Os judeus são uma “raça”?
Escrito pelo rabino Tzvi Freeman, traduzido por Abraão Luiz.
Embora exista um cluster genético judaico, muitas pessoas que o possui não são judias, enquanto outras que não possuem são. O DNA não te torna judeu. É algo muito mais profundo.
Vamos começar pelo início. O povo judeu surgiu com os descendentes de Abraão e Sara, Isaque e Rebeca, Jacó, Leah e Raquel. Os filhos de Jacó, provavelmente se casaram fora da família. Depois, houve uma "multidão mista" que veio com os filhos de Israel do Egito. Até a aliança no Monte Sinai, não havia conversão formal, e o judaísmo seguia a linha paterna. (Do Sinai em diante, o judaísmo passou a seguir a linha materna.)
A família real está ligada ao rei Davi, um descendente de uma convertida chamado Rute, cuja história é contada em um livro da Bíblia hebraica em homenagem a ela. Outro livro, a Megilat Ester, diz que "muitas pessoas da terra" se tornando judias durante o exílio persa.
No período da Mishná, alguns dos maiores sábios e líderes foram convertidos — como Onkelos, Shemaya e Avtalyon — ou descendentes de convertidos, como o rabino Akiva e o rabino Meir. Conversões em massa podem muito bem ter ocorrido em Canaã, Iêmen e no Cáucaso. Hoje existem judeus africanos, japoneses e até judeus inuítes. Parece difícil chamar essa mistura de “raça”.
De fato, os cientistas continuam discutindo se o termo raça tem algum significado útil ao classificar os seres humanos. O racismo é uma ideologia sociopolítica morta no holocausto e foi enterrado pelos movimentos pelos direitos civis para todas as pessoas pensantes. Deveria ser óbvio para todos que aprenderam a história do século passado que a humanidade não pode mais se dar ao luxo de discriminar por raça ou composição genética, se quisermos sobreviver neste planeta.
Raça tem algum significado útil ao classificar os seres humanos?
No entanto, é incontestável que certos grupos formam grupos nos quais certas propriedades genéticas são mais comuns do que para a humanidade como um todo. É importante entender esses agrupamentos, pois eles nos ajudam a entender identidades e alianças nacionais, bem como a herança genética.
Uma vez que os judeus se “casam entre si” há vários milhares de anos, sim, existem certas características que são distintamente comuns entre os judeus — c omo entre os inuítes, islandeses, amish, o povo basco e outros. Por outro lado, como há espaço para conversão, esses recursos não são onipresentes no grupo.
Uma característica que se destaca no cluster judeu: a pontuação média de QI verbal entre judeus é 120. Traduzindo isso em porcentagens, descobrimos que o judeu médio é um em cada dez, se sobressaindo em relação a 91% da população. Isso pode explicar por que os judeus, em apenas 1,4% da população americana, representam 22% dos estudantes da Ivy League (Liga Ivy), 20% dos chefes executivos americanos e ganharam 25% dos prêmios Nobel concedidos a cientistas americanos (não incluindo judeus nascidos fora do EUA como Albert Einstein) desde 1950 — 32% dos laureados no século 21 no mundo — e 52%(!) dos prêmios Pulitzer para não-ficção (a chave é o QI verbal).
Mas isso está tudo nos genes? Até agora, nenhuma real evidência. Não foram encontrados “genes judeus” para as pontuações de QI, nem para a inovação científica (embora mais de 500 genes tenham sido encontrados relacionados à inteligencia, portando, podemos não estar longe). Também não conhecemos nenhuma base genética para a caridade, mas os judeus dão muito mais caridade do que outros na mesma faixa de renda e compõem um número altamente desproporcional dos principais filantropos da América (19 dos 53 principais e cinco dos seis primeiros em 2015 de acordo com a Crônica de Filantropia). Isso é biologia ou é cultura?
Ainda precisamos encontrar evidências de que a inteligência judaica ou filantropia tem origem genética.
Tudo o que os geneticistas sabem até agora é que certamente há um “cluster” (aglomerado) de DNA judeu típico [um cluster que define uma típica composição genética judia]. Eles também foram capazes de identificar vários haplotipos — marcadores na estrutura cromossômica que surgiram de um indivíduo e foram transmitidos desde então. Isso permite que eles se aproximem da idade desses recursos exclusivos, justamente com uma estimativa da origem geográfica. A máquina do tempo dos nossos genes mostra que a maioria dos judeus tem uma ancestralidade compartilhada que remonta à antiga Israel. Quaisquer teorias concorrentes terão que argumentar com ciência complexa e exata.
Costumeiramente, um ou outro oportunista tenta desmembrar geneticamente o povo judeu. No entanto, à medida que a ciência melhora nesses assuntos, todas essas tentativas são apenas um tiro pela culatra. Em 2015, 30 pesquisadores de nove países reuniram seus dados para criar “o maior conjunto de dados disponível até o momento para avaliação das origens genéticas judaicas ashkenazi”. Eles concluíram sua análise com uma declaração:
Confirmamos a teoria de que os judeus asquenazes, norte-africanos e sefarditas compartilham entre si ancestralidade genética substancial e que a derivam de populações do Oriente Médio e da Europa, sem indicação de uma contribuição detectável dos khazares para suas origens genéticas.
Mesmo assim, pela perspectiva da tradicional lei judaica (Halacha), um teste de DNA demonstrando um “DNA judaico típico” não é um cartão branco de entrada dentro da tribo. Afinal, se sua ascendência é europeia, há cerca de 90% de chance de algum percentual de DNA judeu aparecer lá. Isso se deve ao fato de muitos judeus ao longo dos tempos terem sido forçados a se converterem ou simplesmente deixaram o rebanho devido às dificuldades envolvidas.
Por outro lado, existem comunidades inteiras de judeus sem nenhum haplotipo típico judaico, como os Bene Israel na índia, que são considerados judeus segundo os padrões ortodoxos. Isso significa que eles não são descendentes de Abraão? Não necessariamente. Talvez eles estivessem isolados antes que estes marcadores genéticos aparecessem.
Isso significa que você precisará de evidências de que sua mãe é judia, não importa o quão kosher seja seu DNA.
A ancestralidade comum, portanto, não faz uma raça, nem a prova de que você compartilha lhe garante uma cidadania. Por outro lado, também não implica exclusividade.
O auto-conceito tradicional judaico é de que os judeus compreendem uma família mantida unicamente por uma aliança com D’us aceita no Monte Sinai. Qualquer pessoa nascida nessa família está lá para a vida toda — assim como você não pode se divorciar de seus pais, você não pode desfazer seu judaísmo. Um judeu que se chama por outro nome ainda é judeu.
Por outro lado, assim como você pode nascer em uma família, também pode ser adotado — o que é fundamentalmente o que é a conversão. E novamente, uma vez dentro, é um nó que não pode ser desfeito. Somente para dar esse nó, você precisará aceitar a mesma aliança em que entramos e a missão que nos foi entregue no Monte Sinai, há mais de 3300 anos, perante um tribunal de judeus qualificados.
Os judeus estão mais unidos do que qualquer DNA ou ideologia poderia nos unir. É um vínculo eterno que é mais profundo do que qualquer vínculo.