Foto – Alcimar Veríssimo

Parabéns pra você?

Minha primeira festa de aniversário

5 min readSep 9, 2016

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Revendo meus álbuns de fotografia acabei lembrando-me de uma história. Talvez uma das histórias mais tristes que vivi. Prefiro acreditar que foi apenas um empurrãozinho para que eu me tornasse quem sou no dia de hoje, assim como toda história triste na da minha vida.

Antes de começar, gostaria que você soubesse de algumas coisas:

  • Eu era fanático pelo Corinthians
  • As coxinhas estavam deliciosas
  • Eu amo minha irmã
  • E minha mãe também

Aqui vai uma foto onde eu apareço ao lado de meus irmãos e minha mãe.

Pra você que não sabe, no dia 10 de Setembro de 1993 aconteceu algo incrível! Pra ser mais preciso, foi o dia em que eu nasci. Adoraria ter nascido um dia depois, assim como meu irmão, que veio ao mundo em 11 de Setembro. Pode parecer loucura minha, mas em 11 de Setembro de 2001 aconteceu um ataque terrorista contra torres gêmeas, nos Estados Unidos. Seria uma ótima forma para que a data do meu aniversário não caísse no esquecimento, pois todo ano os jornais avisam sobre este fato.

O dia 10 de Setembro não é uma data que está marcada no calendário como feriado nacional e muito menos no calendário da minha família. Posso ir além e afirmar com toda certeza que também não é uma data que fizera parte do meu. O motivo pelo qual a data se tornou tão insignificante? Por favor, não me pergunte, pois não sei te responder.

Voltemos então até o dia 10 de Setembro de 2002. Eu completava meus 9 anos de idade e pela primeira vez na minha vida alguém teria organizado uma festa de aniversário “pra mim”. Este alguém era minha mãe, mulher que separou do meu pai depois que minha irmã e eu nascemos, fanática pelo time que torce e que quando me visitava, levava alguns filmes pornô para que eu assistisse. Ela era e é até hoje uma pessoa incrível da qual eu me orgulho bastante, mas posso deixar pra falar sobre ela num próximo texto. Resumidamente, apesar de ter que assistir escondido, eu adorava os filmes pornográficos que ganhava de presente.

Como a festinha foi organizada pela minha mãe, um espaço na sala da casa dela foi palco desse capítulo. Não me lembro de ter visto alguém da família do meu pai no dia, mas lembro bem das coxinhas e do bolo que enfeitavam a mesa redonda que dava as boas vindas pra quem chegava.

Como meus irmãos e eu nascemos no mesmo mês, minha mãe se deu ao luxo de organizar a festa afirmando que era uma comemoração em conjunto. E esse era o meu maior problema, pois nenhum dos convidados me conheciam, pois eu nunca morei com ela, muito menos a visitava com frequência.

A hora foi passando e os convidados não paravam de chegar. Comecei a me sentir estranho, pois aqueles que vinham com sacolas de presentes logo se dirigiam até minha irmã e a entregavam. Comecei a me perguntar quando e de quem eu ganharia o primeiro presente da noite. Não demorou muito até que alguém viesse até mim. Com certeza aquela moça não queria me estender às mãos com algum brinquedo embrulhado numa embalagem bonita ou pra me desejar os parabéns, mas sim pra perguntar…

“Quem é esse rapaz, dona Branca?”

Dona Branca é o apelido da minha mãe, que de branca não tem nada e o rapaz era eu, com cara de quem não estava entendendo porcaria nenhuma…

Neste momento eu paro pra enxugar as lágrimas que descem ao escrever este texto.

… As horas foram se passando e a cama da minha irmã já estava cheia de barbies e mais algumas caixas rosas. Presentes dos vizinhos e conhecidos da minha mãe, que por sequência, conheciam minha irmã, que sempre morou com ela. (Acho que deu pra entender). Pra ser mais preciso, a festa dirigia-se para o final e eu e meu irmão não havíamos ganhado nenhum presente sequer. Ele não se importava, já era bem crescido pra isso. Sorte a dele.

Antes que a festa acabasse e eu ficasse mais aliviado, minha mãe me chama até o quintal, puxa uma cadeira e diz que tem um presente pra me dar. Não sei por qual motivo ela fez isso. Talvez tenha percebido que eu não recebi nenhum presente dos convidados ou queria me consolar, mas foi a pior idéia que ela poderia ter colocado em prática.

Lembro perfeitamente desta cena. Ao escrever aqui, vejo um filme passando em minha cabeça do exato momento em que eu sento no colo dela, naquela cadeira branca que ficava no quintal escuro, iluminado apenas pela luz da lua. Em sua mão esquerda por trás das costas, meu presente, que até então faria tudo mudar na minha vida. Antes de me entregar ela diz algumas palavras de consolo. Palavras que eu acabei esquecendo depois que vi o presente em sua mão.

Se eu pudesse voltar no tempo, entraria nesta cena e não deixaria que ela me entregasse aquilo. Sairia correndo dali depois de comer todas as coxinhas da festa e dar um abraço na minha irmã. Ahh, eu sempre tive um amor enorme por ela. Já que voltar no tempo ainda não é algo fisicamente possível, ficarei com o presente marcado na minha história pra sempre ou até inventarem uma máquina do passado.

Após uns dois minutos de palavras bonitas, dona Branca puxa a mão esquerda das costas e me entrega uma linda e brilhante cartela de adesivos do Corinthians, um time de futebol brasileiro do qual ela sabia que eu era apaixonado. Demorei um pouco pra assimilar e continuei sorrindo com os olhos arregalados de felicidade até pegar com as duas mãos naquela cartela que custou aproximadamente R$ 0,50. Feito isso, baixei a cabeça e pensei em quantas crianças no mundo estariam preparadas psicologicamente pra receber um presente daqueles no seu primeiro aniversário. Pior, da sua própria mãe. Inevitavelmente e desesperadamente, caí no choro enquanto segurava firme com as duas mãos a cartela de adesivos.

Não sei nem quero saber como terminou a festa. A última lembrança que tenho é de quando cheguei em casa e colei um dos adesivos da tabela num relógio de parede que meu pai tinha. Como eu sempre me apeguei nas coisas tristes que me aconteceram, olhei diariamente por muitos anos naquele adesivo. Hoje eu odeio o Corinthians pelo simples fato de ter se tornado o pior presente que eu já recebi.

Já a Dona Branca foi e sempre será a única pessoa a me dar o presente de aniversário mais importante da minha vida. Colocando assim, a data 10 de Setembro em meu calendário anual.

Obrigado, mãe. Talvez eu não tenha gostado dos adesivos, mas eu adorava os filmes! ❤️

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