Desbancando mitos sobre vacinas

Amanda de Vasconcellos
57 min readApr 28, 2019

--

Essa é uma tradução deste artigo ótimo do blog Stories from the trauma bay. Tentei ser o mais fiel possível ao original, que foi um trabalho soberbo ao falar de praticamente todos os pontos levantados por ativistas anti-vacina. Muitas das situações listadas estão distantes dos argumentos que vejo ativistas brasileiros (ou lusófonos em geral) usarem, mas os mantive em nome da fidelidade ao original. Sugere algo para melhorar a tradução? Pode comentar, ficarei feliz em alterar.

Se você está lendo isto, provavelmente você repetiu um mito anti-vacina ou disse que não vacinaria seus filhos, e alguém te mandou esse post para tentar desbancar esse mito. Se esse é o caso, eu sinceramente espero que você continue lendo porque, como você sabe, essa questão é de importância vital.

Vacinas estão entre as ferramentas médicas mais seguras e mais efetivas já inventadas. Espera aí, espera aí. Antes de você suspirar e clicar em “sair”, continue lendo. Vacinas salvaram literalmente milhões de vidas e erradicaram duas doenças previamente rampantes da face do planeta (varíola e peste bovina), e elas têm potencialmente a capacidade de eliminar muitas outras, incluindo pólio e sarampo. Infelizmente as vacinas têm recebido tratamento um tanto quanto injusto pelas pessoas que fazem todo tipo de alegações falsas sobre os seus ricos. O problema é que pais impressionáveis acreditam nessas mentiras, e taxas de vacinação têm caído. Isso tem levado a surtos infelizmente previsíveis de várias doenças preveníveis por vacinas, incluindo vários surtos de sarampo, que mataram milhares de crianças somente neste ano.

É aí que entra este artigo. Eu compilei uma lista dos mitos, meias-verdades e absolutas mentiras que ativistas anti-vacina convictos usam mais frequentemente para assustar pais. E eu entendo isso — vocês amam seus filhos e querem protegê-los. Eu também sou um pai. Eu tenho dois filhos pequenos que amo mais que à própria vida, e assim como você eu faria qualquer coisa e todas as coisas para mantê-los seguros.

Então com isso dito, por favor continue lendo. Nada do que estou apresentando aqui é opinião, é tudo respaldado por fortes evidências.

Posicionei aqui uma lista (N.T.: pode pular, se quiser ler o artigo de uma vez) em ordem alfabética bem aqui com todos os argumentos que discutirei para referência fácil. Clique no número à frente do item para ir para o tópico.

  • 72 doses [17]
  • Alergias [49]
  • Alumínio [3]
  • Autismo [8]
  • Autoimune [47]
  • Baixa prevalência [39]
  • Bill Gates [56]
  • Bula [43]
  • Causam cancer [55]
  • CDC [14]
  • Compulsórias [23]
  • Contaminação [57]
  • Convulsões [48]
  • Coqueluche [37]
  • Corrente sanguínea [73]
  • Criaram X [61]
  • Deriva gênica [33]
  • Dinheiro [75]
  • Encontro de Simpsonwood [51]
  • Esqualeno [64]
  • Estudo de segurança [69]
  • Excreção viral [54]
  • Excreção viral na vacina da gripe [32]
  • Falha ovariana prematura [59]
  • Fetos abortados [5]
  • Formaldeído [6]
  • Gripe nunca [34]
  • Hepatite B [35]
  • Imunidade de grupo [60]
  • Imunidade decresce [36]
  • Imunidade natural [38]
  • Incidente dos Laboratórios Cutter [50]
  • Inevitavelmente inseguras [74]
  • Inofensivas [16]
  • Médicos anti-vacina [46]
  • Mercúrio [2]
  • Minha escolha [22]
  • MTHFR [10]
  • Muitas muito cedo [18]
  • Não nos salvaram [40]
  • Não são 100% efetivas [27]
  • Não são 100% seguras [28]
  • Não sou anti-vacina mas [71]
  • Não vacinados mais saudáveis [24]
  • Nenhuma morte por sarampo [44]
  • Óleo de amendoim [65]
  • Poling [11]
  • Pólio DDT [68]
  • Pólio renomeada [62]
  • Polisorbato 80 [4]
  • Por que não vacinados ameaçam [15]
  • Programa de vacinação [19]
  • Protege contra o câncer [53]
  • Religião [72]
  • Saneamento [41]
  • Sarampo não existe [66]
  • Síndrome da morte súbita infantil [42]
  • Síndrome de Guillain-Barré [30]
  • Só a tríplice viral [9]
  • Sobrevivência [67]
  • Solução Mineral Mágica [70]
  • Subnotificadas [21]
  • Surtos entre vacinados [63]
  • Toxinas [1]
  • Tribunal de vacinas [20]
  • Tríplice viral mata [45]
  • Vacina da gripe [29]
  • Vacina da gripe causa gripe [31]
  • Vacina do HPV [58]
  • Vacinados vs. não vacinados [25]
  • Vacinas mais seguras [52]
  • VAERS [26]
  • Vírus do câncer [7]
  • Wakefield [13]
  • Zimmerman [12]

Vamos começar.

[1] Se você quer bombear quantidades massivas de toxinas nos seus filhos…

Esse é quase universalmente o primeiro argumento que eu vejo. Este é o tipo de imagem que é normalmente mostrado:

Um bebê aterrorizado chorando, seringas grandes cheias de uma grande quantidade de coisas amarelas estranhas que parecem suco de maçã, múltiplas injeções de uma vez. Eu podia chamar isso de um monte de coisas — abuso do medo, tática de terror, hipérbole. Mas um tempo muito mais preciso seria nonsense. Aqui está com o que se parece uma injeção de vacina real:

Bebê calmo, agulha fina (que você quase não consegue ver de tanto que é pequena), pequena quantidade de fluido transparente. O volume real de uma vacina é 0,5 ml. Isso são apenas 10 gotas. Claro que algumas crianças choram quando recebem vacinas, mas isso é porque agulhas podem ser assustadoras. Mas de qualquer forma, não tem nenhum bombeamento, nenhuma quantidade massiva de qualquer coisa, e certamente nenhuma toxina.

[2] … toxinas como mercúrio…

Não há nenhum mercúrio elementar em nenhuma vacina, nem nunca houve. Você está se referindo é ao timerosal, que é aproximadamente 50% etilmercúrio. E enquanto a palavra “etilmercúrio” tem a palavra “mercúrio” nela, isso não o faz nem mercúrio nem veneno. Pense nisso deste jeito: a palavra “armazém” tem a palavra “arma” nela. Isso não significa que um armazém seja feito de armas.

Ok, eu admito que essa é uma analogia terrível. Que tal esta: sódio é um metal que explode quando exposto à água, e gás cloro é altamente venenoso.. Mas quando você (bem, não você exatamente) combina os dois em um composto, isso produz sal de mesa comum (que ainda pode ser tóxico, mas isso é um tema para outra hora). Isso é química básica. Básica. Heh. Sim, isso foi uma piada de química.

De qualquer forma, etilmercúrio não é o mercúrio encontrado em termômetros. Também não é o composto de mercúrio perigoso encontrado em peixes. Esse seria o metilmercúrio, e embora ele seja só uma letra diferente do etilmercúrio, é um composto inteiramente diferente com metabolismo e efeito na fisiologia humana inteiramente diferentes (assim como o etanol, que é o álcool encontrado no seu vinho, e o metanol, que vai te matar se você bebê-lo). Estudos descobriram que etilmercúrio é prontamente metabolizado e excretado, então ele não aumenta os nívels de mercúrio no sangue, enquanto metilmercúrio permanece por muito mais tempo e é muito mais tóxico.

Isso tudo ignora o fato de que o timerosal foi removido de todas as vacinas infantis nos EUA em 2001. Eu vou abordar esse ponto mais a fundo mais tarde.

[3] … e alumínio…

Sais de alumínio têm sido usados como adjuvantes em vacinas por décadas. Adjuvantes aumentam a resposta imune, aumentando a chance que uma vacina tem de garantir imunidade. O mecanismo exato pelo qual isso acontece ainda não está claro, mas o que está claro é que sais de alumínio têm sido estudados extensivamentes e têm sido verificados como seguros. Este é um excelente artigo de revisão que documenta o excelente perfil de segurança e os mínimos riscos (incluindo miofascite macrofágica) de utilizar adjuvantes de sais de alumínio. Sim, eles têm riscos. Mas eles são muito pequenos, principalmente porque a quantidade de alumínio em qualquer vacina é extremamente pequena. Também não há nenhum alumínio na tríplice viral, nem nunca houve.

[4] … e polisorbato 80…

Polisorbato 80 é um surfactante e emulsificador usado em inúmeros alimentos, cosméticos, colírios, desinfetantes bucais, etc. Ele também é usado em algumas vacinas como um estabilizante, mas em quantidades tão pequenas que são negligenciáveis para a fisiologia humana.

Como comparação, a vacina contra HPV contém 50 microgramas de polisorbato 80, enquanto uma bola pequena de sorvete contém aproximadamente 170 000 microgramas, ou 3 400 vezes mais polisorbato 80 (referência). Também foram feitos estudos em que crianças receberam vacinas com e sem polisorbato 80, e foi verificado que ele é seguro.

[5] … tecidos de fetos abortados…

Nenhum bebê é abortado para produzir vacinas. Algumas vacinas são proliferadas em células derivadas de um feto que foi abortado décadas atrás, porque víruses crescem melhor no tipo de células que eles normalmente infectam. A vacina então é lavada, eliminando tudo menos um traço do meio de cultivo. Então não há nenhum bebê morto em nenhuma vacina, e nenhum novo feto é abortado para fazer vacinas.

[6] … formaldeído…

Formaldeído (N.T.: formol) soa amedrontador, porque todos sabem que é o químico usado para preservar cadáveres. Contudo, formaldeído é, na realidade, uma parte bem normal do metabolismo humano. Enquanto você está sentado lendo isso, suas células estão criando muito mais formaldeído do que o que poderia ser encontrado em qualquer vacina. Na verdade, nos mais ou menos 30 segundos que você levou para ler este parágrafo até aqui, seu fígado metabolizou por volta de 11 mg de formaldeído, o que é mais de 10 vezes o que uma criança poderia receber mesmo de múltiplas vacinas (0,7 mg). No tempo em que você levou para ler a última frase, uma criança já teria metabolizado todo o formaldeído de suas vacinas duas vezes. Se sua criança leu a última frase, entretanto, então a Mensa provavelmente gostaria de dar uma palavrinha com você. E com ela.

[7] … vírus do câncer.

Infelizmente muitos milhares de pessoas sem saber (na época) receberam uma vacina contra a pólio que estava maculada (ou contaminada, se você preferir) com o SV40, que é um vírus que infecta macacos (o “S” significa símio). E isso é verdadeiramente lamentável. Porém, o SV40 não foi descoberto até 1960, enquanto a vacina contra a pólio foi produzida pela primeira vez em 1955. Ele simplesmente ainda não era conhecido. Mas uma vez que ele foi descoberto, ele foi removido da vacina contra a pólio (obviamente).

Ainda assim, quando ele foi removido em 1963, aproximadamente 90% das crianças haviam recebido uma vacina contra a pólio contaminada com o vírus, que causa tumores em animais. É claro que temiam que ele também fosse causá-los em humanos, e é verdade que o SV40 foi encontrado em várias células cancerosas humanas. Todavia, ele foi extremamente estudado, e enquanto o vírus foi encontrado em células de cânceres humanos, uma revisão das evidências mostrou que o SV40 não causa câncer em humanos. Ele tem sido estudado por mais de 50 anos, e nenhuma associação foi encontrada. Ele também não esteve presente em nenhuma vacina desde 1963, então não há câncer algum em nenhuma vacina.

