resumão rápido para expor mais uma referência a uma personagem com personalidade dupla. Além do nome Jane, dado por Terry Ives à filha sequestrada (Eleven), se assemelhar muito ao de Jean vemos o claro paralelo aqui entre as histórias: a boa garota com poderes psíquicos que se sacrifica pelos amigos com o intuito de protegê-los de algo pior e de uma versão malígna dela mesma.
Fora esses grandes exemplos, há outras pequenas dicas que Stranger Things nos mostra:
- Artes Conceituais: junto das artes do Mundo Invertido, saíram também as artes conceituais para o monstro, que são ideias em cima do briefing que os produtores passam para os artistas até chegarem no resultado final que vemos na tela. Interessante que claramente o briefing passado é que o monstro deveria ser humanóide. Se simplesmente os artistas tivessem liberdade de criarem qualquer monstro, ele teria várias variações, mas todos tem 2 braços, 2 pernas e 1 cabeça, reforçando a tese de que o monstro já foi um ser-humano.
- Fome: Desde o início da série, se tem uma coisa que a gente nota é que El tem MUITA fome. Nenhum personagem aparece tantas vezes comendo quanto ela, são inúmeras as cenas. Até parece alguém que conhecemos e que é virado em boca, não é mesmo?
- Adeus, Mike: ao decidir enfrentar o monstro de vez na sala de aula, El olha para Mike e solta um “adeus”, como se soubesse seu destino. A cena seguinte mostra El com olhos vermelhos e rosto escuro, no sinal de que algo malígno a possuiu.
- Barbara: ao entrar no quarto da irmã de Mike, El olha uma foto de Barb e fixa seus olhos nela, como se já a conhecesse, mesmo que as personagens nunca houvessem se encontrado. Seria isso algum bug de memória, já que no futuro o monstro pega Barbara?
- 011: em toda a cena do monstro paralisado pela El, o quadro nunca mostra o braço esquerdo dele, pois é nesse braço que está tatuado “011”. Uma surpresa que ficaria para a segunda temporada? Outro ponto (CanalTech) é que o numeral é a junção de dois números iguais, simbolicamente sendo os dois lados da moeda: Eleven e O Monstro.
- *Castle Byers: Logo que Eleven vai até o Will no mundo “invertido” o monstro o encontra também. Isso porque a consciência de Eleven e a do monstro é compartilhada. O salão escuro pertence aos dois. O que ela descobre, ele descobre.
- Waffles: Xerife Hopper deixa a caixinha com waffles na Floresta das Trevas, mesmo lugar onde o monstro apareceu pela primeira vez para Will.
- *Quando os produtores falaram que não haveria outros monstros, pode ser que não no mesmo nível ou tendo a mesma origem. Mas isso não impede do único monstro procriar outros. Porém o interessante é que para procriar esse monstro deveria ser FÊMEA. Mais um ponto a favor.
- Eleven: WARNING: o artista heath hancock que criou todas as imagens, logos, outdoors e identidade visual para elementos que aparecem na série, também criou um modelo de sistema para computadores da HNL. Uma das imagens mostra:
.FILE: Eleven..
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- Eles estão envelhecendo: tecnicamente falando, o fato das crianças crescerem rápido seria um problema para uma produção que aborde universos paralelos, mas o que ampliaria e facilitaria se todos estivermos caminhando para o FUTURO.
Concluindo, já havia comentado que são apenas 8 episódios e pouco material, mas não me lembro de ter visto uma teoria que abraçasse tantas elementos e os encaixasse assim. No final de tudo vemos Will tossindo uma lesma na pia, o que pode desencadear numa aceleração da contaminação de Hawkins (uma vez que isso vai para o encanamento da cidade), e logo um bug temporal mostra a Hawkins do futuro. Será este o catalisador para o caos que há de vir? Enquanto todos estão preocupados com o menino, mais uma vez surge o comentário de Ross Duffer que diz:
“…deveríamos estar preocupados com muito mais do que só com Will.”
Teorias geralmente se encerram em si, essa teoria abre precedentes para uma trama global no decorrer de toda a série, que poderia ser uma busca dos personagens pelo impedimento do caos futuro da cidade. Algo que envolva um heroísmo por todos os cidadãos de Hawkins, e não um salvamento egoísta de um ou outro personagem.
Espero que tenha feito sentido (sou um pouco confuso na exposição de ideias), e comentem se tiverem descoberto algo a mais!
Agradecimentos:
Gabriel Andriotti (cunha)
Lucas Yamaguti (X-MEN)
Ron (por me contrariar)
Leitores (colaboraram nas atualizações)
Abraço,
Abner Pereira