Product Design Hiring: como fazer uma apresentação de case matadora.

Por questões simples, designers perdem oportunidades e desgastam possíveis pontes com empresas referências do meio de design. O que fazer para transmitir bem os seus talentos?

Amanda Espinosa
9 min readAug 23, 2019

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Como uma designer ativa no processo de contratação de novos designers na VTEX nos últimos 2 anos (ou quase), posso dizer que já vi de tudo — para bem ou para mal. Nosso processo de contratação está passando por mudanças e adaptações, mas uma etapa que não abrimos mão é a apresentação de um case. Neste momento, a pessoa tem a chance de vender seu peixe. Se colocar no centro da construção de um produto e mostrar a que veio. É aqui que também mora nosso maior bounce rate de contratação.

Na VTEX, sou conhecida como uma avaliadora difícil de agradar. Tough love. A famosa cri-cri. Em geral costumo ser bastante criteriosa desde a avaliação de LinkedIn até a apresentação de fato, mas admito que me pego, por vezes, torcendo por um candidato ou outro. São aqueles que você se identifica de alguma forma, em algum comentário bem construído, alguma referência bem colocada. Você vê potencial e torce para que dê tudo certo. Aí chega a apresentação de case e tudo vai pro espaço. A narrativa está confusa, vários questionamentos quanto às motivações de projeto, tomadas de decisão duvidosas. Aí amiga, não tenho como te defender.

Acredito que boa parte dessas pessoas não sejam designers ruins. Porém parte do trabalho de um designer é fazer um problema fazer sentido e apontar a luz no fim do túnel. É esquematizar o processo de investigação, fazer uma clara proposta de solução e colocar uma lupa nos pontos sensíveis que merecem atenção a longo prazo. O designer pode até ter feito tudo isso, mas não sabe comunicar que o fez e nós não temos bola de cristal para saber além do que o candidato consegue transmitir.

Gosto de pensar que parte da mudança no nosso processo tem a ver com proatividade. Deixarmos para trás uma expectativa passiva de recebermos designers bem qualificados e preparados de mão beijada, e começarmos a gerar esses novos profissionais e darmos ferramentas para que eles se aprimorem com a gente. Com isso em mente, queremos iluminar o terror das apresentações de cases com algumas recomendações e instruções de como fazer uma apresentação que qualquer avaliador de UX gostaria de ver e ouvir.

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Construa uma narrativa com início, meio e fim

Pode parecer meio óbvio, mas vou te dizer que não é tão simples. O início de um case não é necessariamente a partir do momento que você entrou no projeto. Tampouco quer dizer quando o primeiro workshop foi feito. Comece a apresentação contextualizando o projeto e a empresa que você estava inserido. Nos faça entender o porquê desse projeto ter sido priorizado e por que você foi a pessoa ideal para gerir esse processo e experiência. Lembre-se que a maioria dos bons projetos começa com ou um problema ou uma oportunidade.

Construa a narrativa de forma linear, evite ficar indo e voltando na linha do tempo. Evite também citar muitos nomes, nós provavelmente não vamos nos lembrar quem é quem até o final da apresentação. Engatilhe acontecimentos e aprendizados, amarre os pontos entre estudos e deixe claro que o projeto seguiu este caminho atrás de um raciocínio lógico e estratégico, sem perder sua liberdade de experimentação e criatividade.

Por fim, conclua sua apresentação com aprendizados e, se houver, um plano de acompanhamento a longo prazo. Nos mostre como se pretende medir o sucesso do produto e quais seriam os próximos entregáveis. Nos surpreenda com possíveis avanços e oportunidades de melhora para além da sua participação no projeto.

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Se valorize sem se gabar

Esse tópico aqui requer uma boa dose de autocrítica. É muito frequente entrevistarmos candidatos que não sabem dosar o quanto devem falar de si mesmos. Geralmente acontece uma de duas coisas: ou o candidato peca para mais — só fala de si — , como ele foi o herói do projeto e fez tudo sozinho, ou ele evita ao máximo falar do seu papel no projeto e somente se refere à equipe na qual trabalhou. Para ambos é uma receita para rejeição dos avaliadores.

Nosso trabalho é garantir que as pessoas que pretendem entrar na empresa saibam trabalhar em equipe, que consigam tomar decisões difíceis com responsabilidade e se posicionem como líderes dos seus produtos.

Queremos entender sua participação em um time, como você interage com seus pares e como propõe abordagens do processo de design. Além disso, queremos ver como você divide a bola com pessoas de outras áreas e sabe balancear suas visões diante de limitações técnicas.

Em suma, você pode ser incrível, mas apostamos que seus colegas foram decisivos para esta história ter final feliz.

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Frameworks são incríveis, quando usados com sabedoria

Esse tópico é tão sensível que, por causa do frequente mal uso por parte de candidatos, eu cheguei até a desenvolver certos preconceitos (temporários) com algumas metodologias. Não há nada tão danoso para uma apresentação de case como um processo mal estruturado e sem sentido. A corrente criada entre cada descoberta é o que cria uma boa narrativa de projeto.

Não use frameworks só por usar frameworks. Nem todas as metodologias são genéricas o suficiente para caber no seu projeto. Realizar uma série de workshops e atividades que levam todas para um mesmo lugar — ou até a lugar nenhum, indica que o designer precisa "pivotar" a estratégia e tentar outra coisa. Se fez tudo isso e seguiu uma conclusão que nada tem a ver com os resultados das atividades, pode parece que o caminho da decisão foi malicioso e que o candidato só queria validar uma opinião já formada.

