#FIcaMCTI e #ForaTemer dão o tom da manifestação contra fusão de ministérios
Discursos inflamados defenderam o retorno do financiamento à CT&I aos patamares de 2013 e apontaram como decisões do governo interino impactam negativamente as áreas de Ciência, Educação e Saúde
Sílvia Amâncio (ESP-MG)
pela Agência RMCC
Aos gritos de “Fica MCTI” e “Fora Temer” participantes da 68ª Reunião da SBPC fizeram na tarde de hoje mais um ato de cientistas em defesa de uma pasta exclusiva para a ciência, tecnologia e inovação, rechaçando a decisão do governo interino de criar o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações a partir da fusão do MCTI com o Minicom.
O evento foi convocado pela direção da própria Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), que decidiu, em reunião do conselho diretor, posicionar-se explicitamente contra a extinção de um ministério que existia há 35 anos e, no entender da comunidade científica, foi fundamental para a consolidação de um sistema nacional de ciência e tecnologia. Na avaliação da SBPC, sem um ministério exclusivo o Brasil não teria conseguido sair da 21ª posição em produção científica para a 13ª em apenas 20 anos.
O posicionamento da SBPC contra a extinção do MCTI, e a criação do movimento #FicaMCTI, foram definidos em 11 de maio passado, quando a entidade e outras 13 instituições de ensino e pesquisa divulgaram manifesto conjunto contra a decisão do governo interino. O manifesto defende que cada vez mais o “MCTI deve ser reforçado, com financiamento adequado e liderança que olha o futuro, para que possa cumprir eficazmente sua missão de beneficiar a sociedade brasileira com os resultados da ciência e da tecnologia e promover o protagonismo internacional do País. Diminui-lo pela associação com setores que pouco têm a ver com sua missão compromete aquele que deve ser o objetivo último das políticas públicas: garantir um desenvolvimento sustentável nos âmbitos, econômico, social e ambiental”.
Em seu discurso no evento, Helena Nader afirmou que a extinção do MCTI atinge pesquisadoes, professores, estudantes e trabalhadores de todas as instituições de ensino no país. “Temos que evitar um caos maior. A SBPC tem sua luta assumida publicamente contra a extinção do MCTI e sua fusão com as Comunicações. A ciência no Brasil não pode parar”, enfatizou.
Em sua fala, a presidenta da SBPC posicionou-se contra a diminuição de recursos, que chegaram em 2016 a equivaler-se a 50% dos valores investidos em 2013, ainda que no mesmo período o Brasil tenha tido um aumento no número de mestres e doutores. “O Brasil é a 9ª economia do mundo e querem congelar investimentos em educação e saúde por 20 anos. Com nossas demandas e necessidades, esses recursos são insuficientes”, afirmou.
Para Williame Carvalho, docente da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), a fusão das duas pastas é uma perda política e social e deixa uma sorte de órfãos de ações de desenvolvimento científico. “O MCTI aglutina projetos estratégicos, diferente das Comunicações que têm suas prioridades, são atuações distintas. O ato hoje da 68ª Reunião da SBPC é simbólico e potente, pois a SBPC historicamente pautada por questões republicanas e democráticas resgata suas origens, volta as suas raízes”, afirmou.
Vozes
Otavio Velho, do Museu Nacional do Rio de Janeiro, destacou que a política adotada pelo governo interino, com o fim do Fundo Soberano do Pré-sal, afeta todos os brasileiros, uma vez que vai diminuir e até extinguir os recursos para saúde, educação e pela popularização da ciência. “Hoje vemos um desmonte de políticas públicas que levaram anos para serem contruídas e consolidadas, comprometendo as próximas gerações”, enfatizou.
Adam Ferreira, estudante da Universidade Estadual Paulista (Unesp), falou sobre as perdas das estratégias de democratização da ciência e tecnologia com a união das pastas. “O governo interino, além de anti-democrático, promove um retrocesso no acesso à educação de qualidade e avanços no país. A sociedade brasileira está sem voz, sem representação, guiada por um modelo obsoleto e opressor de fazer política”, disse.
Pluralidade de opiniões
A manifestação #FicaMCTI também foi espaço de manifestação de pesquisadores contrários ao governo interino, que cobraram posicionamento institucional da SBPC pela bandeira #ForaTemer (confira vídeo acima). Sem posição uníssona sobre o assunto, a entidade não assumiu explicitamente esse posicionamento, o que levou a questionamentos diretos à presidente da entidade, que explicou: “a SBPC é uma entidade sem cor política partidária e nossa sociedade não está unânime em posições. Cada um de nós tem a sua convicção tem sua convicção bem clara. Quero deixar claro porque a SBPC não está participando do segundo slogan (Fora Temer). Indivíduos podem. A sociedade não”.
Coordenador do Espaço Ciência da Universidade Federal de Pernambuco e conselheiro da SBPC, Antônio Carlos Pavão, puxou o coro “Fora Temer” e foi incisivo em cobrar o posicionamento da SBPC, levando a presidente Helena Nader a entregar o cargo. Diretores da entidade lembraram que o posicionamento da SBPC deve ser decidido em assembleia de sócios e que o assunto pode ser levado à reunião ordinária que ocorre na noite desta quinta-feira (7/7). “Não somos uma entidade monolítica e as diferentes posições políticas estão aqui dentro, estão representadas, e devem se manifestar […] Esse ato foi convocado em função dos pontos para os quais havia unanimidade. O mais importante é continuarmos na luta pelas nossas questões, menores e maiores”, contemporizou.