A publicidade também pode enfrentar o bullying e estimular a diversidade

São diversos os modos das empresas contribuírem para estas importantes causas sociais.

Verbo Comunicação
5 min readNov 7, 2018

Por Tiani Zilli, Produtora de Conteúdo

É cada vez mais cedo que as crianças têm contato com a publicidade, por meio da televisão ou da internet. Muitas vezes, são essas mídias que fazem companhia para elas e substituem momentos familiares dentro de casa.

Segundo uma pesquisa realizada pela Tic Kids Online Brasil, em 2016, 69% das crianças e adolescentes acessaram a internet mais de uma vez por dia, 62% tiveram contato com publicidade pelas redes sociais e 43% pediam aos pais para comprar algo que viram nas propagandas.

Hoje, no Brasil, existem leis que regulamentam a publicidade direcionada para crianças. Esse conjunto de regras existe desde 1978 e teve a sua primeira grande atualização em 2006, quando os índices de obesidade infantil se mostraram altíssimos. Essas mudanças tiveram o objetivo de regular as propagandas de alimentos e bebidas que eram feitas diretamente para crianças. Em 2013, houve outra mudança, com o objetivo de não permitir o merchandising em programas dirigidos ao público infantil.

O poder de persuasão da publicidade para este público é muito grande. As agências têm um importante papel no desenvolvimento das crianças, uma vez que os materiais que criamos influenciam diretamente suas ações e desejos.

É por esse motivo que, além das escolas, a publicidade também pode estimular a diversidade e contribuir para o combate ao bullying, prática de agressão que intimida, humilha e machuca as pessoas.

Reconhecendo o Bullying

De acordo com os dados levantados pela UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) no início do mês de setembro de 2018, um em cada três alunos de 13 a 15 anos é vítima de bullying e, apesar do risco ser o mesmo, as meninas possuem uma probabilidade maior de sofrer violências psicológicas e os meninos, violência física.

Segundo a professora do departamento de psicologia da educação da UNESP-Araraquara, Luciene Regina Paulino Tognetta, os motivos que levam uma criança ou adolescente a praticar bullying nem sempre são exatos, mas normalmente vêm da ideia que o agressor tem de si mesmo e da necessidade de ter uma “boa imagem”, rebaixando as pessoas ao seu redor que julga “diferentes”. O bully (pessoa que pratica bullying) não possui uma sensibilidade moral: embora entenda que pode estar causando dor, ele não demonstra sensibilidade a isso.

A publicidade tem uma atuação fundamental contra o bullying. Ela pode expor os seus perigos, mostrando a realidade de quem sofre esse tipo de agressão e o que nós, que estamos vendo isso acontecer, podemos fazer. Bons exemplos disso são as propagandas do Burger King e da própria UNICEF.

Para a criação desta peça de 2017, o Burger King realizou um experimento social: com a ajuda de atores adolescentes, a empresa recriou cenas de bullying em seu próprio estabelecimento, a fim de descobrir quantos consumidores fariam algo contra aquela violência. Ao mesmo tempo, um ator adulto foi orientado a “praticar bullying” com lanches vendidos pela rede, amassando-os e servindo-os em péssimos estados de conservação.

Ao final do experimento, a empresa teve os seguintes resultados: enquanto 95% dos consumidores reclamaram dos lanches, apenas 12% reagiu ao bullying sofrido pelo adolescente. Nos depoimentos apresentados no vídeo, um dos consumidores que reagiu ao bullying e ajudou a proteger o adolescente diz: “Sentir-se incapaz de se defender é uma das piores sensações do mundo. Eu já fui essa criança [indefesa], então se eu vir algo assim acontecendo, eu vou fazer algo a respeito e espero que mais pessoas façam o mesmo”.

Por sua vez, o vídeo produzido pela UNICEF faz parte de uma campanha mais ampla criada especialmente para combater o bullying, lançada no mês de outubro de 2018. Como parte dessa ação, a instituição lançou um concurso de histórias em quadrinhos de super-heróis contra a violência no ambiente escolar.

O vídeo em si apresenta o maior vilão das práticas de bullying — o SILÊNCIO. Na peça, vemos ilustrações que apresentam o Monstro do Silêncio como uma figura que acompanha constantemente aqueles que sofrem bullying, uma entidade invisível às outras pessoas e que precisa ser enfrentado.

A votação para as histórias em quadrinhos finalistas será lançada durante o final de novembro deste mesmo ano e o vencedor da campanha será anunciado logo em seguida, em dezembro. Em julho de 2019, a UNICEF promete lançar mundialmente o quadrinho e promover ainda mais as ações de prevenção e de combate ao bullying.

A Importância da Diversidade

Outra maneira que as empresas podem colaborar no combate ao bullying é mostrando a diversidade de culturas e de pessoas em seus materiais. É preciso incorporar a cultura da inclusão e diversidade, não somente nos materiais publicados, mas dentro das agências também. Se a equipe é plural, são muito maiores as chances de colocar no mercado mensagens inclusivas, que despertem empatia e atraiam o interesse dos mais diversos tipos de pessoas.

Neste caso, podemos citar como exemplos as seguintes propagandas da Skol e do O Boticário:

“Ninguém é diferente de ninguém; ao mesmo tempo, ninguém é exatamente igual a ninguém”, diz a peça de 2017, que apresenta pessoas de diferentes estilos, gêneros e mesmo faixas etárias curtindo o verão, juntas. Apresentando o conceito multicolorido como mote, a peça também afirma: “Preconceito ninguém quer ver, nem pintado”.

O filme do Dia dos Pais do O Boticário recebeu bastante atenção de diversos grupos como um exemplo de representatividade, por ser um dos primeiros do ramo a apresentar uma família negra brasileira durante toda sua extensão. Muitas vezes, a peça é relacionada ainda a outra veiculada pela empresa no Dia dos Namorados, em que o Boticário apresentou tanto casais heterossexuais quanto casais homoafetivos.

A busca pela diversidade reflete o posicionamento das empresas e das agências em relação a esses aspectos sociais. Assim, para que esta prática se consolide, é necessário que os envolvidos a entendam e a desenvolvam como seu próprio valor.

Desse modo, não apenas dialogam diretamente com um público que antes não era representado e que gera resultados significativos em diversos sentidos, mas também colaboram para uma sociedade mais saudável e com muito mais empatia ao próximo.

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