Não tem muito mistério, não cague regras (ou pelo menos evite a todo custo). Há uma linha investigativa, está seguindo uma pesquisa com usuários, vendo métricas, tudo está direcionando para uma questão específica. Isto é uma hipótese, trate-a como tal. Essa hipótese é uma interpretação do que pode ser a questão, que no final do seu processo, pode se confirmar ou não. Inclusive, não tem problema nenhum se não se confirmar! Nem tudo na vida de um designer é feito de acertos, às vezes os erros nos levam para lugares ainda mais altos.

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Traga um projeto de impacto

Queremos pessoas ousadas. Pessoas que pensam fora da caixa, propositivas, que saibam arriscar — com segurança, claro. Sabemos que nem todo mundo tem oportunidade de fazer um projeto grande ou complexo, mas queremos ver o que você enxergou e o que poderia ir além da demanda que lhe foi entregue.

É bastante comum vermos projetos que sejam mais focados em uma microexperiência ou um experimento de pequena escala. Isso não necessariamente é um problema, mas o candidato tem que saber vender aquele projeto. Como sabemos bem, aquele pequeno detalhe que pode parecer desimportante para olhos leigos, pode gerar um grande impacto no negócio da empresa.

Quando rasamente explorados, micro-problemas ficam chatos muito rápido, porque os candidatos, muitas vezes não conseguem aprofundar a questão o suficiente para capturar nosso interesse. Escolhendo apresentar algo dessa natureza, capriche muito no seu discurso, faça-nos entender o porquê disso ser importante para a empresa, o porquê de investir tempo e recursos nisso, o quanto a empresa vai ganhar se a mudança proposta der certo.

Photo by Brett Jordan on Unsplash

Vamos falar sobre negócio

O processo de design está maneiro, os usuários finais estão bem definidos, os fluxos e telas estão bem feitas, protótipos voadores mostram tudo com alta fidelidade, tudo maravilhoso. Chega o fim da apresentação. Os avaliadores se olham e um deles pergunta: show, mas e qual foi o retorno disso tudo aí?

Somos designers, mas também somos gestores de produto. Faz parte do nosso trabalho participar ativamente das decisões estratégicas do produto e direcionar a solução para que seja impactante e consequentemente gere retorno para a empresa e/ou cliente — seja financeiro ou qualquer outra métrica para mensurar o sucesso da solução.

Quando trabalhamos como Product Designers, temos que constantemente estar atentos a mudanças de contexto e cenário do mercado. A base deste cargo é a adoção de um projeto que não tem fim definido, portanto é essencial que este produto permaneça competitivo e sempre atualizado em quesitos de tecnologia e usabilidade.

Com isso em mente, fale com stakeholders e sponsors do projeto, entenda o que eles querem ganhar patrocinando esse projeto e o quanto eles estão dispostos a colaborar e investir recursos. Quais são as oportunidades de negócio que seu produto pode abraçar, os auxilie a enxergar o quão longe eles podem sonhar se alavancando do seu trabalho. Não esqueça também de estabelecer métricas de negócio para acompanhar a performance e sucesso do seu produto. Afinal, essas são formas de adquirir provas tangíveis do sucesso do seu produto e que são mais digeríveis para quem está de fora conseguir absorver.

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Seniors, não baixem a guarda

Talvez um dos momentos mais decepcionantes na vida de um avaliador seja assistir a um case de alguém que se diz senior e depois da apresentação considerar um downgrade na sua posição caso entre na empresa.

Designers seniors com 6 anos ou mais de experiência precisam trazer um projeto que nos encha os olhos, que nos faça ficar desesperados para dar uma resposta no dia seguinte. Queremos essa ansiedade. Porém, muitas vezes o que vemos são seniors despreparados, inseguros e até mesmo convencidos de que nem deveriam estar ali apresentando, afinal é um designer senior.

Se o candidato estiver em uma posição de alta senioridade e não apresentar um projeto complexo proporcional à sua experiência, pode ser um golpe crítico na avaliação e pode escalar para uma rejeição bem rápido. Não confundam confiança com soberba, ser senior significa que você tem mais a provar, não menos.

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No final das contas…

…não somos perfeitos. Avaliadores não são seres místicos superdotados que sabem todas as boas práticas de design e gerenciamento de produto. Claro que temos uma barra de exigência, um formato ajuda a gente a fazer um processo de contratação mais justo e menos subjetivo. Porém não é só de formalidades que se cria uma excelente apresentação.

No final das contas queremos pessoas apaixonadas pelo seu trabalho. Dá um prazer enorme de ver o brilho nos olhos de quem faz o que ama e isso conta muito. Não há tela pixel-perfect que substitua sede de conhecimento e humildade no reconhecimento das suas habilidades.

Buscamos pessoas reais com sentimentos reais. Queremos enxergar personalidade e maturidade emocional para lidar com pessoas e desafios — até porque os nossos desafios são bem grandes. Pessoas que sejam colaborativas e que queiram contribuir com a comunidade do jeito que elas podem.

O melhor conselho que podemos dar é: seja você e mostre do que você é capaz nos seus melhores momentos. Se joga mesmo! Confie no seu processo.

Ah! Só entre nós aqui… de verdade mesmo, todo avaliador está sempre torcendo por você. 😉

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