Agentman+1
9 min readMay 11, 2024

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PowerSlave / PowerSlave Exhumed
[SEGA Saturn & Nintendo Switch]
FPS Clássico com Algo Mais…

Antes de mais nada, devo informar que a jogatina foi em “dupla jornada”, primeiro jogando algumas fases no Saturn e depois igualando as mesmas no Switch. Dessa forma as diferenças e similaridades poderiam ser mais facilmente apontadas. De toda forma, o relato abaixo seguirá falando apenas da versão do console clássico da SEGA e, mais ao final, indicarei os pontos comparativos com a versão moderna do Switch.

Tela Título de PoweSlave / PowerSlave Exhumed (SEGA Saturn / Nintendo Switch)

Powerslave se apresenta na temática egípcia e foi lançado para os consoles de 32 bits Saturn e PlayStation em 1996, sendo que o PC recebeu sua versão logo depois. O interessante é que cada versão conta com diferenças significativas, e por incrível que pareça, foi nos consoles que o jogo brilhou mais, em especial na versão aqui relatada.

Nomes diferentes para regiões diferentes: ao centro, a versão japonesa 1999 AD: Resurrection of the Pharaoh (西暦 1999:ファラオの復活, Seireki 1999: Pharaoh no Fukkatsu

Powerslave foi um FPS bem inventivo para o seu tempo. Não digo que foi revolucionário, pois aí tomaria o posto de DOOM, o que claro, não é o caso.
Todavia, a evolução que Powerslave trouxe para o gênero é digna de colocá-lo num pedestal próximo ao clássico supremo da ID Software.

A água usa transparência em dithering, mas o efeito é bacana (SEGA Saturn)
Você vai passar muito por aqui (SEGA Saturn)

A história gira em torno da invasão da terra por uma horda de insetóides malignos alienígenas controladores de almas no final do século XX. Poucas almas, aliás, restaram e dentre elas, um grupo de elite designado para descobrir que raios aconteceu ali na região do Nilo, no grande templo de Karnak. Só que chegando lá, o helicóptero dos mocinhos foi alvejado, sobrando para você, aparentemente o único que restou vivo, enfrentar o mal. Mas não se desespere, pois o Rei Ramses irá ajudar, atuando como um guia em sua jornada.

Quando a coisa aperta, sobra sempre pra tu (SEGA Saturn)
Brother Ramses irá te dar aquela força, guiando a jornada (Nintendo Switch)

Graficamente, o game é muito bonito, ainda mais para o SEGA Saturn, que àquela altura, quase em 1997, só mostrava todo seu potencial na mão dos mais habilidosos times de desenvolvimento. A Lobotomy Software, já em seu primeiro game totalmente próprio, se sobressaiu. A engine criada é incrível, entregando efeitos nunca antes vistos no console, em especial o efeito de iluminação dinâmica. Raios passando em corredores são sensacionais, além dos efeitos em ambientes alagados.

Os caras eram bons mesmo
É bonito de se ver, mas fica parado ai na frente do tiro, seu bobão! (SEGA Saturn)

“FPS Clássico com Algo Mais…” não é exagero e foi a saída que encontrei pra não ter que escrever muito num espaço reservado apenas para as características principais de um jogo quanto ao seu gênero.
É certo que praticamente todos FPS aluno de DOOM conta com um vai e vem danado dentro das fases, seja para encontrar chaves, passagens secretas, etc. Mas Powerslave leva isso muito a sério e o backtracking faz o jogador retornar para fases anteriores e encontrar outro caminho que o leva para novas fases! O jogo então se bifurca várias vezes e essa não linearidade acrescenta muito à experiência do jogador.
E por consequência, novos caminhos levam a novos poderes (ou vice-versa), agregando mecânicas à já ótima jogabilidade.

Na parede os hieróglifos estão avisando — Deu ruim!

