O mundo é fundo pra quem tem coragem

Queria ter ficado mais. Aqui e lá. É incrível a dualidade que é a vida de quem decide partir e que depois de ir não se sente mais 100% em nenhum lugar. É sofrer a partida ao mesmo tempo que anseia pela chegada. É querer ser duas ou três.

É estar ansiosa para experimentar uma comida nova e sentir falta do cheiro do feijão da casa da mãe. É amar conhecer um novo quarto de hotel e sentir falta do travesseiro velho que está em casa. Casa essa que não é mais tão sua, mesmo você fazendo de tudo pra ser.

A gente acha que vai inteiro, mas ao sair, deixa pedaços no caminho ao mesmo tempo que ganha outros milhões de novos. Que louco, né? Você não entenderia, eu mesmo não entendo e olha que já passei por isso mais de uma vez e se depender dessa coceira que em mim habita, seguirei indo, me deixando pelo caminho e me reencontrando por aí.

Queria ter ficado mais, porque nunca é o suficiente. Seja aqui ou lá. Pro aniversário da família, pro chopp depois do trabalho, pra visita rapidinho na casa da amiga. Pra uma data festiva do novo país, pra visitar mais lugares, pra entrar naquela igreja que ficou faltando ou pra visitar o museu que tanto falamos que íamos. Depois que a gente vai, a gente vive sempre em falta, a gente se acostuma em estar ausente, a participar de longe, a amar sem ver e tocar. Mas em contrapartida, somos preenchidos por tantos outros prazeres imensuráveis que as vezes suprem um pouco o vazio que a falta traz.

Por isso, não podemos perdê-los de vista, porque ficar mais significa renunciar. O velho em detrimento ao novo. O conforto em detrimento à aventura. O conhecido em detrimento ao desconhecido. O abraço quente e apertado, para começar do zero num país do aperto de mão e do tchau a distância.

Definitivamente não é pra todos e se você me perguntar se vale a pena eu vou te dizer que depende do dia.

Mas como bem disse a Gal Costa: pra quem tem coragem, o mundo é fundo, então.. só nos resta mergulhar.