[8] Vacinas causam autismo

A resposta curta aqui é “Não, elas não causam”, mas isso não vai (nem deveria) te satisfazer. Vacinas foram estudadas extensivamente por seu possível papel em causar autismo. Há exatamente ZERO estudos grandes que mostrem qualquer associação entre vacinas e autismo, e enquanto eu penso nisso também há exatamente ZERO estudos pequenos que mostrem isso. Esse mito vem de um estudo muito pequeno do ex-médico Andrew Wakefield de 1998, no qual o tamanho da amostra era de apenas 12 pacientes. O estudo foi retratado graças a violações éticas e deturpação científica, e Wakefield perdeu sua licença para praticar a medicina (você pode ler mais sobre sua fraude aqui) (N.T.: em suma, Andrew Wakefield escolheu quais crianças seriam sua amostra, foi financiado por advogados que defendiam famílias com processos contra fabricantes de vacinas, falsificou dados e não deixou claras às famílias informações cruciais para que elas consentissem que suas crianças fossem parte da amostra).

Por outro lado, há múltiplos estudos de dezenas ou até centenas de milhares de crianças de vários países ao redor do planeta, cada um deles mostrando nenhuma associação entre vacinas e autismo. Aqui estão alguns deles:

  1. Estudo dinamarquês da tríplice viral com 537 000 crianças — nenhuma ligação
  2. Estudo finlandês da tríplice viral com 535 000 crianças — nenhuma ligação
  3. Estudo americano da tríplice viral com 95 000 crianças — nenhuma ligação
  4. Estudo britânico do timerosal e da DTP/DT (tríplice bacteriana e dupla) e 109 000 crianças — nenhuma ligação
  5. Estudo dinamarquês de vacinas que contivessem timerosal e 467 000 crianças — nenhuma ligação
  6. Estudo americano de vacinas que contivessem timerosal e 124 000 crianças — nenhuma ligação
  7. Estudo dinamarquês da tríplice viral e 657 000 crianças (incluindo crianças de alto risco) — nenhuma ligação

Esse último foi publicado agorinha, dia 4 de março de 2019, e representa provavelmente o maior e mais abrangente dos estudos que mostram absolutamente nenhuma ligação entre a tríplice viral e o autismo. Eles até observaram crianças com irmãos autistas e outros fatores de risco que os colocariam em alto risco para autismo, mas eles ainda assim não encontraram nenhuma conexão. A conclusão fala por si própria:

Conclusão: O estudo fortemente sustenta que a tríplice viral não aumenta o risco para autismo, não causa autismo em crianças suscetíveis, e não está associada ao agrupamento de casos de autismo após a vacinação. Ele acrescenta a estudos prévios por meio de poder estatístico adicional significante e por levar em conta hipóteses de subgrupos suscetíveis e agrupamento de casos.

Isso são 7 estudos imensos que incluem mais de 2,5 milhões de crianças vs. várias anedotas ou o estudo fraudulento de Wakefield que começou tudo isso.

Vacinas NÃO causam autismo.

[9] Só a tríplice viral foi estudada

Eu vou te indicar a resposta 8 acima. Os estudos 4, 5 e 6 todos analisaram crianças que receberam vacinas quaisquer que contivessem timerosal. Como eu mencionei acima, a tríplice viral nunca conteve timerosal. Então sim, outras vacinas foram mais que definitivamente estudadas, e todos os estudos mostram a mesma coisa — que essaas outras vacinas também não causam autismo.

[10] MTHFR

MTHFR significa metilenotetrahidrofolato redutase. É um gene no cromossomo 1 que codifica uma enzima que catalisa o 5,10-metilenotetrahidrofolato a 5-metiltetrahidrofolato (o que tem a ver com o metabolismo da homocisteína e umas ciências bem chiques). Existem vários polimorfismos (ou seja, variações) dos genes, e alguns são extremamente comuns (por exemplo, 10% da população norte-americana tem 2 cópias de um polimorfismo específico). Pesquisas preliminares mostram que ele pode aumentar o risco de esquizofrenia ou demência, mas nenhuma pesquisa mostra que o gene tenha qualquer coisa a ver com qualquer efeito colateral de vacinas.

MTHFR é um polimorfismo, não uma mutação. Essas duas palavras não são sinônimas, e você pode ler sobre a diferença entre elas aqui (N.T.: em suma, o termo “polimorfismo” se refere às diferenças entre genes de diferentes indivíduos em uma mesma população, enquanto “mutação” se refere a eventos recentes de modificação dos genes de um indivíduo após sua concepção).

[11] Mas e a Hannah Poling?

Hannah Poling tinha um transtorno mitocondrial muito raro, tão rato que a incidência exata é desconhecida. Ela recebeu suas vacinas normalmente aos 19 meses de idade (tríplices bacteriana e viral, pólio, HIB, e catapora), e dois dias depois ela estava letárgica e com brotoejas na pele. Ela foi diagnosticaada com catapora derivada de vacina, e vários meses depois continuou tendo atrasos em seu desenvolvimento neurológico. Por fim ela foi diagnosticada com encefalopatia, seguida de problemas na linguagem, comportamento, e comunicação. Embora disfunções mitocondriais possam parecer muito com autismo, seus pais (incluindo seu pai, que é um neurologista) levaram o caso dela ao Tribunal das Vacinas e ganharam.

Embora possa parecer que as vacinas causaram o autismo dela, elas realmente não causaram. O dr. Paul Offit revisou esse caso em detalhes bem específicos aqui, mas eu vou fazer um breve resumo de qualquer forma: infecções são conhecidas por exacerbar encefalopatia, mas vacinas não são. E crianças com problemas mitocondriais estão sob maior risco de infecções, que podem exacerbar encefalopatias.

Então as vacinas causaram o autismo de Hannah? Não.

[12] O Dr. Andrew Zimmerman disse que vacinas causam autismo

Andrew Zimmerman é um neurologista pediátrico que foi coautor de um relato de caso em 2006 que documentava uma criança com uma disfunção mitocondrial que desenvolveu autismo após ser vacinada (soa familiar?). Embora isso esteja sendo traduzido por ativistas anti-vacina como “VACINAS PODEM CAUSAR AUTISMO!”, a questão é, na realidade, muito mais complexa. A alegação completa do dr. Zimmerman foi: “Talvez haja um subgrupo de crianças em risco de regressão se elas possuem uma disfunção mitocondrial subjacente e são simultaneamente expostas a fatores que causem estresse à sua reserva mitocondrial (que é crítica para desenvolvimento cerebral). Tais fatores podem incluir infecções, bem como fatores metabólicos e imunes, e vacinas”.

Em outras palavras, crianças com esses transtornos extremamente raros podem estar predispostas a desenvolver autismo ou sintomas semelhantes ao autismo se elas são expostas a algum gatilho ambiental. Vacinas podem ser um deles, mas há muitos outros também. Tenha em mente que crianças são expostaas a milhares de antígenos a cada dia de suas vidas. A menos que elas sejam mantidas em uma bolha estéril, o risco para essas crianças é muito maior com doenças infecciosas, comparadas a vacinas.

[13] O Dr. Wakefield foi exonerado

O senhor Wakefield perdeu sua licença para praticar a medicina e, portanto, não deveria ser chamado de “doutor”. E não, ele não foi. Acusações contra um de seus coautores, que alegou tanto que continuamente apoiou a tríplice viral e que seu artigo não estabelecia nenhuma ligação entre a tríplice viral e o autismo, foram retiradas após recurso. Sr. Wakefield, por outro lado, perdeu sua licença graças ao seu artigo elaboradamente fraudulento que envolveu pagamento de 5 libras a crianças presentes no aniversário de seu filho por amostras de sangue, sem permissão de um comitê de ética. Wakefield também estava tentando patentear sua própria vacina contra o sarampo e tentando manchar a reputação da tríplice viral com esse fim. Ele é uma pessoa ruim que escreveu um estudo ruim e tem usado sua infâmia para espalhar desinformação ruim que fere crianças.

Wakefield não foi exonerado. Ele nunca ganhou em nenhum recurso e ele não conseguiu sua licença de volta. Ele agora passa seu tempo nos EUA fazendo filmes de propaganda anti-vacina com outros ativistas anti-vacina, assim como espalhando sua propaganda para imigrantes impressionáveis, o que causou surtos de sarampo. Em suma, Andrew Wakefield é um perigo para a sociedade.

[14] Denunciantes de dentro do CDC

Isso é meramente uma teoria da conspiração. Ela envolve um time de pesquisadores do CDC, incluindo William Thompson, supostamente jogando na lata de lixo (literalmente) dados que supostamente mostravam que crianças negras eram mais de três vezes mais propensas a desenvolver autismo como resultado de vacinas. Isso foi supostamente descoberto depois de um não-cientista chamado Brian Hooker reavaliar os dados.

Infelizmente, há alguns problemas com isso: em primeiro lugar, quem ainda mantém dados no papel? Dados são todos digitalizados e seu backup é feito repetidamente em múltiplos lugares. Se eles não forem então eles vêm de pesquisadores farsantes que não deveriam ser confiados em qualquer assunto. Em segundo lugar, William Thompson ainda trabalha para o CDC. Denunciantes geralmente não continuam trabalhando para a companhia ou agência que eles denunciaram. Em terceiro lugar, a reavaliação feita por Hooker foi feita de modo completamente incorreto, usando a análise estatística inapropriada para avaliar os dados. E em quarto lugar, mesmo se a reavaliação fosse verdadeira (ela não é — leia aqui), ela só mostraria um aumento no risco em um grupo demográfico (homens negros). Ela não mostrava nenhum aumento no risco para garotas ou garotos brancos. Isso significaria que vacinas AINDA não causam autismo em todos os outros grupos demográficos.

[15] Por que meu filho não vacinado é uma ameaça tão grande para o seu filho vacinado se as vacinas funcionam?

Há várias respostas para essa pergunta. Em primeiro lugar, nenhuma vacina é 100% efetiva. A que chega mais perto é a do sarampo, que é 97% eficaz depois de duas doses. Então apesar do fato de que uma porcentagem muito alta das crianças é vacinada, há uma chance de 3% que ela ainda vai falhar. Em segundo lugar, nem todas as crianças podem ser vacinadas graças ao imunocomprometimento. Em terceiro lugar, algumas crianças são muito novas para serem vacinadas e ficam completamente desprotegidas. Em quarto lugar, acredite ou não nós nos preocupamos com seu filho também. Nenhuma criança deveria contrair e sofrer por nenhuma dessas doenças se isso puder ser evitado.

[16] Essas são só doenças inofensivas da infância

Nenhuma dessas doenças preveníveis por vacinas é inofensiva. Sarampo, por exemplo, continua matando mais de 100 000 crianças todos os anos. Na verdade, só houve um ano em que se registrou que o sarampo matou menos de 100 000 crianças (2016). Entre 2000 e 2017, a taxa global de vacinação contra o sarampo aumentou de 72% para 85%, enquanto durante o mesmo período a incidência do sarampo caiu 83% e as mortes por sarampo caíram 80%. Deixe-me repetir — mortes por sarampo caíram 80%. A isso você pode responder “Mas isso não está acontecendo no meu país!”, mas isso é o que um sem-coração diria. Crianças estão morrendo por essas doenças até os dias de hoje.

