Dinheiro não basta! Reflexões sobre o crowdfunding mais famoso do ano

Alfredo.Cunha
6 min readAug 27, 2016

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O negócio viralizou! E graças ao mico do Zebeleu voltaram a falar de crowdfunding.

Piadas e críticas a parte, o lado positivo é que usaram a internet (figura abaixo) para tentar descobrir do que se tratava esse tal de crowdfunding.

A ferramenta de crowdfunding é livre. Democrática!

Então é isso. Qualquer um pode usar o crowdfunding (financiamento coletivo), no entanto, quem irá determinar o sucesso da captação serão os fãs e consumidores. Sim, tem gente que inova no uso da ferramenta, mas na essência o crowdfunding nada mais é do que uma forma de captação de recursos e divulgação da marca/produto/serviço. Onde pessoas que admiram você e/ou sua empresa irão apoia-lo financeiramente e dar vida aos projetos criativos, como defende em sua missão uma das maiores plataformas de crowdfunding do mundo.

Por isso, acima de tudo o projeto precisa ter empatia e contrapartida, senão… hahaha, senão, vira piada na internet…

A imagem acima não é montagem. Está aqui no Twitter.

Bem, pode ser que a Bel Pesce tenha desistido de tentar a disrupção e resolveu atuar em algo tradicional. Talvez eles tenham planejado algo simples ou uma rede de franquias com escala global (a ideia vinha sendo estruturada há 6 meses, segundo ela). Não sabemos. O que sabemos é que promoveu discussões e aprendizados.

Então vamos imaginar …

E se eles tivessem sido bem sucedidos? A primeira etapa cumprida, dinheiro na conta e logo depois vem a fase mais difícil, gerir o negócio.

Por isso eu digo, dinheiro não basta!

E é preciso um bom time para uma excelente execução (observe no gráfico abaixo que dentre os fatores de sucesso o dinheiro é apenas o quinto colocado).

Vamos falar de Inovação?

A Apple lançou o primeiro iphone há 9 anos e naquele momento a inovação foi disruptiva. Mas eles nunca pararam porque prezam pela inovação contínua.

Já imaginou se tivessem estagnado lá em 2007? A Samsung seria a líder.

E inovação é isso, melhoria contínua. Não é algo que você faz uma única vez e relaxa.

E não é só isso. Vamos voltar aos hambúrgueres e pensar no caso do Kroc (Mc Donald’s). Vamos além, vamos pensar no caso do Warren Buffett (investidor) e do Lemann (grupo INBEV).

Será que eles também inovaram? Sim, cada um da sua maneira. E embora muitas das empresas compradas/investidas continuem lá, fazendo o que fazem há anos, sem grandes novidades nos produtos, a produção é bem diferente e muito mais eficiente.

Portanto, o grande ponto de inovação deles não está no produto ou serviço, mas nos processos e no modelo de negócio (muito antes do UBER ou do Airbnb).

Essas empresas inovam há anos: no marketing, na logística, na linha de produção, no treinamento dos funcionários… Inovam na gestão.

Já no caso da menina do vale não existia nada de inovador na hamburgueria, a começar pelo nome. Acho que foi ai que a tragédia começou, afinal só a empresa mais valiosa do mundo para ter um nome simples e prático como maçã. Desculpem, mas Zebeléo não dá.

E alguém pode dizer que tudo isso foi estratégia de marketing. A velha regra “listerine”, tem um gosto horrível, mas é por isso que funciona … mata os germes … Ai você coloca na cabeça do consumidor que os outros enxaguantes bucais não funcionam e por ai vai (não é assim hoje, mas foi essa a estratégia no lançamento do produto).

A publicidade consegue converter uma percepção negativa em algo positivo para promover o produto.

E tem gente que defende todo tipo de publicidade dizendo pérolas como “cada um faz dinheiro da maneira que consegue, sendo ela certa ou errada moralmente”. Novamente desculpem, mas se for esse o caso a situação está pior do que eu imaginava :-(

E no caso da hamburgueria eles falharam na transparência e no bom senso.