E por falar em jogabilidade, os desenvolvedores fizeram um bom trabalho nessa área, dando funções importantes a todos os botões do controle do Saturn/PS1. Na era pré analog stick, a movimentação era executada pelo direcional convencional mesmo, com ajuda de outros botões para se movimentar pelos eixos. Como joguei a versão de Saturn, busquei experimentar o controle 3D da SEGA, lançado para se jogar Nights - Into Dreams e pra minha surpresa, me adaptei muito bem a ele. O direcional análogico caiu como uma luva para o jogo.

Controle bonito, controle bem feito, controle formoso

O departamento sonoro é surreal. A trilha, claro, remete ao antigo egito e é dividida em temas bem agitados com instrumentos típicos da região e outros utilizados como som ambiente do tipo selvagem, aquático, montanhoso ou vulcânico. Belo trabalho de Scott Branston. E a “cacofonia” de tiros, explosões, urros, zumbidos e grunhidos é o que mantém o jogador imerso naquele ambiente tão exótico.

O cara é braaabo…

Quebrando vasos ou matando inimigos, há o drop de itens que preenchem a barra de energia ou munição, além itens de boost no rateio de ataque e invencibilidade, ambos com efeito temporário. Para somar mais barras de vida, procure por Ankhs. Um item não presente na versão de PS1, o All-Seeing Eye, aprimora o mapa do jogo.

O Olho Que Tudo Vê
Melhor sair daqui pra não gastar a sola das Sandálias de Ikumptet

Outro tipo de item, os chamados “ artefatos” conferem poderes também pegam carona na mitologia egípcia:

  • Sandálias de Ikumptet - seu pulo agora alcança lugares mais altos;
  • Máscara de Sobek - para respirar debaixo d’água;
  • Xale de Isis - cair de grandes alturas não é mais um grande problema;
  • Tornozeleiras Protetoras - oferece proteção total ou parcial a ambientes hostis, como piscinas ácidas e poços de lava;
  • Cetro de Kilmaat - desativa escudos de passagens que antes eram impossíveis de serem ultrapassados por você; e
  • Pena de Horus - que tal voar como um deus?
Horus, segurando um Ankh, a chave da vida
Os Artefatos (SEGA Saturn). E use o Xale de Isis para não quebrar muito a cara por aí (Nintendo Switch)…

As armas que podem ser encontradas no jogo são um show a parte. No começo o jogo oferece um facão e um revolver padrão, ótimo para lidar com os escorpiões. E logo aparece uma metralhadora. Bombas aparecem depois, mas é bom guardá-las para situações mais complicadas (e claro, abrir passagens secretas). Avançando, o jogador é agraciado com lança-chamas e bizarrices como o cajado de cobra, anéis de Rá e uma manopla do poder (não, não é a do Thanos, mas serve bem).

Tá meio estranho aqui, hein… (SEGA Saturn)
Ahááá! Eu sabia! (Nintendo Switch)

Em se tratando de inimigos, a “fauna” de Powerslave é deveras diversa.
O já falado escorpião, é mato nos arredores de Karnark. Temos também águias atacando em rasantes, formigas super desenvolvidas e piranhas famintas. Sem falar de humanos personificando Anubis e dominados por forças malignas, múmias ambulantes e toda a sorte de insetos gigantes.

Haja Detefon pra lidar com esse insetinho aqui

A AI dos distintos oferece um bom desafio. Eles tentarão te jogar em armadilhas a todo o momento. E é uma boa idéia não ser pego de surpresa, especialmente se estiverem em grupos (dica de resvista). Mas o grande vilão mesmo são os perigos do cenário. Há várias situações em que o veradeiro desafio é dar o pulo perfeito em cada plataforma, pois se cair, será mais um game over.