E isso é só para o sarampo (que parece ter virado o garoto-propaganda de doenças “inofensivas” preveníveis por vacinas). Infelizmente esse argumento ignora todas as outras várias doenças mortíferas ou debilitantes para as quais vacinas existem (hepatite B, influenza haemofílica, meningite, pólio, etc.). Até mesmo catapora. Sim, catapora, que costumava matar por volta de cem crianças somente nos Estados Unidos por ano antes da vacina. Mesmo uma só criança morta por catapora é demais. E depois que a vacina foi introduzida, isto aconteceu:

Algumas pessoas tentam usar um episódio de “A Família Sol-Lá-Si-Dó” como evidência de que o sarampo era considerado inofensivo, mas tenha em mente que aquilo era um programa de comédia, produzida para fazer as pessoas rirem. Não era um documentário sobre a suposta natureza benigna (inexistente) de doenças infecciosas.

Considere esta imagem:

que mostra dois primos jovens de idades 4 e 7 respectivamente que morreram com 2 dias de diferença entre si por difteria, que é prevenível com uma vacina.

Ou esta:

que mostram dois irmãos e uma irmã, idades 7, 10 e 11, que morreram todos dentro de mais ou menos duas semanas de diferença entre si por difteria, que é prevenível com uma vacina.

O fato é que há cemitérios povoados por lápides de crianças que morreram por doenças preveníveis por vacinas. Embora seja verdade que a maioria das crianças sobrevive a essas doenças, todas elas podem matar, e nem sequer uma delas é verdadeiramente benigna. NENHUMA delas.

[17] Mas há muitas vacinas no programa de imunizações. 72 doses!

Você provavelmente viu essa imagem (ou alguma parecida):

A intenção disso é assustar as pessoas fazendo-as pensar que as crianças recebem mais vacinas desnecessárias comparadas a 50 anos atrás. Mas quando você olha mais de perto, a verdade se torna clara. Em 1960, só existiam 3 vacinas que preveniam 5 doenças (pólio, varíola, difteria, coqueluche e tétano). Em 1983 isso foi expandido para incluir mais 3 doenças (sarampo, caxumba e rubéola), e estudos mostraram que a eficácia era muito melhor para várias vacinas quando reforços eram dados. Em 2016 nós somos agora capazes de proteger crianças contra várias outras doenças, incluindo gripe, rotavírus, catapora, hepatite A, hepatite B, influenza haemofílica, pneumococos e meningite. Proteger crianças contra doenças é uma coisa boa, não uma coisa ruim. Sim nós damos para as crianças muito mais injeções agoras, mas só porque nós não queremos que elas sofram ou morram do jeito que aconteceu com tantas outras.

Eu tive catapora quando criança porque não havia vacina contra ela na época. Eu lembro disso vívidamente porque foi inquestionavelmente a pior semana da minha vida. Eu não desejaria catapora ao meu pior inimigo, então é ótimo que agora temos uma vacina contra ela.

Eu assisti minha irmã quase morrer de meningite por influenza H quando ela era uma criancinha (também não havia vacina na época). Ela sobreviveu e se recuperou plenamente, mas a criança no quarto adjacente não foi tão sortuda. Ele morreu. Mas nós podemos agora prevenir aquela doença, o que é uma coisa muito boa.

[18] Dão muitas vacinas muito cedo para os bebês

Não há nenhuma evidência que dê suporte a essa alegação. Você provavelmente foi levado a crer que o sistema imunológico das crianças não é suficientemente desenvolvido para ser capaz de lidar com os antígenos de uma vacina, mas mantenha em mente que as crianças conseguem lidar com todos os outros milhares ou milhões de antígenos com os quais elas lidam todo dia. Se você já observou um bebê por mais de 5 segundos, você sabe que eles colocam tudo direto em suas bocas. Aquela chupeta que o seu anjinho acabou de colocar de volta na boca estava no chão sobre o qual você anda. A menos que você tenha esterilizado seus sapatos esta manhã, seu chão (e aquela chupeta) está coberto de antígenos (leia-se: germes). O sistema imune do seu filho consegue lidar com isso, então ele consegue lidar com um pouquinho de antígenos de um pouquinho de vacinas, até ao mesmo tempo.

E sim, há evidências que deêm suporte a esta afirmação aqui: vacinação nos períodos recomendados durante o primeiro ano de vida não afeta adversamente o desenvolvimento neuropsicológico.

[19] Mas o programa de imunizações nunca foi testado

Sim, ele foi. Na verdade, aqui está um desses testes. E aqui está um estudo de macacos que receberam o programa de vacinas infantis completo e foram observados por 5 anos (tenha em mente que o autismo normalmente se manifesta por volta dos dois anos de idade), e não houve problemas no desenvolvimento neurológico. A parte irônica desse estudo é que ele foi financiado por uma organização anti-vacina que esperava encontrar problemas, mas não encontrou. Desnecessário dizer que eles não ficaram felizes.

[20] Mas o tribunal das vacinas pagou bilhões. Isso prova que danos causados por vacinas são reais e que vacinas são perigosas

O tribunal das vacinas foi criado nos Estados Unidos para facilitar que os pais recebessem compensações por eventos adversos sérios precedidos pela vacinação. Então vamos olhar os números de verdade do tribunal das vacinas. Segundo as estatísticas mais recentes (julho de 2018), entre 2006 e 2016 um total de 3 153 876 236 doses de vacinas foi distribuído nos EUA. Nesse mesmo período de tempo, houve 3 727 processos passíveis de compensação no tribunal das vacinas, somando $1,74 bilhão (o número de $3,5 bilhões sendo alardeado é o valor total dado pelo tribunal desde sua implementação em 1989). Analisando os números, temos 3 727 processos divididos por 3 153 876 236 doses de vacinas, o que dá 0,000118%. Isso é só 1 processo passível de compensação a cada milhão de doses. Em outras palavras, a quantia que o tribunal das vacinas garantiu parece imensa à primeira vista, mas é muito menos importante que o número real de casos, e o número de casos é bem menos importante que a proporção de casos passíveis de compensação comparados às doses dadas. E isso é um por milhão de doses.

Os números do tribunal das vacinas provam que as vacinas não são 100% seguras (o que é completamente reconhecido por todos na área médica), mas elas chegam MUITO perto.

Já quanto à alegação de que fabricantes de vacinas são imunes a processos, não, eles não são. Enquanto é verdade que nos EUA você precisa antes passar pelo tribunal das vacinas, ainda é possível que os fabricantes de vacinas sejam processador. E isso, é claro, ignorando o fato de que o tribunal das vacinas (e o NCVIP) só se aplica a um país no planeta.

[21] Só 10% das reações adversas às vacinas são reportadas

Eu não tenho certeza de onde veio essa estimativa, mas eu a vejo sendo repetida frequentemente. De qualquer forma, é claro que a maioria das reações adversas não chega a ser reportada, porque a maioria das reações às vacinas é leve e autolimitante (dor no local da injeção, inchaço e vermelhidão). Meu braço ficou um pouco dolorido depois da minha última vacina contra a gripe. Tecnicamente isso é uma “reação à vacina”, mas eu a reportei? Não. Só as sérias são reportadas.

[22] É meu filho, então é minha escolha

É claro que é escolha sua, e ninguém está dizendo que não é (exceto os proponentes verdadeiramente extremos de vacinas, que exageram coisas sobre serviços de proteção à criança). Mas e se você escolher bater no seu filho com uma tábua? Isso é escolha sua?

Sim, como você cria seu filho é escolha sua. Ninguém quer tirar de você suas escolhas. Se você quer alimentar seus filhos só com couve orgânica, sem açúcar, sem glúten, não transgênica, e cultivada ao ar livre, isso é sua prerrogativa. Você vai provavelmente terminar com uma criança mal nutrida (e exigente) (e muito brava), mas isso quem decide é definitivamente você. E claro, não vacinar seu filho também é escolha sua. Ninguém vai te forçar a levar seu filho para as vacinas dele, não importa o que terroristas psicológicos anti ou pró-vacina queiram te fazer acreditar, e ninguém vai levá-los para longe sem seu conhecimento ou consentimento. Mas se você está fazendo essa escolha com base em desinformação e medo, então você está fazendo a escolha errada.

[23] É errado que vacinas sejam compulsórias

Eu acho que isso depende da sua definição de “errado”. Se você quer dizer que viola seus direitos civis ou liberdades civis, não, não viola. A Suprema Corte dos EUA determinou que os estados podem sim sancionar leis de vacinação obrigatória em Jacobson v. Massachusetts. E eles também determinaram em Zucht v. King que as escolas podem recusar a admissão de crianças que não são vacinadas.

Existem atualmente leis de vacinação mandatória na Alemanha, na Argentina, na Bélgica, na Bósnia e Herzegovínia, na Bulgária, na China, na Croácia, na Eslováquia, na Eslovênia, na França, na Hungria, na Itália, em Malta, na Letônia, no Paquistão, na Polônia, na Sérvia, na República Tcheca, e na Ucrânia (não, os EUA e o Canadá não têm nenhuma lei federal obrigando vacinas, embora todos os 50 estados e 3 províncias exijam que crianças sejam vacinadas antes de entrar na escola).

[24] Crianças não vacinadas são mais saudáveis

Não, elas não são. Não há nenhum estudo de reputação séria que dê suporte a esse argumento. Há alguns poucos que foram publicados, mais notavelmente um de Mawson que foi primeiramente retratado e então publicado em um periódico predatório, mas ele era só um questionário de mães que educam seus filhos em casa. Relatórios médicos não foram consultados, e o status de vacinação não foi verificado. Na verdade, os autores até citam isso como uma potencial limitação do “estudo”: “Nós não procurávamos testar uma hipótese específica sobre a associação entre vacinação e saúde”. O outro é um questionário (de novo, não um estudo) do homeopata alemão Bachmair, que também não é um estudo.

Felizmente há estudos reais que observam a saúde de crianças vacinadas vs. crianças não vacinadas, como estes:

Todos esses estudos mostram a mesma coisa — que crianças não vacinadas NÃO são mais saudáveis, mas contraem doenças preveníveis por vacinas em uma taxa MUITO maior que a de crianças vacinadas. Crianças vacinadas não têm um risco maior de asma, de alergias ou de problemas cognitivos.

[25] Não há nenhum estudo verdadeiro de crianças não vacinadas vs. crianças vacinadas!

Verdade. Esse estudo seria antiético, porque ele iria propositalmente restringir vacinas de 50% dos participantes do estudo, que seriam as crianças vulneráveis que todo mundo está tentado proteger. Um estudo “verdadeiro” de crianças vacinadas vs. crianças não vacinadas observaria dezenas ou centenas de milhares de crianças do nascimento até a idade adulta, com somente metade delas sendo vacinadas, deixando a outra metade vulnerável, embora ninguém fosse saber qual metade seria qual. Enquanto eu estou certo de que alguns ativistas anti-vacina radicais voluntariariam seus filhos para estar no braço não vacinado do estudo, não é assim que estudos aleatorizados funcionam. Primeiro, haveria uma chance de 50% de que os filhos de qualquer outra pessoa estivessem no braço não vacinado, deixando-os vulneráveis a várias doenças, e nenhum pai razoável consentiria com um estudo desses. Ademais, haveria uma chance de 50% de que os filhos de ativistas anti-vacina estivessem no braço vacinado, e eu de algum modo duvido que eles estariam ok com isso.

