Na Chicago dos anos 30: Uma resenha de “Os Intocáveis” (1987)

por Karina Aquino

Karina Aquino
4 min readFeb 10, 2022

Resenha inicialmente escrita como proposta final da Escola de Cinema oferecida pelo Coletivo Fora da Asa de Porto Alegre. Por se tratar de um texto que explora características do filme e de seu diretor, possui spoilers.

Primeiramente, é preciso dizer que Brian De Palma é um mestre em referenciar outros mestres do cinema mundial, diversas cenas nesse e em outros filmes de De Palma é possível observar referências a outros diretores, principalmente a Hitchcock. Dito isso, deixo a resenha para vocês lerem!

Chicago, 1930.

A lei seca já vigorava a 10 anos, em uma cidade em que o contrabando de bebida alcoólica ascende a violência e a barbárie, o detetive Eliot Ness (Kevin Costner) agente do departamento do Tesouro é convocado para liderar uma equipe para acabar com essa prática e consequentemente para derrubar o chefão, Al Capone (Robert De Niro).

Essa é a premissa do filme, uma ficção baseada em fatos, Os Intocáveis que se passa durante a lei seca nos Estados Unidos, em uma Chicago esquecida dominada pela corrupção dentro e fora da polícia, a luta entre Ness contra Capone é o plano central desse longa de Brian De Palma, que com tamanha maestria consegue nos transportar para 1930, apresentando figurinos impecáveis pelas mãos de Marilyn Vance, com o guarda-roupa fino de Giorgio Armani e roteiro de David Mamet, a obra passa longe de ser apenas mais um filme de gangster.

Com cenas violentas, densas e bem colocadas no roteiro, o filme se torna uma obra a ser apreciada com atenção, em seus 119 minutos de duração, o diretor Brian De Palma faz uso de câmeras muito bem posicionadas e complexas, nos levando pela emoção ao apresentar os personagens que lutarão contra o poderoso Al Capone. Logo no início do longa temos uma belíssima demonstração de uso de câmera contínua, ao acompanhar a esposa de Ness em casa, na cozinha que sai em direção ao detetive que se encontrava em outro cômodo, ainda sem revelar completamente a identidade do personagem principal, só o vemos de nuca e seguido por um leve perfil, e somente depois vem a aparecer o personagem por completo, criando uma atmosfera enigmática no mesmo desde a sua primeira aparição “quem é esse homem que vem para lutar contra Al Capone?”.

Descrito como um homem determinado, puro, adorável pai de família e agente implacável que busca seguir a lei fielmente, “Vou até onde a lei permitir”, o detetive Eliot Ness em sua busca por “fazer cumprir a lei” monta uma equipe na qual mais tarde viria a ser nomeada como Os Intocáveis, composta por Jim Malone, interpretado por Sean Connery, que chegou a ganhar o Oscar e o Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante, Charles Martin Smith, como Oscar Wallace e Andy Garcia como George Stone que infelizmente não apresentou uma boa performance, ficando ofuscado pelos demais protagonistas, o que não interfere na boa execução do filme.

Outra marca de De Palma bastante usada neste longa é o uso de câmeras em plongée e contra-plongée muitas vezes quase ou em zenital, marca do diretor que também aparece em outros filmes como Missão Impossível e Vestida Para Matar, inserem uma dramatização a parte, principalmente quando o personagem representado por Robert De Niro aparece, a câmera o acompanha em contra-plongées firmemente marcados que ratificam ainda mais o poder de Al Capone, inclusive na cena final do tribunal onde a câmera muda para um leve plongée, logo que perdeu o seu poder.

É inegável o quanto os posicionamentos de câmeras de De Palma influenciam em como a cena ou o personagem será visto pelo espectador que não consegue desgrudar o olhar da tela. O uso de câmera subjetiva na cena de morte de Malone, onde nos entrega indícios do que vai acontecer, porém com o uso desse tipo de câmera, deixa tudo mais pesado, nos levando a acompanhar o desenrolar da situação com total incapacidade de intervir, deixando claro que se trata de uma ficção, essa tensão que aparece em outras cenas do longa mostram a habilidade de De Palma em brincar com o espectador e mostrar ao mesmo tempo que parecemos fazer parte do filme e nos choca pela realidade de sermos apenas espectadores.

O filme é digno de estar entre os clássicos do cinema, não somente pelo roteiro, ambientação e figurino, mas principalmente pela forma que a câmera é muito bem utilizada durante todo o longa, ela é uma atração a parte, polida e bem direcionada, o que compõe junto com a arte de De Palma em referenciar outros diretores, a exemplo da cena da escadaria da estação, uma clara referência ao Encouraçado Potemkin (1925), o motivo de esse filme ser uma obra que merece sempre ser lembrada. Um filme que envelheceu perfeitamente bem e que para os bons cinéfilos, com certeza não pode faltar em sua lista.

E você, já assistiu a esse filme? Se já, o que achou? Deixe nos comentários.

Ficha Técnica

Filme: Os Intocáveis / The Untouchables

Diretor: Brian De Palma

Roteiro: David Mamet

Lançamento no Brasil: 22 de Outubro de 1987

Classificação no IMDB: 7,9/10

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Karina Aquino

Escrevo quando dá sobre o que dá... Tem dias que é fogo!