Designers enquanto pesquisadores

Aline Melo
3 min readAug 12, 2019

--

Depois de ter passado pelo processo de pesquisa de alguns projetos (qualitativa / quantitativa / com usuários / com stakeholders / testes de usabilidade), me deparo com um texto do livro About Face: The Essentials of Interaction Design — do Alan Cooper chamado Designers as researchers, que fala justamente sobre as vantagens de envolver os designers nas etapas de pesquisa e sobre os pontos críticos de isolá-los desse processo.

About Face: The Essentials of Interaction Design — do Alan Cooper (edição de 2014)

Como designer, me colocar no papel de pesquisadora e sair para conversar com as pessoas é muito desafiador: envolve aprender como conduzir essa conversa para extrair os dados e insights necessários e também trabalhar muito a confiança e desenvoltura — principalmente quando se trata de guerilla research (fazer uma entrevista ou teste de usabilidade em um ambiente externo, não-controlado, sem o recrutamento prévio de pessoas).

Por outro lado é extremamente recompensador perceber, ao longo de diversas entrevistas e projetos, o quanto a prática nos ajuda a crescer e melhorar para desenvolver esse papel. Também é incrível o envolvimento dos entrevistados e o laço que muitas vezes se cria durante as entrevistas.

A experiência de entrevistar fica latente durante todo o processo de desenvolvimento, o que com certeza contribui muito para que o resultado seja um projeto genuinamente centrado no usuário.

No texto Designers as researchers, Cooper fala sobre as empresas em geral já terem aprendido que pesquisa é necessária para criar bons produtos. Mas apesar disso, ainda temos alguns obstáculos:

  1. Muitas empresas ainda não se atentaram às diferentes naturezas de cada método de pesquisa: por exemplo, a pesquisa quantitativa de mercado é muito útil para ajudar vender produtos mas falha em fornecer informações fundamentais sobre como as pessoas realmente usam esses produtos — e o segundo tipo de informação é muito mais valioso quando se fala em UCD.
  2. Em geral, métodos mais tracionais de pesquisa não fornecem meios para traduzir os resultados em soluções de design: por exemplo, 100 páginas de levantamento de dados sobre os usuários não são facilmente traduzidas em um conjunto de requisitos de produto, e trazem ainda menos informações sobre como esses requisitos deveriam ser expressados em termos de uma estrutura de interface adequada e relevante. O design continua a ser um mistério: “Um milagre acontece aqui…” Esse gap entre os resultados de pesquisa e a solução final é consequência de um processo que não conecta o usuário ao produto final.
  3. Uma das causas dessa desconexão é a superespecialização: tradicionalmente, pesquisa e design estiveram separados e cada atividade era feita por especialistas. A pesquisa com usuários vem crescendo, incluindo dados qualitativos e etnográficos. Ainda assim, sem incluir designers nesse processo a conexão entre dados de pesquisa e soluções de design se torna, na melhor das hipóteses, fraca. Uma forma de resolver esse problema seria que os designers aprendessem a ser pesquisadores.

Motivos importantes de envolver designers no processo de pesquisa:

  1. A exposição direta e contínua ao usuário, proporcionada pela pesquisa, mergulha os designers nesse universo. O que os leva a pensar sobre os usuários muito antes de começar a propor soluções.
  2. Pode ser difícil para pesquisadores sem um background de design saber qual informação sobre o usuário é realmente importante dessa perspectiva.

Envolver designers diretamente em uma pesquisa resolve as duas questões.

Esse texto do livro About Face traduziu muito do que eu sinto, tanto sobre minhas experiências recentes de estar envolvida com pesquisa, quanto sobre minha vivência trabalhando com design gráfico nos últimos anos, em geral distante desse universo.

Mais textos que você pode gostar:

--

--

Aline Melo

Product Designer at Gympass | Visual Designer since 2009 | Based in São Paulo | alinemelo.com