De qualquer forma, nenhum pesquisador com qualquer senso de ética permitiria que um estudo desses fosse feito, sabendo que metade das crianças no estudo estariam sendo deixadas desprotegidas contra tantas doenças preveníveis, e nenhum comitê de ética permitiria que um estudo assim fosse proposto, que dirá feito. Isso simplesmente nunca vai acontecer.

[26] Segundo o VAERS…

Se você está usando o Sistema de Notificação de Eventos Adversos na Vacinação (sigla em inglês) no seu argumento, então eu preciso te explicar o que é o VAERS e como ele funciona. O VAERS é um sistema passivo de notificação no qual literalmente qualquer um pode notificar qualquer reação adversa a uma vacina. Eu vou repetir — qualquer um pode reportar qualquer reação adversa no VAERS. Como um exemplo, há várias crianças que morreram em acidentes de carro no VAERS:

VAERS ID 308661–1: “Nós recebemos em 12 FEV 2008 de um profissional da saúde a seguinte informação: Um paciente masculino de 7 anos de idade, nascido em 21 JUN 2000 foi vacinado com FLUVIRIN (número do lote desconhecido) em 19 NOV 2007. O paciente foi morto em um acidente de trânsito automobilístico em 01 FEV 2008. O sujeito havia participado de um experimento clínico financiado pela MedImmune. FLUVIRIN foi usado naquele experimento como controle, e a Novartis Vaccine & Diagnostics (NVD) doou o FLUVIRIN, mas nada além disso estava envolvido. Embora o evento não tenha ocorrido durante a duração do experimento, e o investigador não tenha visto nenhuma relação causal entre a vacinação com FLUVIRIN, ele reportou o evento para o IRB e para a NVD porque a criança tinha morrido.”

VAERS ID 367379–1: “Morto em um acidente de carro enquanto saía da rua onde a clínica estava localizada. Estava virando à esquerda em um cruzamento quando a porta do lado do motorista foi atingida por um veículo indo em sua direção. Morreu no impacto.

Também houve (por um curto período) um registro no VAERS do Dr. James Laidler, que recebeu uma vacina contra o sarampo, e no dia seguinte reportou que sua pele ficou verde, seus músculos cresceram e ele demonstrava raiva incontrolável: sinais de que ele estava se transformando no Incrível Hulk. Como o Dr. Laidler escreveu,

O maior problema com os dados do VAERS é que relatos podem ser submetidos por qualquer um e não são rotineiramente verificados. Para demonstrar isso, alguns anos atrás eu submeti um relato de que a vacina contra a influenza havia me transformado no Incrível Hulk. O relato foi aceito e registrado na base de dados.

Porque o relato era tão… incomum, um representante do VAERS me contatou. Depois de uma discussão sobre a base de dados do VAERS e as suas limitações, eles pediram minha permissão para remover o registro, que eu dei. Se eu não tivesse concordado, o registro ainda estaria lá, mostrando que qualquer alegação pode se tornar parte da base de dados, não importa quão ultrajante ou improvável.

E antes que você pergunte, isso não é uma piada. Quer dizer, a “reação” era claramente uma piada, mas o fato de que o Hulk estava no VAERS não é. Isso só realça a ausência de valor em usar o VAERS como evidência de que vacinas não são seguras. Não me entenda mal, o VAERS é extremamente importante porque ele pode ajudar cientistas a localizar efeitos colaterais de várias vacinas. Mas não confunsa as coisas: o VAERS não é evidência de que “dano por vacina” é real ou de que vacinas são perigosas.

[27] Vacinas não são 100% efetivas

Não, elas não são, e ninguém nunca disse que elas são. Cintos de segurança também não são 100% efetivos, mas você ainda deveria usar o seu.

Vamos só ver exatamente quão bem elas funcionam:

  • Incidência de tétano: caiu 96%;
  • Incidência de coqueluche: caiu 86%;
  • Incidência de sarampo: caiu mais de 99%;
  • Incidência de hepatite B: caiu 87%;
  • Incidência de difteria: caiu 100%.

Sim, vacinas são espetacularmente efetivas.

[28] Vacinas não são 100% seguras

Nada é 100% seguro. Quando discutimos efeitos colaterais severos, vacinas são aproximadamente 99,9999% seguras (1 reação adversa severa para cada 1 milhão de doses). Se eu te contasse que complicações severas de uma cirurgia de “rotina” são de 1/1000, você sairia correndo e gritando? Provavelmente não, mas esse é o número real para cirurgia de “rotina” de vesícula biliar, e é literalmente mil vezes maior que o risco de qualquer vacina. E enquanto várias complicações cirúrgicas severas resultam em morte ou deficiência permanente, a maioria esmagadora dos pacientes com reações adversas severas a vacinas se recuperam completamente.

[29] A vacina contra a gripe não vale nada

Eu vou concordar que a vacina contra a gripe é a menos efetiva das vacinas disponíveis, e a eficácia varia de ano em ano dependendo de quão boa é a aproximação das cepas prevalentes em infecções. Diferentemente das vacinas acima, a eficácia média da vacina da gripe fica por volta de 45%, o que a princípio admito que soa bem terrível. Mas olhe por esse ângulo — 45% é literalmente infinitas vezes maior que 0%, que é a efetividade exata de não receber uma vacina contra a gripe.

[30] A vacina contra a gripe causa síndrome de Guillain–Barré

SGB é uma complicação conhecida da vacina contra a gripe — uma extremamente rara. O risco relativo de SGB após qualquer vacina de gripe é de 1,41 (1,84 após vacina contra gripe pandêmica, 1,22 após vacina contra gripe sazonal). Entretanto, o risco de SGB é significantemente mais alto (por volta de 1–8 casos em uma população de 100 000) após ser de fato infectado pela gripe (ou outras infecções).

O risco de SGB após a vacinação contra gripe é menor que 1 por milhão, e a vasta maioria de casos de SGB se recupera completamente.

[31] A vacina contra a gripe causa a gripe

Não, ela não causa, e nunca causou. Não ocasionalmente, não às vezes, NUNCA. A vacina contra a gripe é uma vacina de vírus morto, o que significa que é 100% biologicamente impossível pegar gripe por causa de uma vacina contra a gripe. Se sentir um pouco mal por um ou dois dias após a vacina não é gripe — é o seu sistema imunológico reagindo à vacina, o que significa que ele está fazendo o que deveria fazer. Se você pegou gripe de verdade imediatamente depois da sua vacina, você tinha 1) provavelmente adquirido o vírus anteriormente, mas ainda não tinha mostrado sintomas, ou 2) pegado o vírus onde quer que você tenha ido tomar a vacina.

Note que isso se refere à vacina injetável, não à vacina intranasal, que é uma vacina atenuada.

[32] Ocorre excreção viral na vacina intranasal contra a gripe

Sim, ocorre, mas é só por mais ou menos uma semana e em níveis muito baixos. E existem exatamente 0 casos reportados de doença real causada por esse vírus. Nenhum. Zero. Isso nunca aconteceu.

[33] A deriva gênica permite que o vírus atenuado da gripe mude de volta para a forma selvagem e cause infecções

Isso é absolutamente verdade. Na realidade, isso muito provavelmente vai acontecer. E as chances são de mais ou menos 1 para cada 100 quintilhões de ciclos de replicação. Para quem não estiver familiarizado com esse número, é um trilhão de trilhões, ou 100 000 000 000 000 000 000. Se você fizer as contas, vai levar aproximadamente 1000 anos até que isso aconteça, e se tudo correr bem todas as doenças infecciosas já vão ter sido erradicadas.

[34] Eu nunca me vacinei contra a gripe, e eu nunca peguei gripe

Isso é ótimo. Mas deixe-me descrever este cenário bobo: eu coloco uma banana na minha lareira todas as noites antes de dormir, e nunca houve um ataque de ursos à minha casa. Então isso significa que a banana previne ataques de ursos?

Ok, ok, eu vou te dar uma analogia um pouco menos boba — eu nunca me envolvi em um acidente de carro sério e eu não uso meu cinto de segurança, então eu não preciso usar um cinto de segurança. Ou considere isso — eu não tenho um detector de fumaça ou um extintor de incêndio na minha casa, então eu não preciso nem de um detector de fumaça nem de um extintor de incêndio. Ou que tal isso — meu filho nunca caiu da sua bicicleta e sofreu um traumatismo craniano e ele nunca usa capacete, então ele não precisa de um capacete.

O fato de que você nunca teve gripe apesar de não ser vacinado contra ela não significa que você não precisa da vacina, só significa que você, por acaso, não precisou dela antes. Isso não significa que o seu sistema imune é melhor que o de qualquer outr pessoa. Isso só indicaa que você tem tido sorte até agora.

[35] Por que você daria a vacina contra a hepatite B para um bebê com 1 dia de idade?

Hepatite B não é uma infecção só de usuários de drogas intravenosas e de prostitutas. É uma infecção extremamente séria ao redor do mundo, com quase 300 milhões de pessoas sofrendo com ela. Aproximadamente 2 milhões de crianças ao redor do mundo são infectadas com hepatite B. O grande problema é que quando é contraída na infância, a hepatite B tem muito mais chances de se desenvolver em uma doença crônica, resultando em cirrose ou câncer de fígado. Ela pode ser transmitida de mãe para filho durante o parto, ou de criança para criança por mordidas ou outros fluidos corporais. Ninguém está dizendo que seu filho vai injetar heroína quando fizer 3 anos, mas ao mesmo tempo você não pode garantir que o pirralhinho do apartamento ao lado que está, sem saber, infectado assintomáticamente não vai morder seu filho e dar a ele uma sentença de morte.

A parte boa da vacina contra hepatite B é que ela é extremamente efetiva, com uma queda mundial de 72% em sua prevalência graças à vacinação difundida. Isso também deveria colocar para dormir o seu medo de que um bebê de 1 dia de idade não esteja equipado para lidar com uma vacina. Mas espere, tem mais! A melhor parte é que a vacina mostrou durar por pelo menos 30 anos, sem nenhum reforço dado após a série inicial de 3 injeções. Em outras palavras, uma vacina dada ao seu filho recém-nascido vai durar até bem depois da época de ele fazer coisas estúpidas.

[36] A imunidade dada pelas vacinas decresce

Dependendo do tipo de vacina, sim, às vezes decresce. Contudo, se diminuísse significativamente, nós estaríamos vendo epidemias de difteria, pólio e sarampo em adultos previamente vacinados. Você ouviu falar de qualquer uma dessas?

Não?

Eu também não.

Se você ainda estiver usando esse argumento, veja o #37 abaixo.

[37] A vacina contra coqueluche não funciona

É verdade que a vacina atual contra coqueluche não funciona tão bem quanto a anterior. A vacina original contra coqueluque era uma vacina inativada, o que significa que a bactéria B. pertussis inteira (inativada) era usada, e ela era extremamente efetiva. No entanto, graças a uma taxa relativamente alta de reações adversas locais (dor, vermelhidão e inchaço), ela foi trocada por uma vacina acelular, que contém somente a toxina pertussis ou outro dos vários componentes da bactéria, e não o organismo inteiro. Porém, a vacina acelular não só é mais cara, mas a taxa de efeitos colaterais locais é quase a mesma da vacina inativada. Para piorar as coisas, ela não é tão efetiva quanto a vacina inativada, e a imunidade tende a decrescer dentro de 5 a 7 anos. Mas a imunidade ao tétano presente na vacina tríplice bacteriana (difteria, tétano e coqueluche) também decresce em aproximadamente 10 anos, então reforços são recomendados para ambas.

