Trabalho e inspiração

Adriano Ialongo
3 min readSep 12, 2018

--

Não lembro um só dia da minha existência que eu não quisesse trabalhar.

Quando criança, mesmo sem poder trabalhar, eu já queria.

Não fui pobre-miserável, mas ver minha mãe enfrentando diariamente a vida para (sobre)viver, me causava uma sensação de que eu precisava fazer algo, mesmo tão incompetente à época.

Um pouco maior, já com meus 14 anos, comecei a ajudá-la, trabalhando no que fosse.

Com 16, emancipado, “abri” minha micro (bem micro, mas muito micro) empresa, junto da minha mãe. Vendia doce, bala, chiclete (“não fecha o vidro que não sou Pivete”; ops… lembrei da música “Pátria que me pariu”, do Gabriel Pensador). Além dos doces, vendíamos aos lojistas as famosas “besteiras”: bolacha, salgadinho, miojo etc. Eramos um pequeno atacadista móvel.

No começo era um fusca, cheio de tranqueira. Depois passamos para uma kombi, a famosa “Maria Quitéria”. A “Kombosa” era só lata, motor, cambio, bugigangas e amor.

Faturamos bem no começo, mas quebramos por dois motivos: vivemos do capital que tínhamos (erro primário de gestão, misturar orçamento pessoal com a empresa) e desmotivamos.

A desmotivação veio por causa dos assaltos, cinco à época, com arma apontada e tudo(detalhe: minha mãe é daquelas “velhas” que saem gritando na rua e querem bater no bandido… imagina o perigo, com direito a coronhada na cabeça numa das vezes), e também por causa da inadimplência dos clientes.

Eu nunca vendi para pessoa física, ou seja, o consumidor final. Sempre vendi para pessoas que fariam dinheiro com o que eu estava vendendo. Para mim, mais do que doces, eu oferecia oportunidade das pessoas ganharem dinheiro. E aqui vale uma observação: a mercadoria que tinha vendido ao lojista já tinha sido comercializada ao cliente e, mesmo assim, ele não nos pagava. Eu ficava “PUTO!”. Ah… se o lojista não vendesse, eu até trocava, porque me importava com o giro da mercadoria. Em outras palavras: eu acreditava piamente que o importante era a rentabilidade do meu cliente (o lojista). Eu realmente vendia oportunidade de ganhar dinheiro. Mas, sem perceber, alguns tiravam a minha.

Com pouco mais de 18 anos, quebrado e negativado, vendi a “Maria Quitéria” por preço de “doce” (ou de “banana”, se preferir) e fui trabalhar na rua de bicicleta e depois a pé. Bom… essa segunda parte da história vai longe, outro dia eu conto. Mas garanto que já vendi de tudo, menos minha mãe, só porque não tinha reposição mesmo (brincadeirinha… se quiser faço um preço bacana!).

A parte que importa dessa história é a motivação, razão propulsora da vida, do crescimento e da realização.

Motivação é aquele desejo que te faz sair da cama feliz porque acordou.

Motivação é não se importar porque é segunda-feira.

Motivação é a realização de fazer algo maior do que simplesmente trabalhar.

Motivação é sem dúvida alguma a diferença de uma pessoa ser realizada porque conduz com segurança e carinho passageiros aos seus destinos de ser só taxista.

Motivação não está no que você faz, mas como faz.

Bom… Eu perdi lá atrás, quando me decepcionei com a minha micro-distribuidora de doces. Porque quebrar, todos quebram! Mas se erguer, só faz aquele que crê. Perder a crença e a motivação é perder a essência do negócio. É, sem dúvida alguma, trabalhar por trabalhar. E eu odeio isso!

Saudades, Maria Quitéria… Obs: essa foto não é da Maria Quitéria, que jamais foi vista ou encontrada depois da dolorosa despedida.

--

--