Empreendedores

Como empreendedores nós sabemos que precisamos de motivação e dinheiro, mas também temos que fazer o dever de casa: conversar muito com consumidores, mentores e investidores. Continuamente, mas principalmente antes de lançar qualquer produto/serviço. Outra coisa importantíssima é ter sócios que você confia e que estejam alinhados com a ideia (e a percepção aqui é que fizeram tudo correndo para aproveitar a fama do vencedor do Masterchef, Leonardo Young). Foi isso? Não sei, mas o retorno foi negativo e essa é a lição que devemos aprender.

E agora vem o mais importante. A proposta de valor — alguém conseguiu identificar qual era a proposta de valor deles? Seria um ambiente aconchegante onde você saboreia os hambúrgueres preparados com carinho pelo ganhador do Masterchef? Confiaram demais no taco e não souberam apresentar motivos para pagarmos 100 reais por um sanduíche.

Risco

A taxa de sucesso de novos negócios é baixa (não vou colocar uma estatística aqui porque depende muito do setor de atuação e não gosto de média, mas com certeza nesse ponto eles largariam com algumas vantagens e desvantagens, conforme a experiência de cada sócio). Portanto, não custa lembrar que mesmo fazendo tudo direitinho há um risco elevadíssimo do negócio não dar certo. E talvez por isso tenham usado a plataforma de financiamento coletivo, jogando grande parte do risco do empreendimento para os fãs. Pronto! Quando o público percebeu isso o fracasso estava consolidado. Mais uma lição.

Agora vem a parte mais triste dessa história.

Tudo isso aconteceu em uma época onde as pessoas começam a ter consciência da importância da alimentação saudável. Ou ao menos deveriam estar se preocupando com a sustentabilidade.

A propósito, alguém ainda se lembra das “plantinhas” da Olimpíada? E da Eco92? (se você nunca ouviu falar clica aqui).

Hamburgueria tradicional = sanduíches de carne =

Sanduíches de carne = aquecimento global

Entendeu? E os caras me aparecem com uma hamburgueria? Sabiam que até o Mc Donald’s está mudando!!!

Mas Alfredo, hambúrguer tem que ser de carne. Você tá falando isso porque deve ser vegetariano, vegano, sei lá… Não, não sou (como carne vermelha raramente). E felizmente tem hamburgueria quebrando esse tabu. Inovando!!! Olha isso aqui .

Desculpem pelo desabafo, mas precisamos de muito mais Bel. E esperávamos muito mais vindo de você.

Quais os benefícios que uma hamburgueria traz para a sociedade, além da geração de 1/2 dúzia de empregos?

Então gostaria de deixar minha sugestão. Aproveitem a fama e o conhecimento para promover a educação (não que você já não tenha algo do tipo). Só lhe peço uma coisa, que lá as pessoas aprendam sobre empreendedorismo, mas também ética e sustentabilidade. E saiam de lá maduras o suficiente para não acreditarem em heróis, gurus e fórmulas mágicas, fazendo as coisas por paixão e por um mundo melhor.

Então é isso. Felizmente o crowdfunding da Bel foi para o beleléu.

Ruim para eles, bom para a sociedade ;-)

Abraços e sucesso!

Alfredo Cunha — Linkedin / Facebook / Twitter

Ah, quer conhecer um projeto bacana de crowdfunding? A captação já encerrou, mas vale a pena conhecer para entender que apoiar boas ideias vale a pena — https://www.kickstarter.com/projects/brooklyness/classon-tech-and-design-for-a-seamless-cycling-exp

Bônus :

Lista das empresas mais inovadores — http://www.forbes.com/innovative-companies/list/#tab:rank

Vídeo do Rafinhas Bastos — https://www.facebook.com/rafinhabastos/videos/1141034259309687/

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Alfredo.Cunha

Gestor de Investimentos (planejamento, alocação de ativos, tesouro direto, fundos e startups). I share thoughts about startups and personal finance.