Esse é o fim da história. Ela funciona, mas não tão bem quanto a anterior e não tão bem quanto deveria. Uma vacina melhor é necessária. Não se preocupe, eu também não estou inteiramente satisfeito com essa resposta.

[38] Imunidade natural é melhor que imunidade artificial

Isso depende da sua definição de “melhor”:

  • Dura mais? Certo.
  • Não requer uma injeção assustadora de ingredientes que têm nomes assustadores mas que deixam de ser assustadores depois que você os entende? Definitivamente?
  • Requer que você sofra uma doença E SOBREVIVA para ganhar imunidade? SIM.

Não sofrer com uma doença é sempre melhor que sofrer com uma doença, eu te garanto.

Além disso, eu acho chocante que as pessoas pensem que “natural” é melhor de alguma forma. Beladona é natural, mas vai te matar. Tornados são completamente naturais, mas vão te matar. Não existe muita coisa mais natural que a aranha-teia-de-funil, mas ela vai te matar. Natural não necessariamente significa melhor. De jeito nenhum.

[39] Eu nunca conheci ninguém que tenha tido qualquer uma dessas doenças

Essa afirmação é incrivelmente irônica já que ela implica que essas vacinas na realidade funcionam extremamente bem. Vacinas são vítimas de seu próprio sucesso. Porque elas funcionam tão bem e quase erradicaram tantas doenças previamente comuns, médicos atualmente em exercício provavelmente nunca viram a maioria (senão todas) delas, tampouco os pais. A lembrança de crianças mortas ou sequeladas pela pólio, a visão de fileiras e fileiras de crianças em hospitais em pulmões de aço evaporou até o ponto em que algumas pessoas realmente acreditam que a pólio era relativamente inofensiva. O fato de que hospitais de varíola, hospitais inteiros dedicados ao tratamento da varíola, não mais precisam sequer existir por causa das vacinas foi perdido para a devastação do tempo. Ninguém lembra dos pais esperando em filas para vacinar suas crianças contra o sarampo. Mas essas filas ainda existem hoje em dia:

[40] O número de casos de todas essas doenças estava caindo antes das vacinas

Esse é comumente conhecido como o argumento de “VACINAS NÃO NOS SALVARAM”, e ele é 100% falso. Olhe para este gráfico:

Isso é o que estava acontecendo com a mortalidade na primeira metade do século XX. Está claro que as taxas de mortalidade estavam certamente caindo desde a virada do século XIX para o século XX, até o ponto em que a mortalidade era próxima de 0 para a maioria dessas doenças, mas isso pode ser atribuído a grandes avanços da ciência médica, incluindo tratamento intensivo, antibióticos, ventilação mecânica, etc.. Então é claro que a mortalidade de tudo ia melhorar. Para ilustrar, a expectativa de vida nos EUA em 1900 era de 47 anos para um homem branco, e em 1950 ela tinha aumentado para 65,6 (uma melhora de mais de 28% em somente 50 anos).

Mas o número de casos dessas doenças (TODAS ELAS) não caiu até a introdução das vacinas. Novamente, para ilustrar:

Essas são as taxas de infecção de pólio e de sarampo, e você pode novamente ver claramente que as taxas NÃO CAÍRAM até a introdução das vacinas. A cada vacina que era introduzida, a incidência da doença caía dramaticamente. Isso aconteceu todas as vezes em que uma vacina nova foi introduzida, bem a tempo.

[41] Água limpa e saneamento fizeram as taxas de doenças infecciosas caírem, não vacinas

Isso claramente não é verdade porque:

  • taxas de difteria começaram a cair na década de 1930 após a vacina ser introduzida, e
  • taxas de pólio começaram a cair em 1955, quando a vacina foi introduzida, e
  • taxas de sarampo começaram a cair em 1963, quando a vacina foi introduzida, e
  • taxas de rubéola começaram a cair em 1969, quando a vacina foi introduzida, e
  • taxas de catapora começaram a cair em 1995, quando a vacina foi introduzida, e
  • taxas de rotavírus começaram a cair em 2006, quando a vacina foi introduzida.

Ademais, enquanto o gráfico de mortalidade certamente faz parecer que a taxa de mortalidade desas doenças era 0, ela não era. Nem remotamente. Centenas de crianças nos EUA ainda morriam de sarampo todos os anos:

Note que esse gráfico começa em 1950, depois de a taxa de mortalidade ter caído para quase 0 segundo o seu gráfico. Esse “quase 0” ainda se traduzia em 400 a 500 crianças mortas nos EUA todos os anos. E uma vez que a vacina foi introduzida, então e só então a mortalidade caiu de fato para 0.

[42] Vacinas causam SMSI (síndrome da morte súbita infantil)

Não, elas não causam. Você entendeu inteiramente o contrácio: vacinas reduzem o risco de SMSI em 50%. Isso é baseado não só em um artigo, não em dois, mas em uma meta-análise de nove estudos caso-controle que observaram a relação entre vacinação e SMSI. E ela descobriu que a vacinação reduz o risco de SMSI pela metade.

Vacinas NÃO causam SMSI. Elas nunca causaram.

[43] SMSI está listada na bula como um potencial efeito colateral!

Ah, você deve estar falando disto?

Eventos adversos reportados durante o uso pós-aprovação da vacina Tripedia incluem púrpura trombocitopênica idiopática, SMSI, reação anafilática, celulite, autismo, convulsão/convulsão tônico-clônica, encefalopatia, hipotonia, neuropatia, sonolência e apnéia. Eventos foram incluídos nessa lista por causa da seriedade ou frequência da notificação. Por esses eventos serem reportados voluntariamente por uma população de tamanho incerto, nem sempre é possível fazer uma estimativa confiável de suas frequências ou estabelecer uma relação causal com os componentes da vacina Tripedia.

Isso é um excerto de uma bula que diz “Eventos adversos reportados durante o uso pós-aprovação”. Ele também diz “Por esses eventos serem reportados voluntariamente por uma população de tamanho incerto, nem sempre é possível fazer uma estimativa confiável de suas frequências ou estabelecer uma relação causal”.

A bula de uma vacina é um documento legal, e fabricantes de vacinas são legalmente obrigados a listar todo evento adverso que tiver sido reportado, não importa se a vacina o causou ou não. Isso também é o porquê de você ver “autismo” nessa lista. Foi um acontecimento reportado em crianças que receberam a vacina. Mas autismo também foi reportado em crianças que não receberam a vacina, embora não haja nenhum documento legal para isso. A bula da vacina não alega, implica, ou de qualquer outro modo sugere que a vacina causou esses efeitos.

[44] Ninguém morreu de sarampo nos EUA desde 2003

Isso é outro documento irônico da eficácia das vacinas. Infelizmente, isso é falso, já que uma mulher no estado de Washington morreu de complicações relacionadas ao sarampo em 2015, duas pessoas morreram de sarampo em 2010, e duas pessoas morreram de sarampo em 2009.

Isso também ignora o fato de que, ao redor do mundo, mais de 100 000 crianças ainda morrem de sarampo todo ano (veja o #16 acima).

[45] Mas mais de 100 pessoas morreram por causa da tríplice viral desde 2003, então a vacina mata mais pessoas que a doença

Essa cifra de “‘100” é derivada do VAERS, que como você aprendeu no #26 acima não é desenhado para acompanhar esse tipo de dado. Então, não há como determinar se essa cifra é sequer remotamente verdadeira, embora eu seriamente duvide que ela sequer passe perto. Há aproximadamente 4 milhões de crianças nascidas nos EUA todos os anos, e como a cobertura vacinal média é de 94,3%, isso são 3 772 000 crianças recebendo a vacina contra o sarampo todos os anos. Como nós sabemos que a taxa de eventos adversos sérios é de aproximadamente 1 por milhão de doses, isso seria entre 3 e 4 eventos adversos anualmente, e a maior parte das crianças se recupera completamente. Mesmo se todas elas morressem (elas não morrem), isso seria 16 anos x 3,7 crianças = aproximadamente 59 mortes, não 100. E isso é se todas elas morressem, o que é mais que garantido que não acontece.

Então, não.

[46] Os médicos até admitem que vacinas são perigosas

Eles admitem? Quais deles? Quantos deles? Isso é só um outro formato de “Algumas pessoas acreditam…”. Se eu dissesse “Eu acredito que o céu é roxo”, eu poderia então logicamente dizer que “Algumas pessoas acreditam que o céu é roxo”. O céu é roxo? Isso faz com que o céu seja roxo? Claro que não, mas algumas pessoas acreditam nisso, então quer dizer que isso pode ser verdade! Exceto que não é.

O que você está dizendo é que alguns médicos acreditam nisso, ou pelo menos eles dizem que acreditam. Esses são médicos marginalizados, membros de grupos marginalizados que acreditam em coisas marginalizadas. Então a pergunta importante é: quais outras crenças esses médicos compartilham? Se você procurar o bastante, você pode econtrar paleontólogos que acreditam que a terra tem menos de 10 000 anos (como este cara que tem um doutorado em paleontologia de Harvard. Sério). Eu te garanto que há alguns médicos que são anti-vacina, os mais proeminentes e/ou barulhentos sendo:

  • Joe Mercola, osteopata, que também acredita que protetor solar causa câncer de pele, que homeopatia pode tratar autismo, que o HIV não causa a AIDS, e que tem uma loja online;
  • Sherri Tenpenny, osteopata, que também acredita que um terremoto pode fazer a Califórnia se separar da América do Norte e afundar no Oceano Pacífico, e que faltou a todas as aulas da 3ª série do fundamental porque ela estava muito doente, e que também tem uma loja online;
  • Toni Bark, médico, que também pratica homeopatia, e que tem uma loja online;
  • Russell Blaylock, médico, que também acredita em chemtrails, que aspartame causa esclerose múltipla, e que glutamato monossódico é tóxico ao cérebro, e que tem uma loja online;
  • Tetyana Obukhanych, doutora que não é médica mas tem um doutorado em imunologia, que acredita que a imunologia não tem nenhuma explicação baseada em evidências para a imunidade provida por vacinas, que vacinas comprometem nossa “imunidade natural”, e que homeopatia funciona;
  • Jack Wolfson, osteopata, que se autointitula um “cardiologista holístico”, cobra $2800 pela primeira consulta, e que acredita que crianças deveriam pegar sarampo, rubéola, caxumba e catapora porque é “direito delas”, e que tem uma loja online;
  • Kelly Brogan, médica, que também é uma negacionista do HIV-AIDS, aconselha que diabéticos não tomem insulina, e que tem uma loja online;
  • Suzanne Humphries, médica, que acredita que homeopatia funciona, que acredita que coqueluche pode ser tratada com vitamina C, e que acredita que a Bíblia é uma razão para não se vacinar, mas que não tem uma loja online.

Sim, há um punhado de médicos excluídos que falam que vacinas são perigosas. Mas esses são charlatães que estão se aproveitando do mesmo medo que te trouxe aqui para atrair pessoas crédulas e ganhar dinheiro. É por isso que essas pessoas quase invariavelmente possuem lojas onlines, e é assim que Mercola ganha aproximadamente $10 milhões por anos com seu website.

Tenha em mente que cada uma das maiores associações médicas no mundo inteiro apoia vacinas. Cada. Uma. Delas. E se você ouviu falar da Associação Americana de Médicos e Cirurgiões, apesar de seu nome soar oficial eles são um daqueles grupos marginalizados que eu mencionei que advogaram por postulados como negacionismo da AIDS e abortos causando câncer de mama. Charlatães, todos.