Use sua machete para afiar os dentes desse peixinho de aquário (SEGA Satur)
Fiz raiva nessa aí, então ela ficou uma fera comigo (SEGA Saturn)

Uma passagem em especial é bem desafiadora, onde o protagonista tem que cair flutuando em um fosso cercado de lava, então encostar o mínimo que seja em qualquer lugar, arranca uma boa parte da energia. Morrendo, volta pro último save, que é fixo e pode estar bem longe (até em outra fase). Então, nada de facilidades nesse sentido.

Pra não virar churrasquinho, melhor nem triscar (Nintendo Switch)

Outra situação bem complicada, em que demorei bastante pra conseguir passar foi essa abaixo. Na volta (sim, tem que passar por esse lugar cheio de lasers de novo), há uma pegadinha digna de xingar os devs.

Esses caras tão de brindeira… (SEGA Saturn)

Os chefões de cada área são bem fortes, verdadeiras esponjas de balas, então chegar neles com todo o arsenal, é o mínimo que o jogador precisa para encará-los.

Aqui é tiro porrada e bomba

Depois de vários dias de MUITO perrengue, consegui finalizar no “good ending” em ambas as versões, então chegou a hora de comparar!

A coisa ficou BEM FEIA aqui com a Mamãe Escorpião

No Switch (e nas outras plataformas modernas), o jogo recebeu o melhor que cada versão clássica oferecia, ou seja, uma boa mescla foi feita para comportar o melhor da versão de Saturn, PS1 e PC. Além de mudanças cosméticas, inclusive em algumas animações, há toneladas de configurações gráficas no menu de opções, chegando ao ponto do jogo poder até simular os “defeitos” da tecnologia 3D do passado.

A nova animação do Cajado de Cobra ficou muito legal (Nintendo Switch)

Portanto, fica ao gosto do freguês se ele quer uma experiência mais oldschool ou uma mais alinhada aos dias de hoje. Se no meio do caminho você quiser mudar algum detalhe, pode também, então nesse sentido o jogo ficou altamente customizável. Realmente um trabalho muito bom da Nightdive Studios

Em ambientes submersos, a tensão aumenta a cada subtração no medidor de oxigênio

Os controles também têm configurações bem flexíveis, podendo o jogador escolher jogar como em 1996 ou com maior mobilidade oferecida pelos dois analógicos.

Versão modernizada para Nintendo Switch, disponível para todas as plataformas modernas

Com isso, o jogo com certeza sofreria uma certa facilitação, correto? Errado! Alguns poderes que antes deixavam o personagem totalmente protegido, agora só parcialmente. Antes inimigos menos vorazes agora estão insanos e armas foram rebalanceadas. O jogador pode escolher jogar com ou sem checkpoints pelas fases. Não achei uma boa ficar sem eles, pois as fases foram expandidas e a morte significaria uma bela volta ao início do estágio. E meu amigo…tem lugar que é muito pedreira, concebidos para matar o jogador mesmo. Só tendo nervos de aço para completar até as primeiras fases. Mas sim, querendo, o jogador pode se desafiar dessa forma.

O clima não parece bom (SEGA Saturn)
Os enigmas da Esfinge (SEGA Saturn)
Ah, o amigo camelo…é um alívio quando esse camarada aparece no fim das fases (SEGA Saturn)

São dois finais, sendo o melhor só possível se o jogador encontrar as 8 partes do mecanismo de transmissão. Dessa forma ele pode ser encontrado no final e levado embora daquele lugar infernal. Do contrário, será amaldiçoado a ficar por todo o sempre esquecido no deserto sem fim. Encontrar essas tais partes não é o mais difícil, o problema é conseguir chegar até elas.

Encostar naquele grid de laser = começar de novo (SEGA Saturn)

[SPOILER!!!]
As fotos a seguir são da parte final do jogo, então abra se não se importar com isso.

Ao final da jornada, foram duas ótimas experiências, mas se tivesse que escolher uma, para a surpresa de ninguém, ficaria com a retro. Com certeza quem jogou Powerslave em seu lançamento sofreu com gosto e essa experiência pra mim foi a mais gratificante, mesmo em 2023.