O MV de Stay Gold poderia ter cenas inspiradas em um sonho de Carl Jung?

Amanda Vargas
6 min readAug 21, 2020

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O MV de Stay Gold é mais uma peça brilhante do BTS e, sem dúvida alguma, traz uma infinidade de imagens repletas de significados para que possamos explorar. Assim, depois de assistir e analisar incontáveis vezes, acredito que o MV, bem como a música em sua totalidade, é uma expressão de três fatores muito importantes em relação a este ponto/momento ao que chegamos com os meninos: primeiramente, ele carrega várias referências da jornada do BTS até aqui; em segundo lugar, traz essa mensagem de esperança que se faz tão necessária no contexto em que nos encontramos; e, por fim, se configura como mais um passo adentro de todos os estágios que ainda virão a frente através do processo de individuação — termo utilizado por Carl Jung para descrever o desenvolvimento psicológico por meio do qual integram-se os componentes da nossa psique.

Mas, hoje, eu gostaria de focar em uma parte bastante específica do MV: as cenas finais. Em seu livro, “Map of the Soul”, o Dr. Murray Stein menciona na página 141 um sonho que Carl Jung experienciou e que me chamou muito a atenção. Assim, para poder compreender esse relato por completo, fui direto à fonte: o livro “Memórias, sonhos, reflexões”, de Carl Jung, no qual ele descreve esse sonho na íntegra. Jung escreveu:

“Eu me encontrei em uma cidade suja e fuliginosa. Era noite e inverno, escuro e chovendo. Eu estava em Liverpool. Com vários suíços — digamos, meia dúzia. Eu andei pelas ruas escuras. Tive a sensação de que estávamos vindo do porto e que a cidade real ficava lá em cima, nos penhascos. Subimos lá. Isso me lembrou de Basel, onde o mercado está lá embaixo e então você sobe pelo Totengasschen (Beco dos Mortos), que leva a um planalto acima e então à Petersplatz e a Peterskirche. Quando chegamos ao platô, encontramos uma ampla praça mal iluminada por postes de luz, para a qual convergiam muitas ruas. Os vários bairros da cidade foram dispostos radialmente ao redor da praça. No centro havia uma piscina redonda e, no meio dela, uma pequena ilha. Enquanto tudo ao redor estava obscurecido pela chuva, neblina, fumaça e escuridão mal iluminada, a pequena ilha brilhava com a luz do sol. Nele estava uma única árvore, uma magnólia, em uma chuva de flores avermelhadas. Era como se a árvore estivesse à luz do sol e ao mesmo tempo fosse a fonte de luz. Meus companheiros comentaram sobre o clima abominável e obviamente não viram a árvore. Eles falaram de outro suíço que morava em Liverpool e expressaram surpresa por ele ter se estabelecido aqui. Fui levado pela beleza da árvore florida e da ilha iluminada pelo sol, e pensei: ‘Sei muito bem por que ele se estabeleceu aqui’. Então eu acordei.”

Você percebeu alguma semelhança? Bem, vamos listar algumas possíveis similaridades abaixo:

→ Jung diz que se encontrou em uma cidade suja, fuliginosa e que tudo estava escuro → Em grande parte do MV, vemos os meninos em locais diferentes, porém todos sob a mesma percepção: cenários mergulhados em uma certa escuridão. Além disso, na cena em que JungKook olha pela janela, podemos ver uma cidade também mergulhada em escuridão.

→ Jung diz que, no sonho, estava acompanhado por um grupo de amigos suíços. Ele diz “half a dozen”. → Sabemos bem que o BTS é composto por 7 integrantes, certo? Pode ser apenas uma feliz coincidência, mas, assim como no sonho haviam 7 pessoas juntas, no MV temos a mesma quantia.

→ Jung diz que, depois de subirem a um determinado ponto, encontraram uma praça mal iluminada, porém ali existia no centro algo como um lago e uma pequena ilha, na qual havia, além da luz do sol, uma magnólia. Perceba que ele diz “Era como se a árvore estivesse à luz do sol e ao mesmo tempo fosse a fonte de luz”. Interessante, não é? → Nas cenas finais do MV, os meninos também sobem em direção a um local até então mal iluminado, mas, por fim, tudo ganha luz e cores junto à presença da bela árvore e de um lago. Veja aqui a foto de uma magnólia (árvore do sonho de Jung) e uma foto da árvore presente no MV. Não sei dizer se são exatamente as mesmas, mas não podemos negar que a semelhança é absurda! Além disso, todo o cenário nessas cenas finais também traz inúmeras semelhanças em relação ao cenário do sonho de Jung.

→ Jung diz ainda que foi completamente levado pela beleza da árvore. → Sim, no MV, Jimin também aparece junto à árvore, mas a cena final é de completo foco em Taehyung interagindo com a árvore.

Caminhando para o fim dessa análise, talvez você esteja se perguntando: o que tudo isso poderia significar, caso haja, de fato, uma conexão entre o MV e o relato desse sonho?

Bom, no livro que citei antes, Jung traz ainda alguns comentários que complementam a sua compreensão sobre seu sonho. Ele escreveu: “O sonho representou minha situação na época. […] Tudo era extremamente desagradável, preto e opaco — exatamente como eu me sentia então. Mas eu tive uma visão de uma beleza sobrenatural, e é por isso que fui capaz de viver. Este sonho trouxe consigo uma sensação de finalidade. Eu vi que aqui o objetivo havia sido revelado. Não se podia ir além do centro. O centro é a meta e tudo é direcionado para esse centro. Por meio desse sonho, entendi que o self é um princípio e arquétipo de orientação e significado. É aí que reside sua função de cura. Para mim, esse insight significou uma abordagem ao centro e, portanto, ao objetivo. Dele surgiu um primeiro indício de meu mito pessoal.” E ele finaliza seu comentário dizendo “[…] O sonho representou o clímax de todo o processo de desenvolvimento.”

Se levarmos em consideração essa análise do próprio Jung, torna-se bastante nítido de que o BTS está nos mostrando que, assim como em ON, eles estão atingindo um novo patamar e abrindo novos estágios dessa eterna jornada, seguindo em direção ao self, o centro da psique que unifica tudo quanto é consciente e inconsciente. Para além disso, estamos passando por um momento de “escuridão”, uma sombra coletiva e, para muitos de nós, um momento de enfrentamento também da sombra individual. Assim, Stay Gold, junto às outras faixas do álbum MOTS 7: The Journey — com uma atenção especial para “OUTRO: The Journey”, vem para anunciar tanto para nós como para os meninos que, em tempos de limitação externa, a jornada interna pode e deve tomar passos mais profundos e, assim, milhares de novas possibilidades se abrirão no amanhecer que estará a nossa frente. Stay gold, ARMY!

*Abaixo um desenho de representação do sonho de Carl Jung:

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