[47] Vacinas causam doenças autoimunes

Há algumas poucas associações conhecidas de vacinas aumentando o risco de certas doenças autoimunes, como a vacina contra a gripe com a síndrome de Guillain-Barré e a tríplice viral com a púrpura trombocitopênica idiopática (PTI). E faz sentido que vacinas possam hipoteticamente causar doenças autoimunes, já que elas são desenhadas para estimular o sistema imune, e doenças autoimunes são distúrbios do sistema imune. Contudo, estudos mostraram que isso é muito raro. Usando o exemplo da tríplice viral e da PTI, há um aumento no risco. Entretanto, 1) o risco com vacinas é menor que o risco com uma infecção de sarampo, 2) o quadro clínico de PTI precedida por vacinação é menos severo quando comparado com PTI precedida de infecção por sarampo, e 3) 90% das crianças com PTI se recuperam completamente dentro de 6 meses.

Se você está curioso quanto ao risco real, eles só descreveream 23 casos em 700 000 crianças. Isso é só 0,0033%.

Para outras doenças autoimunes (como síndrome de Shoenfeld), ocorrências são tão assustadoramente raras que estudá-las é difícil exatamente por causa de sua raridade, e alguns pesquisadores não acreditam que a síndrome de Shoenfeld sequer exista. Um excelente artigo de revisão pode ser encontrado aqui, e ele detalha basicamente tudo que eu acabei de dizer.

[48] Vacinas causam convulsões

Convulsões febris são um efeito colateral bem conhecido e relativamente comum de vacinas, mas elas também são um efeito colateral bem conhecido e relativamente comum de várias doenças febris. É por isso que elas são chamadas de “convulsões febris” — elas são causadas pela febre. Elas também nem passam perto de ser tão comuns quanto pode ser que você imagine — este estudo encontrou um risco de 1 convulsão febril para cada 3 300 vacinações, mesmo quando múltiplas vacinas eram dadas ao mesmo tempo. Mantenha em mente que de 3% a 5% das crianças passam por uma convulsão febril todos os anos graças a uma infecção (em outras palavras, sem relação com vacinas), então um pediatra ocupado que visse 500 crianças por ano veria uma convulsão febril relacionada a vacinas a cada 5–10 anos.

E assim como qualquer outra convulsão febril, as convulsões associadas a vacinas não causam ou aumentam o risco de distúrbios convulsivos ao longo da vida. E este estudo de acompanhamento a longo prazo de crianças que tiveram convulsões febris não mostrou nenhuma diferença na performance acadêmica delas quando comparadas a seus colegas.

Convulsões febris são assustadoras para pais, não tenha dúvidas. Mas ainda que pareçam amedrontadoras, elas são benignas.

[49] Vacinas causam alergias, asma e eczema

Esse mito se refere à suposta epidemia de alergias alimentares, alergias a amendoim, dermatite atópica, etc.. Esse mito não é, porém, sustentado por dados reais.

  • Este estudo de milhares de crianças de 97 centros urbanos em 10 países não mostrou nenhuma evidência de que qualquer vacina esteja associada a alergias alimentares, alergias respiratórias, ou eczema;
  • Este estudo de quase 1 000 crianças descobriu a exata mesma coisa;
  • Este estudo britânico de quase 29 000 crianças descobriu a exata mesma coisa;
  • E este estudo de quase 15 000 crianças de 5 países descobriu, uma vez mais, a exata mesma coisa.

Há múltiplos estudos de dezenas de milhares de crianças ao redor de dúzias de países ao redor do globo que mostram todos que vacinas não estão associadas a alergias, asma ou eczema.

[50] Mas e o incidente dos Laboratórios Cutter?

Essa é uma daquelas tragédias terríveis e desventuradas na medicina que nunca deveriam ter acontecido, mas aconteceram mesmo assim. As vacinas contra a pólio de um lote feito pelos Laboratórios Cutter em 1955 não foram propriamente inativadas, e ao menos 120 000 pessoas as receberam antes que elas fossem retiradas de circulação, causando o chamado incidente dos Laboratórios Cutter. Isso causou por volta de 40 000 casos de pólio leve, 56 casos de paralisia, e 5 mortes.

Há outras tragédias médicas, incluindo a produção e distribuição de produtos sanguíneos contaminados com HIV antes da descoberta do vírus, os horríveis experimentos humanos do Dr. Mengele durante o Holocausto, e experimentos humanos similarmente medonhos no Japão na Unidade 731. Mas talvez o mais notório seja o Estudo de Tuskegee em 1932, no qual homens negros já infectados com a sífilis foram intencionalmente deixados sem tratamento para a infecção, mesmo depois da comprovação do sucesso da penicilina em tratá-la, em 1947. Os investigadores restringiram tanto tratamento quanto informação sobre o tratamento até um denunciante desmascará-los em 1972. O fato de que isso durou 40 anos só acrescenta à sua naturea extremamente antiética, e esse experimento serviu de combustível para uma profunda falta de confiança na indústria médica que se mantém até os dias de hoje.

Esses acontecimentos são raros mas terríveis. Não há absolutamente nenhuma dúvida de que eles nunca deveriam ocorrer. Mas eles ocorreram e ainda ocorrem. Contudo, isso dificilmente é uma razão para argumentar contra a vacinação em geral. Incidentes como esse deviam ser tomados como lições muito difícieis a partir das quais podemos aprender e prevenir que qualquer coisa semelhante possa vir a acontecer novamente.

[51] E o encontro de Simpsonwood…

E aqui é onde começamos a mergulhar no Reino da Teoria da Conspiração. Essa conferência do CDC (“Revisão Científica de Informações de Bancos de Dados sobre a Segurança de Vacinas”) realmente aconteceu em 2000. Eles revisaram os dados referentes à possível conexão entre timerosal e autismo e, por fim, refutaram qualquer conexão, obviamente. Aí entra Robert F. Kennedy Jr., que escreveu um artigo em 2005 (que foi retratado pela Salon) alegando que a conferência tinha a intenção de esconder as evidências, e que o seu autor principal, Thomas Verstraeten, as alterou.

Bem, há alguns problemas com isso. Em primeiro lugar, a transcrição inteira do encontro é livremente disponível (por exemplo aqui) (atenção, é realmente longa), e não há nenhuma evidência de qualquer conspiração para mascarar ou alterar quaisquer evidências. Em segundo lugar, o Comitê do Senado dos EUA para Saúde, Educação, Trabalho e Pensões revisou toda a questão e não encontrou nenhuma evidência de impropriedade, nem da parte do Dr. Verstraeten, nem da parte do CDC. Na verdade, eles concluíram que “Em vez de esconder os dados ou restringir o acesso a eles, o CDC os distribuiu, várias vezes a indivíduos que nunca os tinham visto, e solicitou opiniões externas sobre como interpretá-los”.

[52] Nós só precisamos de vacinas mais seguras

Eu queria poder só dizer “Obviamente” e deixar por isso mesmo. Nós precisamos de tudo mais seguro — carros mais seguros, capacetes de bicicleta mais seguros, equipamentos esposrtivos mais seguros, cortadores de grama mais seguros, baterias de lítio mais seguras, fiação elétrica doméstica mais segura, comida mais segura, escolas mais seguras. Tudo ao nosso redor deveria ser seguro, e tudo ao nosso redor (na maioria das vezes) foi desenhado especificamente para ser o mais seguro possível dentro dos limites tecnológicos. À medida que a tecnologia evolui e se torna mais segura (pense em cintos de segurança seguidos por air bags seguidos por ainda mais air bags), os produtos ficam ainda mais seguros. O mesmo acontece com as vacinas. À medida que a ciência das vacinas evoluiu, o número de antígenos nas vacinas decresceu dramaticamente, mesmo que o número de vacinas dadas tenha aumentado:

E à medida que a ciência continua evoluindo, os produtos vão continuar se tornando mais seguros.

[53] Sarampo protege contra o câncer

Essa alegação boba é baseada neste único artigo (eu nem posso chamá-lo de estudo) de 1998 no qual praticantes de antroposofia (eu nem posso chamá-los de médicos) da Suíça conduziram um questionário e supostamente descobriram que o número de doenças febris (p. ex.: sarampo, caxumba, rubéola, catapora, coqueluche, etc.) era inversamente proporcional ao risco de cânceres que não o de mama. Por que essa alegação é tão boba? Para começar, medicina antroposófica é uma prática alternativa baseada em ocultismo, homeopatia, e outras bobagens pseudocientíficas sortidas. Como um exemplo, Rudolf Steiner, um dos fundadores da medicina antroposófica, acreditava que 1) o sexo de um bebê é determinado na concepção pelo alinhamento das estrelas, e que 2) o coração não é uma bomba de verdade, mas que, em vez disso, o sangue circula por meio de seu próprio “momento biológico”. Se o fundador de uma seita dessas (eu nem posso chamá-la de medicina alternativa) não consegue nem entender conceitos tão (relativamente) simples como genética e o sistema circulatório, eu mal posso ter expectativa de que seus seguidores devotos entendam algo tão complexo quanto a condução de um estudo científico.

E isso realmente não foi um estudo científico. Foi meramente um questionário de praticantes de antroposofia com todos os viéses inerentes de confirmação e de observação que se esperaria. Isso é similar ao questionário de Bachmair no qual somente mães que educavam seus filhos em casa foram entrevistadas por um homeopata. Se parte de uma premissa enviesada e daí para frente só se sai dos trilhos.

A principal razão pela qual esse artigo é completamente sem valor é que ele não foi replicado apesar de 20 anos de oportunidade para fazê-lo. Esse tipo de informação deveria ter trazido uma reação de “AHA!” do mundo médico. Em vez disso, não houve nada. Nenhuma replicação, nenhuma confirmação, nada. Ela simplesmente não é verdadeira.

[54] Pessoas que tomam vacinas não devem ficar em contato com pessoas doentes por causa da excreção viral

Você talvez tenha visto este guia do Johns Hopkins:

A imagem mostra um documento do Hospital Johns Hopkins, com cuidados que devem ser tomados com pacientes imunocomprometidos. No box vermelho cuja legenda é “Can I have visitors?”, se aconselha que pacientes imunocomprometidos evitem contato com visitantes que recentemente receberam vacinas atenuadas (como contra a catapora, sarampo, rubéola, pólio, varíola ou a vacina intranasal contra a gripe).

Isso era de fato uma recomendação do Johns Hopkins como precaução antes da efetiva coleta de informação. Porém, essa questão agora já foi extensivamente estudada, e o hospital revisou sua declaração:

Ao seu tweet, o Hospital Johns Hopkins anexou um aviso em que se lê ”O recurso referido (que não está mais em nosso site) não refletia as recomendações mais atualizadas do Johns Hopkins. Nós atualizamos nossos materiais de educação aos pacientes para refletir recomendações atuais, que notam que pacientes submetidos a transplante de medula óssea ou imunocomprometidos por conta de tratamentos contra o câncer não precisam ter exposição restrita a pessoas que foram recentemente vacinadas”.

A recomendação atual é que “Pessoas próximas de pacientes com imunidade comprometida não devem receber a vacina oral contra a pólio porque elas podem excretar o vírus e infectar um paciente com imunidade comprometida. Pessoas próximas podem receber outras vacinas comuns, pois a excreção viral é improvável e oferece pouco risco de infecção a um sujeito de imunidade comprometida”.

Há relatos raros de várias vacinas inativadas causando excreção viral:

Em suma, sim, algumas vacinas atenuadas provocam excreção viral como esses casos provam. Contudo, os casos são mais leves que infecções por cepas selvagens, e eles são extremamente raros. Milhões de doses dessas vacinas são dadas todos os anos, então esse argumento só dá força ao argumento de que vacinas são extremamente seguras.

