O QUE É UM TRABALHO CIENTÍFICO?
PAPERS CIENTÍFICOS SÃO QUASE IMPOSSÍVEIS DE LER POR PESSOAS QUE NÃO FAZEM PARTE DAQUELA ÁREA DO CONHECIMENTO. MAS POR QUÊ?
texto originalmente publicado no site do Minas Faz Ciência.
De acordo com Bruno Latour (2000), estudioso francês dos procedimentos científicos, a ciência “é planejada para alijar logo de cara a maioria das pessoas” (pg 88). Para o autor, com linguagem rebuscada e uso de diversas referências, os pesquisadores evitariam que sua pesquisa fosse contestada. Mas há uma resposta bem mais simples e menos cética.
Um das explicações para a dificuldade encontrada na leitura é de que os trabalhos acadêmicos não são escritos para o público, mas para seus pares. Geralmente, o espaço para esses textos é pré-determinado e o pesquisador precisa economizar nas palavras, escolhendo o que realmente é relevante salientar. Assim, parte-se do princípio de que o leitor está familiarizado com a linguagem e referências caras àquela área do conhecimento.
Mas fique tranquilo, pois isso não significa que seja impossível entender um paper de outra área. O primeiro passo é ter boa vontade e o segundo é entender a estrutura geral dos trabalhos acadêmicos.
A ESTRUTURA DO TRABALHO
Um trabalho científico é formado principalmente por uma questão norteadora, que é sustentada teoricamente, e defendida a partir de uma argumentação ou experimentação.
Quanto menor o espaço para a dissertação do autor, mais focada deve ser sua questão norteadora. Dessa forma, um artigo científico responde à uma questão muito mais pontual do que uma tese de doutorado, por exemplo.
A questão norteadora, também chamada de “objetivo do trabalho”, especifica a que pretende o autor a partir daquele texto. Ela explica pro leitor qual é a angústia que motivou o pesquisador a escrever aquele trabalho e que será respondida ao final dele, nas conclusões. Vale ressaltar que a resposta à questão pode não ser conclusiva e que o autor conclua que seja preciso pesquisar mais sobre o assunto para conseguir respondê-lo.
A sustentação acadêmica serve para dizer aos leitores, geralmente aqueles especializados no assunto, de onde o autor está partindo. Se há a citação de um pensador da área é porque as ideias dele corroboram para a resolução do problema apresentado no texto. Assim, a revisão da literatura também ajuda a economizar argumentos, uma vez que os argumentos estão contidos naqueles trabalhos citados.
A argumentação e a experimentação servem para ajudar a responder a questão norteadora e levam à conclusão. Na experimentação, o autor apresenta qual foi a metodologia utilizada para encontrar determinados dados. Isso significa dizer: o que eu fiz para chegar até aqui. Assim, a metodologia responde à pergunta COMO. A argumentação também exige a especificação de uma metodologia de análise que, apesar de não necessariamente apresentar dados quantitativos, precisa dizer como foi que o autor chegou até ali.
Na conclusão, o autor explicita o que foi possível descobrir a partir daquele trabalho e salienta possíveis desdobramentos futuros. Alguns autores também ressaltam as fraquezas do método, como uma espécie de auto-crítica. Dentre as ciências chamadas “duras” — ciências de laboratório — a repetição do experimento com a obtenção dos mesmo resultados é necessária para validação do que foi defendido pelo autor.
COMO LER UM TRABALHO CIENTÍFICO?
Sabendo da estrutura do trabalho, fica mais fácil entender do que ele fala. O principal é identificar qual é a pergunta que está apresentada. Depois, entender qual a sustentação teórica dada a ele — dependendo do desconhecimento do assunto, cabe procurar algo sobre os autores mencionados. Por fim, é preciso entender como foi realizado o trabalho a partir da identificação da metodologia.
O Jornalismo Científico e a Divulgação Científica são áreas que buscam diminuir a distância entre os leitores e as pesquisas acadêmicas. Esses profissionais trabalham lendo e conhecendo as pesquisas acadêmicas e escrevendo textos explicativos sobre elas.
O número de divulgadores científicos têm aumentado após o surgimento dos blogs e das redes sociais, como o YouTube por exemplo. Com essas facilidades de publicação, os próprios pesquisadores podem exercer o papel de divulgadores escrevendo textos para o público leigo no assunto.