[55] A vacina contra a gripe nunca teve sua capacidade de causar câncer testada

Você talvez tenha visto este trecho de bula:

Toxicologia não-clínica — Carcinogênese, mutagênese e prejuízo à fertilidade: FLUARIX QUADRIVALENTE não foi avaliada para potencial carcinogênico ou mutagênico ou infertilidade masculina em animais. Vacinação de ratas fêmeas com FLUARIX QUADRIVALENTE não teve nenhum efeito sobre a fertilidade.

Aqui está a realidade: todas as vacinas (TODAS ELAS) passam por testes toxicológicos pré-clínicos de segurança, que incluem mutagenicidade e carcinogenicidade. Mas o problema com a vacina contra a gripe é que a composição da vacina é diferente a cada ano, então a injeção de cada ano não pode possivelmente ser testada antes do uso. Mas os dados de várias décadas de vacinação contra a gripe mostram que ela não causa câncer.

[56] Bill Gates disse que vacinas estão sendo usadas para o despovoamento

Essa má interpretação só não vai morrer. Isso NÃO é o que ele disse. Aqui está a sua fala tirada BASTAAAAAAAAAAAANTE de contexto:

Primeiro, nós temos a população. O mundo hoje tem 6,8 bilhões de pessoas. Ele está caminhando para mais ou menos 9 bilhões. Agora, se nós fizermos um trabalho muito com com novas vacinas, serviços de saúde, e serviços de saúde reprodutiva, nós poderíamos diminuir isso em, talvez, 10% ou 15%.

Apesar de isso parecer amaldiçoador, ele não estava falando em reduzir a população, ele estava falando em reduzir o crescimento da população. O sr. Gates estava falando em maneiras de reduzir a criação de dióxido de carbono, e uma dessas maneiras é a redução da taxa de crescimento da população, não a redução da população. ISSO é o que ele quis dizer com “diminuir isso em […] 10% ou 15%”. Ele falou repetidamente que, à medida que as taxas de vacinação sobem em paises em desenvolvimento, a mortalidade cai, e à medida que mais crianças sobrevivem, pais não sentem a necessidade de continuar tendo 8 ou 10 filhos (ênfase acrescentada):

Um fato surpreendente, mas crítico, que aprendemos é que reduzir o número de mortes, na realidade, reduz o crescimento populacional. […] Contrariando a visão Malthusiana de que a população crescerá até o limite de quantas crianças puderem ser alimentadas, na verdade os pais escolhem ter filhos suficientes para dar-lhes uma chance alta de que vários sobreviverão para lhes dar suporte quando eles ficarem velhos. À medida que o número de crianças que sobrevivem até a vida adulta aumenta, pais conseguem alcançar esse objetivo sem ter tantas crianças.

e

Quando uma mãe consegue escolher quantos filhos terá, seus filhos são mais saudáveis, são mais bem nutridos, suas capacidades mentais são mais altas — e os pais têm mais tempo e dinheiro para investir na saúde e na educação de cada criança. É assim que famílias e países sae da pobreza. Essa conexão entre salvar vidas, uma menor taxa de natalidade, e o fim da pobreza foi a mais importante lição inicial que eu e Melinda aprendemos sobre a saúde global.

Não há nenhuma conspiração eugenista, nenhum despovoamento, nenhuma agenda 21, e nenhuma conspiração para reduzir a população mundial a 500 milhões.

[57] Vacinas são contaminadas com partículas nocivas

Esse mito se refere à avaliação um tanto quanto boba de Antonietta Gatti da chamada contaminação de vacinas com nanopartículas, que saiu pela culatra. Primeiramente, você vai notar que o artigo está na Medcrave, não no Pubmed. Isso deveria ser um mau sinal gigante, porque a Medcrave é uma editora predatória de acesso aberto com fins lucrativos. Por exemplo, este autor teve um relato de caso completamente fictício aceito para publicação, alegadamente com revisão por pares, por $799.

De qualquer forma, Gatti e seus parceiros encontraram números variados de partículas inorgânicas quando evaporaram 44 amostras de 30 vacinas diferentes e as observaram com um microscópio eletrônico. E eles encontraram pequenas partículas de várias substâncias, incluindo tungstênio, ouro, alumínio, etc., variando de 2 a 1821 partículas por 20 microlitros de fluido. Embora isso pareça assustador, essa é uma quantidade incrivelmente pequena dessas substâncias quando comparadas ao volume da vacina, que é por si só muito pequeno.

Eles não usaram controles, então não há como dizer quantas dessas partículas seriam encontradas em água de torneira ou soro estéril ou água destilada ou qualquer outra coisa. A nota de rodapé é que nada é completamente puro, mas esse estudo na verdade mostra que vacinas são muito, muito puras.

[58] Gardasil (vacina contra HPV) é perigosa

Os supostos perigos comuns que eu ouço sobre a Gardasil são de distúrbios autoimunes, doenças desmielinizantes (como esclerose múltipla), e aborto espontâneo. Contudo, há uma miríade de estudos sobre a segurança da Gardasil, mostrando que ela é muito segura. Aqui está uma revisão de 109 estudos sobre a sua segurança, através de seis países e incluindo mais de 2,5 milhões de sujeitos que mostraram apenas um aumento no risco de reações no local da injeção (dor, vermelhidão, suor), mas nenhum aumento no risco de qualquer uma das várias coisas supostamente atribuídas ao HPV, incluindo doenças desmielinizantes e síndromes neurológicas.

E aqui está um estudo de quase 1 milhão de garotas na Dinamarca e na Suécia que não mostra nenhum aumento no risco de eventos autoimunes, neurológicos ou tromboembólicos.

E aqui está uma revisão da Cochrane de 26 estudos, que não encontrou nenhum aumento no risco de efeitos colaterais sérios ou de abortos espontâneos.

A linha de fundo é que a Gardasil é muito segura. Ah, e ela previne o câncer.

[59] A vacina contra HPV causa falha ovariana prematura

Desculpa, eu deixei esse de fora do último item. Existem casos reportados de meninas adolescentes desenvolvendo insuficiência ovariana primária após a vacinação contra o HPV. Mas essas são meras anedotas, e mesmo antes da vacinação contra o HPV havia uma taxa de insuficiência ovariana primária de 22/100 000, então isso sempre existiu. Mas este estudo de quase 200 000 meninas mostrou nenhum aumento no risco de insuficiência ovariana prematura após a vacinação contra o HPV.

[60] Imunidade de grupo não existe

Certamente existe. Isso foi demonstrado numerosas vezes, mas eu acho que m dos melhores exemplos foi este estudo de Burkina Faso, no qual quase 90% da população em risco foi vacinada para meningite (Neisseria meningitidis sotrotipo A, ou NmA), e 13 meses depois quando os sujeitos (tanto os vacinados quanto os não vacinados) foram reamostrados, exatamente ZERO ainda carregavam o NmA. Como os autores concluem, “A desaparição da carga de NmA tanto entre as populações vacinadas quanto entre as não vacinadas é consistente com um efeito de imunidade de grupo induzido por vacinas”.

Esse é só um exemplo. Há muitos outros.

[61] X não existia antes das vacinas

Eu já vi várias afirmações nesse sentido, mas as mais comuns são quanto ao autismo (claro) e à SMSI. Leo Kanner descreveu o autismo em 1943, antes que todas as vacinas, com exceção de duas (varíola e difteria), fossem inventadas (a antitoxina diftérica foi inventada em 1901, e Hans Asperger estava dando aulas sobre crianças autistas em 1938, mas a vacina não foi disponibilizada até 1920). E Eugen Bleuler usou o termo “autismo” pela primeira vez em 1908. Isso é um caminho bem alongado para dizer que sim, o autismo realmente existia antes das vacinas. Exceto a da varíola, mas eu nunca vi sequer uma pessoa argumentando que a vacina contra a varíola causa autismo. Provavelmente porque ela não causa.

Quanto à SMSI, “morte de manjedoura” ou “morte de berço”, o termo foi cunhado pela primeira vez em 1969. No entanto, há muitas descrições de morte súbita infantil ao longo de toda a história. Por exemplo, este pesquisador encontrou evidências de SMSI no início do século XIX. E vários exemplos de SMSI em tempos tão distantes quanto a Idade Média, e mesmo na Bíblia (se você escolher acreditar nela), podem ser vistos aqui. Além disso, a taxa de SMSI tem caído desde quando se descobriu que deitar os bebês de barriga para cima diminui o risco.

Você sabe o que diminui o risco de SMSI? Certo, vacinas.

[62] A pólio nunca desapareceu, ela foi só renomeada para mielite transversa ou síndrome de Guillian-Barré ou mielite flácida aguda

Dê uma olhada nisto:

Isso é um vírus da pólio. Pólio é uma doença viral, e todas essas outras coisas não são (até onde sabemos). Quando o vírus da pólio é isolado de um paciente com uma doença paralítica, ela então é chamada de pólio. Todavia, o vírus não pode ser isolado de um paciente com síndrome de Guillain-Barré, porque ele não causa síndrome de Guillain-Barré. Ele não pode ser isolado de pacientes com mielite transversa, porque ele não causa mielite transversa. Ele não pode ser isolado de pacientes com mielite flácida aguda, porque ele não causa mielite flácida aguda. Ainda que nós não sabemos o que causa mielite flácida aguda, nós sabemos que ela não é a pólio.

Existem várias doenças paralíticas distintas, e todas elas se apresentam diferentemente. É por isso que elas são distintas. Pólio é pólio, e não pólio é não pólio.

[63] Ocorreram surtos de sarampo (ou coqueluche ou cachumba) entre populações altamente vacinadas

Sim, ocorreram, porque nenhuma vacina é 100% efetiva. Tudo que essa alegação faz é ressaltar a necessidade por 1) vacinas melhores (especialmente para coqueluche), e 2) imunidade de grupo.

Não obstante, muito mais comuns são os surtos (e mortes subsequentes) em populações não vacinadas (ou sub-vacinadas). Olhando para o surto recente de sarampo na Disneylândia em 2015, 45% dos pacientes da Califórnia não eram vacinados enquanto apenas 7% eram completamente vacinados (o restante era ou sub-vacinado ou tinha um estado de vacinação desconhecido).

Um exemplo ainda mais triste é o surto de 2019 nas Filipinas, com quase 15 000 vítimas e 230 mortes (até o momento da escrrita deste artigo), 65% das quais eram não vacinadas.

Outro exemplo é o surto que está ocorrendo na Ucrânia, com 24 000 casos e 9 mortes.

E um exemplo ainda mais trágico é o surto de sarampo que está acontecendo em Madagascar, onde eles tiveram mais de 82 000 vítimas e aproximadamente 1000 mortes, dois terços das quais não eram vacinadas.

[64] Esqualeno é perigoso

Esqualeno não é um adjuvante por si mesmo, só quando ele é emulsificado com surfactantes. Ele só é adicionado a algumas vacinas contra a gripe na Europa e a uma para idosos nos EUA, então ele não está presente em nenhuma vacina infantil. A razão para o medo é a suposta presença de anticorpor anti-esqualeno encontrados em soldados americanos com a chamada Síndrome da Guerra do Golfo.

Alguns problemas com isso:

  1. Esqualeno é uma substância de ocorrência natural, e seu fígado está produzindo-a agora mesmo enquanto você lê isto;
  2. Anticorpos anti-esqualeno foram encontrados em pessoas que nunca receberam nenhuma vacina que contivesse esqualeno;
  3. Esqualeno foi estudado e descobriu-se que ele não causa a criação de anticorpos anti-esqualeno.

Esse é só mais um exemplo de algo que soa amedrontador mas que não é amedrontador de jeito nenhum. Especialmente uma vez que não é encontrado em nenhuma vacina infantil.

[65] Óleo de amendoim é usado como adjuvante em vacinas e está causando a epidemia de alergia a amendoim

Um adjuvante de óleo de amendoim foi testado na década de 1960, mas ele nunca foi aprovado para uso e é atualmente encontrado em exatamente 0 vacinas em qualquer lugar do planeta. Enquanto é (provavelmente) verdade que alergias a amendoim (e a outros alimentos) estão aumentando em vários países, não são as vacinas que estão causando isso, porque, assim como unicórnios, adjuvantes de óleo de amendoim não existem.

O que está causando isso é (provavelmente) a tentativa de esterilização ambiental que muitos pais fazem para manter seus filhos “seguros” contra os germes. Infelizmente, essa prática parece estar prevenindo o desenvolvimento normal do sistema imune, e está aumentando o risco de alergias alimentares. Caso você esteja pensando que eu tirei isso do nada (o que eu admito que fiz quando comecei a falar disso há bem mais de uma década), evidências recentes dão suporte completo a essa hipótese.

[66] O vírus do sarampo nem sequer existe

Esse argumento de ginástica mental vem do ativista ultra anti-vacina Stefan Lanka, que apostou 100 000 euros que ninguém conseguiria provar que o vírus do sarampo existe. É claro que alguém (dr. David Bardens) provou que ele estava errado sem sombra de quaisquer dúvidas racionais, e um tribunal ordenou que Lanka pagasse sua dívida. Mas a decisão foi revertida num recurso, em que julgaram que a evidência providenciada por Bardens tinha que atender às expectativas de Lanka. Bardens poderia provavelmente ter inventado uma máquina para ampliar o vírus para um diâmetro de 2 metros e jogá-lo na cara de Lanka, mas suas crenças raivosas eram tão profundamente enraizadas que ele provavelmente ainda teria negado sua existência.

Sim, o vírus do sarampo existe. Aqui está ele.

[67] Nós não tínhamos todas essas vacinas quando eu era criança, eu tive todas essas doenças, e eu estou bem

Essa é uma descrição perfeita do viés de sobrevivência, porque há literalmente milhões de outras pessoas que contraíram essas exatas mesmas doenças e que agora estão mortas por causa delas. Nenhuma das doenças que vacinas previnem chega sequer perto de ser 100% fatal (exceto a raiva), então é claro que a maior parte das pessoas que as contraíram sobreviveu ilesa. Isso não faz dessas doenças benignas (veja #16), isso só te faz parte da maioria que ganhou delas. Nem toda criança é tão sortuda.

[68] Pólio era causada pelo DDT, não pelo vírus da pólio

Esse é só um exemplo de negacionismo da teoria dos germes. É verdade que o DDT foi usado para tentar prevenir a propagação da pólio, porque na época (meados da década de 40) se pensava incorretamente que a pólio era transmitida por insetos como mosquitos ou moscas (é na realidade por via oral-fecal).

O grande problema com essa hipótese é a temporalidade. A primeira epidemia de pólio nos EUA, por exemplo, foi em 1894, e o vírus da pólio foi descoberto em 1908. DDT, por outro lado, foi inventado em 1874 mas não foi descoberto como inseticida até 1939, bem depois de quando a pólio começou a prejudicar crianças.

[69] Não houve um estudo sobre a segurança das vacinas em 30 anos

Robert F. Kennedy Jr. é a principal celebridade propagando essa alegação, que tem sido fortemente deturpada de suas origens e vem de uma lei dos EUA de 1986 que, entre outras coisas, requere que o HHS reporte estudos sobre a segurança das vacinas ao Congresso. Mas, de algum modo, mesmo que os relatórios tenham sido feitos, eles não foram todos apropriadamente arquivados. Deixe-me repetir — os estudos foram feitos, eles só não foram apropriadamente reportados. Na verdade, aqui está um deles. E aqui está uma lista desses estudos por ano.

Não me entenda mal, a lei não foi seguida aqui, e isso não é uma coisa boa. Eu não sei por que os relatos não foram apropriadamente arquivados, e eu não sei por que o HHS não apresentou a informação ao Congresso como era esperado que se fizesse. De qualquer modo, estudos sobre a segurança das vacinas foram feitos, forças-tarefa têm regularmente procurado e relatado informações sobre a segurança das vacinas, comitês de monitoramento da segurança das vacinas foram formados e reportados ao HHS, projeto de Avaliação Clínica de Segurança da Imunização foi iniciado em 2001, etc., etc., etc..

As evidências mostram que vacinas são seguras, essas evidências só não foram apropriadamente reportadas ao Congresso. Isso não significa que elas não existam.

[70] Solução mineral mágica pode curar autismo

Não. Ela. Não. Cura. Não existe literalmente nenhuma evidência que dê suporte a uma alegação tão absurda, então eu não posso nem citar alguma coisa que a refute. SMM é dióxido de cloro (um solvente industrial), e algumas pessoas dão isso oralmente ou retalmente para seus filhos para supostamente curar autismo. Isso não é nada além de abuso infantil.

[71] Eu não sou anti-vacina, mas…

Se você começa uma frase com “Sem ofensas, mas…”, você pode estar certo de que a próxima coisa que sair da sua boca será ofensiva. Pela mesma lógica, qualquer sentença que começa com “Não quero ser racista, mas…” é garantidamente seguida por algo racista. Similarmente, se você começa com “Eu não sou anti-vacina, mas…”, existe uma chance de pelo menos 99,9974% (eu calculei) de que sim, você está repetindo retórica anti-vacina.

Por favor não diga que você é “pró vacinas seguras”, porque vacinas já são seguras. Por favor não diga que você é “pró autonomia médica”, porque ninguém está te forçando a se vacinar ou a vacinar seus filhos. E por favor não diga que você é “pró consentimento informado”, porque consentimento informado já é praticado antes das vacinas (eu tive que assinar eu mesmo esses formulários quando meus filhos receberam suas vacinas).

[72] Vacinas vão contra a minha religião

A menos que você seja um Cientista Cristão ou da Igreja Reformada Neerlandesa, não, elas não vão. Existem exatamente zero grandes religiões no planeta que têm qualquer doutrina, lei, ou regra contrária a vacinas. Este artigo de revisão lista todas as grandes religiões, incluindo o Cristanismo, o Islamismo, o Budismo, o Hinduísmo, e o Judaísmo. Nem mesmo o Catolicismo proibe vacinas, apesar de algumas delas serem desenvolvidas usando linhagens celulares derivadas de um feto abortado. Segundo o Centro Católico Nacional de Bioética, se não há alternativa, “O indivíduo é moralmente livre para usar a vacina apesar de sua associação histórica com o aborto. A razão é que o risco à saúde pública, se um indivíduo escolhe não se vacinar, supera a preocupação legítima com as origens da vacina”.

Além disso, Cientistas Cristãos acreditam que doenças podem ser curadas por oração e a Igreja Reformada Neerlandesa acredita que vacinas interferem com a “divina providência”, o que quer que isso signifique. Então não, sua religião não proíbe vacinas.

[73] Vacinas são injetadas diretamente na corrente sanguínea

Existem exatamente ZERO vacinas que são injetadas por via intravenosa. Todas as vacinas (exceto pólio oral e gripe intranasal) são administradas no músculo (via intramuscular), na pele (via subcutânea) ou na derme (via intradermal). Há, todavia, várias coisas que são injetadas diretamente na corrente sanguínea: soro, anestesia, remédios para dor, antibióticos, remédios anti-convulsivantes, sedativos. Você sabe aquelas gotas de vitaminas que estão tão na moda esses dias? Sim, diretamente na corrente sanguínea. Tem alguém exigindo saber o que tem naquela infusão de vitamina B regenerativa no bar de vitaminas? Eu não pensei que tivesse. De qualquer modo, vacinas não são dadas por via intravenosa. Nunca.

Se você está recebendo vacinas diretamente na sua corrente sanguínea, então quem quer que esteja aplicando-as está cometendo um erro.

[74] Vacinas são inevitavelmente inseguras

Sim, elas são. Tudo o que “inevitavelmente insegura” significa é que não há nenhum jeito de o fabricante fazê-las 100% seguras e prevenir que algum efeito colateral aconteça.

Esse termo vem da Segunda Correção de Delitos, que foi escrita pelo Instituto de Direito Americano em 1965, 1977, e 1979. Nela, um “produto inevitavelmente inseguro” é descrito como “um produto aparentemente útil e desejável, acompanhado de um risco conhecido, mas aparentemente razoável”. Você pode ler uma explicação completa aqui.

Fármacos têm efeitos colaterais. Esse é um fato conhecido que não é disputado. Vacinas são fármacos. Esse também é um fato bem conhecido que não é disputado. Portanto, vacinas terão efeitos colaterais, incluindo efeitos colaterais graves como anafilaxia. Não há nenhuma maneira de prever quem vai desenvolver esse tipo de reação, então não há nenhuma maneira de fazer uma vacina mais segura nesse aspecto. Contudo, como nós aprendemos acima, o risco desses efeitos colaterais sérios é de aproximadamente 1 em cada milhão de doses, então os benefícios superam os riscos.

[75] Vacinas são só um jeito de ganhar dinheiro

Vacinas são feitas por companhias farmacêuticas, e companhias farmacêuticas são desenhadas para ganhar dinheiro. Isso nem sequer é discutível, porque isso é um fato. Porém, segundo a Organização Mundial da Saúde, vacinas compõem menos de 2% da receita das companhias farmacêuticas. Essas companhias ganham muito mais dinheiro com fármacos badalados como Viagra ou Lipitor. Vacinas, por outro lado, só não são grandes fontes de dinheiro.

Médicos também não lucram realmente com vacinas. No Reino Unido, médicos não recebem nenhum extra por aplicar vacinas. Nos EUA, estudos mostraram que pediatras ganham pouco ou nenhum dinheiro por dar vacinas. E aquele “bônus de $400” sobre o qual você ouviu? Esse não é um bônus por injeção, é um bônus dado a um médico pelo plano de saúde pelo grupo de todos os seus pacientes se eles imunizam acima de uma certa porcentagem. Estou certo de que você viu a frase “$400 por membro elegível” no formulário do plano de saúde, mas o membro elegível nesse caso é o médico, não o paciente. Eles recebem 1 bônus. É isso.

Mas por quê? Simples — dinheiro. Prevenir uma doença é muito menos custoso para o plano de saúde que pagar pelo tratamento dela, e assim como companhias farmacêuticas, companhias de seguro-saúde também estão na empreitada de ganhar dinheiro, não de pagar por tratamento médico.

Veja por exemplo este caso de tétano em um garoto de 6 anos não vacinado que passou 8 semanas no hospital por um custo de mais de $811 000. Por outro lado, uma vacina contra o tétano custa 64 dólares nos EUA, 52 libras no Reino Unido, e 0 dólares australianos na Austrália.

Whew. Isso é tudo que eu tenho. Eu verdadeiramente espero que alguém tenha lido até o final, e se você tiver, saiba que eu verdadeiramente aprecio isso. Eu espero que eu tenha talvez desbancado alguns mitos, dissipado um pouco do medo, e te ajudado a aprender algo.

Se você ainda estiver em cima do muro ou tiver perguntas sobre vacinas, por favor comente abaixo.

--

--